George Walker Bush é um profeta sombrio. Cinco anos e meio depois de denunciar a existência de um “eixo do mal” – Irã, Iraque e Coréia do Norte – que ameaçaria a paz internacional e a segurança dos Estados Unidos, o presidente americano deve estar se perguntando como a nação mais poderosa da terra permitiu que sua profecia maldita se tornasse realidade.
A Coréia do Norte acaba de anunciar sua primeira explosão atômica, embora ainda haja dúvidas se houve mesmo uma explosão atômica e se foi bem-sucedida. O Irã, estimulado pelo exemplo norte-coreano, nega-se a suspender seu programa nuclear. E o Iraque, invadido pelos EUA porque estaria desenvolvendo armas de destruição em massa, alegação que se mostrou falsa, está à beira de uma guerra civil.
Mais de 2.740 soldados americanos e algo entre 43.850 e 48.693 civis iraquianos foram mortos desde a invasão de março de 2003, segundo o site Iraq Body Count, que simplesmente soma os números de todas as notícias que recebe. As últimas previsões dos próprios militares americanas são sombrias, diante da violência sectária entre árabes sunitas e árabes xiitas, sempre acompanhada de requintes de crueldade como mostra o estado dos corpos que chegam diariamente ao necrotério de Bagdá.
A violência aumenta. Uma pesquisa da prestigiada revista médica The Lancet baseada numa amostragem cobrindo todo o país acaba de estimar em 600 mil o total de mortos pela guerra no Iraque e o clima de anarquia e de violência generalizada instalado desde a queda de Saddam Hussein, em 9 de abril de 2003.
O Iraque minou a credibilidade da liderança de Bush e de sua Doutrina de Segurança Nacional baseada no uso preventivo da força. A força não venceu a guerra contra o terrorismo e provocou total anarquia no Iraque. Ele se recuperou um pouco com o quinto aniversário dos atentados de 11 de setembro. Sua popularidade subiu para 42% mas agora caiu para 39%.
Com o teste nuclear da Coréia do Norte, falso ou verdadeiro, a política externa americana sofre mais um duro golpe. As pesquisas de opinião já davam uma vantagem de 55% a 41% à oposição democrata sobre os republicanos nas eleições de 7 de novembro, que renovam toda a Câmara e um terço do Senado dos EUA. O estrago pode ser ainda maior, garantindo a retomada do controle da Câmara pelo Partido Democrata, depois de 12 anos.
Afinal, especialmente após os atentados de 11 de setembro de 2001, mas mesmo antes, a não-proliferação de armas de destruição em massa, sobretudo as nucleares, era a pedra fundamental da política de segurança nacional dos EUA. O grande medo hoje dos estrategistas americanos é que armas químicas, biológicas ou nucleares caiam nas mãos de terroristas que não mostram o menor escrúpulo em matar o maior número de pessoas possível.
Depois dos testes nucleares da Índia e do Paquistão, em maio de 1998, o regime de não-proliferação nuclear foi seriamente abalado. Agora, com a explosão da bomba norte-coreana e a decisão do Irã de desenvolver armas nucleares, a maior vítima é o regime de não-proliferação.
Como disse recentemente em palestra na Escola de Guerra Naval o professor Martin van Creveld, professor da Universidade de Telavive, no futuro breve qualquer país de nível médio terá condições de fabricar armas atômicas e de desenvolver tecnologia de mísseis para enviar estas bombas até seus alvos: “Se o Paquistão pode, qualquer um pode”.
LEIA mais em minha coluna de política internacional em www.baguete.com.br
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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