sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Rejeição a Trump passa de 60%

O presidente Donald Trump bateu novo recorde de impopularidade. Em uma nova pesquisa feita para o jornal The Washington Post e a rede de televisão ABC, 60% desaprovam seu governo. Só 36% o aprovam.

A maioria apoia a investigação do procurador especial Robert Mueller sobre um possível conluio da campanha eleitoral de Trump com o Kremlin e entende que o presidente tenta interferir na investigação.

Quase metade (49%) dos americanos quer que o Congresso dos Estados Unidos abra um processo de impeachment para afastar Trump da Presidência, enquanto 53% veem obstrução de justiça e não querem que o presidente demita o ministro da Justiça e procurador-geral, William Sessions. 

Cerca de 46% são contra o impeachment e 35% não observam nenhuma tentativa de obstruir a justiça.

Na campanha para as eleições intermediárias de 6 de novembro, Trump tenta reivindicar o sucesso pelos resultados da economia para impulsionar o Partido Republicano, ameaçado de perder a maioria na Câmara. Mas 47% dos americanos reprovam sua administração da economia, enquanto 45% aprovam.

Se o Partido Democrata reconquistar a maioria na Câmara, poderá abrir um processo de impeachment. Pela Constituição americana, basta maioria absoluta. Mas a condenação no Senado exige dois terços dos votos. Parte da bancada republicana teria de abandonar o presidente.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Rússia e Síria preparam ofensiva contra último reduto rebelde

Com o apoio da Força Aérea e da Marinha da Rússia, as forças leais ao ditador Bachar Assad e milícias aliadas, inclusive iranianas, devem lançar a qualquer momento uma ofensiva contra o último reduto rebelde na guerra civil da Síria, na província de Idlibe, no Noroeste do país, noticiou a agência Reuters. Cerca de 10 mil rebeldes ligados grupos jihadistas estão cercados na região.

A Rússia deslocou navios de guerra capazes de disparar mísseis. Em Moscou, o ministro do Exterior russo, Serguei Lavrov, advertiu os Estados Unidos a não reagirem à ação contra "terroristas", como o regime sírio chama seus inimigos na guerra civil.

Lavrov falou em "abscesso purulento". Essa linguagem médica é usada militarmente para desumanizar o inimigo e assim justificar mortos e massacres. A Rússia entrou diretamente na guerra civil síria em 30 de setembro de 2015, quando seu aliado Assad parecia perdido, e virou o jogo.

No caso, a maioria dos rebeldes pertence a grupos jihadistas como o Exército da Conquista, uma aliança que inclui a rede Al Caeda, e tem o apoio da Turquia. O presidente Recep Tayyip Erdogan entrou em contato com a Rússia e o Irã, que também apoia Assad, para evitar uma massacre que parece iminente.

Através da subsecretária Heather Nauert, porta-voz do Departamento de Estado, os EUA "manifestaram preocupação não apenas com um possível ataque químico, mas com qualquer tipo de escalada da violência em Idlibe que ponha em riscos os civis e a infraestrutura".

Com a carta branca que Trump deu aos generais do Pentágono, a Força Aérea dos EUA arrasou Rakka, a capital do califado proclamado em 2014 pela organização terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Recentemente, cancelou uma ajuda de US$ 200 milhões para reconstruir a região e pediu aos aliados no Oriente Médio, especialmente a Arábia Saudita, para pagar a conta.

Em sete anos e meio, mais de 500 mil pessoas morreram na guerra civil da Síria. Cerca de 6 milhões de pessoas fugiram do país.

Trump prometeu acordo de paz a Kim Jong Un

No histórico encontro de cúpula de 12 de junho em Cingapura, o presidente Donald Trump prometeu ao ditador Kim Jong Un que os Estados Unidos assinariam um acordo de paz com a Coreia do Norte, pondo fim oficial à Guerra da Coreia (1950-53). Por esta razão, o regime comunista norte-coreano resiste à proposta de aceitar unilateralmente um cronograma de desnuclearização, informou o boletim de notícias Vox.

Depois de Cingapura, o secretário de Estado, Mike Pompeo, tentou pelo menos três vezes impor um cronograma para entregar 60% das armas nucleares dentro de seis a oito meses. A ditadura stalinista de Pyongyang recusou. A Coreia do Norte teria cerca de 65 bombas atômicas e mísseis de longo alcance capazes de atingir os EUA, uma garantia de sobrevivência do regime.

Assim, as negociações estagnaram. Trump vem responsabilizando a China, com que trava uma guerra comercial para reduzir um déficit comercial de US$ 375 bilhões no ano passado. Mas suspendeu a última visita do secretário Pompeo a Pyongyang depois de receber uma carta em tom hostil. Na visão da Coreia do Norte, o presidente americano está renegando o acordo.

A Coreia foi ocupada pelo Japão de 1910 a 1945. Em 9 de agosto de 1945, depois das bombas atômicas em Hiroxima e Nagasaki, a União Soviética de Josef Stalin declarou guerra Japão, ocupou quatro ilhas Kurilas e o Norte da Península Coreana.

Em 1948, quando o mundo estava dividido novamente, dessa vez pela Guerra Fria, surgiram a República Popular Democrática da Coreia (Norte) e a República da Coreia no Sul. Como se vê pelos nomes, ambas reivindicam a soberania sobre toda a península.

A guerra começa em 25 de junho de 1950, quando a Coreia do Norte, liderada pelo Grande Líder Kim Il Sung, invadiu o Sul. Os EUA reagiram em defesa da Coreia do Sul. Como a URSS estava boicotando as Nações Unidas por causa da não admissão da República Popular da China (comunista), o Conselho de Segurança aprovou a guerra, dando aos EUA um mandato para reunificar a Península Coreana.

Quando os EUA cruzaram o paralelo 38º Norte, marco da divisão entre as duas Coreias, em setembro de 1950, o 4º Exército da China, comandado por Lin Piao, cruzou o Rio Yalu e entrou na guerra, empurrando os EUA, Coreia do Sul e aliados para baixo do paralelo 38º N.

Houve uma guerra entre os EUA e a China dentro da Guerra da Coreia, e a China ganhou. Conquistou seu objetivo estratégico de empurrar as forças americanas para longe de sua fronteira com a Coreia do Norte. Cerca de 5 milhões de pessoas morreram.

Até hoje, não foi assinado um acordo de paz definitivo. Historicamente, o Norte sempre se negava a negociar o Sul, chamando-o de fantoche dos EUA. A negociação direta com Washington sempre foi o sonho do regime comunista norte-coreano. Trump concordou, mas não cumpre os termos do acerto verbal feito pelos dois líderes.

O presidente estaria disposto a assinar uma declaração de paz, mas foi contido pelo secretário da Defesa, general James Mattis, e pelo assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, por duas razões.

Primeiro, a Coreia do Norte já fez várias promessas de abandonar seu programa nuclear militar, então os EUA querem ter certeza de que desta vez será para valer. Segundo, encerrada a Guerra da Coreia, o regime comunista de Pyongyang pode exigir a retirada total dos 28,5 mil soldados americanos baseados na Coreia do Sul.

Mesmo que a ameaça nuclear norte-coreana acabe, como prometeu Trump prematuramente, os EUA querem manter sua presença militar na Coreia do Sul por causa da China, a superpotência em ascensão e a grande rival estratégica hoje e no futuro próximo.

Além das armas nucleares, um conflito na Península Coreana pode provocar uma guerra entre os EUA e a China. As concessões que Trump fizer serão observadas com atenção pelo Irã. Uma potência nuclear merece respeito.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Economia dos EUA cresceu acima do estimado no 2º trimestre

A economia dos Estados Unidos voltou a surpreender positivamente. Na segunda estimativa do crescimento no segundo trimestre de 2018, divulgada hoje pelo Departamento do Comércio, a taxa de crescimento subiu de 4,1% para 4,2%. A média das expectativas dos economistas era 4%. É o maior índice desde o terceiro trimestre de 2014.

Neste ritmo, o mercado considera praticamente certa uma alta na taxa básica de juros na reunião do Conselho da Reserva Federal (Fed), o banco central americano. Mas espera uma redução neste ritmo de crescimento, considerado insustentável.

O consumo pessoal avançou em 1,9% em 12 meses, levemente acima do 1,8% do primeiro trimestre. A taxa básica de juros está numa faixa de 1,75% a 2% ao ano. A expectativa é de mais dois aumentos neste ano e três em 2019. Os juros devem subir 0,25 ponto percentual na reunião de setembro do comitê de política monetária do Fed.

A maior economia do mundo cresce desde o terceiro trimestre de 2009. Com o corte da alíquota do  imposto de renda para empresas de 35% para 21% aprovado pelo governo Donald Trump, ganhou um impulso forte, embora temporário.

A longo prazo, os cortes de impostos podem aumentar o déficit orçamentário e a dívida pública. Os títulos da dívida externa dos EUA com 10 anos de prazo passaram a pagar juros de 3% ao ano. Antes, pagavam 2%.

Parlamento do Irã censura presidente por causa da crise econômica

O Majlis, o Parlamento do Irã, censurou ontem o presidente Hassan Rouhani por culpar a retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear pela situação do país ao defender a atuação de seu governo no combate à crise econômica.

Relativamente moderado dentro do regime fundamentalista iraniano, Rouhani representa a facção da República Islâmica que pretende manter as relações econômicas com o resto do mundo.

O líder iraniano busca uma resposta pragmática à decisão do presidente Donald Trump de romper o acordo assinado em 2015, no governo Barack Obama, entre as cinco grandes potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia), a Alemanha e o Irã para congelar o programa nuclear militar iraniano por dez anos.

A moção de censura indica que o presidente está perdendo poder e pode ser alvo de um processo de impeachment. Os ministros do Trabalho e da Economia caíram nas últimas semanas por causa da crise, que tende a se agravar quando as sanções impostas por Trump entrarem em vigor.

Nos últimos meses, houve várias manifestações de protesto, inclusive uma greve no grande bazar de Teerã, a capital do Irã, mas, ao contrário do que aconteceu em 2009, depois da reeleição fraudulenta do presidente linha-dura Mahmoud Ahmadinejad, não há uma oposição organizada.

Se Rouhani for impedido e houver novas eleições, a linha dura tem nova chance de tomar o Poder Executivo num momento importante. O Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica, aiatolá Ali Khamenei, está com 79 anos.

De qualquer maneira, o rompimento do acordo e as sanções de Trump contribuíram para fortalecer a linha dura e a Guarda Revolucionária Iraniana, o braço armado do regime, que manda cada vez mais no país e tem interesse em fazer a bomba atômica como garantia contra possíveis ataques dos EUA e de Israel.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

EUA mantêm próxima manobra militar conjunta com a Coreia do Sul

Diante da estagnação das negociações de desnuclearização com a Coreia do Norte, os Estados Unidos não têm planos de suspender os exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul, declarou hoje o secretário da Defesa, James Mattis, noticiou a agência Bloomberg.

Depois do histórico encontro de cúpula com o ditador Kim Jong Un em Cingapura, em 12 de junho, num gesto de boa vontade, o presidente Donald Trump cancelou manobras militares conjuntas previstas para aquela época.

Na semana passada, depois de receber uma carta em termos agressivos, Trump mandou o secretário de Estado, Mike Pompeo, cancelar uma visita à capital norte-coreana e acusou a China de atrapalhar as negociações para desnuclearizar a Península Coreana.

Em viagens anteriores a Pyongyang, Pompeo propôs ao regime comunista da Coreia do Norte que aceite um cronograma de desarmamento nuclear que incluiria a entrega de 60% das bombas atômicas dentro de seis meses.

A Coreia do Norte resiste. Rejeita um "desarmamento unilateral" sem contrapartida. Exige a assinatura de um tratado de paz que ponha fim à Guerra da Coreia (1950-53).

NOTA: No dia seguinte, o presidente Donald Trump desautorizou o secretário da Defesa e manteve a suspensão das manobras militares conjuntas com a Coreia do Sul. Voltou a culpar a China e advertiu que as manobras podem ser retomada em escala muito maior.

Etiópia prende ex-governador da região de Ogaden

O governo da Etiópia deteve Ahmed Abdi Mohamed Omar, ex-governador de Ogaden, também conhecida como região somaliana, sob as acusações de graves violações dos direitos humanos e de incitar à violência étnica e religiosa, noticiou ontem o boletim de notícias Africa News.

A batalha pelo controle da região de Ogaden é um teste crucial para o primeiro-ministro Abiy Ahmed. Na chefia do governo desde abril, Ahmed tenta tomar o poder de Omer e suas milícias.

No passado, a Etiópia teve problemas para manter o controle sobre a região somaliana, o que levou ao fortalecimento das milícias. Em 12 de agosto, a Frente de Libertação Nacional de Ogaden (FLNO) declarou um cessar-fogo unilateral citando os esforços do primeiro-ministro pela reconciliação nacional.

Uma presença militar forte na conturbada região de Ogaden é importante por causa da situação de anarquia em que vive a vizinha Somália desde 1991. Mas o controle de Adis Abeba sobre a região levou à revolta dos etíopes de etnia somaliana.

A FLNO luta pela autodeterminação da região somaliana desde meados dos anos 1980s. Em resposta, o governo etíope criou a milícia Liyu. Na luta contra a guerrilha, a milícia liderada por Omar cometeu diversos crimes. Ele foi preso, mas tem muitos amigos mais poderosos.

País que mais cresce hoje no mundo, acima de 10% ao ano nos últimos anos, a Etiópia passa por uma transformação profunda. Seu ambicioso primeiro-ministro fez a paz com a Eritreia e tenta fazer o mesmo em Ogaden.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Rei da Arábia Saudita vetou privatização parcial da estatal de petróleo

Nos últimos dois anos, por iniciativa do príncipe-herdeiro, Mohamed ben Salman, a Arábia Saudita preparou a venda de 5% das ações da companhia estatal de petróleo Aramco. A meta era arrecadar US$ 100 bilhões para o plano de modernização Arábia Saudita 2030. Em junho, o sultão Salman ben Abdul Aziz al Saud mandou cancelar a privatização, revelou hoje a agência Reuters.

Seria a maior oferta pública inicial de ações da história. Se chagasse a US$100 bilhões, a empresa estaria avaliada em US$2 trilhões. O rei tomou a decisão depois de ouvir membros da família real, banqueiros e altos executivos do setor de petróleo, inclusive um ex-diretor-geral da Aramco.

A maior advertência desses conselheiros foi que exporia o reino e o buraco negro de seus negócios petrolíferos, sua base de poder. Para ter ações cotadas em bolsas de valores, a empresa teria de revelar suas atividades financeiras em detalhes.

O príncipe Mohamed chegou a desmentir as notícias do cancelamento da privatização, mas todos os analistas acreditam que a palavra do rei é definitiva, apesar de um comitê formado por MbS e os ministros da Energia, da Economia e das Finanças.

É uma perda de poder de jovem príncipe de 32 anos. Desde que assumiu o Ministério da Defesa, em janeiro de 2015, MbS interveio na guerra civil do Iêmen, hoje a mais violenta do mundo, sem conseguir restaurar o governo deposto por rebeldes hutis apoiados pelo Irã. Também promoveu um cerco político, econômico e diplomático ao emirado do Catar, acusando-o de ser próximo do Irã, seu arqui-inimigo.

O príncipe deu às mulheres o direito de dirigir e mandou reabrir os cinemas de seu reino medieval. A Arábia Saudita não está preparada para a modernidade.

Em abril de 2015, Mohamed se tornou o príncipe-herdeiro, destronando o primo Mohamed ben Nayef. Ao se aproximar do governo Donald Trump e mais discretamente de Israel, também arqui-inimigos do regime fundamentalista iraniano, MbS deu a impressão de que aceitaria a decisão americana de reconhecer Jerusalém como capital de Israel.

"O rei está obscecado pelo julgamento da história", comentou uma das fontes da Reuters. Não quer passar a história como o sultão que entregou Jerusalém e vendeu a Aramco.

Rússia prende líder da oposição semanas antes de eleições regionais

A duas semanas das eleições regionais de 9 de setembro, o principal líder da oposição na Rússia, o advogado e blogueiro anticorrupção Alexei Navalny, foi preso no sábado por 30 dias sem justificativa, mas continuou convocando seus seguidores a se manifestar, noticiou a agência Reuters.

O protesto é contra a proposta do ditador Vladimir Putin de aumentar gradualmente a idade mínima para aposentadoria na Rússia, de 60 para 65 homens e de 55 para 63 anos para mulheres.

Com base em processos forjados pelo regime, Navalny foi impedido de disputar a eleição presidencial de março com o ditador.

ONU acusa Forças Armadas de Mianmar de genocídio

As Forças Armadas de Mianmar, a antiga Birmânia, cometeram crimes de guerra e crimes contra a humanidade contra a minoria rohingya, no estado de Rakhine, que configuram genocídio, denunciou um relatório das Nações Unidas, citado pelo jornal inglês The Guardian, pedindo ao Tribunal Penal Internacional (TPI) que abra os devidos processos.

Como o governo de Mianmar não deixou os investigadores da ONU entrarem no país, eles entrevistaram 875 pessoas que fugiram. Essas testemunhas contaram que os militares "mataram indiscriminadamente, violentaram mulheres, atacaram crianças e incendiaram vilas inteiras" em Kakhine, onde vivem os muçulmanos rohingya, e também nos estados de Chan e Kachin, onde há outros grupos étnicos rebeldes.

Os militares mianmarenses são acusados de homicídios, prisão arbitrárias, sequestros, desaparecimento depessoas, tortura, estupro, perseguição e escravização - todos crimes contra a humanidade. No Norte de Rakhine, foram coletadas provas de extermínio em massa e deportação.

"As recomendações claras do relatório mostrou a necessidade óbvia de dar passos concretos para levar à Justiça esses crimes atrozes, em vez de condenações e expressões de preocupação vazias", declarou o diretor para a Ásia da organização não governamental Human Rights Watch (Observatório dos Direitos Humanos), Brad Adams.

"Este relatório deve eliminar qualquer dúvida sobre a urgência de investigar as responsabilidades por essas atrocidades em massa", acrescentou.

Em um ano de ofensiva militar, cerca de 25 mil rohingyas foram mortos e 700 mil fugiram para Bangladesh. O maior acusado é o comandante-em-chefe das Forças Armadas, general Min Aung Hlaing, que prometeu resolver "o antigo problema bengalês".

Minutos depois da divulgação do relatório, o Facebook tirou da rede 18 contas e 52 páginas ligados aos militares de Mianmar, inclusive uma do general. Eles foram usadas para culpar "terroristas muçulmanos" pelos massacres.

"Queremos impedir que usem nosso serviço para inflamar ainda mais as tensões étnicas e religiosas", declarou o Facebook.

domingo, 26 de agosto de 2018

Chile confisca bens de Pinochet no valor de US$ 1,6 milhão

Depois de 14 anos de investigação, a Justiça do Chile concluiu que o ditador Augusto Pinochet (1973-90) acumulou uma fortuna de US$ 21,3 milhões, sendo US$ 17,8 milhões de origem ilícita e a Corte Suprema ordenou o confiscou bens e propriedades de seus herdeiros no valor de US$ 1,6 milhão, noticiou o jornal espanhol El País.

O tribunal também condenou três ex-oficiais do Exército do Chile que ajudaram a depositar dinheiro em contas secretas no Riggs Bank, nos Estados Unidos. Gabriel Vergara Cifiuentes,  Juan Ricardo MacLean Vergara e Eugenio Castillo Cádiz pegaram quatro anos de prisão com direito a liberdade condicional.

Pinochet entregou a Presidência em 11 de março 1990, mas só deixou o comando do Exército oito meses depois, em 10 de março de 1998. Meses depois, em 16 de outubro, ele foi preso em Londres, quando fazia tratamento numa clínica particular, a pedido do juiz espanhol Baltasar Garzón, que abriu inquérito sobre os crimes cometidos durante a ditadura militar chilena.

Pelo menos 3.105 pessoas foram mortas durante o governo Pinochet, cerca de 80 mil foram presas e 200 mil chilenos saíram do país. Um plebiscito, em 1988, rejeitou a extensão de seu mandato presidencial conquistado a tiros e bombardeios. Em 14 de dezembro de 1989, Patricio Aylwn foi eleito presidente do Chile com 55% dos votos na primeira eleição democrática desde a vitória de Salvador Allende, em 1970.

A Justiça do Reino Unido aceitou o pedido de extradição da Espanha, mas o processo foi até a Suprema Corte. O destino do general foi decidido numa reunião América Latina-União Europeia realizada no Rio de Janeiro.

Quando o governo espanhol deixou claro que não havia interesse em processar Pinochet, o que criaria uma questão internacional, o Chile se comprometeu a processar o ex-ditador e o secretário do Interior britânico, decidiu libertar o general, em 2 de março de 2000, alegando que sua saúde estava debilitada e que ele não teria condições mentais de responder a um processo. No mesmo dia, Pinochet deixou a Inglaterra.

Três dias depois de sua chegada, o juiz Juan Guzmán Tapia pediu a suspensão da imunidade parlamentar de Pinochet, que tinha um mandato de senador vitalício, para que fosse julgado pela Caravana da Morte, em que 97 presos políticos foram mortos.

O ex-ditador foi colocado em prisão domiciliar e mais uma vez se livrou do processo alegando demência senil. A Justiça chilena rejeitou um pedido de prisão da juíza argentina María Servini de Cubría por causa do assassinato do general Carlos Prats, o comandante do Exército que antecedeu Pinochet, em Buenos Aires, em 30 de setembro de 1974.

Em 1º de junho de 2001, Pinochet foi internado com urgência no Hospital Militar. Oito dias depois, foi beneficiado nos processos por demência senil. Em 4 de julho de 2002, o ex-ditador foi eximido de culpa por demência senil e renunciou ao mandato de senador vitalício.

Dois anos depois, em 28 de maio de 2004, o Tribunal de Recursos decidiu reabrir os processos, decisão confirmada pela Corte Suprema em 26 de agosto. Desta data até sua morte,  em 10 de dezembro de 2006, Pinochet esteve várias vezes em prisão domiciliar por diferentes processos, da Operação Condor, o desaparecimento de dissidentes em 1975 e o Caso Riggs, que levou agora ao confisco de bens. Mas nunca foi condenado.

Até 2004, a família Pinochet não havia sido investigada por enriquecimento ilícito. Naquele ano, uma subcomissão do Senado dos Estados Unidos que tentava descobrir as fontes de financiamento do terrorismo internacional encontrou contas secretas do ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, e de Pinochet, que tinha US$ 21,3 milhões no Banco Riggs.

Quando o processo foi aberto, há 14 anos, as contas bancárias, 23 imóveis e outras propriedades do ex-ditador foram congeladas. Em 2017, a Justiça restituiu US$ 6 milhões aos herdeiros porque vários casos prescreveram, tiveram a punibilidade extinta por decurso de prazo.

Isso explica por que só foram confiscados US$ 1,6 milhão, se o enriquecimento ilícito foi estimado em US$ 17,8 milhões. Com a sentença da sexta-feira, os herdeiros devem receber mais US$ 3,2 milhões.

sábado, 25 de agosto de 2018

Morre o senador John McCain, herói da Guerra do Vietnã desprezado por Trump

Piloto de avião da Marinha dos Estados Unidos abatido em Hanói na Guerra do Vietnã (1964-71), John McCain ficou cinco anos e meio preso no Vietnã do Norte, onde foi torturado, o que o tornou um ativista contra a tortura, especialmente depois dos atentados de 11 de setembro.

Libertado, foi eleito para a Câmara em 1982 e 1984 e para o Senado pelo estado do Arizona desde 1986. Em 2008, disputou a eleição presidencial pelo Partido Republicano contra Barack Obama. Ele morreu hoje aos 81 anos de um câncer no cérebro.

McCain tinha um tipo de câncer muito agressivo chamado de glioblastoma, descoberto em julho de 2017. Fez radioterapia e quimioterapia para enfrentar a doença. Ontem, a família anunciou que havia suspendido o tratamento.

Mesmo em estado grave, McCain foi ao Senado votar contra a tentativa do presidente Donald Trump de revogar o Lei de Tratamento de Saúde a Preços Acessíveis, o programa do governo Barack Obama para oferecer assistência médica a todos os americanos. Ele não votou, mas apoiou, os cortes de imposto e foi importante para sua aprovação. Manteve a coerência até o fim.

Desde 7 de dezembro do ano passado, quando deu seu último voto, não ia mais ao Senado.

Filho e neto de almirantes, John Sidney McCain III nasceu em 29 de agosto de 1936 na Zona do Canal do Panamá. Era parte de uma família que lutou em todas as guerras dos EUA desde a independência.

Herói do Vietnã, ele se tornou um personagem importante da política americana no ano 2000, quando disputou a candidatura do Partido Republicano à Casa Branca com George Walker, que seria eleito e reeleito.

O senador cruzou os EUA com um ônibus chamado de Expresso do Papo Reto, onde respondia perguntas a diferentes grupos de repórteres e tratava diretamente, sem rodeios, dos problemas da nação. Ganhou a primeira eleição primária, no estado de Novo Hampshire, mas depois de uma derrota na Carolina do Sul deixou de ameaçar a campanha vitoriosa de Bush.

Apesar da derrota, McCain considerou a campanha das primárias "uma grande diversão". Especialista em segurança, defesa e política internacional, era um dos falcões da linha dura no Congresso. Sempre advertia que a Rússia continuava sendo inimiga dos EUA no mundo pós-Guerra Fria.

Em 2008, conquistou a candidatura do partido e indicou a governadora do Alasca, Sarah Palin, para vice-presidente, estridente e despreparada. Seu preferido seria o senador Joe Lieberman. Por causa da idade e da juventude de Obama, aceitou Palin. Os críticos o acusam de ter estimulado o crescimento da ala populista do partido.

Durante a campanha eleitoral de 2016, criticou Trump, chamando o atual presidente de "mal informado" e "impulsivo". No ano passado, alertou para o risco de "um nacionalismo mal passado e espúrio, uma armação de pessoas mais interessados em encontrar bodes expiatório do que em resolver problemas."

Do alto de seu narcisismo, Trump contra-atacou. Desprezou o herói nacional, dizendo que "ele virou herói porque foi capturado, gosto dos que não são presos" e o criticou várias vezes por não votar contra o fim do programa de saúde de Obama.

Com temperamento explosivo, McCain foi movido por sua lealdade às Forças Armadas, o conservadorismo e sua ousadia em combate. Rebelde, tinha problemas com a disciplina militar quando seu avião foi abatido durante um bombardeio a Hanói, a capital norte-vietnamita.

Como seu pai era o comandante-em-chefe das Forças dos EUA no Pacífico, McCain era um prisioneiro de guerra muito especial, um trunfo para o regime comunista vietnamita. Com os dois braços quebrados, foi submetido à tortura. Passou dois anos em confinamento.

Durante os cinco anos de meio de prisão, foi espancado com frequência, uma vez por até dez vietnamitas ao mesmo tempo. Tentou o suicídio duas vezes. Foi solto em março de 1973, quando os EUA fecharam um acordo de paz com o regime comunista do Vietnã do Norte, que em 1975 conquistaria o Sul, acabando com a guerra.

Para milhões de americanos, McCain virou um símbolo da resistência e da coragem, de um espírito de luta que não se entrega mesmo quando fisicamente quebrado e psicologicamente abalado. Nunca mais conseguiu erguer os braços acima do ombro, por causa dos ferimentos sofridos na queda do avião e das torturas que sofreu.

Trump não foi convidado para o enterro. Os ex-presidente George W. Bush e Barack Obama, e o vice-presidente Mike Pence, prestarão as homenagens.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Suprema Corte do Zimbábue aprova resultado da eleição presidencial

Como previsto, a Suprema Corte do Zimbábue considerou hoje legítima a vitória suspeita do presidente Emmerson Mnangagwa na eleição presidencial de julho, com 50,8% dos votos contra 44,3% de Nelson Chamisa.

Mnangagwa, conhecido popularmente como o Crocodilo, era vice-presidente e braço direito do ditador Robert Mugabe, que governou o Zimbábue desde sua independência, em 1980, até o golpe de novembro de 2017, quando foi deposto por Mnangagwa e o então comandante do Exército e atual vice-presidente, general Constantino Chiwenga.

A vitória apertada de um regime golpista nascido no seio de uma ditadura provocou protestos internacionais. O Zimbábue perdeu uma oportunidade de melhorar as relações com o Ocidente. No auge da crise econômica e da hiperinflação criadas pelas políticas de Mugabe, o Zimbábue foi alvo de sanções da Europa e dos Estados Unidos. Precisou recorrer à China.

Dias antes do golpe, o general Chiwenga foi à China para obter o aval do regime comunista chinês para derrubar Mugabe.

Trump cancela encontro EUA-Coreia do Norte por falta de avanço na desnuclearização

Através do Twitter, o presidente Donald Trump enviou mensagem com "os mais calorosas considerações e respeito" ao ditador Kim Jong Un, e manifestou interesse em encontrá-lo em breve, mas suspendeu a viagem que o secretário de Estado, Mike Pompeo, faria à Coreia do Norte por falta de progresso nas negociações para desnuclearizar a Península Coreana. 

Trump culpou a China, com quem está engajado numa guerra comercial, pelas manobras do regime comunista de Pyongyang, acusando Beijim de "não estar ajudando no processo de desnuclearização como antes", noticiou o jornal The Washington Post.

É a primeira que o presidente dos Estados Unidos admite falta de avanços nas negociações para desarmar a Península Coreana desde o histórico encontro de cúpula com Kim em 12 de junho de 2018 em Cingapura. Trump chegou a afirmar que a ameaça nuclear norte-coreana havia desaparecido.

Seria a quarta visita de Pompeo à Coreia do Norte. Em ocasiões anteriores, o secretário de Estado americano propôs ao regime comunista norte-coreano que aceite um cronograma para abandonar suas armas nucleares. Cerca de 60% das armas seriam entregues dentro de seis meses para destruição.

O governo de Pyongyang resiste. Alega que os EUA estão querendo um desarmamento nuclear unilateral sem oferecer contrapartida. Ao mesmo tempo, satélites-espiões americanos revelaram que os centros de pesquisa e desenvolvimento de mísseis e armas nucleares norte-coreanos estão em plena atividade.

Trump escreveu que o "secretário Pompeo deve ir à Coreia do Norte em futuro próxima, provavelmente depois que nossas relações comerciais com a China sejam resolvidas." Atribui a estagnação das negociações à China. Ignora que esse vaivém é o padrão de comportamento do regime stalinista de Pyongyang desde que começou sua chantagem atômica, depois do fim de sua maior patrocinadora, a União Soviética, em 1991.

Ministro da Justiça dos EUA rebate ataques do presidente Trump

Sob pressão depois que seu ex-advogado e um ex-chefe da campanha eleitoral foram condenados, o presidente Donald Trump atacou ferozmente o secretário da Justiça e procurador-geral dos Estados Unidos, Jeff Sessions, por não controlar as investigações. 

Sessions respondeu que enquanto for secretário o Departamento da Justiça "não será influenciado impropriamente por considerações políticas", informou a agência de notícias Associated Press (AP).

Em entrevista à televisão americana Fox News, que apoia o Partido Republicano e o movimento conservador, Trump tentou se defender das acusações de crimes imputadas a ele pelo advogado Michael Cohen. O presidente criticou o instituto da delação premiada, usado especialmente para desmantelar organizações mafiosas, afirmou que os réus mentem para reduzir suas penas.

O pai do advogado pressionou o filho dizendo que não havia sobrevivido ao Holocausto do povo judeu na Segunda Guerra Mundial para ter seu nome manchado por Trump, revelou o jornal The Wall Street Journal.

Foi mais um show do narcisismo de Trump, no estilo depois de mim, o dilúvio. Ele declarou que o impeachment de um presidente que está fazendo um governo tão bom, na opinião dele, "causaria um colapso do mercado" e "todo o mundo ficaria muito pobre".

Trump está furioso com Sessions porque ele se considerou impedido de supervisionar o inquérito sobre a influência indevida da Rússia na eleição presidencial de 2012. Como havia mantido contato com russos, o secretário entendeu corretamente que não poderia se envolver na investigação.

O inquérito ficou sob o controle do subprocurador-geral Rod Rosenstein, outro militante do Partido Republicano. Quando Trump demitiu o diretor-geral do FBI (Federal Bureau of Investigation), a polícia federal americana, James Comey, em 9 de maio de 2017, Rosenstein decidiu nomear um procurador especial, Robert Mueller, ex-diretor-geral do FBI.

Desde então, Mueller denunciou 34 pessoas e há três obteve a condenação de Paul Manafort, o ex-chefe de campanha de Trump, em oito acusações de fraude fiscal e bancária quando trabalhava para o então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, apoiado por Moscou. O advogado-geral da Casa Branca falou com Mueller sem o conhecimento do presidente, sinal de que queria se proteger.

A pedido de Trump, Cohen pagou US$ 130 mil à atriz pornô Stormy Daniels 11 dias antes da eleição e US$ 150 mil à ex-garota da Playboy Karen McDougal para que não revelassem seus casos durante a campanha. Isso é ilegal. O advogado admitiu ter violado a lei de financiamento eleitoral porque o silêncio delas foi comprado para não atrapalhar a eleição de Trump.

Para complicar ainda mais o presidente, o magnata da imprensa David Pecker, dono do National Enquirer, um jornal sensacionalista vendido em supermercados, conseguiu imunidade dos procuradores. Pecker ficou com os direitos de publicação nos dois casos, mas preferiu esconder as histórias para proteger Trump.

Em seus ataques de fúria, Trump acusa a investigação do procurador especial de ser "uma caça às bruxas" conduzida por "democratas raivosos". O desespero de um presidente que sempre se considerou acima da lei é cada vez mais evidente em suas declarações e tuitaços.

EUA e China elevam tarifas em nova rodada da guerra comercial

Os Estados Unidos impuseram ontem tarifas de 25% sobre a importação de produtos chineses no valor de US$ 16 bilhões por ano. A China respondeu imediatamente, sobretaxando importações americanas no mesmo valor. Agora, o total de produtos sobretaxados pelas duas maiores economias do mundo soma US$ 100 bilhões de comércio bilateral.

Esta segunda rodada da guerra comercial deflagrada pelo presidente Donald Trump já estava prevista. A lista de novos produtos sobretaxados estava à disposição dos interessados no Departamento do Comércio dos EUA para darem suas opiniões.

Em 6 de julho, o governo Trump impôs tarifas de 25% sobre produtos importados da China no valor de US$ 34 bilhões. A China respondeu na hora e na mesma medida.

O presidente americano tenta reduzir um déficit no comércio bilateral que chegou a US$ 375 bilhões no ano passado. Ameaça agora impor tarifas sobre outros produtos chineses importados pelos EUA, no valor de US$ 200 bilhões por ano. Aí a China não teria como retaliar porque só exportou US$ 130 bilhões para os EUA em 2017.

Em Beijim, o governo chinês acusou os EUA de provocarem a "maior guerra comercial da história" e afirmou que o conflito está aumentando o investimento de empresas interessadas em não perder espaço no mercado chinês.

Na Internet, por exemplo, o total de chineses ligados na rede passa de 800 milhões, mais do que Índia e EUA somados.

A nova rodada da guerra comercial aconteceu no momento em que uma delegação chinesa estava em Washington discutindo as relações comerciais entre os dois países. Naturalmente, as negociações não avançaram.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Arábia Saudita pede pena de morte para jovem ativista não violenta

Em mais uma decisão medieval capaz de causar repulsa no mundo inteiro, a procuradoria real da Arábia Saudita pediu a pena de morte por decapitação da jovem ativista Israa al-Ghomgham, presa em 2015 por participar de protestos antigovernamentais não violentos.

Através de seu novo homem-forte, o príncipe herdeiro Mohamed ben Salman, a Arábia Saudita reagiu com dureza a críticas da ministra do Exterior do Canadá, Chrystia Freeland, à prisão de Samar Badawi, irmã do ativista Raif Badawi, condenado a sete anos de prisão e mil chibatadas por criar o blog Sauditas Liberais Livres.

O governo saudita expulsou o embaixador canadense, retirou do Canadá 7 mil estudantes sauditas e suspendeu negócios, mas não no setor de energia, muito importante para os dois países. Em resposta, o primeiro-ministro Justin Trudeau reafirmou que o Canadá vai continuar defendendo os direitos humanos. Freeland é na prática uma vice-primeira-ministra.

MbS, como é conhecido, deixou claro: sua modernização permitiu a reabertura dos cinemas e que as mulheres possam dirigir no reino, mas a monarquia feudal do século 21 não tolera críticas às violações dos direitos humanos. Se a Justiça decidir pela pena de morte, os protestos internacionais serão muito maiores.

A última execução de um dissidente importante na Arábia saudita foi a do clérigo xiita Nimr al-Nimr, em 2016.

Líderes das FARC fogem para a Venezuela

Sob ameaça de prisão por envolvimento em atividades criminosas, dois líderes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), fugiram para a vizinha Venezuela. As autoridades colombianas procuram descobrir qual a rota de fuga, noticiou hoje a Rádio Caracol.

Na semana passada, soube-se da iminência da prisão de três líderes do antigo grupo guerrilheiro envolvidos em crimes comuns. É comum em processos de paz que guerrilheiros veteranos, que passaram anos na clandestinidade, não consigam se reintegrar à vida civil e entrem para organizações criminosas.

Se mais líderes das FARC forem presos, o histórico acordo de paz assinado em 24 de novembro de 2016 estará ameaçado. É provável que os ex-guerrilheiros presos recentemente tenham dado informações à polícia capazes de incriminar outros companheiros.

Desde a campanha eleitoral, o novo presidente, o conservador Iván Duque, empossado em 7 de agosto deste ano, promete revisar o acordo, especialmente as cláusulas que dão anistia a rebeldes que cometeram crimes de sangue e garantem 5% de vagas no Congresso para ex-guerrilheiros. A pressão sobre as FARC tende a aumentar.

Duque é afilhado político do ex-presidente e atual senador Álvaro Uribe (2002-10), um linha-dura que golpeou duramente a guerrilha, reduzindo significativamente sua ameaça. Seu ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, se tornou presidente e negociou o acordo, rejeitado por Uribe.

Uribe é investigado por ligações com grupos paramilitares de direita conhecidos como Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), que chegou a comparar com as vigilâncias de bairro nos Estados Unidos. Ganhou a guerra, mas não soube fazer a paz.

É muito difícil, praticamente impossível, a volta da guerra civil. Mas há rebeldes que renegaram o acordo e mataram jornalistas equatorianos, em abril de 2018, e outros envolvidos com o crime organizado.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Europa quer se livrar da dependência dos EUA

Em resposta ao unilateralismo dos Estados Unidos, a Europa deve reavaliar a parceria transatlântica e  ampliar sua autonomia, afirmou hoje o ministro do Exterior da Alemanha, Heiko Maas, em artigo publicado no jornal econômico alemão Handelsblatt.

Maas, do Partido Social-Democrata (SPD), parceiro menor da coalizão liderada pela chanceler (primeira-ministra) democrata-cristã Angela Merkel, descartou a possibilidade de esperar o fim do governo Donald Trump.

O ministro do Exterior alemão entende que as forças que abriram um fosso entre os EUA e a Europa estavam em movimento antes da eleição presidencial americana de 2016. Chegou então a hora de um novo equilíbrio estratégico.

Como havia antecipado ontem, Maas propôs a criação de um sistema de pagamentos alternativo ao SWIFT, uma empresa com sede em Bruxelas que intermedia transações financeiras internacionais. Assim, a União Europeia (UE) poderia diminuir o impacto das sanções cruzadas que Trump promete impor a empresas que negociarem com o Irã a partir de 7 de novembro.

A independência estratégica incluiria a criação do Fundo Monetário Europeu como alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e uma União Europeia de Segurança e Defesa. Na visão do ministro alemão, os membros europeus da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) “não podem mais confiar nos EUA”.

Advogado e ex-assessor são condenados e complicam Trump

O advogado Michael Cohen, que há anos defendia Donald Trump em seus negócios privados, confessou ontem sua culpa em oito acusações de fraude bancária e fiscal e violação da lei eleitoral ao pagar duas mulheres para ficarem em silêncio sobre relações sexuais com o atual presidente que poderia prejudicá-lo na campanha. No mesmo dia, um júri popular considerou culpado Paul Manafort, que chegou a ser chefe da campanha de Trump.

Manafort foi condenado em razão dos serviços prestados a Viktor Yanukovich, presidente da Ucrânia aliado da Rússia depois por uma revolta popular em fevereiro de 2014, por fraudes fiscal e bancária ao não declarar o dinheiro ganho no exterior.

Sua sentença não foi decidida, mas aumenta o risco para Trump de que faça uma delação premiada e revele mais detalhes das relações da campanha presidencial com o Kremlin.

Cohen, que pode pegar uma pena de 4 a 5 anos de cadeia, já fez a delação. Ele admitiu ter pago US$ 130 mil à atriz pornô Stormy Daniels e US$ 150 mil à garota da Playboy Karen McDougal “a serviço de um candidato ao governo federal” e reconheceu ter feito isso para influenciar o resultado da eleição.

 Pela lei eleitoral americana, o dinheiro teria de ser declarado como verba de campanha.

O presidente mais corrupto da história recente dos Estados Unidos está cada vez mais enrolado com a Justiça. Trump acusou Cohen de inventar sua narrativa para se livrar da prisão. Durante o Escândalo de Watergate, em 1974, Richard Nixon tornou-se o único presidente dos EUA denunciado criminalmente.

A praxe do Departamento da Justiça é que nenhum presidente seja denunciado no exercício do cargo. Ele pode ser processado depois de deixar a Casa Branca. Mas Trump pode ser alvo de um processo de impeachment, se o Partido Democrata reconquistar a maioria na Câmara dos Representantes nas eleições de novembro.

Pela Constituição dos EUA, basta a maioria absoluta da Câmara para denunciar o presidente por crime de responsabilidade e iniciar um julgamento político. Mas a condenação pelo Senado exige dois terços dos votos. Parte da bancada do Partido Republicano teria de se voltar contra o presidente e a revolta é limitada, especialmente porque o apoio a Trump é forte entre o eleitorado republicano.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Sonho de democratização do comunismo morreu há 50 anos em Praga

Na madrugada de 20 para 21 de agosto de 1968, uma força com 200 mil homens e 2 mil tanques do Pacto de Varsóvia, com soldados da União Soviética, Alemanha Oriental, Bulgária, Hungria e Polônia) invadiu a Tcheco-Eslováquia e acabou com a Primavera de Praga, uma tentativa frustrada de democratizar e humanizar o regime comunista.

A partir de 1966, surgiu um movimento por reformas democráticas fortalecido pela crise econômica de 1967 e pela nomeação, em 5 de janeiro de 1968, do eslovaco Alexander Dubcek para líder do Partido Comunista tcheco-eslovaco, em substituição ao stalinista Antonin Novotny.

Assim era o jogo pesado sob o comunismo soviético. Para mudar qualquer coisa, eram necessárias uma crise econômica, a mobilização das forças sociais e uma fissura na cúpula do regime.

No congresso da União dos Escritores, de 27 a 29 de julho de 1967, Pavel Kohout, leu uma carta aberta do escritor soviético Alexander Soljanitsin denunciando a censura em seu país. O jovem autor Ludvik Vaculik falou numa "doença do poder" na Tcheco-Eslováquia, sua tendência a se perpetuar, de moldar tudo ao redor e se colocar acima da sociedade: "Nenhum problema humano foi resolvido em nosso país."

Novotny reagiu em 1º de setembro: "Não é mais possível tolerar a difusão de opiniões e ideologia hostis ao socialismo e estranhas ao Partido Comunista." Os escritores Vaculik e Ivan Klima foram expulsos do partido.

Em 31 de outubro de 1967, quando a cúpula do PC estava reunida em reunião plenária, estudantes enfrentaram a polícia quando tentavam marchar até o Castelo de Praga. Pela primeira vez na Tcheco-Eslováquia, jovens nascidos, criados e educados sob o regime comunista desafiavam seu poder absoluto, gritavam lemas contra o socialismo e eram espancados pela polícia.

Sem se intimidar, os estudantes convocaram assembleias para discutir os problemas sociais, o papel dos estudantes, a proteção dos cidadãos diante da polícia e o papel social da polícia. Em resolução encaminhada ao Ministério da Educação, eles pedem abertura de inquérito sobre a violência policial com a participação de estudantes, número de matrícula visível de policiais e proibição do uso de gás lacrimogênio.

Novotny foi a Moscou e convidou o secretário-geral do PC soviético, Leonid Brejnev, a ir a Praga. Ele chegou em 8 de dezembro e partiu no dia 11 sem partido no que lhe pareceu uma disputa menor e interna do PC tcheco-eslovaco.

Seus partidários o defenderam até o último momento, alegando que sua saída poderia deflagrar movimentos como os de 1956 na Hungria e na Polônia. Dois candidatos disputavam a sucessão de Novotny em 5 de janeiro de 1968: Oldrich Cernik, apoiado pelos reformistas, e Josef Lenart, candidato da velha guarda.

Diante do impasse, Lenart sugeriu Dubcek (pronuncia-se Dubchék) como um nome de conciliação, um aparatchik até então apagado, educado na URSS. O próprio Novotny, que meses antes o chamada de "nacionalista burguês eslovaco", quase uma sentença de morte política, propôs seu nome, aprovado por unanimidade.

Mais de 60 mil aparatchik, sentido-se ameaçados por um expurgo, estão prontos a acusar o novo Comitê Central de liberar forças capazes de sair fora de controle, como estudantes e intelectuais.

O novo governo começou com prudência. Dubcek foi a Moscou. Não houve declarações nem discursos nem medidas especiais. Oito comissões foram formadas para preparar o novo programa de ação do partido, com foco em reformas econômicas e na federalização para resolver o problema da Eslováquia.

Técnicos, intelectuais e especialistas de fora do partido foram chamados a opinar. Os escritores expulsos do partido receberam seus passaportes de volta.

Coube a Josef Smrkovsky, que havia sido preso em 1951 e reabilitado em 1963, romper o silêncio, em 21 de janeiro de 1968: "A última sessão do Comitê Central não parecia em nada com as precedentes, em particular porque os membros do Comitê Central exerceram plenamente - e pode-se mesmo dizer espontaneamente - suas responsabilidades e prerrogativas, exprimindo a vontade da massa de seus membros, a vontade do partido. Definiu-se de maneira firme como e por que era necessário democratizar a vida do partido, e como teremos de trabalhar para restaurar a confiança do povo no partido e no Estado."

Entre as tarefas urgentes que citou, estavam "desembaraçar o partido e o aparelho de Estado dos maus hábitos burocráticos e das sequelas do passado", "regularizar as relações entre a classe operária e os intelectuais, nossas relações com os estudantes e com a juventude em geral, com os artistas e escritores" e "descobrir as causas do desinteresse do povo pelos negócios públicos.

Dias depois, o jurista Zdenek Mlynar, no passado um repressor de intelectuais, entrou na discussão; "A questão essencial hoje para nossa sociedade, o Estado e o partido não é melhorar o sistema político existente, mas assegurar uma transformação qualitativa" e "dar a solução correta às relações entre o partido, o Estado e as outras organizações sociais".

"Devem ser dadas garantias de que a obrigação de executar a decisão da maioria não signifique a opressão, a eliminação da minoria, até sua liquidação enquanto sujeito de ação política", acrescentou Mlynar, pedindo o fim do "sistema que concentra todos os órgãos de segurança num único aparelho", "tribunais independentes subordinados à lei", igualdade de direitos, liberdade de expressão e liberdade de imprensa.

A linha-dura denunciava os reformistas como "burgueses socialistas" e "grupo reacionário". Ligada ao aparato repressiva, temia que seus crimes viessem à luz. A liberalização da imprensa facilita os ataques.

Com um discurso otimista, Dubcek vai à televisão e à praça pública para defender a política de modernização. Novotny, agora presidente, atacou em discurso para operários em 17 de fevereiro, criticando a reforma econômica de Ota Sik pelo risco de "comprometer os benefícios sociais dos trabalhadores, a segurança do emprego, querer instituir um sistema onde o diretor, os altos quadros e os intelectuais seriam privilegiados em detrimento da massa de trabalhadores."

Um "grupo de operários" envia carta aos jornais apoiando o presidente. A Rádio Praga vai conferir e revela que os "operários" são funcionários e burocratas do partido, enquanto os verdadeiros trabalhadores apoiam as reformas. Um segredo de Estado do regime é desmascarado publicamente: a Rádio Praga conta como é feita a censura aos meios de comunicação.

O vice-ministro da Justiça declarou que a censura contraria o Art. 28 da Constituição. A imprensa aproveitou para explorar livremente todos os assuntos, inclusive os aspectos formais da democracia: denunciou as eleições fictícias por unanimidade do período stalinista, exigiu a reabilitação das vítimas da repressão e a punição dos responsáveis, e publicou textos censurados, inclusive de Karl Marx contra a censura.

Em 25 de fevereiro, o general Jan Sejna, aliado de Novotny que articulara um golpe militar em dezembro de 1967, um fanfarrão, prevaricador, conspirador e amigo íntimo do filho do presidente fugiu do país com a amante e pediu asilo nos Estados Unidos.

A notícia da tentativa de golpe deflagrou novos protestos e pedidos de investigação, aumentando pressão para "o afastamento de certos funcionários [inclusive o presidente] como garantia de que o desenvolvimento da democracia socialista será durável e não terá de ceder ao retrocesso."

Os estudantes da Faculdade de Filosofia reclamam em carta aberta aos operários de quem os acusa de "querer restaurar o capitalismo na Tcheco-Eslováquia, quer dizer, o desemprego, a fome e a pobreza", dizendo que são "aqueles que procuram separar os estudantes dos operários". Os verdadeiros inimigos eram "os parasitas, os burocratas do partido".

Uma declaração oficial de 14 de março defendeu a opção pela democracia: "Trata-se da liquidação definitiva das deformações que ameaçaram o desenvolvimento sadio da democracia socialista. Queremos criar uma sociedade socialista democrática, evoluída, que permita expandir a força criativa do povo."

Dubcek definiu em 16 de março a via decidida pelo partido, antecipando o conteúdo do programa de ação: funcionamento autônomo do partido, do Estado e do governo, proibir a acumulação, reforma econômica, manter a aliança com a URSS e a coexistência pacífica com o Ocidente na Guerra Fria.

Ao chegar a Praga em 19 de março, o escritor Pierre Daix observa: "Há centenas e centenas de assembleias em todos o país, nos ministérios, nas fábricas, nas cooperativas e nos sindicatos, assembleias que não só discutem a situação, mas pedem soluções, satisfações e interpelam os responsáveis, ministros, funcionários do partidos e o presidente."

A Primavera de Praga ganha uma dimensão internacional. Na Polônia, desde março, o líder comunista Wladislaw Gomulka enfrenta greves e manifestações. Os ataques contra Novotny atingiam o líder stalinista da Alemanha Oriental, Walter Ulbricht.

Dubcek foi a uma reunião de partidos comunistas do Bloco Soviético em Dresden, na Alemanha Oriental, em 22 de março, e declarou na volta: "Nossos amigos desejam o sucesso da nossa obra. Informamos do processo de renascimento, dos preparativos da próxima plenária do Comitê Central e do nosso programa. (...) É natural que nossos amigos tenham se inquietado com o perigo de ver elementos antissocialistas tirar partido do processo de democratização."

Em 23 de março, Novotny apresenta sua carta de demissão.

Através da União dos Jovens Trabalhadores, fundada em 24 de março, a agitação passou das universidades para as fábricas. A base exige a volta dos sindicatos à sua missão principal: defender os interesses dos trabalhadores. Os sindicatos deixariam de ser correios de transmissão do partido e do Estado.

A massa de filiados ao partido, até então reticente, aproveitou o momento democrático para varrer as direções partidárias anteriores. Para a velha guarda stalinista, o acordo de janeiro estava sendo violado.

Enquanto Smrkovsky defendia um expurgo, Dubcek continuava reticente. Em encontro com estudantes, declarou: "Não importa quem ocupa tal posto, mas qual a política que vamos fazer."

 As eleições municipais previstas para 19 de maio foram adiadas em 25 de março com a seguinte justificativa expressa no jornal oficial Rude Pravo: "O procedimento atual é incompatível com o processo de democratização socialista."

No dia seguinte, trazia novas indicações sobre o espírito do programa de ação: "A liberdade é o elemento básico que toda democracia deve permitir a seus cidadãos. O socialismo pode criar uma sociedade mais perfeita." Serviria de modelo até para o Ocidente.

Quando o Comitê Central volta a se reunir, em 28 de março, o jornal Pravda, órgão oficial do PC da URSS, ainda apoiava Dubcek: "O Partido Comunista da tcheco-eslovaco realiza um grande trabalho baseado nas decisões de janeiro tendo por objetivo...a construção de uma sociedade socialista desenvolvida na Tcheco-Eslováquia."

Nesta reunião, Smrnovsky, comunista histórico, herói da resistência antinazista na Segunda Guerra Mundial, vítima reabilitada do terror stalinista, foi eleito novo presidente. Era um símbolo da mudança.

Em 5 de abril, nova plenária lança o programa de ação da Primavera de Praga. Nos seus discursos, Dubcek reafirma o compromisso claro com a democratização: "Mantemos a linha geral da edificação socialista, mas buscamos engrandecer seu desenvolvimento pela libertação e pleno desenvolvimento do ser humano."

O controle do partido não estava em questão: "Temos confiança na força do partido, na maturidade política dos trabalhadores, operários e agricultores, em nossa juventude. É sobre essa confiança que o partido pretende fundamentar sua ação. O partido e o Comitê Central continuarão à frente do processo de democratização e de renascimento, se bem que certas manifestações tenham aparentemente escapado de seu controle. Não é que as tenhamos ignorado, mas tínhamos tantos problemas a resolver que não demos a elas importância maior."

Em junho, Ludvi Vaculik publicou o manifesto Duas Mil Palavras, assinado por centenas de ativistas e intelectuais pedindo a Dubcek que acelerasse o processo de democratização. Mas o comunismo soviético não tolerou nenhuma tentativa de abertura democrática e desmoronou quando Mikhail Gorbachev tentou reformar a própria URSS.

Semanas antes da invasão, em 31 de julho, o líder operário Jiri Hochman, que se tornaria jornalista, escreveu no jornal Reporter: "Estamos nos aproximando da destruição do poder desta casta (a burocracia), agora quase hereditária, que está presa através de mil elos de corrupção e de interesses mútuos a seus equivalentes no exterior.

"Essa é a extensão do nosso pecado. Não colocamos o socialismo em perigo. Muito pelo contrário. O que pomos em perigo é a burocracia que, lenta, mas decididamente, está enterrando o socialismo em escala mundial."

Em 1970, perseguido, pobre, doente e ameaçado de prisão, Hochman não se entregou: "Estamos lidando com uma casta parasitária, compradora e burocrática, covarde e incapaz, brutal, mentirosa, antinacional, antissocialista e contrarrevolucionária."

Quando os tanques do Pacto de Varsóvia invadiram, Dubcek apelou à população para não resistir. Pelo 72 tcheco-eslocavos foram mortos, sendo 19 na Eslovênia. A liberdade só viria em 1989.

"Europa deve criar sistema de pagamentos independente dos EUA"

Para salvar o acordo nuclear com o Irã, a União Europeia deveria criar um sistema de pagamentos alternativo aos Estados Unidos e ao dólar, afirmou hoje o ministro do Exterior da Alemanha, Heiko Mass, noticiou a agência de notícias Reuters.

O papel hegemônico dos EUA no sistema financeiro internacional torna difícil para a UE e o Irã manterem o acordo. Ao criar seu próprio sistema de pagamentos com base no euro, a Europa diminuiria o impacto das sanções unilaterais impostas pelo governo Donald Trump, mas não eliminaria.

Em 8 de maio, Trump retirou os EUA do acordo negociado no governo Barack Obama entre as cinco grandes potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia), a Alemanha e o Irã para congelar por pelo menos dez anos o programa nuclear militar iraniano.

A partir de 5 de novembro, os EUA vão aplicar sanções contra o Irã e as empresas que negociarem com a ditadura teocrática iraniana. Quase todas as empresas transnacionais devem optar por fazer negócios em dólar e manter o acesso ao mercado americano.

De qualquer forma, a declaração do ministro do Exterior alemão indica uma preocupação da UE de ter uma alternativa própria diante da imprevisibilidade dos EUA de Trump.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Venezuela paga US$ 2 bilhões de compensação à ConocoPhillips

A companhia estatal Petróleos de Venezuela S. A. (PdVSA) concordou hoje em pagar US$ 2 bilhões de compensação à empresa americana ConocoPhillips pela expropriação de seus negócios no país, em 2007, pelo então presidente Hugo Chávez, acabando com uma ação judicial que ameaçava suas exportações.

O valor é o mesmo arbitrado pelo tribunal da Câmara Internacional de Comércio em abril deste ano. A pressão sobre a estatal venezuelana aumentou em maio, quando a Conoco obteve autorização da Justiça da Holanda para assumir o controle de ativos da PdVSA em Curaçao, Bonaire, Santo Estácio e Aruba, ilhas do Mar do Caribe.

Como o petróleo da Venezuela é pesado, o país precisa importar outros tipos de petróleo para o refino. Por isso e porque o país tem as maiores reservas mundiais, a PdVSA tem plataformas e refinarias nas ilhas caribenhas.

Em troca do fim de todas as ações judiciais, a PdVSA prometeu pagar US$ 500 milhões dentro de 90 dias o resto, US$ 1,5 bilhão, com juros, em parcelas trimestrais nos próximos quatro anos e meio. A Conoco afirma que o acordo "atende a todas as exigências regulatórias dos Estados Unidos, inclusive quaisquer sanções impostas pelos EUA à Venezuela."

A Conoco move outra ação contra a Venezuela no Centro de Resolução de Conflitos sobre Investimentos do Banco Mundial. O tribunal condenou a Venezuela por estatizar as propriedades da Conoco, mas ainda não estipulou o valor da indenização.

No início do mês, a empresa canadense Crystallex avançou na luta por uma indenização de US$ 1,4 bilhão pela expropriação de um projeto de exploração de ouro na Venezuela. Um juiz federal do estado de Delaware aceitou uma petição argumentando que a Crystallex tem o direito de tomar bens e ativos da PdVSA nos EUA.

Hoje o ditador Nicolás Maduro anunciou o novo plano econômico para acabar com uma inflação prevista para atingir 1.000.000% em 2018 e 1.800.000% em dois anos, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Uma reforma monetária cortou cinco zeros e mudou o nome da moeda nacional para "bolívar soberano".

Pela cotação de hoje, um real compra 62.629 bolívares soberanos. A moeda será lastreada pelo petro, uma criptomoeda criada pelo regime chavista para escapar das sanções impostas pelos EUA. No discurso de Maduro, um petro vale US$ 60. A maioria dos economistas considera uma ficção.

Ao mesmo tempo, Maduro decretou um aumento de 3.500% no salário mínimo a partir de setembro e anunciou a intenção de aumentar o preço da gasolina venezuelana, a mais barata do mundo. O resultado foi uma corrida aos postos, aos bancos e aos supermercados.

Ninguém com um mínimo conhecimento de economia acredita no sucesso do plano, descrito pelo ditador patético como "mágico" e "revolucionário": "Nesta segunda-feira, a Venezuela começa um enorme processo de recuperação econômica. Estamos vivendo dias históricos, de uma mudança necessária e definitiva."

Nem o empresariado nem os economistas acreditam que as medidas anunciadas reduzam a inflação e o desabastecimento. Ao contrário. A corrida às compras indica que o mercado, dos pequenos consumidores aos grandes empresários, espera o agravamento da crise.

Nos últimos anos, 4 milhões de venezuelanos deixaram o a país, 63% por causa da situação econômica, conclui uma pesquisa divulgada pelo jornal La Patilla.

É a pior crise migratória da história da América Latina. Neste ritmo, pode superar a Síria, de onde fugiram 6 milhões de pessoas desde o início da guerra civil, em 2011. A explosão de violência em Pacaraima, na fronteira norte do Brasil, foi um alerta. A fuga em massa tende a aumentar.

A agonia do chavismo se arrasta sob Maduro rumo ao colapso ou a um golpe de Estado para acabar com um dos governos mais desastrosos da história. Até quando?

Grécia volta ao mercado após maior programa de resgate da história

A Grécia saiu oficialmente hoje do terceiro programa de ajuste das contas públicas adotado desde que o país quebrou em 2010, em troca de empréstimos de mais de US$ 300 bilhões de seus aliados na Zona do Euro, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Central Europeu (BCE).

Oito anos depois do remédio amargo imposto pela troika, o produto interno bruto recuou 25%. O desemprego chegou a um pico de 27,5% em 2013 e está um pouco abaixo de 20%.

"Esta enorme perda do PIB poderia ter sido evitada", escreveu Larry Elliott, editor de economia do jornal britânico The Guardian, se "a prioridade, no quadro da mais grave crise financeira do século, não fosse equilibrar as contas públicas em meio a uma deflação." Na sua opinião, a ajuda foi um fracasso.

O problema é que a Alemanha, a Holanda, a Finlândia e outros países ricos da União Europeia não quiseram bancar a irresponsabilidade financeira dos governos gregos. A crise das dívidas públicas contaminou a Irlanda, Portugal e a Espanha, mas a situação mais grave foi a da Grécia.

"A Grécia saiu do respirador artificial, mas ainda está longe de uma recuperação", comentou o jornalista Mark Lowen na televisão pública britânica BBC. "Segundo o FMI, só quatro países tiveram uma retração econômica maior do que a Grécia nos últimos dez anos: Iêmen, Líbia, Venezuela e Guiné Equatorial."

Em entrevista publicada ontem, o presidente do Banco Central da Grécia, Yannis Stournaras, advertiu: "Se não cumprirmos o que foi acertado, agora e no futuro, os mercados nos abandonarão e não teremos como refinanciar os empréstimos em condições viáveis quando chegar a hora."

As sopas populares continuam sendo a salvação de quem perdeu o emprego. Muitos perderam suas casas.

Ao mesmo tempo, os mais qualificados deixam o país, numa fuga de cérebros: "Mais de 500 mi pessoas, entre elas os mais brilhantes engenheiros, doutores e quadro jovens da Grécia, continuam deixando o país a cada ano, como acontece desde o início da crise", observou o jornalista grego Yannis Palaiologos no jornal americano The Wall Street Journal.

O primeiro-ministro Alexis Tsipras, um radical de esquerda que chegou ao poder no auge da crise, fará um pronunciamento em cadeia nacional de televisão nesta terça-feira. Seu sonho de "justiça social" fica adiado, alerta o jornal grego To Vima: "Nada parece poder nos assegurar que a saída do plano de resgate será suave nem que ele possa ser um porta-voz da esperança."

Estado Islâmico reivindica autoria de atentado na Chechênia

Uma série de quatro ataques coordenados contra a polícia foi realizada hoje em Grozni, a capital da Chechênia, uma república da Federação Russa situada no Norte do Cáucaso. Pelo menos uma pessoa morreu e várias saíram feridas, noticiou o jornal russo The Moscow Times.

Houve poucas ações terroristas na Chechênia no ano passado, mas os alvos e as táticas utilizadas indicam que a região continua sendo alvo de ataques terroristas. O grupo jihadista Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelos atentados de hoje.

A Chechênia é uma república de maioria muçulmana que se rebelou contra o governo central de Moscou depois do fim da União Soviética, em 1991. A Primeira Guerra da Chechênia durou de dezembro de 1994 a agosto de 1996 e terminou com uma humilhante derrota da Rússia.

Quando o atual ditador russo, Vladimir Putin, chegou ao poder em 1999, como primeiro-ministro do presidente Boris Yeltsin, depois de atentados no vizinho Daguestão, iniciou a Segunda Guerra da Chechênia, que foi de agosto de 1999 a maio de 2000. Terminou com a vitória russa, mas a insurgência armada só acabou em 2009 e há resquícios até hoje.

domingo, 19 de agosto de 2018

Empresas alemãs cancelam projetos no Irã por causa das sanções dos EUA

Duas grandes empresas da Alemanha, a companhia de telecomunicações Deutsche Telekom e a estatal ferroviária Deutsche Bahn, suspenderam projetos no Irã depois que o governo Donald Trump rompeu o acordo nuclear de 2015 e reimpôs sanções à República Islâmica extensivas a todas as empresas que fizerem negócios com o país, noticiou a agência Reuters.

As decisões confirmam que, apesar de manter o acordo com o Irã, a União Europeia (UE) não terá como resistir à pressão do governo Trump, que ameaça proibir empresas que negociem com o Irã de operar em dólares e de ter acesso ao mercado americano. A companhia petrolífera francesa Total anunciou o fim de um projeto de exploração de gás de US$ 2 bilhões. Já havia investido US$ 100 milhões.

Em 8 de maio de 2018, contrariando a opinião de aliados, da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e do Departamento da Defesa dos EUA, Trump retirou o país do Plano de Ação Conjunto a Abrangente. É o nome oficial do acordo assinado pelas cinco grandes potências do Conselho de Segurança da ONU (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia), a Alemanha e o Irã para congelar por 10 anos os aspectos militares do programa nuclear iraniano.

A contrapartida era o fim das sanções econômicas, políticas e militares a que o regime dos aiatolas estava sujeito como retaliação a suas ambições nucleares. Até o momento, os líderes do Irã insistem que o país não vai se curvar ante Trump. Mas a crise econômica gera um descontentamento cada vez maior no Irã.

Há uma cisão dentro do regime fundamentalista iraniano. Os setores mais radicais, que sempre foram contra negociar com os EUA, sentem-se justificados, enquanto a ala mais moderada, liderada pelo presidente Hassan Rouhani, paga porque a recuperação da economia foi parcial e a tendência é de agravamento da crise. Nos últimos seis meses, a moeda iraniana, o rial, perdeu 50% do valor.

Depois de ameaçar em 22 de julho arrasar o Irã de uma forma "como poucos sofreram ao longo da história", o que só seria possível com armas atômicas, Trump declarou estar pronto a dialogar com líderes iranianos sem precondições. O Irã rejeitou a oferta, criticando o atual presidente americano por não honrar o acordo negociado com o governo anterior.

O objetivo maior de Trump é provocar uma mudança de regime no Irã. Com a volta das sanções, ele espera que os iranianos se voltem contra o governo.

Dentro de sua estratégia de pressão máxima, que acredita ter dado resultado com a Coreia do Norte, vai fazer propaganda contra o regime iraniano e conspirar com Israel e a Arábia Saudita, os principais aliados dos EUA no Oriente Médio, inimigos jurados da República Islâmica.

Mas a revolta incipiente nas ruas e nos bazares não tem um líder como o Movimento Verde, que protestou em 2009 contra a reeleição fraudulenta do então presidente, Mahmoud Ahmadinejad. Na época, o candidato da oposição era o primeiro-ministro Mir Hossein Mussavi.

Rouhani está perdendo a disputa interna com a linha dura à medida que sua estratégia de reaproximação com o Ocidente fracassou, a situação econômica se deteriora e o governo é cada vez mais obrigado a recorrer às forças de segurança para conter os protestos.

A ameaça iraniana de fechar o Estreito de Ormuz, na saída do Golfo Pérsico, por onde passam 20% do petróleo exportado no mundo, paralisaria seu próprio comércio exterior e provocaria uma forte reação de Washington.

Uma ação militar prejudicaria as negociações dos EUA para convencer a Coreia do Norte a abandonar suas armas nucleares, considerada pelo regime stalinista de Pyongyang como a última garantia contra uma intervenção americana.

Com o encontro de cúpula de 12 de junho entre Trump e o ditador Xi Jinping em Cingapura, e a aproximação entre os EUA e a Coreia do Norte, a China, a Rússia e a Coreia do Sul restabeleceram laços econômicos, aliviando a pressão das sanções internacionais contra Pyongyang.

No momento, as negociações para desnuclearizar a Península Coreana estão estagnadas diante da recusa da Coreia do Norte de propostas do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, para criar um cronograma para o desarmamento.

O risco de uma alta nos preços do petróleo, a dificuldade da Arábia Saudita e aliados de aumentar a produção e a guerra comercial crescente deflagrada por Trump pesam contra o risco de uma militar contra o Irã.

Para complicar a situação, a Rússia, aliada histórica do Irã e parceira no apoio à ditadura de Bachar Assad na guerra civil da Síria, deve aproveitar mais uma oportunidade para tentar minar o poderio dos EUA.

sábado, 18 de agosto de 2018

Pior enchente em cem anos mata centenas no estado indiano de Kerala

Em mais um fenômeno climático agravado pelo aquecimento global, o estado de Kerala, no Sul da Índia, sofre neste verão no Hemisfério Norte com a pior enchente desde os anos 1920s, com 324 mortes confirmadas e cerca de 220 mil flagelados fugiram de casa desde a semana passada.

Esta é a temporada de chuvas das monções, ventos que carregam vapor d'água do Mar da Arábia. Quando bate nas montanhas da Cordilheira do Himalaia, forma nuvens gigantestacas e deságua em chuvas torrenciais no subcontinente indiano, a região conhecida como Sul da Ásia.

Pelo menos 93.219 pessoas estão alojadas em acampamentos no distrito de Thrissur. Em Alappuzha, mais de 10 mil pessoas estariam no teto de suas casas, sem comida nem medicamentos.

 O Exército mobilizou helicópteros e a Marinha está usando pequenas embarcações e botes de borracha para salvar pessoas isoladas pela enchente.

A água subiu até atingir os motores dos aviões estacionados no aeroporto internacional de Kochi, o mais importante de Kerala. Com o aeroporto fechado, as operações de resgate e ajuda humanitária são prejudicadas.

Enquanto a temperatura bate recordes nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, com incêndios florestais na Califórnia, em Portugal e na Grécia, e mortes no Japão, na Índia, são as tempestades que matam.

Hoje o primeiro-ministro nacionalista hindu Narendra Modi sobrevoou a região alagada e prometeu ajuda financeira para o combate imediato às cheias, inclusive às famílias dos mortos e aos feridos, num total de 500 crores, 5 bilhões de rúpias, cerca de US$ 71,63 milhões ou R$ 280 milhões.

Em Kochi, o chefe de governo se reuniu com o governador estadual e ministros envolvidos na operação. Outros estados prometeram ajuda.

Cada família de morto vai receber 2 lakhs, 200 mil rúpias, cerca de US$ 2.852 ou R$ 11.232,40. Cada ferido terá direito a 50 mil rúpias, cerca de R$ 2.808.

O líder do Partido do Congresso, de oposição, Rahul Gandhi, pediu ao primeiro-ministro que declare a enchente de Kerala um "desastre nacional" e decrete estado de calamidade pública no estado.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Arábia Saudita promete US$ 100 milhões para reconstruir a Síria

O reino da Arábia Saudita prometeu US$ 100 milhões para reconstruir áreas do Nordeste da Síria que estavam sob controle da organização terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante, inclusive Rakka, a capital do extinto califado que os extremistas muçulmanos fundaram em 2014.

É a primeira proposta concreta para atender ao desejo do governo Donald Trump de retirar as tropas e o financiamento dos Estados Unidos da guerra civil da Síria e entregar a região tomada dos jihadistas aos países árabes do Golfo Pérsico, liderados pelos sauditas.

Trump quer reduzir o ônus dos EUA na Síria. Hoje, foi revelado que vetou gastos de US$ 200 bilhões destinados ao país. Mas o dinheiro saudita não basta. Os EUA esperam que os países do Golfo ofereçam tropas para ocupar a região.

Neste caso, entrariam em confronto direto com o Exército da Síria e milícias aliadas, que têm o apoio da Rússia e do Irã. Depois de sete anos e cinco meses de guerra civil e mais de 500 mil mortes, o ditador Bachar Assad ainda enfrenta bolsões de resistência na província de Idlibe, no Centro do país, mas pretende reassumir logo o controle de todo o território nacional.

Quando os rebeldes apoiados pela Turquia se renderem, faltará a região Nordeste, dominada pelas Forças Democráticas da Síria (FDS), uma milícia árabe-curda financiada, treinada e armada pelos EUA. Foi a tropa terrestre na guerra contra o Estado Islâmico.

Se os EUA e a Rússia não chegarem a um acordo para levar a paz à Síria, há um sério risco de confronto. Assad vai querer retomar a região. Isso explica por que as monarquias petroleiras do Golfo estão prontas a dar dinheiro, mas relutam em mandar soldados.

Colômbia deve prender três líderes das FARC

O Exército colombiano está tentando prender três líderes da Força Alternativa Revolucionária do Comum, o partido político formado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) depois do acordo de paz com o governo anterior do país, denunciaram membros do antigo grupo guerrilheiro comunista, citados pelo jornal El Heraldo, de Barranquilla. Eles são acusados de violar o acordo.

A prisão de líderes das FARC indica que parte dos militantes do grupo continua envolvida com o tráfico de drogas ou outras atividades ilícitas, fenômeno comum em processos de paz, quando ex-guerrilheiros têm dificuldades em voltar à vida civil.

O acordo de paz assinado em 2016, depois de quatro anos de negociação, acabou com uma guerra civil de 52 anos contra as FARC, que tinha origens no período conhecido na história da Colômbia como La Violencia, que se seguiu ao assassinato do candidato liberal à Presidência Jorge Eliécer Gaitán, em 9 de abril de 1948.

Mas forças conservadoras lideradas pelo ex-presidente e atual senador Álvaro Uribe se opõem à anistia dada a guerrilheiros que cometeram crimes de sangue e à garantia de vagas na Câmara e no Senado para ex-guerrilheiros.

Com a vitória do uribista Iván Duque na eleição presidencial deste ano, a expectativa é de uma revisão do acordo. As prisões podem ser um primeiro sinal. Se mais líderes forem presos, aumenta o risco de ruptura do acordo e de volta de guerrilheiros à clandestinidade, desta vez como crime organizado. A luta armada perdeu o sentido.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Ex-diretor da CIA acusa Trump de esconder conluio com Rússia

Um dia depois de ter acesso a informes secretos sobre a segurança nacional dos Estados Unidos cancelado, o ex-diretor-geral da CIA (Agência Central de Inteligência) John Brennan acusou hoje o presidente Donald Trump de tentar acabar com a investigação do procurador especial Robert Mueller para encobrir o conluio de sua campanha com a Rússia, noticiou a agência Associated Press (AP).

Durante a entrevista coletiva diária de ontem à tarde na Casa Branca, a porta-voz de Trump, Sarah Huckabee Sanders, afirmou que o "comportamento errático" do ex-diretor da CIA estaria colocando em risco a segurança nacional dos EUA,

Em artigo publicado no jornal The New York Times, Brennan alega que a defesa do presidente de que "não houve conluio" é uma "bobagem", restando apenas saber se os atos "configuram uma conspiração punível criminalmente".

"Trump está claramente se tornando mais desesperado para proteger a si mesmo e aos que o cercam, por isso tomou a decisão politicamente motivada de revogar minha licença de acesso a documentos secretos numa tentativa de amedrontar e silenciar quem ousa desafiá-lo", escreveu Brennan.

É praxe nos EUA manter o acesso de altos funcionários do setor de inteligência aos informes secretos de segurança nacional para aproveitar sua experiência profissional na troca e análise de informações.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

AMLO promete plebiscito sobre novo aeroporto da Cidade do México

O presidente eleito do México, Andrés Manuel López Obrador, confirmou ontem a intenção de convocar um plebiscito sobre a construção de um novo aeroporto para a capital do país, maior cidade da América, com mais de 21 milhões de habitantes na região metropolitana. Seu resultado será definitivo.

Se o plano atual de construção de um novo aeroporto para a Cidade do México for derrubado na consulta popular, o setor privado mexicano ficará preocupado com a possibilidade de López Obrador criar uma democracia plebiscitária, submetendo outras questões de seu interesse a aprovação pelo voto popular.

A construção do novo aeroporto se arrasta há quatro anos, marcada por aumentos de custos, sobrepreços e denúncias de corrupção. O plebiscito foi uma das promessa da campanha de AMLO, como é mais conhecido.

Eleito em 1º de julho com uma plataforma esquerdista e 53% dos votos, López Obrador toma posse em 1º de dezembro prometendo fazer uma revolução pacífica no México. Terá maioria na Câmara e no Senado.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Erdogan anuncia boicote a produtos eletroeletrônicos dos EUA

Em retaliação à guerra comercial do governo Donald Trump, o presidente Recep Tayyip Erdogan anunciou hoje um boicote da Turquia a produtos eletroeletrônicos fabricados nos Estados Unidos, informou a agência oficial de notícias Anadolu.

O impacto econômico do boicote deve ser limitado. É um sinal de que o governo turco busca maneiras para responder à duplicação das tarifas de importação sobre aço e alumínio da Turquia. O discurso de Erdogan trata do caso com "guerra econômica".

Trump exige a libertação do pastor protestante Andrew Brunson, preso há quase dois anos na Turquia e não hesitou em usar a economia como arma política num momento de fragilidade da lira turca, com impacto sobre todos os países em desenvolvimento, inclusive a China, a Índia e o Brasil.

Venezuela prende dois altos oficiais pelo suposto ataque a Maduro

O inquérito sobre o suposto atentado com drones contra o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, em 4 de agosto já identificou 34 suspeitos, dos quais 14 foram presos, entre eles o general de divisão Alejandro Pérez, da Guarda Nacional Bolivarista (GNB), e o coronel Pedro Zambrano.

"A cifra de implicados neste caso chegou a 34 sem que se descarte que este número aumente. Até agora, há 14 detidos que foram apresentados [à Justiça] e denunciados", declarou o procurador-geral Tarek William Saab, citado pelo jornal venezuelano El Nacional.

Sem apresentar nenhuma prova de envolvimento do governo da Colômbia e de financiamento vinda da Flórida, nos Estados Unidos, como alegou Maduro, Saab concentrou o fogo no deputado oposicionista Juan Requesens, "denunciado por traição à pátria, homicídio doloso qualificado em grau de frustração em prejuízo do presidente da República".

 Além do mais, foi acusado de "homicídio doloso qualificado cometido com aleivosia em grau de frustração contra sete militares, terrorismo, associação para delinquir, instigação pública continuada e posse ilícita de armas e munições."

Alemanha puxa crescimento da Zona do Euro

A Alemanha, quarta maior economia do mundo e primeira da Europa, cresceu 0,5% no segundo trimestre, acima do esperado, num ritmo anual de 1,8%, e ajudou na expansão da Zona do Euro, que foi de 0,3% no trimestre e de 1,5% em bases anuais.

O dado do primeiro trimestre foi revisado para cima na Alemanha, de 0,3% para 0,4%. No segundo, foi um pouco melhor do que o 0,4% esperado pela média dos economistas. O consumo dos lares e do governo aumentaram, assim como o investimento para formação de capital fixo, as exportações e as importações.

"De modo geral, a economia alemã mostrou um crescimento impressionante no segundo trimestre, desafiando o sentimento negativo e a tensão comercial do momento", observou o economia Carsten Brzeski, do banco ING na Alemanha.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Califórnia condena Monsanto a pagar US$ 289 milhões a vítima de câncer

Na primeira condenação por causa de herbicida a base de glifosato nos Estados Unidos, um júri de São Francisco, no estado da Califórnia, condenou a empresa transnacional de produtos transgênicos Monsanto a pagar uma indenização de US$ 289 milhões (R$ 1,115 bilhão) a Dwayne Johnson, um jardineiro americano de 46 anos com câncer linfático.

Em 2016, Johnson processou a Monsanto alegando que seu linfoma não hodgkiniano é resultado do uso do herbicida Roundup, que contém glicofosato, supostamente cancerígeno. A Justiça lhe deu ganho de causa, responsabilizando a Monsanto por esconder informações a respeito dos riscos de seus produtos.

Maior produtora mundial de sementes transgênicas, a Monsanto, comprada recentemente pela alemã Bayer, é alvo de inúmeras críticas por manobras monopolistas como a obrigação de quem usa suas sementes de usar também seu herbicida, sem falar nos riscos à saúde humana e à natureza dos organismos geneticamente modificados e num passado que remete à Guerra do Vietnã.

A Monsanto era a fabricante do Agente Laranja, o desfolhante usado pelas Forças Armadas dos EUA no Sudeste Asiático. Em comunicado citado pelo jornal Los Angeles Times, a empresa manifestou "toda nossa simpatia ao Sr. Johnson e sua família". Alegou a decisão judicial "não muda o fato de que mais de 800 estudos científicos afirmam que o glifosato não é cancerígeno".

A Agência de Proteção Ambiental dos EUA, totalmente servil a grandes empresas no governo Donald Trump, com chefes que rejeitam o aquecimento global e protegem a indústria do carvão, considera o glifosato inofensivo. Mas a Califórnia o colocou na lista de substâncias cancerígenas e a Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que "provavelmente seja cancerígeno para seres humanos".

O veredito histórico da Califórnia deve firmar jurisprudência. Deve ser o primeiro de muitos processos de indenização. Vai muito além da Monsanto, com consequências para todo o setor de biotecnologia.

De acordo com a televisão americana CNN, mais de 800 doentes acionaram a Monsanto na Justiça em 2017 declarando haver contraído câncer provocado pelo herbicida Roundup. Ao todo, há 4 mil casos similares em tribunais dos EUA.

domingo, 12 de agosto de 2018

Intelectuais se mobilizam para salvar cineasta ucraniano preso na Rússia

Um grupo de cineastas e intelectuais, entre eles a ministra da Cultura da França, Françoise Nyssen, e os diretores Jean-Luc Godard, David Cronenberg e Ken Loach, fez hoje um apelo pela libertação e para salvar a vida do cineasta ucraniano Oleg Sentsov. Condenado a 20 anos de prisão na Rússia, ele está em greve de fome há três meses. Sua vida corre perigo.


Sentsov foi detido em sua casa na península da Crimeia em maio de 2014, dois meses depois da anexação ilegal da região pela Rússia, e denunciado por terrorismo e suposta cumplicidade com o grupo paramilitar neonazista ucraniano Setor de Direita, organização de grupo terrorista e tráfico de armas, acusações forjadas para justificar a prisão. Veja abaixo a nota dos intelectuais:

"Artesãos da imagem e do imaginário, os cineastas nos movem e nos maravilham, capturam nossa época e nos cativam", declarou em nota o grupo. "Através de suas obras, eles compartilham suas visões e despertam as nossas. Eles fazem ouvir suas vozes - vozes às vezes dissidentes: em todo o mundo, constituem contrapesos essenciais ao poder e constroem novos pensamentos. A diversidade de opiniões, os debates, desacordos e discussões que os artistas alimentam são uma chance para a democracia, a liberdade e o progresso.

"Porque a arte não conhece fronteiras, porque a arte é universal, os direitos daqueles que lhe dão vida deve ser igualmente. A liberdade de expressão e a liberdade de criação não devem parar onde começa a dissidência. No entanto, hoje, um cineasta está à morte porque é um dissidente. Ameaçado por causa de suas ideias, como Vassili Grossman, Alexander Soljenitsyn e outros sob o regime comunista.

"Oleg Sentsov está preso na Rússia há mais de quatro anos. Sua condenação a 20 anos de reclusão por um tribunal militar russo, no fim de um processo que manifestamente não respeitou o direito de defesa, é uma violação do direito internacional e das regras fundamentais da justiça. Seu único "erro" real não seria ter exercido sua liberdade de expressão? Seu único crime não seria poder exprimir seu engajamento político através da arte?

"Enfermo, no Norte da Sibéria, em condições horríveis e desumanas, ele perdeu mais de 30 quilos desde o início da greve de fome que faz há quase três meses. Como seu estado de saúde parece se degradar perigosamente dia após dia, é preciso agir. E é preciso agir com rapidez.

"Não agir seria deixar Oleg Sentsov morrer. Seria renunciar a nossos valores e princípios, renunciar ao que defendemos e ao que somos. Seria tolerar que alguém possa ser morto por suas ideias, suas opiniões, suas tomadas de posição. O tratamento de que é objeto é um atentado à liberdade de pensamento e à liberdade de criação.

"Não podemos aceitar. É urgente e necessário que a Rússia encontre uma solução não só humanitária mas política para esta situação. Não somente a França - o presidente Emmanuel Macron fez vários apelos ao presidente Vladimir Putin -, mas o conjunto da comunidade internacional, da União Europeia à ONU, devem se mobilizar por Oleg Sentsov e para obter respostas.

"Os artistas do mundo inteiro sabem que o presidente russo tem o poder de parar com esta tragédia humana e democrática. Em todo o mundo, no mundo do cinema, da cultura e muito além, uma mobilização internacional deve se fazer ouvir em defesa do cineasta. Em nome da liberdade artística e de expressão, nós apelamos de novo pela libertação imediata de Oleg Sentsov", conclui o comunicado.

O texto é assinado pela Sociedade dos Autores e Compositores Dramáticos, a Sociedade Civil dos Autores Multimídia, a Sociedade Civil dos Autores, Realizadores e Produtores, a Sociedade dos Realizadores de Filmes, a Associação dos Realizadores e Realizadoras Francófonos e o Théâtre du Soleil.

sábado, 11 de agosto de 2018

Erdogan acusa Trump de atacar aliado da OTAN "por causa de um pastor"

O presidente Recep Tayyip Erdogan criticou hoje os Estados Unidos, acusando-os de tentar coagir a Turquia, aliada na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), "por causa de um pastor", ameaçando procurar amigos em outro lugar, numa clara referência à Rússia, informou o jornal turco Hürriyet

Ontem, em nome da segurança nacional, o presidente Donald Trump impôs tarifas de 20% sobre o alumínio e 50% sobre o aço importados da Turquia. Trump exige a libertação incondicional do pastor americano Andrew Brunson, detido em outubro de 2016, na onda de prisões que se seguiu à tentativa de golpe militar de 15 de julho daquele ano. Mais de 50 mil pessoas foram presas desde então.

"Só nos ajoelhamos diante de Deus", declarou Erdogan em ato público na província de Ordu, na costa do Mar Negro. "É errado tentar castigar a Turquia por causa de um pastor. Estou me dirigindo aos EUA mais uma vez: é uma vergonha. Está mudando a parceria estratégica da OTAN por causa de um pastor. Faremos o que a Justiça decidir."

Em artigo publicado hoje no jornal The New York Times, Erdogan advertiu que, "a menos que os EUA comecem a respeitar a soberania da Turquia e a provar que entendem as ameaças que nossa nação enfrenta, nossa parceria será prejudicada."

Erdogan compara o golpe de 2016 ao ataque japonês a Pearl Harbor, no Havaí, em 7 de dezembro de 1941, que fez os EUA entrarem na Segunda Guerra Mundial. Reclama que os EUA "não condenaram o ataque e não expressaram solidariedade inequivocamente à liderança eleita da Turquia".

O líder turco acusa o clérigo Fethullah Gülen, exilado na Pensilvânia, pelo golpe. A Justiça dos EUA rejeitou o pedido de extradição por não ver indícios suficientes da participação de Gülen na conspiração, apesar do envolvimento de membros do movimento gulenista na Turquia.

Outro problema citado por Erdogan é a aliança dos EUA com as Unidades de Proteção Popular, braço armado do movimento nacionalista curdo na Síria, ligado ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que durante décadas apoiou a luta armada contra o governo turco.

Os curdos são maioria nas Forças Democráticas da Síria (FDS), uma milícia árabe-curda articulada pelos EUA para a guerra contra a organização terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante dentro da guerra civil da Síria.

A Turquia teme uma aliança entre a região autônoma curda no Norte do Iraque com a região curda da Síria para proclamar a independência do Curdistão, que reivindicaria soberania sobre o Sudeste da Turquia, onda a maioria da população é curda.

"Em vez de respeitar o devido processo judicial, como pedi ao presidente Trump em inúmeros encontros e conversas, os EUA fazem ameaças flagrantes e impõe sanções a vários membros do meu gabinete. Esta decisão é inaceitável, irracional e, em última análise, prejudicial à nossa longa amizade", protestou o presidente turco.

E arrematou: "Num momento em que o mal continua a espreitar ao redor do mundo, ações unilaterais contra a Turquia de parte dos EUA, nosso aliado há décadas, só vai minar os interesses e a segurança dos EUA. Antes que seja tarde demais, os EUA devem abandonar a noção equivocada de que nossa relação possa ser assimétrica e entender que a Turquia tem alternativas. Se não reverter esta tendência de unilateralismo e desrespeito, vai nos obrigar a procurar novos amigos e aliados."

A China e a Rússia, adversárias estratégicas dos EUA, estão sempre prontas a oferecer opções. Diante do tarifaço de Trump, Erdogan ligou para Vladimir Putin em Moscou.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Trump anuncia tarifaço e moeda da Turquia desaba

Numa escalada do conflito entre os dois países, o presidente Donald Trump anunciou hoje um aumento nas tarifas de importação pelos Estados Unidos de alumínio e de aço da Turquia. Trump está irritado com a prisão de um pastor protestante pelo regime autoritário do presidente Recep Tayyip Erdogan.

"Acabei de autorizar que dobrem as tarifas sobre aço e alumínio importados da Turquia, enquanto sua moeda, a lira turca, resvala rapidamente para baixo diante de nosso dólar forte! No alumínio, serão 20% e, no aço, 50%. Nossas relações com a Turquia não são boas neste momento", afirmou Trump no Twitter.

Só hoje a moeda turca caiu 14,3%. Desde o início do ano, a queda passa de 40%. O impacto deste novo salvo nas guerras comerciais de Trump atingiu o rand sul-africano, o peso argentino, o rublo russo e o real, que fechou em R$ 3,86 aqui no Brasil. Os investidores fugiram de ativos de risco e mercados emergentes.

"Dobrar as tarifas de importação sobre aço e alumínio da Turquia vai reduzir ainda mais as importações que o Departamento do Comércio considera uma ameaça à segurança nacional", declarou o secretário Wilbur Ross.

Erdogan rejeita a pressão da União Europeia para recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e promete enfrentar o que chama de "guerra econômica".

O pastor evangélico americano Andrew Brunson foi detido na Turquia em outubro de 2016 dentro das prisões em massa determinadas por Erdogan em consequência do fracasso golpe de Estado de 15 de julho daquele ano.

Depois de quase dois anos de cadeia, na semana passada, a Justiça decidiu transferi-lo para prisão domiciliar por razões de saúde, mas manteve o processo por espionagem e terrorismo. Isso enfureceu Trump, que ameaçou impor "sanções em grande escala" se Brunson não for solto imediatamente.

As sanções de Trump exploram a fragilidade econômica da Turquia, uma aliada na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O atrito entre os dois países começou quando os EUA se aliaram aos curdos para combater a organização terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante dentro da guerra civil da Síria.

Os curdos, maior povo do mundo sem um Estado nacional, estão divididos entre Turquia, Síria, Irã e Iraque. A maioria vive na Turquia. Os curdos do Iraque, que têm autonomia regional, tentaram realizar um plebiscito sobre a independência.

Erdogan teme que eles se unam aos curdos da Síria para proclamar a independência do Curdistão, que inevitavelmente reivindicaria a soberania sobre o Sudeste da Turquia, onde os curdos são maioria.

Com o fracassado golpe militar de 15 de julho de 2016, em que sua própria vida estava em risco, Erdogan aproveitou para perseguir todos os seus adversários políticos. Mais de 50 mil pessoas foram presas e mais de 160 mil demitidas.

O líder turco acusou o clérigo muçulmano turco exilado nos EUA Fethullah Gülen, seu antigo aliado. A Justiça dos EUA rejeitou o pedido de extradição por falta de indícios e provas do envolvimento de Gülen no golpe, apesar da participação do movimento gulenista.

Diante do conflito com os EUA, Erdogan se aproximou do ditador da Rússia, Vladimir Putin, com quem falou no telefone depois das ameaças de Trump. O presidente turco é um líder autoritário e não quer dar a impressão de ceder diante da pressão dos EUA.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Japão voltou a crescer no segundo trimestre

O Japão, terceira maior economia do mundo, superou a contração de 0,2% no primeiro trimestre e cresceu 0,5% de abril a junho de 2018, num ritmo anual de 1,9%, superando a expectativa do mercado, de uma alta de 1,4%.

A contração do primeiro trimestre foi a primeira depois de oito trimestres consecutivos ou dois anos de expansão graças às políticas de incentivo do primeiro-ministro Shinzo Abe, o mais longo período de crescimento da economia japonesa desde 1989.

Depois de ficar estagnado no primeiro trimestre, o consumo pessoal registrou avanço de 2,8% em bases anuais e os gastos públicos de 0,9%. O crescimento de 0,8% nas exportações foi superado pelo aumento de 3,9% nas importações.

Senado da Argentina rejeita o aborto

Por 38 a 31 votos, o Senado da Argentina rejeitou há pouco um projeto aprovado na Câmara, por 129 a 125, que legalizaria o aborto no país nas primeiras 14 semanas de gravidez. Agora, a matéria só pode voltar a ser discutida no próximo ano.

A aliança Cambiemos (Mudemos), do presidente Maurício Macri, e o Partido Justicialista (peronista) se dividiram, mas a maioria dos seus senadores votou não. Na aliança kirchnerista Frente para a Vitória, a ala do peronismo liderada pela ex-presidente e possível candidata em 2019 Cristina Kirchner, houve apenas um voto contra o aborto.

Houve duas abstenções e uma ausência. Por gênero, 24 homens votaram contra o aborto e 17. As mulheres se dividiram: 14 votaram a favor e 14 contra.

O presidente Macri é pessoalmente contra o aborto, mas prometeu não vetar a lei, se fosse aprovada.   Com a derrota do projeto, a Casa Rosa cogita incluir a despenalização do aborto na reforma do Código Penal argentino. O aborto continuaria sendo crime, mas as mulheres deixariam de ser punidas com prisão, noticiou o jornal Clarín.

Do lado de fora do Congresso, manifestantes a favor do aborto protestaram e atacaram a polícia, que usou jatos d’água e gás lacrimogênio. Às três da manhã, mesma hora de Brasília, ainda há tumulto nas ruas de Buenos Aires ao redor do Palácio do Congresso.

Na América do Sul, o aborto só é permitido no Uruguai.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Coreia do Norte rejeita cronograma de desnuclearização proposto pelos EUA

A Coreia do Norte rejeitou repetidas vezes propostas do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, para criar um cronograma de desnuclearização. É mais um sinal de que o regime comunista de Pyongyang não mudou sua tática de negociação de avançar e recuar para confundir e ganhar tempo.

Desde o histórico encontro de cúpula do presidente Donald Trump com o ditador Kim Jong Un em 12 de junho em Cingapura, os negociadores dos Estados Unidos e da Coreia do Norte tentam avançar, mas até agora não deram passos concretos para eliminar as armas nucleares da Península Coreana.

O regime stalinista norte-coreano devolveu os restos mortais de soldados americanos mortos na Guerra da Coreia (1950-53) e fez um gesto simbólico, fechando um local de testes nucleares praticamente destruído.

Trump agradeceu ao Camarada Kim Jong Un, mas nas negociações de fundo, os norte-coreanos mantêm a mesma tática de negociação, blefando, recuando abruptamente e rejeitando qualquer proposta da outra parte.

Pela proposta americana, a Coreia do Norte deveria entregar 60% a 70% de seu arsenal aos EUA ou a outros país em seis a oito meses.

A maior parte dos analistas não acredita que a Coreia do Norte esteja mesmo disposta a entregar todas as suas armas atômicas e encerrar seu programa nuclear. Afinal, o regime stalinista investiu nisso durante anos como a última garantia de sobrevivência.

Há duas semanas, com base em imagens de satélites-espiões, os serviços secretos dos EUA advertiram que a Coreia do Norte continua produzindo mísseis balísticos de longo alcance. O movimento de trabalhadores nos institutos de pesquisa e nas centrais nucleares indica que a atividade não diminuiu.