O presidente Recep Tayyip Erdogan criticou hoje os Estados Unidos, acusando-os de tentar coagir a Turquia, aliada na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), "por causa de um pastor", ameaçando procurar amigos em outro lugar, numa clara referência à Rússia, informou o jornal turco Hürriyet.
Ontem, em nome da segurança nacional, o presidente Donald Trump impôs tarifas de 20% sobre o alumínio e 50% sobre o aço importados da Turquia. Trump exige a libertação incondicional do pastor americano Andrew Brunson, detido em outubro de 2016, na onda de prisões que se seguiu à tentativa de golpe militar de 15 de julho daquele ano. Mais de 50 mil pessoas foram presas desde então.
"Só nos ajoelhamos diante de Deus", declarou Erdogan em ato público na província de Ordu, na costa do Mar Negro. "É errado tentar castigar a Turquia por causa de um pastor. Estou me dirigindo aos EUA mais uma vez: é uma vergonha. Está mudando a parceria estratégica da OTAN por causa de um pastor. Faremos o que a Justiça decidir."
Em artigo publicado hoje no jornal The New York Times, Erdogan advertiu que, "a menos que os EUA comecem a respeitar a soberania da Turquia e a provar que entendem as ameaças que nossa nação enfrenta, nossa parceria será prejudicada."
Erdogan compara o golpe de 2016 ao ataque japonês a Pearl Harbor, no Havaí, em 7 de dezembro de 1941, que fez os EUA entrarem na Segunda Guerra Mundial. Reclama que os EUA "não condenaram o ataque e não expressaram solidariedade inequivocamente à liderança eleita da Turquia".
O líder turco acusa o clérigo Fethullah Gülen, exilado na Pensilvânia, pelo golpe. A Justiça dos EUA rejeitou o pedido de extradição por não ver indícios suficientes da participação de Gülen na conspiração, apesar do envolvimento de membros do movimento gulenista na Turquia.
Outro problema citado por Erdogan é a aliança dos EUA com as Unidades de Proteção Popular, braço armado do movimento nacionalista curdo na Síria, ligado ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que durante décadas apoiou a luta armada contra o governo turco.
Os curdos são maioria nas Forças Democráticas da Síria (FDS), uma milícia árabe-curda articulada pelos EUA para a guerra contra a organização terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante dentro da guerra civil da Síria.
A Turquia teme uma aliança entre a região autônoma curda no Norte do Iraque com a região curda da Síria para proclamar a independência do Curdistão, que reivindicaria soberania sobre o Sudeste da Turquia, onda a maioria da população é curda.
"Em vez de respeitar o devido processo judicial, como pedi ao presidente Trump em inúmeros encontros e conversas, os EUA fazem ameaças flagrantes e impõe sanções a vários membros do meu gabinete. Esta decisão é inaceitável, irracional e, em última análise, prejudicial à nossa longa amizade", protestou o presidente turco.
E arrematou: "Num momento em que o mal continua a espreitar ao redor do mundo, ações unilaterais contra a Turquia de parte dos EUA, nosso aliado há décadas, só vai minar os interesses e a segurança dos EUA. Antes que seja tarde demais, os EUA devem abandonar a noção equivocada de que nossa relação possa ser assimétrica e entender que a Turquia tem alternativas. Se não reverter esta tendência de unilateralismo e desrespeito, vai nos obrigar a procurar novos amigos e aliados."
A China e a Rússia, adversárias estratégicas dos EUA, estão sempre prontas a oferecer opções. Diante do tarifaço de Trump, Erdogan ligou para Vladimir Putin em Moscou.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
sábado, 11 de agosto de 2018
Erdogan acusa Trump de atacar aliado da OTAN "por causa de um pastor"
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