Pelo menos 30 iraquianos foram mortos por um morteiro hoje numa feira em Mahmudia, no Iraque, e oito milicianos xiitas morreram em choque com a polícia. Em Washington, o presidente George Walker Bush reuniu-se com o alto comando das Forças Armadas dos Estados Unidos. Mas reiterou que o objetivo estratégico ainda é o mesmo: a vitória e a instalação de um regime democrático no Iraque.
"Estamos discutindo novas táticas. Mudamos de tática constantemente para nos adaptar aos novos desafios apresentados pelo inimigo", declarou Bush em seu programa de rádio semanal como presidente dos EUA. É o mesmo que disse ontem o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld.
Uma tempestade desabou sobre Washington na semana passada, quando o presidente aceitou a comparação entre o Iraque e o Vietnã, em entrevista a George Stephanopoulos, da ABC News, que foi porta-voz do governo Clinton.
O colunista Thomas Friedman, do jornal The New York Times, tinha comparado a onda de ataques rebeldes no mês de Ramadã, no Iraque, à ofensiva vietcongue do Tet, no ano novo lunar chinês de 1968, contra as forças americanas e seus aliados no Vietnã do Sul.
Bush teria afirmado que iria até o fim no Iraque, mesmo que somente sua mulher, Laura, e seu cachorro, Barney, o apoiassem. "Se a ofensiva do Tet jihadista continuar ganhando impulso, Bush pode ficar só com Barney", ironizou Friedman, autor do livro O Mundo é Plano.
Há uma comissão presidida pelo ex-secretário de Estado James Baker, antigo quebra-galhos da família Bush (defendeu o candidato Bush nos processos que se seguiram à eleição presidencial de 2000), para encontrar alternativas para o Iraque. Mas nenhuma das propostas que vazaram até agora encontrou ressonância na Casa Branca:
• Uma retirada gradual, em fases: no momento em que a violência inimiga se intensifica, seria a receita para a derrota. O Iraque poderia se tornar um novo Afeganistão, um centro do terrorismo internacional.
• Enviar mais tropas: é o que foi feito no início de agosto para tentar conter a violência em Bagdá, sem sucesso, tanto que as táticas estão sendo rediscutidas. Teria de ser uma força muito maior e com um objetivo estratégico claro: desarmar as milícias. A questão aqui é se é possível derrotar uma insurgência engordada por terroristas internacionais somente com o uso da força. Tudo indica que não. O desafio é normalizar o Iraque, garantir a segurança, reconstruir os serviços públicos, fazer a economia funcionar. Os rebeldes e os jihadistas querem exatamente o contrário: transformar o país num inferno e botar a culpa nos invasores. Estão ganhando. Se expulsarem o invasor, começam a brigar entre si.
• Negociar com os inimigos: abrir negociações com a Síria, por onde passam armas e recursos para os grupos rebeldes sunitas, e com o Irã, que tem ascendência sobre a população xiita, cerca de 60% dos 25 milhões de iraquianos. No melhor dos mundos, isto permitiria negociar também a questão nuclear iraniana, que é o que mais preocupa os americanos. Mas o governo Bush resiste a dialogar com os regimes que demoniza. Vai deixar a guerra inacabada para o sucessor.
• Divisão do Iraque: esta é a solução mais impensável mas tem sido mencionada inclusive por deputados republicanos. Seria o atestado final do total fracasso da aventura militar de Bush no deserto. Um país xiita no Sul do Iraque fortaleceria ainda mais o Irã, na verdade o maior beneficiário da invasão dos EUA no Iraque. Seria exatamente o contrário do que o então subsecretário de Estado britânico para o Oriente Médio Winston Churchill queria, quando juntou a região curda do Norte, rica em petróleo, para criar um país capaz de equilibrar o poderio do Irã. O surgimento do Curdistão, no Norte, seria um pesadelo para a Turquia, que tem a maior população curda. Parece-me a hipótese menos provável.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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