Duas grandes empresas da Alemanha, a companhia de telecomunicações Deutsche Telekom e a estatal ferroviária Deutsche Bahn, suspenderam projetos no Irã depois que o governo Donald Trump rompeu o acordo nuclear de 2015 e reimpôs sanções à República Islâmica extensivas a todas as empresas que fizerem negócios com o país, noticiou a agência Reuters.
As decisões confirmam que, apesar de manter o acordo com o Irã, a União Europeia (UE) não terá como resistir à pressão do governo Trump, que ameaça proibir empresas que negociem com o Irã de operar em dólares e de ter acesso ao mercado americano. A companhia petrolífera francesa Total anunciou o fim de um projeto de exploração de gás de US$ 2 bilhões. Já havia investido US$ 100 milhões.
Em 8 de maio de 2018, contrariando a opinião de aliados, da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e do Departamento da Defesa dos EUA, Trump retirou o país do Plano de Ação Conjunto a Abrangente. É o nome oficial do acordo assinado pelas cinco grandes potências do Conselho de Segurança da ONU (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia), a Alemanha e o Irã para congelar por 10 anos os aspectos militares do programa nuclear iraniano.
A contrapartida era o fim das sanções econômicas, políticas e militares a que o regime dos aiatolas estava sujeito como retaliação a suas ambições nucleares. Até o momento, os líderes do Irã insistem que o país não vai se curvar ante Trump. Mas a crise econômica gera um descontentamento cada vez maior no Irã.
Há uma cisão dentro do regime fundamentalista iraniano. Os setores mais radicais, que sempre foram contra negociar com os EUA, sentem-se justificados, enquanto a ala mais moderada, liderada pelo presidente Hassan Rouhani, paga porque a recuperação da economia foi parcial e a tendência é de agravamento da crise. Nos últimos seis meses, a moeda iraniana, o rial, perdeu 50% do valor.
Depois de ameaçar em 22 de julho arrasar o Irã de uma forma "como poucos sofreram ao longo da história", o que só seria possível com armas atômicas, Trump declarou estar pronto a dialogar com líderes iranianos sem precondições. O Irã rejeitou a oferta, criticando o atual presidente americano por não honrar o acordo negociado com o governo anterior.
O objetivo maior de Trump é provocar uma mudança de regime no Irã. Com a volta das sanções, ele espera que os iranianos se voltem contra o governo.
Dentro de sua estratégia de pressão máxima, que acredita ter dado resultado com a Coreia do Norte, vai fazer propaganda contra o regime iraniano e conspirar com Israel e a Arábia Saudita, os principais aliados dos EUA no Oriente Médio, inimigos jurados da República Islâmica.
Mas a revolta incipiente nas ruas e nos bazares não tem um líder como o Movimento Verde, que protestou em 2009 contra a reeleição fraudulenta do então presidente, Mahmoud Ahmadinejad. Na época, o candidato da oposição era o primeiro-ministro Mir Hossein Mussavi.
Rouhani está perdendo a disputa interna com a linha dura à medida que sua estratégia de reaproximação com o Ocidente fracassou, a situação econômica se deteriora e o governo é cada vez mais obrigado a recorrer às forças de segurança para conter os protestos.
A ameaça iraniana de fechar o Estreito de Ormuz, na saída do Golfo Pérsico, por onde passam 20% do petróleo exportado no mundo, paralisaria seu próprio comércio exterior e provocaria uma forte reação de Washington.
Uma ação militar prejudicaria as negociações dos EUA para convencer a Coreia do Norte a abandonar suas armas nucleares, considerada pelo regime stalinista de Pyongyang como a última garantia contra uma intervenção americana.
Com o encontro de cúpula de 12 de junho entre Trump e o ditador Xi Jinping em Cingapura, e a aproximação entre os EUA e a Coreia do Norte, a China, a Rússia e a Coreia do Sul restabeleceram laços econômicos, aliviando a pressão das sanções internacionais contra Pyongyang.
No momento, as negociações para desnuclearizar a Península Coreana estão estagnadas diante da recusa da Coreia do Norte de propostas do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, para criar um cronograma para o desarmamento.
O risco de uma alta nos preços do petróleo, a dificuldade da Arábia Saudita e aliados de aumentar a produção e a guerra comercial crescente deflagrada por Trump pesam contra o risco de uma militar contra o Irã.
Para complicar a situação, a Rússia, aliada histórica do Irã e parceira no apoio à ditadura de Bachar Assad na guerra civil da Síria, deve aproveitar mais uma oportunidade para tentar minar o poderio dos EUA.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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