segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Efeito estufa pode ter impacto econômico arrasador

A mudança no clima da Terra pelo aumento na concentração gases que provocam o aquecimento da atmosfera pode devastar a economia mundial numa escala equivalente à das duas guerras mundiais ou da Grande Depressão (1929-39), adverte Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, em relatório produzido para o governo britânico.

O argumento central é que uma ação coordenada para combater o aquecimento do planeta terá custos muito menores do que as catástrofes que podem ocorrer se o efeito estufa for ignorado: "Nossas ações nas próximas décadas podem criar risco de uma grande ruptura na atividade econômica e social no final deste século e no início do próximo, numa escala similar àquela associada às guerras mundiais e à depressão econ6omica da primeira metade do século 20".

Stern adverte que o aquecimento global derreterá as calotas polares, aumento o nível dos oceanos, provocará quebra de sagras, escassez de água potável, aumento da mortalidade por malnutrição e ondas de calor, além de surtos de malária e de febre amarela. Os países mais pobres serão atingidos primeiro.

Ataque a escola mata 80 no Paquistão

Líderes muçulmanos acusaram os Estados Unidos pelo ataque a uma escola religiosa suspeita de ser um centro de treinamento da rede terrorista Al Caeda. Oitenta pessoas morreram, num dos piores ataques contra militantes suspeitos de terrorismo no Paquistão.

Os líderes muçulmanos convocaram manifestações de protesto em todo o país para condenar o ataque contra a madrassá, o tipo de escola religiosa onde estudaram os refugiados afegãos que formariam a Milícia dos Talebã (Estudantes). Há no Paquistão cerca de 9 mil madrassás, escolas onde só se estuda o Corão, o livro sagrado dos muçulmanos.

Tropas paquistanesas apoiada por helicópteros armados de mísseis atacaram a escola religiosa suspeita de estar sob o controle da Caeda. Moradores da regão e líderes religiosos disseram que o ataque, desfechado pouco antes do amanhecer, matou professores e estudantes inocentes.

Os EUA e o Paquistão negaram envolvimento americano na operação.

Berlusconi é denunciado por corrupção

O ex-primeiro-ministro e atual líder da oposição na Itália, Silvio Berlusconi, e o advogado britânico David Mills foram denunciados por corrupção hoje, nas audiências preliminares de um processo envolvendo a Mediaset, controladora do grupo de mídia de Berlusconi, o homem mais rico da Itália. Ele é suspeito de ter subornado o advogado para prestar falso testemunho.

A promotoria de Milão pediu a abertura de processo contra Berlusconi, supostamente por pagar 580 mil euros a Mills, assessor do grupo Fininvest, de propriedade do ex-primeiro-ministro, para mentir sobre seus negócios. A acusação contra Mills provocou um escândalo político no Reino Unido, porque ele era casado com a ministra da Cultura, Tessa Jowell.

Mills depôs duas vezes, em 1997 e 1998, como testemunha em processos contra Berlusconi. Em 20 de novembro de 1997, ele depôs num caso em que Berlusconi era acusado de subornar altos funcionários da Guarda de Finanças. Em 12 de dezembro de 1998, foi sobre o financiamento ilegal do Partido Socialista de Bettino Craxi, processo e preso na Operação Mãos Limpas, e fraude na contabilidade do grupo Fininvest.

Bomba mata pelo menos 35 em Bagdá

A explosão de uma bomba numa favela xiita da periferia da capital do Iraque matou pelo menos 35 pessoas.

O total de americanos mortos neste mês na guerra chegou hoje a 101. É o quarto pior mês para os soldados dos Estados Unidos no Iraque e o pior desde janeiro de 2005.

A guerra é hoje o maior problema do presidente George W. Bush e o tema central das eleições intermediárias em que serão renovados toda a Câmara e um terço do Senado. O Partido Republicano corre o risco de perder a maioria na Câmara e no Senado, o que tiraria muito do poder do presidente nos seus dois últimos anos de mandato.

domingo, 29 de outubro de 2006

Amorim: relações com EUA nunca foram tão boas

Apesar de não ter havido acordo para criar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), as relações do Brasil com os Estados Unidos nunca foram tão boas, afirma o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, candidatíssimo a permanecer no cargo no segundo governo Lula.

Em entrevista ao jornal O Globo deste domingo, o chanceler declarou que "a Alca realmente acabou. A Alca, como foi concebida, acabou. Isso não significa um fracasso. Se fosse do jeito que estava, a indústria naval brasileira não estaria produzindo plataformas de petróleo, as indústrias farmacêuticas brasileiras estariam sofrendo mais pressão do que ainda sofrem, por causa da lei de patentes, os subsídios continuariam e seríamos obrigados a comprar produtos americanos subsidiados como aconteceu no TLC (Tratado de Livre Comércio) firmado entre os EUA e a Colômbia. Esta Alca não servia. Os prejuízos de uma Alca, tal como estava concebida, eram infinitamente maiores do que os benefícios. O Brasil não pode perder a prerrogativa de usar o seu mercado e as compras do Estado como instrumento de política industrial".

O chanceler negou que o Brasil esteja ficando isolado, ao lado da Argentina e da Venezuela. Seriam os três países que não fariam acordos bilaterais de comércio com os EUA, afirmando que as exportações cresceram, no primeiro semestre de 2006, em comparação com o primeiro semestre de 2002, 258% para a América do Sul, 220% para o conjunto da América Latina e 332% para o Mercosul: "Um país que fez um acordo com os EUA, como o Peru, importou 139% mais do Brasil este ano. No caso da Colômbia, que é muito ligada aos americanos, o aumento foi de 95%. É claro que não estamos ficando isolados. Ao contrário."

Outro argumento do embaixador Celso Amorim: "Vocês já viram alguma vez tantas autoridades americanas vindo ao Brasil? Somente a representante comercial dos EUA, Susan Schwab, esteve aqui duas vezes em cinco semanas. Temos boas relações com o presidente George W. Bush, pragmáticas e diretas. Falo com [a secretária de Estado americana] Condoleezza Rice com grande freqüência. Em diversas ocasiões, é ela quem me telefona e não é para falar de abobrinha. Conversamos sobre Haiti, américa do sul, Coréia do Norte, Líbano".

Celso Amorim confia numa conclusão da Rodada Doha de negociações de liberalização comercial da Organização Mundial do Comércio (OMC), mesmo que demore: "Conseguimos, por exemplo, uma data final para os subsídios à exportação agrícola, em 2013. Além disso, está consagrado o princípio de que os subsídios internos têm de cair em termos reais".

Ele admite que é preciso "aprofundar" as relações com os EUA, e uma das principais críticas à política externa do primeiro governo Lula era o antiamericanismo, uma certa ideologização para reforçar as credenciais de esquerda de um governo conservador em política econômica: "É preciso aprofundar as relações com os EUA mas nunca de forma unidirecional, é com todo o mundo. Vivemos em um mundo multipolar e temos que aproveitar esta multipolaridade tanto econômica como politicamente".

Entre os novos parceiros de quem o Brasil pretende se aproximar, Amorim citou o Sudeste da Ásia, o Pacífico, a Austrália e a Europa Oriental. Entre as áreas prioritárias para cooperação internacional, biocombustíveis, defesa e eletroeletrônica.

O ministro admitiu que há problemas no Mercosul e na região: "Com exceção da Bolívia, por causa do gás, o Brasil tem superávit com todos os países da América do Sul." E defendeu o reconhecimento da China como uma economia de mercado: "Não teríamos vendido aviões da Embraer se não tivéssemos reconhecido a China como uma economia de mercado. Também não teríamos resolvido o problema da soja. (...) Você não pode esperar vender US$ 8 bilhões para a China e fechar totalmente o nosso mercado."

Japão e Europa devem manter taxas de juros

Os mercados financeiros estarão atentos nesta semana ao Banco do Japão, que na terça-feira deve manter inalterada em 0,25% ao ano a taxa básica da segunda maior economia do mundo, e ao Banco Central da Europa, que toma sua decisão na quinta-feira e também não deve mexer na sua taxa básica, hoje em 3,25% ao ano. Mas permanece a expectativa de que ambos devem apertar a política monetária até o final do ano.

Na terça-feira, o Banco do Japão deve anunciar suas previsões para a inflação e o crescimento da economia. Com o crescimento de preços em 2,4% ao ano, é provável uma alta de juros já em novembro. O ritmo de crescimento da produção industrial deve cair dos 6% anuais de agosto para 4,8%. A taxa de desemprego deve ficar em 4,1%.

Já o BCE deve aumentar sua taxa básica para 3,5% ao ano até dezembro, dando uma pausa no início do ano para avaliar o impacto do aumento do imposto sobre valor agregado, o equivalente ao imposto de circulação de mercadorias e serviços, na Alemanha, a maior economia da Europa.

A previsão atual é de um crescimento de 2,6% este ano na eurozona e de 1,9% em 2007, sob o impacto da desaceralação da economia mundial. Em outubro, a expectativa de inflação é de 1,7%, abaixo da meta do BCE, que é de 2% ao ano. A taxa de desemprego está em 7,9%.

sábado, 28 de outubro de 2006

Lafer: política externa precisa de choque de gestão

O governo Luiz Inácio Lula da Silva politizou excessivamente a política externa, introduzindo um viés ideológico antiamericano, o que faz necessário um choque de gestão também nesta área, afirmou ontem o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer (nos governos Collor, Itamar e Fernando Henrique), ao falar no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro, sobre a política externa do candidato Geraldo Alckmin.

“Como acabo de entrar para a Academia Brasileira de Letras, vou usar a pena da galhofa”, ironizou Lafer no início da palestra, dizendo que precisava do humor para falar de alguém que já se comparou a Jesus Cristo, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, como o presidente Lula.

Por causa da excessiva ideologização da política externa, “Alckmin, se for eleito, fará um choque de gestão numa perspectiva social-democrata, um choque de gestão também em política externa”.

Na opinião de Lafer, o governo Lula e o PT “achavam que tinham recebido uma herança maltida, que a política externa estava toda errada. O governo queria se diferenciar. Não fez isso na economia. Usou a política externa”.

Em política externa, adverte o ex-chanceler, devem-se evitar dois riscos: subestimar o que o país representa e superestimar-se.

“É sempre uma fina avaliação do que se pode obter do mundo”, argumentou Lafer. “Nosso principal tema é o desenvolvimento. As questões de fronteira foram resolvidas pelo Barão do rio Branco. É uma região sem conflitos internacionais. A vizinhança também é importante. Somos um país-continente, um país-monstro. Mas somos um país-monstro benigno. Lidar com a vizinhança é uma prioridade.

“A América do Sul não foi descoberta por Lula nem por Fernando Henrique. No Mercosul, Lula recebeu uma herança mas está depreciando os ativos”, alfinetou Lafer, critico da entrada da Venezuela de Hugo Chávez como membro pleno do bloco sem uma longa negociação de acesso.

“O Mercosul é a grande operação dos últimos 15 anos para a diplomacia brasileira”, observou o ex-chanceler. “É um projeto de sustentação política e econômica, democracia e inclusão social. A integração da Venezuela é equivocada. Chávez tem um projeto político antiamericano. Dificultará o projeto anterior, comprometendo sua eficácia. O Mercosul opera por consenso. O Brasil deve usar isto para vetar as ambições de Chávez.”

Para Lafer, “mais importante do que o Parlamento do Mercosul é o fortalecimento da Secretaria Técnica”.

O bloco tem um déficit institucional. Tudo acaba sendo decidido pelos presidentes, o que reforça o personalismo. A entrada de Chávez não ajuda neste sentido.

OMISSÃO NO MERCOSUL
“Este governo se omitiu na ‘guerra das papeleiras’”, acusou Lafer, referindo-se conflito entre Uruguai e Argentina por causa da instalação de duas fábricas de papel e celulose no Uruguai, na margem oriental do Rio Uruguai. “A Argentina recorrer à Corte Internacional de Justiça de Haia. Para o Uruguai, eram investimentos da ordem de 15% do PIB. O Uruguai mandou uma carta não-respondida para o Brasil, que ocupava a presidência pro tempore do bloco”.

Lafer negou que o governo Fernando Henrique tenha abandonado a América Latina, citando como exemplo a primeira reunião de cúpula da América do Sul.

O governo Lula investiu na criação da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa), reunindo o Mercosul e a Comunidade Andina de Nações. Lafer vê um conflito deste projeto com a Alternativa Bolivarista para as Américas (Alba), negociada por Chávez com os presidente de Cuba, Fidel Castro, e da Bolívia, Evo Morales: “A Alba contesta a Casa. Gera conflito e não cooperação. A visão do Chávez é promover o conflito para estimular a revolução bolivarista”.

Pelas mesmas razões ideológicas que apressaram o ingresso de Chávez no Mercosul, o Brasil reagiu timidamente quando o governo boliviano estatizou as reservas de petróleo e gás, e ocupou militarmente as instalações da Petrobrás naquele país.

O ex-ministro também a “tripartição” na condução da política externa, com o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, e o assessor especial da Preisdência para relações exteriores, Marco Aurélio Garcia, fazendo sombra ao ministro Celso Amorim. Não poupou o atual ministro, “que chama o presidente de nossa guia. Não me lembro de nenhum chanceler que chamasse o presidente de nosso guia”.

No Itamaraty, “o choque de gestão seria contra o aparelhamento. Primeiro, o patrulhamento ideológico, as leituras obrigatórias. Nunca houve isso. Segundo, o critério de promoção passou a ser o ‘entusiasmo pelo presidente Lula’, e não seriedade, zelo, competência. Já fui chefe dele e não lhe pedi entusiasmo. O Barão do Rio Branco era monarquista e foi o maior chanceler da república. Ninguém lhe cobrou lealdade ao regime”.

ERROS DE AVALIAÇÃO
Mas é na parte da negociações comerciais que ficaria mais evidente a diferença entre o governo Lula e um possível governo Alckmin: “Com exceção da Organização Mundial do Comércio (OMC), as demais negociações têm sido politizadas e conduzidas de maneira inadequada do ponto de vista técnica. Falta maior proximidade com o setor privado”.

Por erros de avaliação, raciocina Lafer, o Brasil perdeu tudo o que pleiteou: a vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a diretoria-geral da OMC, a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a secretaria-geral da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal).

“A vaga no Conselho de Segurança não deve ser prioritária”, entende Lafer.

De nada adiantou o Brasil reconhecer a China como uma economia de mercado. A China está mais preocupada em vetar o Japão. A Índia, outra candidata, tem um sério problema com o Paquistão.

Se a Alemanha entrar, a Itália acha que também merece mas há também o problema da super-representação européia.

Na África, há uma disputa entre África do Sul, Nigéria e Egito. O Egito é um país árabe, o que levanta a questão do Oriente Médio.

“Nós enfrentamos a resistência da Argentina e do México”, comenta Lafer. “Como envolve o México, aliado dos EUA no Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte), os EUA não querem se envolver.”

Acima de tudo, depois da forte oposição à invasão do Iraque, os EUA vêm com desconfiança qualquer reforma que possa ampliar o Conselho de Segurança. Com a exceção do Japão, os novos membros poderiam ser votos contra os EUA.

Além da obsessão com a vaga no Conselho de Segurança, o ex-chanceler criticou a abertura de embaixadas num número grande de países, alegando que seria mais importante abrir mais consulados para atender à quantidade cada vez maior de brasileiros que moram no exterior.

Como o Brasil disputava vários cargos, o ex-chanceler e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Francisco “Rezek não foi reconduzido à Corte de Haia. O Itamaraty resolveu não concorrer”.

Para a OMC, o embaixador Luiz Felipe de “Seixas Correa era um ótimo nome mas o momento era inadequado. O Brasil deveria ter retirado sua candidatura em favor do candidato uruguaio”. Mas o uruguaio fizera o texto preparatório sobre a questão agrícola para a conferência interministerial da OMC em Cancún em setembro de 2003 contemplando os interesses protecionistas dos países ricos, o que irritou o chanceler Celso Amorim.

Acabou ganhando o ex-comissário de Comércio Exterior da União Européia, o francês Pascal Lamy. Como a França é a maior defensora do protecionismo agrícola, o resultado acabou sendo pior para o Brasil.

Para negar que o governo Fernando Henrique tenha sido subserviente com os países ricos, Celso Lafer lembrou o discurso do então presidente na Assembléia Nacional da França condenando tanto o terrorismo quanto o unilateralismo dos Estados Unidos depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.

“O relacionamento com a China, a Índia e a Rússia não é novo”, relembrou o ex-chanceler. “Temos uma cooperação espacial antiga com a China. Somos aliados da Índia em negociações multilaterais há décadas. Mas é ingenuidade supor que eles vão se aliar conosco contra os EUA. Eles procuram as convergências possíveis com os americanos e evitar os conflitos desnecessários. Talvez um governo Alckmin seja mais realista.”

Lafer admitiu que a formação do Grupo dos Vinte foi um avanço importante.
Disse que só foi possível porque a China entrou na OMC mas destacou a divergência de interesses entre os grandes países em desenvolvimento: “O Brasil quer liberalizar a agricultura, a China quer liberalizar a indústria e a Índia quer liberalizar os serviços”.

Quanto à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), o ex-chanceler reconheceu, inclusive citando o ex-presidente Fernando Henrique, que é uma negociação muito difícil por causa das exigências do Brasil em agricultura e dos EUA em propriedade intelectual, entre outras questões.

“Lula e seus aliados fizeram da Alca a 'bête noire', uma verdadeira anexação do país pelos EUA”, analisou Lafer. “Bush gerou um antiamericanismo e o governo Lula navegou neste antiamericanismo, apoiado pelo movimento antiglobalização. Há um desconforto na relação do atual governo com os EUA. Eu negociaria até o fim. Se não houvesse acordo, o ônus seria deles”.

Anistia luta por blogueiros presos por motivos políticos

A organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional lançou uma campanha pela libertação de blogueiros presos por regimes ditatoriais simplesmente por expressar opiniões diferentes das "verdades" oficiais.

Na China, Shi Tao pegou 10 anos de cadeia por "passar segredos de Estado para entidade estrangeiras". Ele enviou a amigos os planos de segurança do governo chinês para os 15 anos do massacre na Praça da Paz Celestial, em Beijim. O Yahoo deu informações ao governo chinês, sendo acusado de "informante da polícia" pela organização não-governamental Repórteres sem Fronteira.

A Vietnã talvez seja o segundo pior país em censura à internet, depois da China. Lá, Nguyen Vu Binh pegou sete anos de cadeia e três de prisão domiciliar por "espionagem". Ele escreveu uma série de artigos denfendo maior liberdade política e econômica, denunciando a corrupção e propondo a criação de um partido liberal-democrata.

No Irã, Kianoosh Sanjar foi preso em 7 de outubro e desapareceu. Até então, publicava informações sobre dissidentes presos e detalhes sobre a vida na temida prisão de Evin.

Na Tunísia, Mohammed Abbou foi condenado a 4 anos de prisão por denunciar numa série de artigos online a tortura de presos políticos.

São apenas exemplos de que blogar pode ser uma atividade subversiva punida com longas sentenças de prisão.

Hispânicos fazem campanha contra Bush e o muro

Organizações defensoras dos imigrantes querem transformar as eleições de 7 de novembro nos Estados Unidos num plebiscito sobre o muro de 1.120 quilômetros que o presidente George W. Bush mandou construir ao longo de parte da fronteita com o México.

"O eleitorado hispânico dará seu veredito sobre uma lei oportunista que atenta contra a inteligência do povo americano", protestou Enrique Morones, dos Anjos da Fronteira. "Sua construção não tornará os EUA um país mais seguro nem freará a imigração pela fronteira sul."

Morones prevê uma rejeição maciça do Partido Republicano pelos hispânicos, a ponto de mudar o controle da Câmara e do Senado, que os democratas perderam há 12 anos.

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Casa Branca nega tortura de suspeitos de terror

A Casa Branca afirmou hoje que o vice-presidente Dick Cheney não estava falando de tortura quando admitiu o uso de afogamento em interrogatórios. "Este país não tortura. Não vamos torturar", declarou o presidente Bush, ao comentar uma entrevista dada por Cheney na terça-feira a uma rádio de Fargo, no estado de Dakota do Norte.

Quando o entrevistador perguntou se Cheney aceitaria o uso de técnica de afogamento para salvar vidas, o vice-presidente disse que não pensaria duas vezes: "Por mim, não preciso nem pensar, mas depois sou criticado como o vice-presidente da tortura. Nós não torturamos."

O governo dos EUA nega mas um repórter perguntou indignado: "Então agora há uma piscina em Guantânamo?", a base naval americana em Cuba onde são mantidos cerca de 500 prisioneiros da guerra contra o terrorismo.

Para o diretor executivo da Anistia Internacional nos Estados Unidos, Larry Cox, "o que não dá para pensar é num vice-presidente campeão da tortura. A defesa que o vice-presidente Cheney faz do afogamento estabelece um nível ainda mais baixo no respeito aos direitos humanos, que no governo Bush já estão no fundo do poço".

China faz maior lançamento internacional de ações

O banco chinês ICBC (Industrial & Commercial Bank of China) fez hoje a maior oferta pública inicial de ações da história, no valor de US$ 19,1 bilhões, superando os US$ 18,4 bilhões companhia japonesa de telefonia celular DoCoMo em 1998.

Mas a valorização na Bolsa de Hong Kong, de 15%, ficou abaixo da expectativa do mercado, que era de uma alta de 20% no primeiro dia de negociações.

Economia dos EUA cresce abaixo do esperado

A maior economia do mundo cresceu a uma taxa anual de apenas 1,6% no terceiro trimestre do ano, por causa da contração no mercado imobiliário e do aumento do déficit comercial. O mercado esperava 2%. Foi o menor índice em três anos, desde o primeiro trimestre de 2003. O produto interno bruto dos Estados Unidos chegou a US$ 13,3 trilhões.

Os analistas esperam que este número seja revisado para cima mas já questionam se o Federal Reserve Board (Fed), o banco central dos EUA, não exagerou na dose ao aumentar a taxa básica de juros 17 vezes consecutivas, de 1% para 5,25% ao ano.

No segundo trimestre, a economia americana crescera a uma taxa anual de 2,6% e, no primeiro, de impressionantes 5,6%. No ano passado, o crescimento foi de 2,9%, índice mais baixo em três anos. Isto indica claramente uma desaceleração, o que diminui a possibilidade de novo aumento nas taxas de juros. Mas a inflação anual está em 2,5% e a meta do Fed é 1% a 2%.

O investimento no setor habitacional caiu 17,4% no terceiro trimestre, a maior queda desde 1991, o que reduziu em 1,12 ponto percentual a taxa de crescimento no período.

Já o consumo privado cresceu 3,2%, acima dos 2,6% do trimestre anterior. E a confiança do consumidor, medida pela Universidade de Michigan, aumentou de 85,4 para 93,6. Isto revela uma perspectiva mais otimista quanto ao futuro.

Os gastos das empresas cresceram 8,6%. Os investimentos das empresas em infra-estrutura aumentaram 14% e em software e equipamentos, 6,4%.

As exportações cresceram 6,5% e as importações, 7,8%, o que aponta para um aumento no colossal déficit comercial americano, que deve passar de US$ 800 bilhões este ano. Mas também indica que a economia está longe de uma recessão.

"O setor habitacional pesou realmente no crescimento econômico neste verão [no Hemisfério Norte] esmagou o consumo sólido e os investimentos das empresas", observou Joel Naroff, presidente da Naroff Economic Advisors, prevendo que a queda no crescimento do produto interno bruto não levará a uma recessão. "A economia não está realmente fraca quando os consumidores estão comprando, as empresas estão investindo, as exportações estão crescendo e as importações continuam fortes".

Iraque: "a mãe de todos os erros de julgamento"

Um ano após deixar o poder, o ex-chanceler (primeiro-ministro) alemão Gerhard Schröder (1998-2005) publica suas memórias, não poupa o presidente dos Estados Unidos, George Walker Bush, que acusa de usar uma linguagem quase religiosa, e afirma que a guerra no Iraque foi "a mãe de todos os erros de julgamento". Reescreve uma frase de Saddam Hussein, que chamou a Guerra do Golfo de 1991 de "mãe de todas as batalhas".

Para a revista alemã Der Spiegel, que está publicando trechos das memórias, o governo Schröder marca a emancipação da Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial e de sua reunificacão, em 1990, após a queda do Muro de Berlim, em 1989, marco do fim da Guerra Fria.

A Alemanha começou a assumir um papel internacional mais ativo, primeiro na força de paz na antiga Iugoslávia, em 1996, antes da primeira vitória de Schröder, pouco depois da sua posse, na Guerra do Kossovo, em 1999, e mais ainda na oposição à guerra no Iraque em 2002 e 2003.

Hoje, há 9 mil soldados alemães no exterior, da República Democrática do Congo ao Afeganistão, passando pelos Bálcãs e o Oriente Médio.

Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, o chanceler alemão deu "solidariedade ilimitada" aos EUA e participou da aliança que depôs o regime da milícia dos Talebã (Estudantes) no Afeganistão e que está lá até hoje, agora enfrentando o ressurgimento dos talebã.

A decisão de Bush de estender a guerra contra o terrorismo ao Iraque provocou a divisão mais importante na aliança transatlântica desde 1945. Enquanto o Reino Unido manteve seu apoio incondicional aos EUA, a Alemanha e a França se opuseram à guerra dentro do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Era a Alemanha que aprendia a dizer não.

Durante a campanha para a reeleição, em 2002, Schröder fez da oposição à guerra o centro de sua plataforma política, aprofundando o fosso com o governo Bush. Em sua biografia ele ironiza os deputados e senadores americanos, que trocaram o nome das batatas fritas do restaurante do Congresso de "batatas fritas francesas" para "batatas fritas da liberdade", assim como a demonização de Hans Blix, o diplomata sueco que chefiou a última comissão de inspeção das Nações Unidas que investigou o suposto desenvolvimento de armas químicas e biológicas por Saddam Hussein.

Na reunião da OTAN em novembro de 2002, houve especulação se Bush e Schröder se cumprimentariam. Era o auge do que Der Spiegel chama de "era glacial transatlântica".

Para mudar o alvo da al Caeda e do Afeganistão para Saddam Hussein e o Iraque, escreve Schröder, o vice-presidente americano Dick Cheney "tornou presunções em certezas". Previu que a queda de Saddam seria uma chance de "promover os valores que levam a uma paz duradoura" e que os americanos seriam aplaudidos nas ruas de Bagdá e Bássora.

"Que série de erros de cálculo!" - indigna-se o ex-chanceler alemão. "Cheney nunca respondeu por estes erros, ou talvez tenham sido distorções deliberadas".

Em 30 de janeiro de 2003, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, articulou uma carta de apoio da União Européia à iminente invasão do Iraque. Além do Reino Unido, apoiaram Bush os governos direitistas de Portugal, da Espanha e da Itália, e os antigos países comunistas da Europa Oriental que entraram para a OTAN, como a Polônia, a Hungria e a República Tcheca. "Tirando os países do Leste, que por razões históricas queriam ficar ao lado dos EUA, sou incapaz de reconhecer qualquer equivalente de legitimidade para os outros países da UE que assinaram o documento", comenta Schröder.

"Quantas oportunidades perdidas!", lamenta-se. "Com uma Europa unida, talvez tivéssemos conseguido convencer os EUA a evitar este erro fatal". Ele elogia o presidente da França: "Jacques Chirac assumiu uma posição estóica". Não se rendeu às ameaças de boicote de produtos franceses, do vinho às batatas fritas.

Dias depois, milhões de europeus saíram às ruas em manifestações pacifistas. A opinião pública apoiava os países que o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, chamara de "velha Europa". Só em Berlim, foram 500 mil pessoas. "Ninguém consegue descrever a profunda sensação de se sentir aprovado e o reforço a uma posição política que se ganha com este apoio público".

O trabalho de Blix "não revelou nenhum traço de armas de destruição em massa no Iraque". Só que isso não se enquadrava nos planos dos EUA, observa o ex-chanceler social-democrata.

Mesmo assim, em 6 de junho de 2004, Schröder, que ainda usava fraldas quando a guerra acabou, em 1945, festejou os 60 anos da invasão aliada à Normandia ao lado dos presidentes Bush, Vladimir Putin, da Rússia, e Jacques Chirac, da França; e do primeiro-ministro Tony Blair e da rainha Elizabeth II, do Reino Unido. Pela primeira vez, a Alemanha estava presente. Para Schröder, era a confirmação de que "o período do pós-guerra" acabara.

Longe da Chancelaria, Schröder reflete sobre a guerra que não conseguiu evitar: "Talvez tenha chegado a hora de encorajar os EUA a deixar o Iraque. Mas isto vai exigir uma imensa preparação estratégica envolvendo todas as partes, terá de livrar a cara de todo o mundo e de garantir uma retirada segura". Isto só pode acontecer "com uma iniciativa de paz que tire o apoio ao terrorismo".

Schröder não acredita que os EUA possam fazer isto sozinhos: "A Europa e, se possível, uma aliança internacional, incluindo os países árabes e Israel, terão de se envolver. Temos de começar a pavimentar o caminho agora, de outra maneira os terroristas ganharão terreno mundo afora. Se isto acontecer, haverá mais em jogo do que no racha transatlântico".

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Dinamarca absolve autores de caricaturas de Maomé

A Justiça da Dinamarca absolveu os diretores do jornal conservador Jylland-Posten, por entender que a publicação, em setembro de 2005, de 12 caricaturas do profeta Maomé que provocaram uma revolta entre os muçulmanos não foi ofensiva.

O processo surgiu por iniciativa de sete associações muçulmanas dinamarquesas contra o editor-chefe, Carsten Juste, e o editor de cultura, Flemming Rose.

"Mesmo que o texto que acompanhava os desenhos talvez pudesse ser lido como um apelo ao desprezo ou deboche, as caricaturas não têm caráter ofensivo", diz a sentença.

Mas os grupos muçulmanos que entraram com a ação protestaram. Seu porta-voz, Kasem Said Ahmad, declarou-se "perturbado" por este julgamento "incompreensível" que envia "um sinal errado à Dinamarca e ao exterior, segundo o qual se pode estabelecer uma ligação entre o Islã e o terrorismo, e que há um direito de zombar impunemente dos muçulmanos e de seu profeta".

A caricatura mais controvertida mostrava Maomé com um turbante em que há uma bomba e uma mecha para detoná-la.

Bombardeio da OTAN mata 85 civis no Afeganistão

Um bombardeio aéreo e de morteiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar liderada pelos Estados Unidos, matou ontem à noite 85 civis no assentamento de Zangawat, no distrito de Panjwayi, no município de Kandahar, principal centro de operações da Milícia dos Talebã (Estudantes), que governou o Afeganistão de 1996 a 2001.

Se confirmado, será a maior matança de civis desde a guerra para derrubar os Talebã depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Até agora, a OTAN admitiu as mortes de 12 civis. O Ministério do Interior do Afeganistão anunciou que pelo menos 20 guerrilheiros talebã e 40 civis morreram. Estes números não puderam ser confirmados por jornalistas independentes.

Bush aprova construção de muro na fronteira do México

O presidente George Walker Bush assinou hoje a lei para construir um muro duplo ao longo de 1.120 quilômetros da fronteira entre o México e os Estados Unidos, assegurando que "tornará nossas fronteiras mais seguras". Bush designou US$ 1,2 bilhão para a obra, cujo valor total deve chegar a US$ 6 bilhões ou US$ 8 bilhões.

"Temos a responsabilidade de proteger nossas fronteiras", declarou Bush a menos de duas semanas das eleições intermediárias, que renovarão a Câmara e um terço do Senado. A imigração ilegal é um tema quente na fronteira com o México. O presidente prometeu enviar ao Congresso o projeto que cria o visto de trabalho temporário para combater a imigração ilegal.

Para o atual presidente mexicano, Vicente Fox, o muro é "uma vergonha", uma jogada eleitoral de Bush que prejudicará os próprios EUA, uma sociedade criada "por correntes migratórias".

Já o presidente eleito do México, Felipe Calderón, considerou o muro um "erro grave" do presidente dos EUA: "Os muros não resolvem nada. A humanidade cometeu um grande erro ao construir o Muro de Berlim e agora estou certo de que os EUA estão cometendo um erro ao construir um muro em sua fronteira sul".

Lucro e faturamento da Microsoft sobem 11%

O faturamento e o lucro da maior empresa de informática do mundo, a Microsoft, cresceram 11% no último trimestre em comparação com o mesmo período no ano passado.

A Microsoft lucrou US$ 3,48 bilhões no terceiro trimestre deste ano, contra US$ 3,14 bilhões em 2005. O faturamento subiu de US$ 9,74 bilhões para US$ 10,81 bilhões. Este resultado foi atribuído ao aumento das vendas de software para servidores e de videogames.

Com o lançamento do sistema operacional Windows Vista, que estará à venda para empresas a partir desta semana e para consumidores em janeiro, a Microsoft vai oferecer o novo software de graça para quem está comprando computadores agora. Isto deve custar à empresa US$ 1,5 bilhão.

Exxon lucra US$ 10,49 bilhões no trimestre

O preço do petróleo caiu nas últimas semanas mas os lucros da maior companhia petrolífera do mundo são surpreendentes. A Exxon anunciou hoje ganhos de US$ 10,49 bilhões no terceiro trimestre deste ano. No ano passado, lucrou US$ 9,92 bilhões no mesmo período.

Depois de chegar a US$ 78 em agosto, por causa do conflito entre Israel e o Hesbolá, da temporada de furacões nos Estados Unidos e da especulação, quando a situação no Oriente Médio se acalmou e não houve grandes tempestades, o preço do barril de petróleo caiu abaixo de US$ 60.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), responsável por 30% do petróleo consumido no mundo, anunciou cortes na produção para tentar sustentar o preço em US$ 60. Hoje o barril está sendo negociado em Nova Iorque em torno de US$ 61, em parte por causa de conflitos políticos na região do delta do Rio Níger, na Nigéria, oitavo exportador mundial.

Lucro da Sony cai 94%

A indústria eletroeletrônica japonesa Sony, que já foi um símbolo de inovação e criatividade, anunciou hoje uma queda de 94% em seus lucros por causa do recolhimento de 9,6 milhões de baterias para computadores defeituosas e problemas no setor de videogames, especialmente atrasos no lançamento do PlayStation3.

No último trimestre, a Sony teve um lucro de 1,7 bilhão de ienes (US$ 14,3 milhões), em contraste com 28,5 bilhões de ienes (US$ 240 milhões) no mesmo período do ano passado.

Pinochet tem toneladas de ouro em Hong Kong

O ex-ditador chileno general Augusto Pinochet tem nove mil quilos de ouro, avaliados em 127 milhões de euros, cerca de R$ 344 milhões, depositados num banco em Hong Kong, confirmou ontem o governo do Chile depois que a notícia foi publicada em dois diários importantes do país. Um advogado do general contestou a notícia, alegando que o único ouro de Pinochet é sua aliança de casamento.

Em nome do governo chileno, o ministro das Relações Exteriores, Alejandro Foxley, declarou que sabia "há vários dias" da descoberta dos lingotes de ouro de Pinochet no Hong Kong & Shanghai Banking Corporation (HSBC). O Chile tenta congelar o depósito e entregar o ouro ao Tribunal de Apelações de Santiago, que investiga as contas secretas que o ex-ditador abriu com 11 identidades falsas no Banco Riggs, nos EUA, o que foi descoberto em 2004.

Esta investigação descobriu um desfalque de dinheiro público da ordem de US$ 30 milhões pelo qual Pinochet, sua mulher, quatro de seus cinco filhos, sua ex-secretária foram processados por evasão fiscal, sonegação e enriquecimento ilícito, além de falsificação de identidades e passaportes. O processo sobre a origem da fortuna do ex-ditador está paralisado por um recurso da defesa para afastar o juiz do caso, Carlos Cerca, acusado de parcialidade.

Oriente Médio terá menor influência dos EUA

Um novo Oriente Médio está surgindo mas não sob a influência das políticas de mudança de regime e de democratização propostas pelo presidente George Walker Bush. Para o ex-assessor de Bush para política externa Richard Haass, hoje presidente do Conselho de Relações Exteriores, a região será moldada por novos atores e forças. Se os EUA quiserem manter sua influência, terão de usar mais a diplomacia e menos a força.

Não será um Oriente Médio pacífico, próspero e democrático, adverte Haass: "É muito mais provável a emergência de um Oriente Médio que cause mal a si mesmo, aos Estados Unidos e ao mundo".

Pouco mais de dois séculos depois da conquista do Egito por Napoleão, em 1798, o cientista político vê o fim da dominação ocidental sobre a região: "Na próxima era no Oriente Médio é provável que os atores externos tenham um impacto relativamente modesto e que as forças locais estejam por cima - num momento em que os atores locais que estão chegando ao poder são radicais determinados a mudar o status quo".

Este será o maior desafio da política externa dos EUA nas próximas décadas, ao lado do gerenciamento e da acomodação ao extraordinário crescimento da Ásia, prevê Haass.

Ele marca o início do moderno Oriente Médio no fim da guerra entre a Rússia e o Império Otomano, em 1774, e na invasão napoleônica do Egito, que mostra aos europeus que a região estava pronta para ser colonizada. Perplexos, os intelectuais árabes se questionaram como e por que sua civilização, muito mais avançada durante a Idade Média, caíra tão abaixo da Europa.

Esta primeira fase acaba com o fim da Primeira Guerra Mundial e do Império Otomano, quando a região foi dividida entre os impérios francês e britânico. Logo a Segunda Guerra Mundial enfraqueceria ainda mais os europeus. Surgia o nacionalismo pan-árabe cujo maior símbolo foi o presidente egípcio Gamal Adbel Nasser. A nacionalização do Canal de Suez por Nasser, em 1956, marca o fim da era colonial na região.

Durante a Guerra Fria, os EUA e a União Soviética fizeram do Oriente Médio mais uma arena de sua confrontação estratégica. A rápida vitória de Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, mudou o equilíbrio de forças na região.

O uso do petróleo como arma política pelos países árabes em retaliação contra o apoio ocidental a Israel na Guerra do Yom Kippur, em 1973, gerou a primeira crise do petróleo e mostrou a vulnerabilidade internacional a choques de preços e de oferta. Em 1979, a revolução islâmica no Irã agravou ainda mais a crise de energia, provocando a segunda crise do petróleo.

Com a queda do xá Reza Pahlevi e a ascensão dos aiatolás, um ditador amigo dos EUA era substituído por radicais muçulmanos. A Guerra Irã-Iraque (1980-88) arruinou estes dois países durante oito anos. Neste período, a invasão israelense ao Líbano (1982-85) provocaria o surgimento da milícia fundamentalista xiita Hesbolá (Partido de Deus), sob o patrocínio e a inspiração da revolução iraniana.

Desde que o presidente egípcio Anuar Sadat, sucessor de Nasser, decidiu sair da esfera soviética, se aliar aos EUA e negociar a paz com Israel como maneira para recuperar a Península do Sinai, os EUA passaram a ser a única superpotência no Oriente Médio. A URSS ameaçara usar armas nucleares para salvar o Exército do Egito, cercado no Sinai em 1973. Mas Sadat optou pelos EUA.

O fim da Guerra Fria consolidou a posição dos EUA, com a guerra de libertação do Kuwait, a presença de tropas americanas na Arábia Saudita e o processo de paz no Oriente Médio. No final de seu governo, Bill Clinton tentou promover uma segunda paz de Camp David entre palestinos e israelenses, sem sucesso.

É desta época o "velho Oriente Médio" a que os americanos se referem agora: um Iraque frustrado e agressivo, um Irã radical mas dividido e mais fraco, Israel como maior potência militar e única potência nuclear, preços do petróleo flutuantes, regimes árabes autoritários reprimindo seus povos, supremacia americana e uma coexistência difícil entre Israel e os palestinos.

A ocupação do Iraque pelos EUA, em março de 2003, termina com esta era de dominação americana, entende Haass. Ao acabar com o Iraque sunita de Saddam Hussein, os americanos despertaram a rivalidade entre sunitas e xiitas não só no Iraque mas em todo o Oriente Médio. Os terroristas ganharam uma base de operações. A democracia é associada ao colapso da ordem pública. O já considerável sentimento antiamericano ficou mais forte. A guerra reduziu o poderio americano no mundo inteiro.

FUTURO DA REGIÃO
Em suas previsões para o novo Oriente Médio, o presidente do Conselho de Relações Exteriores faz 12 observações:

1. Os EUA continuarão sendo a potência mais influente na região mas serão menos importantes.

2. A posição americana será desafiada pelas políticas externas de outros atores importantes, como a China, a Rússia e a União Européia. Tanto a China quanto a Rússia resistem a pressionar o Irã na questão nuclear e se afastaram das tentativas dos EUA de promover a democracia na região.

3. O Irã será um dos países mais poderosos do Oriente Médio. Quem acreditava que os reformistas prevaleceriam na luta interna pelo poder dentro do regime dos aiatolás estava errado. É um país rico em petróleo. Tem grande influência sobre a maioria xiita, cerca de 60% da população do Iraque, o Hesbolá e o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), o que o transforma numa potência imperial disposta a moldar a região à sua imagem e semelhança.

4. Israel será o outro país poderoso, com uma economia capaz de competir no mundo globalizado. Tem as melhores Forças Armadas e armas nucleares. Mas precisa arcar com os custos da ocupação da Cisjordânia e as múltiplas ameaças dos palestinos, dos países vizinhos e do terrorismo internacional. Está um pouco mais fraco depois da campanha contra o Hesbolá no Líbano de 12 de julho a 14 de agosto. Ficará muito mais fraco se o Irã fizer a bomba atômica.

5. Qualquer coisa semelhante a um processo de paz viável é improvável no futuro próximo. A operação no Líbano enfraqueceu o partido Kadima e o primeiro-ministro Ehud Olmert provavelmente não consiga apoio para uma retirada unilateral de parte da Cisjordânia. Com a vitória do Hamas nas eleições de 25 de janeiro e o enfraquecimento do presidente Mahmoud Abbas, não há um parceiro com mandato para negociar do lado palestino.

6. O Iraque, tradicionalmente um centro de poder no mundo árabe, será confuso e violento nos próximos anos, com um governo central fraco e uma sociedade dividida. Na pior das hipóteses, pode se tornar um Estado em colapso em uma guerra civil que atrairia os países vizinhos.

7. O preço do petróleo continuará alto, com o forte aumento da demanda na China e na Índia, e o risco de choques de oferta por crise nos países exportadores. Para Haass, é mais provável que o preço do barril se aproxime de US$ 100 do que caia para menos de US$ 40. A Arábia Saudita, o Irã e outros grandes produtores lucrarão com isso.

8. Sob Estados fracos, a proliferação de milícias deve continuar, como se observa no Líbano, no Iraque e nos territórios palestinos. O relativo sucesso do Hesbolá ao resistir à ofensiva israelense deu à milícia um prestígio que nenhum Exército árabe tem,

9. O terrorismo, no sentido de uso intencional da força com objetivos políticos contra civis escolhidos ao acaso, continuará sendo endêmico no Oriente Médio. É uma arma tanto de Estados totalitários quanto de grupos irregulares que travam guerras assimétricas contra estes Estados. Será cada vez mais sofisticado e usado contra Israel e a presença militar americana na região.

10. O islamismo vai cada vez mais preencher o vácuo político e intelectual no mundo árabe, servindo de base para o pensamento político da maioria de seus habitantes. Para Haass, o nacionalismo e o socialismo árabes pertencem ao passado e a democracia ainda está num futuro distante. A unidade árabe é um mito e o conflito entre sunitas e xiitas criará problemas em sociedades divididas como no Iraque, na Arábia Saudita, no Líbano e no Bahrein.

11. Os regimes políticos devem continuar sendo autoritários, talvez mais intolerantes em religião e mais antiamericanos. Os países mais importantes são o Egito, que tem um terço da população árabe, e a Arábia Saudita, terra das cidades sagradas de Meca e Medina. Ambos introduziram reformas moderadas mas estão longe de tolerar a oposição política, cada vez mais radicalizada. O Egito está entre o autoritarismo do regime militar e o fundamentalismo da Irmandade Muçulmana. Na Arábia Saudita, a monarquia usa a renda do petróleo para aplacar as reivindicações internas por mudanças. Como a voz mais forte é dos religiosos conservadores, suas propostas acabam prevalecendo.

12. As instituições regionais permanecem fracas. Os conflitos entre Israel e os árabes, e a rivalidade entre o Irã, persa, e os países árabes, impedem o desenvolvimento do regionalismo econômico que marca a inserção internacional de tantos países na era da globalização.

Entre as lições que os EUA devem tirar deste novo Oriente Médio que lhe será hostil, analisa o cientista político, estão:

• Há limites no uso da força, como mostram as experiências do Iraque e de Israel no Líbano. De nada adiantará bombardear as instalações nucleares do Irã. Só serviria para radicalizar ainda mais o regime e o mundo muçulmano, fomentar o terrorismo e aumentar os preços do petróleo.

• Não dá para esperar pela democracia para pacificar a região. Não é fácil criar democracias maduras; leva décadas. Neste meio temo, é preciso lidar com governos autoritários e antidemocráticos. Se jovens muçulmanos no Reino Unido são voluntários para o terrorismo suicida, as democracias não estão imunes aos apelos do radicalismo. Mais importante, argumenta Haass, seria modernizar os sistemas educacionais, promover a abertura econômica, isolar politicamente o terrorismo e seus simpatizantes, e atacar os problemas da juventude, sobretudo o desemprego.

O risco, conclui Haass, é que o novo Oriente Médio dê saudade do velho Oriente Médio.

Megaexecutivo brasileiro ganha título de nobreza

O executivo brasileiro de origem libanesa Carlos Ghosn, famoso por salvar a fábrica de automóveis japonesa Nissan, que estava à beira da falência quando ele assumiu a presidência, em 1999, foi nomeado Cavaleiro do Império Britânico.

Ghosn, que dirige hoje a Nissan e a companhia francesa Renault, foi homenageado por fortalecer as relações britânico-japonesas, ou, para ser exato, por investimentos de US$ 4,3 bilhões ao longo de 20 anos para criar a maior fábrica de automóveis britânica em Sunderland, no Nordeste da Inglaterra, que deve produzir 315 mil carros neste ano e 400 mil no próximo..

Ghosn já foi homenageado no Japão por fazer da Nissan uma das empresas automobilísticas mais rentáveis do mundo e ganhou a Legião de Honra na França, onde foi educado. Como não é cidadão britânico, não usará o título de Sir. Poderá acrescentar um KBE (Knight of the British Empire, Cavaleiro do Império Britânico) depois do nome

Seu prestígio caiu um pouco recentemente com a queda de vendas da Nissan, a queda nos lucros da Renault e o fracasso das negociações para fazer uma aliança global com a General Motors.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

GM tem prejuízo menor e fala em virada

A General Motors, maior fabricante de automóveis do mundo, anunciou ontem um prejuízo de US$ 115 milhões no último trimestre, um resultado bem melhor do que a perda de US$ 1,66 bilhão no mesmo período no ano passado. O faturamento cresceu 3,5%, chegando a US$ 48,82 bilhões.

Em entrevista ao canal de notícias econômicas CNBC, o presidente da GM, Richard Wagoner Jr., atribuiu a redução dos prejuízos a cortes de custos mas admitiu que ainda há muito trabalho a fazer antes que a empresa volte a se tornar competitiva e lucrativa.

"A virada está em andamento na América do Norte e na Europa", declarou Wagoner. "Esta recuperação, aliada ao crescimento de vendas e à melhoria da performance na Ásia e na América Latina, confirma que nosso plano está em marcha".

A fatia da GM no mercado global de automóveis cresceu de 13,7% no segundo trimestre para 13,9% no terceiro. Mas ficou abaixo dos 14,4% de um ano atrás.

Apesar do prejuízo, a GM ainda está melhor do que suas rivais americanas. A Ford anunciou um prejuízo de US$ 5,8 bilhões no terceiro trimestre e a Chrysler, hoje parte do grupo Daimler-Chrysler, de US$ 1,5 bilhão.

Justiça argentina acusa Irã por atentado terrorista

Os procuradores federais que estão investigando o atentado à bomba contra um centro cultural israelita em Buenos Aires que matou 85 pessoas e deixou outras 200 feridas, em 18 de julho de 1994, pediram à Justiça da Argentina a prisão do ex-presidente do Irã Ali Akbar Hachemi Rafsanjani (1989-97) e sete outros altos funcionários iranianos, inclusive o então ministro da Informação e da Segurança, Ali Fallahijana, e o então adido cultural na Embaixada do Irã, Moshen Rabani.

Em entrevista coletiva, o procurador Alberto Nisman declarou que a decisão de atacar "foi tomada em 1993 pelas mais altas autoridades iranianas" e que o ataque foi realizado pelo Hesbolá (Partido de Deus), uma milícia fundamentalista xiita libanesa.

Banco central dos EUA mantém taxa de juros

Como era esperado, o Federal Reserve Board (Fed), o banco central dos Estados Unidos, manteve inalterada sua taxa básica de juros em 5,25% ao ano mas advertiu que ainda há riscos inflacionários, o que indica uma tendência de alta. Foi a terceira reunião seguida do Fed sem mudança na política monetária, depois de 17 meses consecutivos que elevaram a taxa de 1%, a menor em quatro décadas, até 5,25%.

A Bolsa de Nova Iorque fechou em novo recorde, a 12.134,68, com alta de 0,1%, atribuída à decisão do Fed.

"O crescimento econômico se desacelerou ao longo do ano, em parte por causa do esfriamento do mercado imobiliário", diz a nota oficial do banco. A venda de imóveis usados caiu pelo sexto mês consecutivo. "Daqui para a frente, é provável que a economia cresça num ritmo moderado". Mas o Comitê do Mercado Aberto entende que "permanecem alguns riscos inflacionários". Qualquer alta na taxa básica de juros dependerá "das perspectivas tanto da inflação quanto do crescimento econômico".

É tradição do Fed não mexer nos juros às vésperas de eleições para não ser suspeito de querer influir no resultado das urnas.

Lula deve mudar política externa no segundo governo

Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vencer a eleição presidencial de domingo, como indicam todas as pesquisas, deve mudar sua política externa para se reaproximar dos países ricos, sobretudo dos Estados Unidos, afirma hoje em matéria de capa o jornal econômico Valor.

O embaixador Celso Amorim, que tem sido visto com freqüência nos palanques, deve ser mantido como ministro das Relações Exteriores. Mas o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, e o assessor especial da Presidência para questões internacionais, Marco Aurélio Garcia, considerados os ideólogos do antiamericanismo da atual política externa, devem ser "estrategicamente removidos para outros postos". Pinheiro Guimarães seria embaixador em Buenos Aires e Garcia provavelmente em Paris.

Para os críticos, um dos maiores problemas do governo Lula era ter três políticas externas ou três chanceleres. Enquanto Amorim cuidaria da orientação geral e das negociações multilaterais, da ONU e da Organização Mundial do Comércio, as relações no continente estariam a cargo de Pinheiro Guimarães e Garcia. Ambos foram chamuscados pela estatização do gás e do petróleo da Bolívia, com prejuízo bilionário para a Petrobrás. Pinheiro Guimarães foi à Bolívia negociar dias antes de 1º de maio, quando o governo boliviano nacionalizou o petróleo e o gás, e foi surpreendido com a ocupação militar das instalações da empresa brasileira.

Ao se opor à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), os "ideólogos" agradaram o Partido dos Trabalhadores mas provocaram um profundo descontentamento do setor empresarial, como lembra sempre o candidato oposicionista, Geraldo Alckmin, em debates e entrevistas. Afinal, os EUA são a maior economia do mundo. Na era da globalização, quase todos os países do mundo querem mais acesso ao mercado americano.

O empresariado brasileiro teme ficar isolado pela estratégia americana diante do fracasso da ALCA, de negociar acordos preferenciais de comércio bilaterais ou regionais com todos os países do continente menos Brasil, Argentina e Venezuela. Muitas empresas brasileiras estão instalando fábricas em países que têm maior acesso à maior economia do mundo.

A tendência no governo, diz a reportagem do Valor, de Raymundo Costa e Cristiano Romero, é mudar sem dizer que mudou.

O marco desta guinada seria a viagem aos EUA de uma missão empresarial liderada por Lula logo no início do segundo mandata, percorrendo os estados americanos importantes para as exportações brasileiras como a Califórnia, o mais rico de todos, e a Flórida, principal centro de distribuição das exportações brasileiras.

No discurso oficial do governo, a política de reduzir a dependência dos EUA e melhorar as relações com a Ásia, a África e a América Latina já deu resultado. Agora seria importante voltar-se para os países ricos, especialmente porque o Brasil corre o risco de ser excluído do Sistema Geral de Preferências dos EUA. Há deputados e senadores americanos importantes alegando que o Brasil não é mais um país em desenvolvimento, especialmente em agricultura. A participação brasileira precisa ser aprovada pelo Congresso dos EUA até o fim do ano.

Há outras questões importantes como o desenvolvimento de biocombustíveis num momento em que os EUA buscam desesperadamente reduzir sua dependência do petróleo. Quando Lula fala em transformar o Brasil numa superpotência energética, deve saber que o desenvolvimento do setor passa necessariamente pelo mercado americano.

Tem também a biotecnologia, a próxima revolução tecnológica, liderada pelos EUA, aliás como acontece com a atual, da informática, o que torna prematuras as previsões sobre o declínio americano. O Brasil tem o maior banco genético do mundo; os EUA têm a tecnologia. É um bom motivo para preservar a Amazônia gerando uma riqueza que a sustente. Interessa aos dois países e ao mundo inteiro.

No mundo globalizado, é preciso ser sócio dos EUA.

Outra implicação desta reaproximação com os EUA seria endurecer o jogo com presidentes antiamericanos como Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia. Lula reconhece que consegue conversar francamente com Chávez, mesmo quando discordam, mas considera Morales imprevisível.

Segundo o Valor, Lula e o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, teriam sido surpreendidos pela decisão do líder indígena boliviano de se aliar a Chávez e ao ditador cubano Fidel Castro, em vez de buscar a inserção da Bolívia no mundo globalizado através do Brasil e da Espanha.

Desta maneira, o Brasil cumpriria o papel de fiador da estabilidade da América do Sul, como é de interesse dos EUA, cujas intervenções políticas são quase sempre contraproducentes por causa da imagem imperalista da superpotência na região.

Venezuela desiste e indica Bolívia para vaga latino-americana no Conselho de Segurança da ONU

O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou ontem que a Venezuela desistiu de disputar uma das vagas temporárias da América Latina no Conselho de Segurança das Nações Unidas, indicando a Bolívia como candidata.

Depois de 40 votações sem que nenhum país tenha alcançado a maioria de dois terços dos 192 votos da Assembléia Geral, a ONU convocou para hoje uma reunião dos 32 membros do Grupo de Países da América Latina e do Caribe para discutir uma saída para o impasse.

A Venezuela pretendia conseguir a vaga mas enfrentou a oposição dos Estados Unidos por causa do agressivo discurso antiamericano do presidente Hugo Chávez. Com Washington apoiando a Guatemala, este país centro-americano chegou na frente em todas as votações, levando a Venezuela a desistir, condicionando a retirada de sua candidatura a que a Guatemala faça o mesmo.

Como Evo Morales é hoje um dos principais aliados de Chávez, é improvável que os EUA simpatizem com a candidatura boliviana.

A outra vaga latino-americana será ocupada pelo Peru até o final de 2007.

Coréia do Norte ameaça Coréia do Sul

O governo stalinista da Coréia do Norte ameaçou retaliar a Coréia do Sul, se o governo de Seul participar da abordagem e revista de navios norte-coreanos para aplicar as sanções impostas pela Resolução 1.718 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Em Moscou, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que a Coréia do Norte dá sinais de querer retomar as negociações de seis partes (EUA, Rússia, China, Japão e as duas Coréias) e criticou os Estados Unidos, supostamente por isolar o regime norte-coreano: "Você não deve empurrar ninguém até um beco onde quase não há saída, a não ser uma, escalar a situação".

No Japão, o ministro do Exterior, Taro Aso, voltou a destacar "a necessidade de discutir por que o Japão decidiu não possuir armas atômicas. Se presumimos que a Coréia do Norte tem armas nucleares, a situação no Extremo Oriente mudou drasticamente. Devemos discutir se o Japão deve ficar onde está".

Até hoje, o Japão foi o único país a ser atacado por armas atômicas, em Hiroxima e Nagasaque, pelos EUA, no final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Isto fez da questão nuclear um tabu no país. O total de mortos, que aumenta até hoje por causa das doenças provocadas pela radiação, passa de 300 mil.

EUA buscam saída do Iraque

Mais de 1,6 milhão de iraquianos fugiram do país desde a invasão americana de março de 2003, informa o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Agora, diante da anarquia e da violência, os Estados Unidos querem sair também.

Na manhã de hoje, o presidente George Walker Bush insistiu em que a única vitória possível é só se retirar quando o governo democrático do Iraque tiver condições de se defender. Mas líderes do dois grandes partidos americanos temem que o governo Bush não consiga resolver o problema e deixa a guerra como herança para o próximo presidente.

Na terça-feira, 24 de outubro, o comandante militar americano no Iraque, general George Casey, anunciou a intenção de transferir o patrulhamento das ruas às novas forças de segurança iraquianas daqui a um ano e meio.

A duas semanas das eleições que podem lhe roubar a maioria na Câmara e no Senado, o presidente Bush se debate no atoleiro em que se meteu no Iraque. Com a morte de 92 soldados americanos em outubro até o dia 24, este deve ser o mês com maior número de americanos mortos no Iraque desde janeiro de 2005.

De cada três eleitores independentes, dois devem votar nos democratas e um nos republicanos, revela uma pesquisa do jornal The Washington Post e da TV ABC. Isto daria hoje uma vantagem aos democratas de 54% a 41%. A guerra é a maior preocupação dos eleitores.

Nos últimos dias, Bush reuniu seu Estado-Maior e discutiu alternativas para a campanha do Iraque. Em agosto, os EUA aumentaram o número de soldados para entrar diretamente no combate à violência em Bagdá, sem sucesso.

Na terça-feira, 24 de outubro, ao lado do embaixador americano no Iraque, o general Casey revelou estar estudando a possibilidade de colocar ainda mais soldados nas ruas para cumprir o cronograma de ação anunciado hoje: "Precisaremos de mais tropas? Talvez. Como eu sempre disse, chamarei quantas tropas forem necessárias, tanto iraquianas quanto estrangeiras".

A capital iraquiana é vista hoje como o centro de gravidade da guerra no Iraque. No conceito do estrategista prussiano Carl von Clausewitz, é o foco central da defesa ou o ponto-chave a ser atacado no inimigo. A partir de uma ilha de segurança em Bagdá, o objetivo seria expandir esta área até incluir todo o país.

Se os americanos não conseguirem estabilizar a situação nem em Bagdá, sua invasão será um total fracasso. Mas a colocação dos jovens soldados para fazer papel de polícia num ambiente hostil não funcionou e ainda colocou os americanos como alvos.

O Grupo Estratégico do Iraque, presidido pelo ex-secretário de Estado James Baker e pelo ex-deputado democrata Lee Hamilton, está examinando as alternativas para os EUA saírem do atoleiro. Suas conclusões só devem ser anunciadas depois das eleições de 7 de novembro.

Leia a íntegra em minha coluna de política internacional em www.baguete.com.br

Eleitores independentes preferem democratas

A duas semanas das eleições nos Estados Unidos, os republicanos estão perdendo a disputa pelo voto dos eleitores independentes, o eleitorado flutuante que decide as eleições. Uma pesquisa do jornal The Washington Post e da TV ABC indica que os eleitores sem partido estão optando pelos candidatos democratas numa proporção de dois para um. Isto daria aos democratas a maioria na Câmara, perdida em 1994, prejudicando o projeto conservador do presidente George W. Bush.

Na pesquisa, 54% declararam voto nos democratas e 41% nos republicanos. A guerra aparece como a preocupação mais importante do eleitorado nestas eleições. Mas há uma diferença importante. Agora, o eleitorado confia mais nos democratas do que nos republicanos na questão do Iraque.

Como o voto para a escolha dos 435 deputados da Câmara dos Representantes é pelo sistema distrital, toda eleição é local. E como dizia o finado primeiro-ministro britânico Harold Wilson, "uma semana em política é muito tempo". Então o panorama ainda pode mudar. Mas no momento, o panorama para Bush e seu partido é sombrio.

Militares britânicos querem sair do Iraque em um ano

Os militares britânicos gostariam de retirar suas forças do Iraque dentro de um ano para se concentrar na guerra no Afeganistão, informaram militares americanos que andaram discutindo as duas guerras. As Forças Armadas britânicas, que são muito menores, estariam no "limite de ruptura" com os longos períodos de serviço e a tensão da guerra permanente.

Nem o comando militar americano nem o governo britânico comentaram a notícia.

Os britânicos formam o segundo maior contingente das forças estrangeiras que ocuparam o Iraque. Mas são apenas 7,2 mil soldados, em comparação com 140 mil americanos.

No domingo, o secretário da Defesa, Des Browne, declarou que as tropas britânicas já transferiram o controle da maior parte das zonas que dominavam às forças de segurança do Iraque, como quem diz que a missão está quase cumprida.

Mais de 60% dos britânicos querem a retirada total do Iraque ainda este ano.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Amazon.com sobe 14%, com vendas de US$ 2,31 bilhões

As ações da empresa de venda de livros, vídeos, CDs e outros produtos culturais Amazon.com, um dos símbolos da nova economia criada pela Internet, subiram 14%. Apesar de uma queda de 37% no lucro, por causa de promoções e de entrega grátis, a Amazon.com teve um aumento de 24% nas vendas, que chegaram a US$ 2,31 bilhões no último trimestre, acima da previsão do mercado, que era de US$ 2,25 bilhões.

O lucro líquido no trimestre que terminou em setembro foi de US$ 19 milhões, contra US$ 30 milhões no mesmo período no ano passado.

Ex-diretor financeiro pega 24 anos de prisão nos EUA

O ex-diretor financeiro da empresa de energia Enron Jeffrey Skilling foi condenado ontem a 24 anos de prisão nos Estados Unidos como arquiteto um dos maiores escândalos financeiros da história. Ele foi condenado por 19 acusações de fraude, conspiração, informação privilegiada e mentir para os auditores. Ficou impassível ao receber a sentença e proclamou sua inocência, prometendo recorrer.

O outro acusado, o ex-diretor-presidente da Enron, Kenneth Lay, também foi condenado por fraude, conspiração, obstrução de justiça e manipulação do mercado, mas morreu antes de receber a sentença.

Mas de 4 mil pessoas perderam o emprego e os investidores perderam bilhões com a falência da empresa, em dezembro de 2001.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Olmert faz aliança com linha dura em Israel

Na luta pela sobrevivência política depois da guerra no Líbano, o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, fez uma aliança com um político da linha dura que propôs a cassação da cidadania israelense dos árabes, a execução de deputados que conversam com o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e o bombardeio de centros populacionais palestinos.

De imediato, a presença do partido Yisrael Beiteinu (Israel Nossa Casa), liderado por Avigdor Lieberman, ex-Likud, reduz as chances de uma retirada unilateral de parte da Cisjordânia, como Olmert prometia fazer quando eleito, em março deste ano. É um partido pró-imigração. Tenta captar os votos dos imigrantes russos a favor da linha dura em relação a árabes em geral e palestinos, alegando que eles são a favor da destruição de Israel.

Nas eleições de março de 2006, Yisrael Beiteinu elegeu 11 dos 120 deputados da Knesset. O partido Kadima (Avante), de Olmert, conquistou 28 cadeiras. Agora, a bancada do governo passa a contar com 78 deputados.

Lieberman, de 52 anos, é um antigo segurança de bar da ex-república soviética da Moldova que emigrou para Israel em 1978. Entrou na política como assessor do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu (1996-99), tornando-se famoso pela agressividade nas manobras nos bastidores da política.

Assessores do governo alegam que o discurso radical de Lieberman não passa de retórica. Mas as pombas da esquerda israelense, como o ex-ministro Yossi Beilin, líder do partido Meretz, acusam Olmert de "trair e fraudar o eleitorado".

"Um governo precisa de uma maioria estável e de uma base ampla para garanti-la", defende-se o primeiro-ministro.

O negociador palestino moderado Saeb Erekat, assessor do presidente Mahmoud Abbas, disse que trata-se de uma questão interna de Israel: "No final das contas, o que esperamos é um parceiro disposto a retomar o processo de paz e a acabar com esta situação terrível entre nossos dois povos".

Para o analista Yossi Alpher, é preocupante. Olmert está levando para dentro do governo israelense "um míssil desgovernado, um livre atirador".

Até agora, acreditava-se que a Beiteinu não entraria no governo porque seria vetado pelo Partido Trabalhista, segundo maior parceiro da coalizão governista. Os trabalhistas ficaram de tomar uma decisão oficial esta semana. A expectativa é que fiquem no governo. Olmert não trocaria seu apoio pela Beiteinu. Deve ter dado seu passo na certeza do apoio do resto da coligação.

Mas parte da esquerda israelense apela para que Peretz deixe o cargo de ministro da Defesa, onde divide a responsabilidade pelo relativo fracasso na guerra contra o Hesbolá no Líbano de 12 de julho a 14 de agosto, e torne-se líder da oposição. Entende que Lieberman é uma ameaça à democracia israelense e que não faz sentido participar de um governo com Yisrael Beiteinu.

Polícia e manifestantes se enfrentam na Hungria

No aniversário dos 50 anos do levante húngaro contra a dominação soviética, manifestantes que exigem a queda do primeiro-ministro socialista Ferenc Gyurcsany enfrentaram a polícia durante horas em violentos conflitos de rua em Budapeste. Pelo menos 100 pessoas saíram feridas.

A polícia usou balas de borracha, gás lacrimogênio e canhões de água para dispersar os protestos. Os manifestantes chegaram a tomar dois tanques usados pelo Exército Vermelho para esmagar a revolta de 1956 que estavam ali para as comemorações. Por causa da violência, a festividade prevista para a Praça Kossuth, em frente em Parlamento da Hungria, foi cancelada.

Há um mês, os manifestantes protestam a praça diante do Parlamento exigindo a queda do governo de Ferenc Gyurcsany, depois que foi divulgada uma gravação em que o primeiro-ministro admitia ter mentido à opinião pública sobre a situação econômica para garantir sua reeleição.

Na manhã de hoje, eles foram retirados para a homenagem a cerca de 2,6 mil húngaros mortos na resistência contra a invasão soviética. À tarde, voltaram decididos a retomar suas posições e foram confrontados pela polícia.

Os manifestantes estavam honrando o levante à sua maneira. A revolta contra a União Soviética começou com um grande protesto diante do Parlamento, em 23 de outubro de 1956. Cerca de 300 mil pessoas exigiam liberdade de expressão, o fim da dominação soviética e a nomeação do líder reformista Imre Nagy como primeiro-ministro.

Nagy assumiu o poder em 28 de outubro, acabou com o monopólio de poder do Partido Comunista e tirou a Hungria do Pacto de Varsóvia.

Foi demais. O novo líder soviético, Nikita Kruschev, denunciara os crimes de Stalin meses antes. Mas, em plena Guerra Fria, a URSS não estava disposta a afrouxar os laços que prendiam seus satélites da Europa Oriental.

Em 4 de novembro, as tropas soviética invadiram o país, derrotando a revolta em menos de uma semana. Mais de 200 mil húngaros fugiram do país, inclusive Ferenc Puskas, capitão da lendária seleção da Hungria vice-campeã da Copa do Mundo de 1954, considerada um dos melhores times da história do futebol.

Imre Nagy foi preso e executado dois anos mais tarde. Só foi reabilitado depois das reformas do último líder soviético, Mikhail Gorbachev (1985-91).

Como herdeiro do PC, o Partido Socialista húngaro sempre ficou numa posição desconfortável no aniversário do Levante de 1956. Desta vez, a crise do governo Gyurcsany estragou a festa. Lembrou que a liberdade por que lutavam os heróis de 1956 talvez ainda não tenha sido plenamente alcançada.

Anarquia provoca êxodo em massa do Iraque

A anarquia e a violência política deflagradas pela invasão americana já provocaram o êxodo de 1,6 milhão dos 26 milhões de iraquianos. Outro 1,5 milhão ainda estão no país mas fugiram de suas casas.

"O Iraque está em fuga", observa o repórter Patrick Cockburn, do jornal The Independent, de Londres, na principal matéria da edição de hoje, com base em informações do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados.

Há 500 mil iraquianos refugiados na Jordânia e 450 mil na Síria, onde chega uma média de 40 mil por semana. Tanto ricos quanto pobres são vulneráveis ao clima generalizado de violência, anarquia e impunidade no Iraque.

Os americanos estão convencidos de que controlar a violência na capital e nos arredores é essencial para estabilizar o Iraque. Este foi o centro das discussões do presidente George W. Bush com seus generais neste fim de semana, com um olho nas eleições intermediárias (no meio de seu mandato) para o Congresso. As últimas pesquisas indicam que os republicanos devem perder o controle da Câmara e agora também do Senado.

Seria um duro golpe para Bush. A invasão do Iraque arruinou seu governo.

domingo, 22 de outubro de 2006

Bomba norte-coreana sela parceria China-EUA

O teste nuclear da Coréia do Norte serviu para aproximar ainda mais a China dos Estados Unidos, hoje as principais forças da economia mundial mas que ainda têm várias desconfianças entre si.

Durante a campanha eleitoral de 2000, o então candidato George W. Bush disse que a China era uma "competidora estratégica" e não uma "parceira estratégica", como apregoava o governo Bill Clinton. Pouco depois da posse de Bush, houve um incidente em que os EUA derrubaram um avião chinês, provocando uma crise entre os dois países.

Com os atentados de 11 de setembro de 2001, os EUA passaram a tolerar a repressão chineses aos muçulmanos da província de Kachgar, no Oeste da China, entre outras violações dos direitos humanos. Mas é na Coréia do Norte que os EUA mais precisam do apoio chinês.

Até agora, a China vinha usando a questão norte-coreana como uma cartada especial para jogar com os EUA. O regime chinês não tinha interesse numa solução da crise na Coréia do Norte para não perder esta cartada para negociar com os americanos.

A explosão da bomba norte-coreana muda a situação radicalmente porque o Japão pode ser tentado a desenvolver armas nucleares, o que alteraria completamente o equilíbrio de forças no Leste da Ásia. Isto une os EUA e a China, as duas maiores potências militares da região. Nenhuma tem interesse na nuclearização do Japão.

Com a visita da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, a Beijim, a parceria está consolidada. Precisa agora funcionar para conter a Coréia do Norte.

Ao relutar em aprovar as sanções contra a Coréia do Norte, a China alegou que com o aumento de seu poder aumentam também suas responsabilidades. A China superpotência começa a assumir as responsabilidades inerentes a seu novo status.

Justiça do Chile autoriza Garzón a interrogar Pinochet

O juiz espanhol Baltasar Garzón, que emitiu a ordem de prisão que levou à detenção do general Augusto Pinochet por 500 dias na Inglaterra a partir de outubro de 1998, recebeu autorização da Justiça do Chile para interrogar o ex-ditador chileno e sua mulher, Lucia Hiriart.

Garzón investiga uma transferência de dinheiro do general de uma conta nos Estados Unidos para outra no Chile no mesmo ano, quando havia um embargo internacional sobre os bens de Pinochet. Ele suspeita que o ex-ditador estava escondendo o dinheiro.

O juiz pediu o embargo para garantir a indenização das vítimas de violações dos direitos humanos durante a ditadura de Pinochet (1973-90), quando o total de mortos pelo regime e desaparecidos passou de 3 mil.

Pinochet está sendo investigado também no Chile pela fortuna que acumulou no exterior e possível sonegação de impostos.

sábado, 21 de outubro de 2006

Israel usou estratégia errada no Líbano

Dois dias depois do início da ofensiva israelense contra a miliícia fundamentalista xiita Hesbolá (Partido de Deus) no Líbano, em 14 de julho, políticos, militares e diplomatas de Israel já estavam questionando a estratégia, revela hoje o jornal americano The Washington Post.

Enquanto a Força Aérea de Israel preparava-se para bombardear o Sul de Beirute, a unidade de pesquisas da inteligência militar israelense apresentava um relatório questionando a capacidade do plano de guerra de atingir os objetivos estratégicos:
• resgatar os dois soldados israelenses capturados pela milícia xiita;
• e neutralizar a capacidade militar do Hesbolá, especialmente de atacar Israel com mísseis.

A análise coloca em dúvida o sucesso de uma campanha baseada em bombardeios aéreos maciços e uma pequena operação terrestre, prevendo que teria "resultados reduzidos". Não levaria à libertação dos soldados nem impediria que o Hesbolá disparasse 100 foguetes por dia contra Israel.

A guerra terminou 31 dias depois e estas previsões se confirmaram.

O exame dos primeiros dias da guerra revela que as novas autoridades israelenses, o primeiro-ministro Ehud Olmert, que sucedeu ao arquilinha-dura Ariel Sharon, e o novo ministro da Defesa, o líder trabalhista Amir Peretz, ambos sem experiência militar, lançaram uma grande operação sem uma estratégia de saída claramente definida.

Talvez o objetivo de seus inimigos fosse exatamente este, testar os novos líderes israelenses com ataques coordenados do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) na Faixa de Gaza e do Hesbolá no Norte de Israel. A reação foi exagerada e implacável. Dirigentes do Hesbolá admitiram que não pretendiam provocar uma guerra.

Mesmo que os israelenses esperassem uma resistência feroz do Hesbolá, foram surpreendidos com os guerrilheiros muçulmanos. Pelas observações dos analistas israelenses, o Hesbolá deve ter se preparado durante seis anos, desde a retirada unilateral israelense do Sul do Líbano ordenada pelo primeiro-ministro Ehud Barak em 2000, com ajuda da Síria e do Irã, e gastos de US$ 1,5 bilhão.

Só em 11 de agosto, Israel lançou uma grande operação terrestre para destruir as bases de lançamentos de mísseis do Hesbolá. Três dias depois, entrou em vigor o cessar-fogo. A tarefa não foi concluída. O objetivo não foi alcançado.

Bush mantém estratégia e discute tática no Iraque

Pelo menos 30 iraquianos foram mortos por um morteiro hoje numa feira em Mahmudia, no Iraque, e oito milicianos xiitas morreram em choque com a polícia. Em Washington, o presidente George Walker Bush reuniu-se com o alto comando das Forças Armadas dos Estados Unidos. Mas reiterou que o objetivo estratégico ainda é o mesmo: a vitória e a instalação de um regime democrático no Iraque.

"Estamos discutindo novas táticas. Mudamos de tática constantemente para nos adaptar aos novos desafios apresentados pelo inimigo", declarou Bush em seu programa de rádio semanal como presidente dos EUA. É o mesmo que disse ontem o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld.

Uma tempestade desabou sobre Washington na semana passada, quando o presidente aceitou a comparação entre o Iraque e o Vietnã, em entrevista a George Stephanopoulos, da ABC News, que foi porta-voz do governo Clinton.

O colunista Thomas Friedman, do jornal The New York Times, tinha comparado a onda de ataques rebeldes no mês de Ramadã, no Iraque, à ofensiva vietcongue do Tet, no ano novo lunar chinês de 1968, contra as forças americanas e seus aliados no Vietnã do Sul.

Bush teria afirmado que iria até o fim no Iraque, mesmo que somente sua mulher, Laura, e seu cachorro, Barney, o apoiassem. "Se a ofensiva do Tet jihadista continuar ganhando impulso, Bush pode ficar só com Barney", ironizou Friedman, autor do livro O Mundo é Plano.

Há uma comissão presidida pelo ex-secretário de Estado James Baker, antigo quebra-galhos da família Bush (defendeu o candidato Bush nos processos que se seguiram à eleição presidencial de 2000), para encontrar alternativas para o Iraque. Mas nenhuma das propostas que vazaram até agora encontrou ressonância na Casa Branca:

• Uma retirada gradual, em fases: no momento em que a violência inimiga se intensifica, seria a receita para a derrota. O Iraque poderia se tornar um novo Afeganistão, um centro do terrorismo internacional.

• Enviar mais tropas: é o que foi feito no início de agosto para tentar conter a violência em Bagdá, sem sucesso, tanto que as táticas estão sendo rediscutidas. Teria de ser uma força muito maior e com um objetivo estratégico claro: desarmar as milícias. A questão aqui é se é possível derrotar uma insurgência engordada por terroristas internacionais somente com o uso da força. Tudo indica que não. O desafio é normalizar o Iraque, garantir a segurança, reconstruir os serviços públicos, fazer a economia funcionar. Os rebeldes e os jihadistas querem exatamente o contrário: transformar o país num inferno e botar a culpa nos invasores. Estão ganhando. Se expulsarem o invasor, começam a brigar entre si.

• Negociar com os inimigos: abrir negociações com a Síria, por onde passam armas e recursos para os grupos rebeldes sunitas, e com o Irã, que tem ascendência sobre a população xiita, cerca de 60% dos 25 milhões de iraquianos. No melhor dos mundos, isto permitiria negociar também a questão nuclear iraniana, que é o que mais preocupa os americanos. Mas o governo Bush resiste a dialogar com os regimes que demoniza. Vai deixar a guerra inacabada para o sucessor.

• Divisão do Iraque: esta é a solução mais impensável mas tem sido mencionada inclusive por deputados republicanos. Seria o atestado final do total fracasso da aventura militar de Bush no deserto. Um país xiita no Sul do Iraque fortaleceria ainda mais o Irã, na verdade o maior beneficiário da invasão dos EUA no Iraque. Seria exatamente o contrário do que o então subsecretário de Estado britânico para o Oriente Médio Winston Churchill queria, quando juntou a região curda do Norte, rica em petróleo, para criar um país capaz de equilibrar o poderio do Irã. O surgimento do Curdistão, no Norte, seria um pesadelo para a Turquia, que tem a maior população curda. Parece-me a hipótese menos provável.

Bilionário vence primeiro turno no Equador

O bilionário Álvaro Noboa, o homem mais rico do Equador, com uma fortuna estimada em US$ 1,2 bilhão, foi mesmo o mais votado na eleição presidencial de domingo passado. Mas terá de disputar o segundo turno, em 26 de novembro, com o economista e ex-ministro das Finanças Rafael Correa, agora alinhado com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Será uma campanha radicalizada que dividirá o país.

Com 98,54% dos votos recontados oficialmente pelo Tribunal Supremo Eleitoral, Noboa, do Partido Renovador Institucional de Ação Nacional, de direita, tinha 26,83%. Correa, da Aliança País, teve 22,86%.

O irmão do ex-presidente deposto Lucio Gutiérrez, Gilmar Gutiérrez, é o terceiro com 17,52%. Seus votos podem ir para Correa no segundo turno. Já o ex-vice-presidente León Roldós, da Rede Democrática e Izquierda Democrática, teve 14,80%.

Nos últimos dez anos, o Equador teve sete presidentes. Nenhum dos três presidentes eleitos terminou o mandato.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

China e EUA pressionam Coréia do Norte

Durante a visita da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, a Beijim, os Estados Unidos e a China pressionam a Coréia do Norte a voltar às negociações sobre seu programa nuclear, e pediram a implementação total da Resolução 1.718 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que impõe um embargo ao comércio de armas e equipamentos militares, além de outras sanções comerciais e financeiras.

Sob intensa pressão chinesa, o regime stalinista norte-coreano teria desistido de realizar novos testes nucleares, depois de sua primeira experiência, em 9 de outubro. A China é considerado o único país capaz de influenciar o governo de Pionguiangue. Mas não conseguiu persuadi-lo a não fazer a bomba, o que contraria os interesses chineses, já que pode levar à nuclearização do Japão.

Agora, os bancos chineses teriam suspendido das operações com a Coréia do Norte, e o presidente Hu Jintao teria mandado um recado diretamente ao líder norte-coreano, Kim Jong Il, que suspendeu o segundo teste nuclear, informou uma agência de notícias sul-coreana.

Nesta viagem ao Leste da Ásia, Condoleezza Rice tenta dar garantias de segurança a aliados como o Japão e a Coréia do Norte, para que não entrem numa corrida nuclear com a Coréia do Norte e assegurar a aplicação das punições impostas pela ONU. Uma coisa complementa a outra, já que o regime de sanções supostamente conteria o desenvolvimento nuclear norte-coreano, desestimulando os países vizinhos a fazer a bomba atômica.

O problema é que as sanções impostas pela ONU incluem a revista de navios que entrem ou saiam de portos norte-coreanos. Para sua total implementação, seria necessário um bloqueio naval à Coréia do Norte como os EUA fizeram com Cuba durante a crise dos mísseis, de 14 a 27 de outubro de 1962. Na época, os americanos não chegaram a interceptar nenhum navio soviético.

Este tipo de operação naval pode ser considerado um ato de guerra. A Coréia do Norte já advertiu que a Resolução 1.718 é uma declaração de guerra. Nem a China nem a Coréia do Sul, que teriam de aplicar a medida conjuntamente com os EUA, tem interesse em pressionar demais o regime comunista norte-coreano, que estaria à beira do colapso, mergulhado numa profunda crise econômica que provocou fome e milhões de mortes.

Não interessa a ninguém o colapso imediato de um regime ultrafechado, sinistro, paranóico e agora capaz de realizar explosões atômicas.

Há cerca de um ano, a Coréia do Norte abandonou as negociações com os EUA, a Coréia do Sul, a Rússia, a China e o Japão, em protesto porque o governo americano lhe impôs sanções financeiras pela suspeita de que o regime de Pionguiangue estava falsificando dólares.

Diante do fracasso EUA revêem estratégia no Iraque

Diante do fracasso na tentativa de conter a violência em Bagdá, os Estados Unidos estão reexaminando sua estratégia para a guerra no Iraque. O general John Abizaid está indo neste momento para uma reunião de emergência com o presidente George Walker Bush, e o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, dará entrevista coletiva no Pentágono daqui a meia hora, às 14h30, hora de Brasília, ao lado do ministro da Defesa da Coréia do Sul. Mas a questão iraquiana será inevitável.

Com o aumento do número de mortes de soldados americanos, pelo menos 72 até agora neste mês, cresce a pressão doméstica sobre o presidente, que corre o risco de perder a maioria na Câmara e no Senado nas eleições de 7 de novembro. Os próprios candidatos republicanos estão tentando se desvincular da imagem do presidente, tamanha é a impopularidade da guerra.

No campo de batalha, a realidade é que colocar mais soldados americanos em Bagdá e arredores só aumentou a vulnerabilidade das tropas invasores, que se tornaram alvos prioritários. A ação das milícias é cada vez mais violenta, a julgar pelo número de mortos e pelo estado em que se encontram os cadáveres, com evidentes sinais de tortura.

Se a ação de milícias como o Exército Mehdi, do aiatolá rebelde Muktada al-Sader, não for confrontada, a expectativa de controle da violência é mínimo. Além de agir com ampla liberdade, as milícias ainda estão cooptando os policiais que trabalham na sua área de atuação. O Exército Mehdi é acusado pela maioria das atrocidades cometidas contra sunitas na capital iraquiana.

Neste momento, o Exército Mehdi enfrenta outra milícia xiita numa batalha feroz pelo controle de Amarah. Esta cidade estava sob o comando de tropas britânicas até agosto. Desde então, milicianos matam quem vende bebidas alcoólicas e mulheres que acusam de "comportamento imoral".

Espanha suspende venda de aviões à Venezuela

Sob intensa pressão dos Estados Unidos, a quem é aliada na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a Espanha decidiu cancelar a venda de 12 aviões militares de transporte à Venezuela, no valor de US$ 620 milhões. Os EUA vetaram o uso de produtos com tecnologia americana, o que matou o negócio.

Agora, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, deve comprar armas da China e da Rússia, que não usam tecnologia militar americana. O isolamento do caudilho bolivarista joga-o nos braços de potências rivais.

Para os EUA, os US$ 3 bilhões que Chávez está gastando para reequipar as Forças Armadas da Venezuela são um risco para a estabilidade da região. Chávez diz estar apenas se defendendo de uma possível invasão americana.

Nos últimos meses, Chávez anunciou a compra de dezenas de helicópteros, 24 caças a jato Sukhoi e 100 mil rifles Kalashnikov da Rússia, um grande sistema de radar da China e um sistema de defesa da Ucrânia.

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Grã-Bretanha quer que companhias de aviação paguem pela poluição do ar

O governo britânico lidera uma campanha para que as grandes companhias aéreas do mundo paguem o custo de sua poluição. Quer incluí-las no mercado de créditos de carbono da União Européia dentro de dois anos, anunciou o jornal Financial Times, de Londres.

As companhias aéreas são grandes poluidoras. Com o grande aumento do tráfego aéreo internacional na era da globalização, aumentou também a poluição do ar provocada por aviões. No momento em que se discutem alternativas para evitar o aquecimento da Terra, a Europa tenta impor o princípio de que o poluidor deve pagar pelo que faz.

No caso, pelo atual mercado de créditos de carbono, as companhias aéreas poderiam comprar créditos de quem vai poluir menos como maneira de ampliar sua cota. O Brasil, só combatendo as queimadas na Amazônia, poderia acumular muitos créditos de carbono para vender para empresas poluidoras.

O governo dos Estados Unidos e algumas megaempresas americanas, como a Esso, que negam a existência de um efeito estufa que estaria aquecendo o planta, não participam desde mercado, criado pelo Protocolo de Quioto. Mas além do ex-vice-presidente Al Gore, que acaba de passar pelo Brasil em campanha de conscientização ecológica, pelo menos 28 estados americanos estão se adaptando de uma forma ou de outra às diretrizes de Quioto.

O Brasil pode ganhar muito dinheiro com a preservação do meio ambiente. Mas o conceito de serviços ambientais prestados pela natureza ainda não foi plenamente assimilado pela sociedade e pelas autoridades.

Síndrome do Vietnã volta a assombrar os EUA

A Síndrome do Vietnã voltou com o criativo jornalista americano Thomas Friedman, do jornal The New York Times, autor de O Mundo é Plano, que comparou a atual onda terrorista no Iraque com a ofensiva vietnamita de Tet, em 1968, no ano início do ano novo lunar chinês, quando 500 americanos foram mortos só no primeiro dia.

Como neste mês, um dos piores para os americanos no Iraque, morreram até agora 72 soldados americanos, ainda estamos longe do Vietnã. A ofensiva de Tet equivaleria assim ao momento em que a opinião pública americana virou contra a Guerra do Vietnã. No Iraque, esta virada já aconteceu há meses, talvez um ano.

Antes do final do ano passado, ao analisar as crises nucleares na Coréia do Norte e do Iraque, especialistas americanos começaram a falar numa Síndrome do Iraque, que impediria novas ações militares contra os outros países do 'eixo do mal' por serem absolutamente inaceitáveis para a opinião pública americana.

Então a Síndrome do Vietnã, que Bush pai pensou ter apagado ao derrotar Saddam Hussein em 40 dias na Guerra do Golfo de 1991, vem somar-se à Síndrome do Iraque.

Lucro do Google sobe 92%

As ações do Google subiram 6% depois que a empresa anunciou um aumento de lucro de 92% no último trimestre, com grande crescimento da venda de anúncios online acessados por quem usa o site para pesquisa. O Google é considerado hoje o melhor site de pesquisa da rede mundial de computadores.

Um aumento de vendas de 70% no terceiro trimestre deu ao Google um faturamento US$ 2,69 bilhões e um lucro de US$ 733 milhões.

O Google também se beneficiou do aumento da propaganda via Internet nos Estados Unidos, onde deve crescer 27% este ano, chegando a US$ 16 bilhões.

Bolsa de Nova Iorque fecha acima de 12 mil

O Índice Dow Jones, que mede o desempenho de 30 grandes empresas industriais na Bolsa de Nova Iorque, fechou hoje pela primeira vez acima de 12 mil pontos.

Com alta de 19,05 pontos, terminou o pregão em 12.011,73, graças aos bons resultados da indústria farmacêutica Pfizer e da Coca-Cola, e o grau de investimento que o banco Lehman Brothers deu à empresa de telecomunicações AT&T. Também colaborou a sondagem industrial da seção do Federal Reserve Board (banco central dos EUA) revelou outro declínio da atividade, o que evitaria novo aumento dos juros.

A bolsa Nasdaq, das ações de empresas de alta tecnologia, subiu 3,79 points to 2.340,94, e o índice Standard & Poor's 500, que mede o desempenho de 500 empresas, aumentou 0,94 ponto, fechando em 1.366,90.

OPEP reduz produção para aumentar preços

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) decidiu hoje cortar sua produção em 1,2 milhão de barris por dia, 4,4% da produção do cartel e pouco mais de 1% da produção global. O corte entra em vigor a partir de 1 de novembro, com o objetivo de manter o preço do barril em pelo menos US$ 60.

Diante da expectativa de queda na oferta, o preço do petróleo subiu US$ 1,01 na Bolsa Mercantil de Nova Iorque para US$ 58,66 o barril. Mas está muito longo dos US$ 78 a que chegou em agosto.

Bush quer militarizar o espaço

A informação divulgada ontem de que os Estados Unidos "rejeitam qualquer limitação para operar no espaço" e que "negarão seu uso a adversários, se necessário", confirma que os americanos estão convencidos de que o regime de não-proliferação está superado e que a única garantia de defesa é a instalação de um sistema espacial antimísseis na linha do Programa Guerras nas Estrelas, anunciando em 1983 pelo presidente Ronald Reagan.

O atual secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, admitiu que cerca de 40 países dispõem hoje da tecnologia necessária para desenvolver armas nucleares e mísseis que as transportem até seus alvos. Se estiverem determinados, será impossível impedi-los, reconhece o chefe do Pentágono.

Para ser eficiente, um sistema de defesa antímisseis precisa ser capaz de detectar o lançamento dos mísseis inimigos, rastreá-los, destruí-los no espaço, possivelmente com armas de raios laser, e certificar-se de que foram efetivamente neutralizados. Isto é considerado praticamente impossível para uma chuva de mísseis voando a velocidades de milhares de quilômetros por hora. Não funcionaria numa guerra contra uma grande potência nuclear. Poderia dar certo contra um número limitado de mísseis. Mas até o momento não há garantias.

O espaço é a última fronteira. Os EUA querem garantir a manutenção de sua supremacia militar. Em outubro do ano passado, votaram contra na ONU uma proposta que bania a instalação de armas no espaço. A Doutrina Bush, de guerras preventivas, chega à última fronteira.

EUA precisam negociar com inimigos

Os Estados Unidos devem negociar com a Síria e o Irã para pacificar o Iraque, assim como terão de negociar com a Coréia do Norte para evitar uma corrida armamentista nuclear no Leste da Ásia.

A violência política no Iraque acaba "em meses" se o Irã e a Síria se juntarem aos esforços de estabilização do país, declarou em 17 de outubro o presidente iraquiano, Jalal Talabani.

"Seria o começo do fim do terrorismo", disse o líder curdo em entrevista à BBC.

A proposta de negociar com os inimigos seria da comissão presidida pelo ex-secretário de Estado americano James Baker para encontrar saídas para o atoleiro em que os EUA se meteram no Iraque. Baker lembrou que fazia isto quando assessor do pai de Bush.

Na verdade, antes da Guerra do Golfo de 1991, para expulsar os iraquianos do Kuwait, Baker rifou os cristãos libaneses, entregando o controle do Líbano à Síria em troca do apoio sírio contra Saddam Hussein. Saddam já era inimigo da Síria, então a negociação foi mais fácil do que será agora.

O Irã e a Síria, que são aliados, são inimigos dos Estados Unidos e, portanto, contra o projeto americano para o Iraque. No momento, é principalmente através da Síria que entram armas e recursos para a insurgência sunita e para a rede terrorista sunita Al Caeda, enquanto o Irã apóia a maioria xiita, que também tem milícias ferozes, como o Exército Mahdi, do aiatolá Muktada al-Sader, que controla as favelas xiitas da periferia de Bagdá.

Mesmo antes da reeleição de Bush, em entrevista à CNN, o professor Fred Halliday, da London School of Economics, já defendia esta solução internacional para pacificar o Iraque: basta negociar com os países vizinhos que têm ascendência sobre as populações sunitas e o Irã, que tem forte influência sobre os xiitas.

O problema, raciocinava o professor Halliday, é que nem árabes nem iranianos têm interesse em ajudar o atual governo dos EUA, que não avança, por exemplo, na questão palestina, símbolo para os árabes de uma jnjustiça histórica: “Eles querem deixar os americanos sangrarem um pouco mais para diminuir sua arrogância e enfraquecer sua posição negociadora”.

Enquanto, quem sangra é o Iraque. Estão morrendo em média cem pessoas por dia. A situação é de caos e anarquia. Aumenta o coro dos que pedem a retirada das tropas, de deputados do Partido Republicano, de Bush, ao comandante do Exército Real britânico.

Baker só vai apresentar seu relatório depois das eleições americanas de 7 de novembro, quando serão eleitos toda a Câmara e um terço do Senado. Isto tem provocado especulações quanto a seu conteúdo, inclusive sobre uma possível retirada das forças americanas, o que obrigou o presidente George W. Bush a reassegurar o governo iraquiano de que os EUA não estabeleceram um prazo para que o novo regime controle a violência, num dia em que pelo menos 57 pessoas morreram, sendo que 15 em dois atentados com carros-bomba contra um enterro.

Só no último fim de semana, foram 89 mortes. Se o total de 650 mil desde a invasão americana, resultado de uma pesquisa por amostragem divulgada na prestigiada revista médica britânica The Lancet, parece exagerado, a estimativa do site Iraq Body Count fica entre 44 e 49 mil civis iraquianos mortos.

PESADELO NUCLEAR
Diante dos problemas nos outros países do ‘eixo do mal’, os EUA gostariam de sair logo do atoleiro no Iraque. Podem usar a questão iraquiana para iniciar negociações com o Irã e daí passar para a questão nuclear, a maior preocupação americana hoje.

Se for possível chegar a um acordo com o Irã para pacificar o Iraque, por que não na questão nuclear? Na verdade, a simples abertura de negociações retira a demonização implícita na expressão ‘eixo do mal’.

Diante do teste nuclear da Coréia do Norte da determinação do Irã de manter seu programa nuclear, o do clima guerra civil no Iraque, dá para dizer que o ‘eixo do mal’ derrotou a Doutrina Bush, de guerra preventivas e uso da força.

Tanto o Irã quanto a Coréia do Norte se revelaram refratários às políticas de Bush. A retórica agressiva do presidente americano e a invasão do Iraque só radicalizaram suas posições, acelerando o desenvolvimento de seus programas nucleares para terem um poder dissuasório capaz de inibir um ataque dos EUA.

É certo que os EUA tem planos para eliminar uma possível ameaça nuclear, seja do Irã ou da Coréia do Norte, provavelmente através de bombardeios maciços a instalações atômicas importantes. Mas no momento não há o menor apoio político para a guerra atual, quanto mais para uma nova guerra.

A opção é a diplomacia. Mas não deu muito resultado até agora. O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou por unanimidade um embargo ao comércio de armas, sanções financeiras e comerciais à Coréia do Norte. Mas a China e a Coréia do Sul, suas principais parceiras comerciais, já avisaram que não suspenderão seus negócios.

Estes dois países vizinhos temem uma implosão da ditadura stalinista de Pionguiangue, que jogaria milhões dos 23 milhões de norte-coreanas nas estradas para o Sul e para a China.

Há uma suspeita de que o teste nuclear norte-coreano foi uma tentativa desesperada de auto-afirmação de um regime à beira do colapso, que provocou uma fome com milhões de mortos nos últimos anos e não tem a menor perspectiva para o futuro. O regime considerou as sanções impostas pela ONU como uma “declaração de guerra”.

É o Absurdistão, como disse a revista alemã Der Spiegel. A população é miserável. Milhões morreram de fome. O ditador Kim Jong Il é conhecido como Querido Líder. Tanto a economia quanto o regime, e provavelmente também o ditador, estão nas mãos do Exército, que teria exigido a antecipação dos testes atômicos.

Em meio a rumores de que Pionguiangue prepara um segundo teste, ignorando a exigência da Resolução 1.718 do Conselho de Segurança da ONU para que pare os testes e desmonte seu programa nuclear, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, iniciou uma viagem ao Leste da Ásia, onde vai se encontrar com líderes da China, Japão, Rússia e Coréia do Sul. Todos são países interessados em evitar uma corrida nuclear que seria capaz de desestabilizar a região que mais cresce no mundo, com sérios prejuízos para toda a economia mundial.

Rice advertiu que um novo teste só aumentaria o isolamento internacional do regime norte-coreano.

O fato é que o eixo do mal voltou com força redobrada para assombrar o segundo governo Bush e lembrar a todos da maldição do segundo mandato.

A lição que nos lembra James Baker, que reaparece mais uma vez para salvar Bush, jr. (ele defendeu o então candidato nos processos de recontagem dos votos da Flórida pedidos pelo vice-presidente Al Gore após a eleição de 2000 nos EUA), é que é sempre melhor negociar com o inimigo do que demonizá-lo deixando-o sem saída a não ser a radicalização.