A Grécia saiu oficialmente hoje do terceiro programa de ajuste das contas públicas adotado desde que o país quebrou em 2010, em troca de empréstimos de mais de US$ 300 bilhões de seus aliados na Zona do Euro, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Central Europeu (BCE).
Oito anos depois do remédio amargo imposto pela troika, o produto interno bruto recuou 25%. O desemprego chegou a um pico de 27,5% em 2013 e está um pouco abaixo de 20%.
"Esta enorme perda do PIB poderia ter sido evitada", escreveu Larry Elliott, editor de economia do jornal britânico The Guardian, se "a prioridade, no quadro da mais grave crise financeira do século, não fosse equilibrar as contas públicas em meio a uma deflação." Na sua opinião, a ajuda foi um fracasso.
O problema é que a Alemanha, a Holanda, a Finlândia e outros países ricos da União Europeia não quiseram bancar a irresponsabilidade financeira dos governos gregos. A crise das dívidas públicas contaminou a Irlanda, Portugal e a Espanha, mas a situação mais grave foi a da Grécia.
"A Grécia saiu do respirador artificial, mas ainda está longe de uma recuperação", comentou o jornalista Mark Lowen na televisão pública britânica BBC. "Segundo o FMI, só quatro países tiveram uma retração econômica maior do que a Grécia nos últimos dez anos: Iêmen, Líbia, Venezuela e Guiné Equatorial."
Em entrevista publicada ontem, o presidente do Banco Central da Grécia, Yannis Stournaras, advertiu: "Se não cumprirmos o que foi acertado, agora e no futuro, os mercados nos abandonarão e não teremos como refinanciar os empréstimos em condições viáveis quando chegar a hora."
As sopas populares continuam sendo a salvação de quem perdeu o emprego. Muitos perderam suas casas.
Ao mesmo tempo, os mais qualificados deixam o país, numa fuga de cérebros: "Mais de 500 mi pessoas, entre elas os mais brilhantes engenheiros, doutores e quadro jovens da Grécia, continuam deixando o país a cada ano, como acontece desde o início da crise", observou o jornalista grego Yannis Palaiologos no jornal americano The Wall Street Journal.
O primeiro-ministro Alexis Tsipras, um radical de esquerda que chegou ao poder no auge da crise, fará um pronunciamento em cadeia nacional de televisão nesta terça-feira. Seu sonho de "justiça social" fica adiado, alerta o jornal grego To Vima: "Nada parece poder nos assegurar que a saída do plano de resgate será suave nem que ele possa ser um porta-voz da esperança."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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