Um grupo de cineastas e intelectuais, entre eles a ministra da Cultura da França, Françoise Nyssen, e os diretores Jean-Luc Godard, David Cronenberg e Ken Loach, fez hoje um apelo pela libertação e para salvar a vida do cineasta ucraniano Oleg Sentsov. Condenado a 20 anos de prisão na Rússia, ele está em greve de fome há três meses. Sua vida corre perigo.
Sentsov foi detido em sua casa na península da Crimeia em maio de 2014, dois meses depois da anexação ilegal da região pela Rússia, e denunciado por terrorismo e suposta cumplicidade com o grupo paramilitar neonazista ucraniano Setor de Direita, organização de grupo terrorista e tráfico de armas, acusações forjadas para justificar a prisão. Veja abaixo a nota dos intelectuais:
"Artesãos da imagem e do imaginário, os cineastas nos movem e nos maravilham, capturam nossa época e nos cativam", declarou em nota o grupo. "Através de suas obras, eles compartilham suas visões e despertam as nossas. Eles fazem ouvir suas vozes - vozes às vezes dissidentes: em todo o mundo, constituem contrapesos essenciais ao poder e constroem novos pensamentos. A diversidade de opiniões, os debates, desacordos e discussões que os artistas alimentam são uma chance para a democracia, a liberdade e o progresso.
"Porque a arte não conhece fronteiras, porque a arte é universal, os direitos daqueles que lhe dão vida deve ser igualmente. A liberdade de expressão e a liberdade de criação não devem parar onde começa a dissidência. No entanto, hoje, um cineasta está à morte porque é um dissidente. Ameaçado por causa de suas ideias, como Vassili Grossman, Alexander Soljenitsyn e outros sob o regime comunista.
"Oleg Sentsov está preso na Rússia há mais de quatro anos. Sua condenação a 20 anos de reclusão por um tribunal militar russo, no fim de um processo que manifestamente não respeitou o direito de defesa, é uma violação do direito internacional e das regras fundamentais da justiça. Seu único "erro" real não seria ter exercido sua liberdade de expressão? Seu único crime não seria poder exprimir seu engajamento político através da arte?
"Enfermo, no Norte da Sibéria, em condições horríveis e desumanas, ele perdeu mais de 30 quilos desde o início da greve de fome que faz há quase três meses. Como seu estado de saúde parece se degradar perigosamente dia após dia, é preciso agir. E é preciso agir com rapidez.
"Não agir seria deixar Oleg Sentsov morrer. Seria renunciar a nossos valores e princípios, renunciar ao que defendemos e ao que somos. Seria tolerar que alguém possa ser morto por suas ideias, suas opiniões, suas tomadas de posição. O tratamento de que é objeto é um atentado à liberdade de pensamento e à liberdade de criação.
"Não podemos aceitar. É urgente e necessário que a Rússia encontre uma solução não só humanitária mas política para esta situação. Não somente a França - o presidente Emmanuel Macron fez vários apelos ao presidente Vladimir Putin -, mas o conjunto da comunidade internacional, da União Europeia à ONU, devem se mobilizar por Oleg Sentsov e para obter respostas.
"Os artistas do mundo inteiro sabem que o presidente russo tem o poder de parar com esta tragédia humana e democrática. Em todo o mundo, no mundo do cinema, da cultura e muito além, uma mobilização internacional deve se fazer ouvir em defesa do cineasta. Em nome da liberdade artística e de expressão, nós apelamos de novo pela libertação imediata de Oleg Sentsov", conclui o comunicado.
O texto é assinado pela Sociedade dos Autores e Compositores Dramáticos, a Sociedade Civil dos Autores Multimídia, a Sociedade Civil dos Autores, Realizadores e Produtores, a Sociedade dos Realizadores de Filmes, a Associação dos Realizadores e Realizadoras Francófonos e o Théâtre du Soleil.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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