sábado, 25 de agosto de 2018

Morre o senador John McCain, herói da Guerra do Vietnã desprezado por Trump

Piloto de avião da Marinha dos Estados Unidos abatido em Hanói na Guerra do Vietnã (1964-71), John McCain ficou cinco anos e meio preso no Vietnã do Norte, onde foi torturado, o que o tornou um ativista contra a tortura, especialmente depois dos atentados de 11 de setembro.

Libertado, foi eleito para a Câmara em 1982 e 1984 e para o Senado pelo estado do Arizona desde 1986. Em 2008, disputou a eleição presidencial pelo Partido Republicano contra Barack Obama. Ele morreu hoje aos 81 anos de um câncer no cérebro.

McCain tinha um tipo de câncer muito agressivo chamado de glioblastoma, descoberto em julho de 2017. Fez radioterapia e quimioterapia para enfrentar a doença. Ontem, a família anunciou que havia suspendido o tratamento.

Mesmo em estado grave, McCain foi ao Senado votar contra a tentativa do presidente Donald Trump de revogar o Lei de Tratamento de Saúde a Preços Acessíveis, o programa do governo Barack Obama para oferecer assistência médica a todos os americanos. Ele não votou, mas apoiou, os cortes de imposto e foi importante para sua aprovação. Manteve a coerência até o fim.

Desde 7 de dezembro do ano passado, quando deu seu último voto, não ia mais ao Senado.

Filho e neto de almirantes, John Sidney McCain III nasceu em 29 de agosto de 1936 na Zona do Canal do Panamá. Era parte de uma família que lutou em todas as guerras dos EUA desde a independência.

Herói do Vietnã, ele se tornou um personagem importante da política americana no ano 2000, quando disputou a candidatura do Partido Republicano à Casa Branca com George Walker, que seria eleito e reeleito.

O senador cruzou os EUA com um ônibus chamado de Expresso do Papo Reto, onde respondia perguntas a diferentes grupos de repórteres e tratava diretamente, sem rodeios, dos problemas da nação. Ganhou a primeira eleição primária, no estado de Novo Hampshire, mas depois de uma derrota na Carolina do Sul deixou de ameaçar a campanha vitoriosa de Bush.

Apesar da derrota, McCain considerou a campanha das primárias "uma grande diversão". Especialista em segurança, defesa e política internacional, era um dos falcões da linha dura no Congresso. Sempre advertia que a Rússia continuava sendo inimiga dos EUA no mundo pós-Guerra Fria.

Em 2008, conquistou a candidatura do partido e indicou a governadora do Alasca, Sarah Palin, para vice-presidente, estridente e despreparada. Seu preferido seria o senador Joe Lieberman. Por causa da idade e da juventude de Obama, aceitou Palin. Os críticos o acusam de ter estimulado o crescimento da ala populista do partido.

Durante a campanha eleitoral de 2016, criticou Trump, chamando o atual presidente de "mal informado" e "impulsivo". No ano passado, alertou para o risco de "um nacionalismo mal passado e espúrio, uma armação de pessoas mais interessados em encontrar bodes expiatório do que em resolver problemas."

Do alto de seu narcisismo, Trump contra-atacou. Desprezou o herói nacional, dizendo que "ele virou herói porque foi capturado, gosto dos que não são presos" e o criticou várias vezes por não votar contra o fim do programa de saúde de Obama.

Com temperamento explosivo, McCain foi movido por sua lealdade às Forças Armadas, o conservadorismo e sua ousadia em combate. Rebelde, tinha problemas com a disciplina militar quando seu avião foi abatido durante um bombardeio a Hanói, a capital norte-vietnamita.

Como seu pai era o comandante-em-chefe das Forças dos EUA no Pacífico, McCain era um prisioneiro de guerra muito especial, um trunfo para o regime comunista vietnamita. Com os dois braços quebrados, foi submetido à tortura. Passou dois anos em confinamento.

Durante os cinco anos de meio de prisão, foi espancado com frequência, uma vez por até dez vietnamitas ao mesmo tempo. Tentou o suicídio duas vezes. Foi solto em março de 1973, quando os EUA fecharam um acordo de paz com o regime comunista do Vietnã do Norte, que em 1975 conquistaria o Sul, acabando com a guerra.

Para milhões de americanos, McCain virou um símbolo da resistência e da coragem, de um espírito de luta que não se entrega mesmo quando fisicamente quebrado e psicologicamente abalado. Nunca mais conseguiu erguer os braços acima do ombro, por causa dos ferimentos sofridos na queda do avião e das torturas que sofreu.

Trump não foi convidado para o enterro. Os ex-presidente George W. Bush e Barack Obama, e o vice-presidente Mike Pence, prestarão as homenagens.

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