O líder e fundador do grupo guerrilheiro peruano Sendero Luminoso, Abimael Guzmán, mais conhecido pelos nomes de guerra Presidente Gonzalo ou Camarada Gonzalo, foi condenado à prisão perpétua por terrorismo. Sua companheira e número dois na organização maoísta, Elena Iparraguirre, pegou a mesma pena. Outros dez integrantes da cúpula senderista foram condenados a 25 anos de cadeia.
A defesa alegou que Guzmán merecia ser tratado como um comandante militar em tempo de guerra. Como ele declarou esta guerra sob um regime democrático, o tribunal rejeitou o argumento.
As sentenças foram lidas durante oito horas na noite de sexta para sábado na Base Naval de Callao, o porto de Lima, depois de um ano de processo. A Justiça do Peru tenta assim encerrar o capítulo mais sangrento da história recente do país.
O Partido Comunista do Peru, fundado em 1930 por José Carlos Mariátegui, dividiu-se nos início dos anos 60, quando houve a ruptura entre a China e a União Soviética, assim como no Brasil, onde houve o racha entre o PCB e o PCdoB, que sobrevive até hoje.
O Partido Comunista Peruano, pró-soviético, participava da política eleitoral em aliança com os socialistas na coligação Izquierda Unida, que governou Lima várias vezes. Já o PCdoP, de orientação maoísta, quando a China trocava o maoísmo pela abertura econômica, sob a liderança de Guzmán, partiu para a luta armada.
Sua primeira ação, em maio de 1980, foi uma tentativa de boicotar as primeiras eleições livres no Peru desde 1964, incendiando urnas em Chuschi, uma vila próxima a Ayacucho.
Calcula-se que o Sendero Luminoso, braço armado do Partido Comunista do Peru, de orientação maoísta, tenha matado mais de 30 mil pessoas. Incluindo-se as mortes cometidas na reação violenta das Forças Armadas do Peru contra o grupo terrorista, a guerra provocada pelo Sendero matou quase 70 mil peruanos entre 1980 e 2000, de acordo com as investigações da Comissão de Verdade e Reconciliação do Peru.
O Sendero não atacava somente militares, policiais ou políticos mas funcionários públicos de todos os níveis, outros grupos de esquerda como o Movimento Revolucionário Tupac Amaru, trabalhadores que não participavam de suas greves, agricultores que colaboravam com o governo de alguma forma, inclusive votando em eleições, e cidadãos da classe média urbana
Depois de ajudar a arruinar o primeiro governo do atual presidente Alan García (1985-90), o Sendero foi derrotado pela ditadura de Alberto Fujimori, que fechou o Congresso e usou seu famigerado chefe de inteligência, Wladimiro Montesinos, para desmantelar o grupo terrorista a ferro e fogo. Montesinos foi condenado anos mais tarde por corrupção e violação dos direitos humanos.
Manuel Rubén Abimael Guzmán Reynoso, originalmente um professor de filosofia, foi preso em 1992 e condenado em 1993 por um tribunal militar. Com a queda de Fujimori, o primeiro julgamento foi anulado. Agora, aos 71 anos, o líder de um movimento que chegou a ser comparado à ditadura genocida de Pol Pot, que matou 2 milhões no Camboja, é novamente condenado.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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2 comentários:
Olá Nelson,
Guzmán ainda terá muitos seguidores? Tento imaginar a repercussão do veredito nos vales dos Andes, nesse contexto Evo-Cháves...
Falando nisso, apenas dizem que Rafael Correa é "amigo" de Chávez nos noticiários. Nenhuma informação consistente sobre a natureza do candidato, ou de sua amizade... Teremos aí um "eixo" Evo-Chavez-Correa?
O projeto de blog do Repoters Sans Frontières, do qual já lhe falei, começou. Difícil de achar blogueiros brasileiros opinando sobre acontecimentos globais!
Sem dúvida, Chávez torce por Correa. Guzmán adotou uma estratégia enlouquecida de fazer a luta armada numa sociedade que se democratiza, apesar de todos os problemas da democratização na América Latina. A luta armada não faz mais sentido. Mas a esquerda peruana está viva, como se viu pela votação de Ollanta Humala.
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