O governo Donald Trump reimpôs a partir de hoje uma série de sanções ao Irã, inicialmente concentradas no setor financeiro, para pressionar economicamente a República Islâmica depois de retirar os Estados Unidos do acordo nuclear assinado em 2015 para congelar o programa nuclear militar iraniano por dez anos.
Na contramão da União Europeia, da China, da Rússia, da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e do próprio Departamento da Defesa dos EUA, Trump abandonou o acordo e restabeleceu as sanções econômicas ao regime dos aiatolás e, cada vez mais, da Guarda Revolucionária Iraniana, sob os aplausos de dois grandes aliados dos EUA no Oriente Médio: Israel e a Arábia Saudita, inimigos jurados do Irã.
“O presidente Trump vai continuar a se opor à agressão do regime iraniano e os EUA vão aplicar completamente as sanções reimpostas”, declarou em nota oficial a Casa Branca. Depois de ameaçar o Irã com um ataque jamais visto se desafiar os EUA, no mês passado, Trump disse estar pronto para se reunir sem precondições com líderes iranianos. A proposta foi recusada.
“Eles poderiam aceitar a oferta de negociações do presidente, abandonar completamente e de maneira verificável seus programas nuclear e de mísseis balísticos, parar de financiar o terrorismo e de intervir militarmente em outros países da região”, declarou à Fox News o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton.
Em resposta, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, considerou as sanções uma “insensatez” e acusou Trump de “querer iniciar uma guerra psicológica contra a nação iraniana”. Ele afirmou que Trump se mostrou “inconfiável” ao romper o acordo negociado no governo Barack Obama e disse que o Irã não vai negociar sob sanções.
“Você não pode esperar o diálogo de uma pessoa que lhe dá uma faca e deixa a faca enfiada”, declarou o aiatolá-presidente em entrevista a uma televisão iraniana. “Se houver confiança, o Irã estará sempre aberto a negociações, mas não fazem sentido enquanto estivermos sob sanções.”
Tido como um aiatolá moderado dentro do regime fundamentalista xiita iraniano, Rouhani venceu a eleição presidencial com a promessa de se reaproximar do Ocidente para melhorar a situação econômica do país.
O acordo nuclear, visto com suspeita pela linha-dura e a Guarda Revolucionária, foi sua grande vitória e uma das grandes realizações de política externa do governo Barack Obama, ao lado do Acordo de Paris sobre Mudança do Clima e do acordo comercial da Parceria Transpacífica. Trump acabou com tudo.
Numa segunda etapa, a partir de novembro, os EUA devem suspender totalmente as importações de petróleo do Irã e estão pressionando os aliados a fazer o mesmo.
Desde já, as empresas que fizerem negócios com o Irã podem ser alvo de sanções cruzadas. Podem, por exemplo, ser proibidas de operar em dólares, algo inviável para empresas transnacionais ocidentais.
Assim, a companhia de petróleo francesa Total está suspendendo investimentos de US$ 2 bilhões para explorar o megacampo de gás de Pars do Sul, com prejuízo de US$ 100 milhões. Cerca de 90% das operações da Total são feitas por bancos dos EUA e 30% dos acionistas da empresa são americanos.
Nos últimos meses, a moeda iraniana, o rial, perdeu 37% do valor. A inflação disparou e o desemprego está em alta. As manifestações de proteste se multiplicam. Houve até uma greve no Grande Bazar, em Teerã.
Esses protestos não têm força política para ameaçar o regime. Em 2009, o Movimento Verde apoiava a candidatura do ex-primeiro-ministro Mir Hossein Mussavi. Agora, não há articulação. Há uma revolta espontânea contra um regime ditatorial em meio a uma grave crise econômica com expectativa de piorar.
Ao mesmo tempo, as empresas ocidentais deixam o campo aberto para a China, que não rompeu o acordo nuclear. As companhias chineses pretendem tomar o mercado de automóveis das concorrentes da França, que tinham no Irã, um país de 81 milhões de habitantes, um mercado importante para suas exportações.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário