sexta-feira, 31 de maio de 2019

Trump impõe tarifaço anti-imigração e México propõe diálogo

Em resposta à ameaça de um tarifaço sobre todas as importações do México para os Estados Unidos, o presidente Andrés Manuel López Obrador enviou hoje uma carta ao presidente Donald Trump defendendo o diálogo. 

López Obrador deixou claro que não quer o confronto, argumentou que as pessoas emigram por necessidade e afirmou que "problemas sociais não podem ser resolvidos com impostos e medidas coercitivas".

O México enviou uma delegação a Washington para tentar negociar uma solução para a crise. "Se o problema de imigração não for remediado", escreveu Trump ontem no Twitter, as tarifas vão aumentar em cinco pontos percentuais por mês até chegarem a 25%. Meu comentário:


Trump impõe tarifas a pretexto de combater imigração ilegal do México

O presidente Donald Trump anunciou ontem à noite no Twitter a imposição de tarifas de 5%, a partir de 10 de junho, sobre todos os produtos importados do México" para os Estados Unidos e ameaçou aumentá-las progressivamente "até que o problema da imigração ilegal seja remediado", noticiou a televisão pública britânica BBC

As tarifas serão aumentadas em 5 pontos percentuais por mês até chegarem a 25%. Para o responsável pelo setor de EUA do Ministério do Exterior mexicano, a medida é "desastrosa": "Se isto for colocado em prática, teremos de responder vigorosamente", declarou o embaixador Jesus Seade.

Trump lançou sua campanha eleitoral acusando os imigrantes mexicanos de serem traficantes, estupradores e assassinos. Antes de chegar à Casa Branca, prometeu construir um muro na fronteira sul dos EUA.

Em fevereiro, o presidente americano decretou emergência, embora o problema da imigração ilegal seja muito menor do que no início do século. A decisão está sendo contestada na Justiça.

Ontem, Trump repetiu o discurso eleitoreiro: "Durante anos, o México não nos tratou justamente, mas agora estamos afirmando nossos direitos como uma nação soberana."

Com a linha dura adotada pelo governo Trump, que chegou a separar menores de idade dos pais que tentavam pedir asilo aos EUA, seis crianças filhas de imigrantes morreram desde setembro de 2018.

Desde a aprovação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), em 1993, várias empresas transnacionais dos EUA, como a Coca-Cola, a Ford, a General Motors, a IBM e a John Deere, instalaram fábricas no México para exportar para o mercado americano.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Terrorismo islâmico ameaça países pobres da África

Com a derrota da rede terrorista Al Caeda e do Estado Islâmico em seus países de origem, os grupos jihadistas tentam se estabelecer em outras regiões, especialmente na região do Sahel, que fica ao sul do Deserto do Saara, na África.

Uma mistura de miséria, desesperança, corrupção e governos fracos atrai os terroristas, enquanto a guerra civil sem fim na Líbia desde a queda do ditador Muamar Kadafi, em 2011, aumenta o fluxo de armas, mercenários e jihadistas na região.

A França interveio militarmente no Mali em 2013. Conseguiu conter uma rebelião da tribo dos tuaregues, mas não estabilizar o Sahel, mesmo com o apoio dos EUA.

As potências ocidentais precisam fazer novos planos e se preparar para uma guerra longa com batalhas sangrentas. Meu comentário:


Crescimento dos EUA foi um pouco menor do estimado inicialmente

A economia dos Estados Unidos cresceu um pouco menos do que apurado na primeira estimativa do produto interno bruto do primeiro trimestre de 2019, mas não muito. Em vez de 3,2% ao ano, a maior economia do mundo avançou em ritmo de 3,1% ao ano.

O crescimento surpreendeu. Antes da primeira estimativa, os economistas previram expansão de 2,2% ao ano. Antes da segunda leitura do PIB, o mercado financeiro registrou repetidas quedas por temor do impacto da guerra comercial entre EUA e China para a economia internacional.

Embora a confiança do consumidor continue alta, as encomendas à indústria e a produção industrial desapontaram, aumentando a preocupação do mercado.

No início do ano, havia uma expectativa de desaceleração do crescimento. O bom resultado do primeiro trimestre afastou o fantasma temporariamente, mas muitos economistas defendem um corte nas taxas básicas de juros da Reserva Federal (Fed), o banco central dos EUA, para evitar uma nova recessão lá na frente.

A maior parte do crescimento do primeiro trimestre se deveu à acumulação de estoques. Enquanto estes produtos não forem vendidos, o comércio não fará novas encomendas. Assim, o ritmo de crescimento tende a cair.

Procurador especial sugere que Congresso julgue Trump

Em sua primeira declaração pública após concluir o inquérito, o procurador especial Robert Mueller reafirmou ontem que houve interferência indevida da Rússia nas eleições de 2016 nos Estados Unidos e que não eximiu de responsabilidade o presidente Donald Trump. 

Mueller não encontrou provas de conluio da campanha de Trump com o Kremlin, mas não exonerou o presidente de obstrução de justiça, observando que um presidente no exercício do cargo só pode ser julgado pelo Congresso num processo de impeachment.

"Se eu tivesse confiança de que o presidente claramente não cometeu crime, teria dito isso", afirmou Mueller, em pronunciamento no Departamento da Justiça. "Não determinamos se o presidente cometeu um crime".

O procurador especial esclareceu que "um presidente não pode ser acusado de crime federal enquanto estiver no cargo. Isto seria inconstitucional. Mesmo se a denúncia for mantida selada e oculta do público - isto também é proibido." Só cabe um julgamento político em processo de impeachment.

Desde que a primeira versão do Relatório Mueller veio a público, resumido de mais de 400 páginas para quatro numa carta do ministro da Justiça e procurador-geral, William Barr, ao Congresso, Trump fala numa "exoneração total": "Não houve conluio com a Rússia e não houve obstrução de justiça."

Quem atestou que não havia indícios suficientes para denunciar Trump por obstrução de justiça, tentar impedir o andamento de uma investigação ou processo, foi o procurador-geral, nomeado pelo presidente para protegê-lo. Em vez de defender a nação, Barr defende o presidente.

O Relatório Mueller, examinado por juristas, lista pelo menos dez atos de Trump capazes de caracterizar obstrução de justiça, como pedir para o ex-diretor-geral do FBI (polícia federal) James Comey parar de investigar as relações com a Rússia do general Michael Flynn, assessor de Segurança Nacional da Casa Branca; demitir Comey por não suspender as investigações; pressionar o então advogado-geral Don McGhan para pedir ao procurador-geral a demissão do próprio Mueller; e orientar assessores e advogados a mentir.

Com maioria na Câmara dos Deputados, o Partido Democrata pode abrir um processo de impeachment de Trump. Basta a maioria simples da Câmara para dar início ao processo e denunciar o presidente. Mas a votação para afastá-lo no Senado, o julgamento propriamente dito, exige dois terços dos votos, de 67 dos 100 senadores.

Como o Partido Republicano tem maioria no Senado, os democratas precisariam da defecção de 20 senadores governistas para derrubar Trump. Com a popularidade do presidente entre o eleitorado republicano, isto é praticamente impossível, a não ser que as investigações da Câmara tragam revelações bombásticas.

A presidente da Câmara, deputada Nancy Pelosi, principal líder democrata do país, resiste à pressão dos deputados mais radicais da bancada para iniciar um processo de impeachment. Ela entende que vai dividir ainda mais o país e, no caso de derrota, vai fortalecer Trump, que posaria de vítima e teria caminho aberto para a reeleição.

Ao rejeitar todas as intimações da Câmara para entregar declarações de renda e outros documentos e vetar depoimentos de seus assessores em comissões parlamentares, o presidente estaria provocando os democratas a tentar o impeachment. Trump se alimenta do confronto e a eleição é logo ali.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Conflito EUA-China vai muito além da guerra comercial

Os Estados Unidos e a China estão envolvidos numa competição estratégica, econômica, científica, tecnológica e militar pela supremacia mundial que vai muito além da guerra comercial travada por Trump. O complexo industrial militar chinês está convencido de que o objetivo americano é conter o desenvolvimento chinês para manter a superioridade.

A contenção foi a estratégia pelos EUA na Guerra contra a União Soviética. Em 22 de fevereiro de
1946, o embaixador americano George Kennan enviou um longo telegrama ao Departamento de Estado argumentando que o sistema econômico comunista era inviável. Assim, bastaria conter o inimigo até que o regime implodisse.

A diferença é que a China se tornou uma superpotência econômica. Quando a URSS acabou, o comércio bilateral com os EUA girava em torno de US$ 2 bilhões. Com a abertura econômica chinesa a partir de 1978, EUA e China se tornaram interdependentes. O comércio bilateral chegou a quase US$ 660 bilhões em 2019.

Talvez seja tarde demais para conter a China. Mesmo que cheguem a um acordo comercial nas próximas semanas, as duas maiores potências mundiais se encaminham para uma concorrência estratégica de longo prazo. Meu comentário:


-->

China faz ameaça velada sobre terras raras

A China pode usar seu virtual monopólio sobre a produção de 17 elementos químicos conhecidos como terras raras na guerra comercial contra os Estados Unidos, informou o canal de televisão americano CNBC, especializado em noticiário econômico. 

Um alto funcionário da Agência de Planejamento Econômico da China advertiu que produtos usando minerais de terras raras chinesas não devem ser usados para prejudicar o desenvolvimento do país.

"Se alguém usar produtos com terras raras que exportamos para prejudicar o desenvolvimento da China, a população da província de Jiangxi e do resto da China vai ficar muito insatisfeita", declarou o funcionário da Comissão Nacional para Reforma e Desenvolvimento.

O comentário foi encarado como uma ameaça ao setor de alta tecnologia dos EUA, que depende de terras raras. Mas analistas consideram difícil para a China usar os minerais raros como arma na guerra contra o governo Donald Trump.

As importações são pequenas e as terras raras estão em vários produtos de alta tecnologia, de telefones celulares a computadores.

No ano passado, os EUA importaram 4 mil toneladas de terras raras da China, no valor de US$ 175 milhões, pouquíssimo diante do déficit comercial americano de US$ 419 bilhões no comércio bilateral em 2018.

"O problema é que a maioria das terras raras está embutida em produtos de alta tecnologia. Se você compra um computador, já estão nele", comentou o economista Marc Chandler, da empresa Bannockburn Global Forex.

Na semana passada, o ditador Xi Jinping visitou uma mina e um centro de processamento de terras raras, alimentando a ideia de que Beijim possa usar seu controle sobre esses recursos minerais na barganha com Washington.

Nesta terça-feira, o jornal Global Times, um agressivo porta-voz internacional do regime comunista chinês, afirmou que a China está "considerando seriamente" limitar as exportações de terras raras para os EUA, escreveu o editor-chefe, Hu Xijin.

A guerra comercial ficou muito concentrada em alta tecnologia desde que os EUA colocaram a companhia fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei na lista negra de empresas que ameaçam a segurança nacional por suposta espionagem em favor do regime comunista chinês.

Isto impede a Huawei de usar o sistema operacional e os aplicativos do Google em seus telefones celulares. A companhia chinesa entrou na Justiça dos EUA contra a "tirania" de Washington.

Há 110 milhões de toneladas de terras raras espalhadas por China, Brasil, Rússia, EUA, Índia e Austrália. A China tem 40% das reservas globais e produziu 78% das terras raras em 2018.

Para os analistas do Bank of America, o domínio chinês se deve ao fato de ser considerado um recurso estratégico pelo governo. Nos anos 1990s, com preços baixos, a China praticamente eliminou a concorrência.

terça-feira, 28 de maio de 2019

EUA evitam acusar a China de manipulação do câmbio

Apesar da guerra comercial entre os dois países, o Tesouro dos Estados Unidos decidiu hoje não qualificar a China como manipuladora do câmbio, mas a deixou numa lista de países em observação numa revisão geral do comércio exterior americano em busca de sinais de práticas comerciais desleais, noticiou o jornal britânico Financial Times.

O Tesouro manifesta preocupação "significativa" com várias práticas comerciais chinesas, mas evitou a acusação, indicando uma preocupação em evitar uma nova escalada no conflito comercial entre os dois países mais ricos do mundo.

No relatório, o governo americano anuncia um reexame geral dos critérios usados para decidir que países devem ter suas práticas econômicas e cambiais escrutinadas para identificar possíveis manipulações cambiais.

Foram citados 21 países, em comparação com 12 no relatório anterior. Nove estão na lista de observação do Tesouro americano: Cingapura, Irlanda, Itália, Malásia e Vietnã foram acrescentados à lista; Alemanha, China, Coreia do Sul e Japão já estavam nela.

Na semana passada, o Departamento do Comércio dos EUA adotou uma nova regra para penalizar países que "ajam para desvalorizar suas moedas em relação ao dólar, num subsídios a suas exportações."

Com seu nacionalismo e protecionismo, Trump luta para reduzir o déficit comercial dos EUA, até agora sem sucesso. No ano passado, o déficit no comércio de bens bateu um recorde a US$ 891,3 bilhões.

O foco do Tesouro será todos os países com saldo comercial com os EUA superior a US$ 40 bilhões por ano e não apenas seus 12 maiores parceiros comerciais, como era antes. Os 21 países sob exame negociaram US$ 3,5 trilhões com os EUA em 2018, mais de 80% do comércio exterior do país.

Durante a campanha eleitoral, Trump acusou a China de manipular o câmbio, mas até hoje o Tesouro não formalizou a denúncia. Neste momento em que os dois países negociam um acordo de paz na sua guerra comercial, uma acusação dessas escalaria as tensões, exacerbadas desde que Trump aplicou tarifas de 25% sobre exportações chinesas no valor de US$ 200 bilhões anuais.

A China continua em observação porque o iuane (yuan) caiu 8% em relação ao dólar nos últimos 12 meses e, nas palavras do secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, tem "um saldo comercial bilateral extremamente grande e em expansão".

Em 2018, o déficit no comércio dos EUA com a China foi de US$ 419 bilhões. A maioria dos economistas atribui o déficit ao consumismo americano, mas Trump vê a economia como um jogo de soma zero, em que o ganho de uns é necessariamente a perda de outros. Então trava suas guerras comerciais, até agora sem sucesso na redução do déficit.

Há várias razões para discordar das práticas comerciais da China, que se tornou a fábrica do mundo absorvendo capital e tecnologia do mundo desenvolvido, com um custo de mão de obra baixíssimo que provocou o desemprego em muitos países ricos, inclusive nos EUA.

Como as práticas econômicas e comerciais da China afetam hoje todos os países do mundo, seria mais racional articular uma aliança e levar as questões para o painel de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Mas Trump é contra alianças e contra as instituições internacionais criadas pelos EUA. Quebra um paradigma da política externa americana que vem desde a Segunda Guerra Mundial: mesmo sendo a maior potência mundial, os EUA agem em conjunto com aliados no plano internacional.

Trump quer resolver tudo no mano a mano, em negociações bilaterais, confiando na superioridade dos EUA. É mais caro, desgastante e gerador de conflitos.

Trump despreza principal aliado no exterior durante visita ao Japão

Sem grande interesse em política externa, o presidente Donald Trump parece mais interessado em negociar acordos econômicos bilaterais do que em formar uma grande aliança para atuar na esfera internacional como fizeram todos os presidentes dos Estados Unidos desde a Segunda Guerra Mundial.

A visita de quatro dias ao Japão, a terceira maior economia do mundo e o principal aliado dos EUA na Ásia, confirma esta impressão. Mais uma vez, Trump praticamente ignorou o primeiro-ministro Shinzo Abe e suas preocupações com os programas nucleares e de mísseis da Coreia do Norte.

Minhas observações estão no meu canal no YouTube:


Meu canal no YouTube com comentários sobre política internacional

Desde ontem, estou publicando comentários sobre política internacional no meu canal no YouTube. Comecei analisando o resultado das eleições para o Parlamento Europeu, que mostram que o sonho europeu não acabou. É um complemento para o trabalho aqui no blog. Espero que curtam.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Voto de desconfiança derruba primeiro-ministro conservador da Áustria

O mais jovem líder eleito do mundo, o chanceler (primeiro-ministro) da Áustria, Sebastian Kurz, de 32 anos, caiu hoje depois de um escândalo corrupção envolvendo o vice-chanceler e líder do Partido da Liberdade (FPÖ), de extrema direita. 

Kurz, que chegou ao poder em 2017, foi o primeiro líder austríaco afastado com um voto de desconfiança do Parlamento no pós-guerra. Para derrubar Kurz, a oposição social-democrata se aliou ao FPÖ para aprovar uma moção de desconfiança.

O estopim do escândalo chamado de Ibizagate foi uma gravação de julho de 2017, feita em Ibiza, na Espanha, em que o então vice-chanceler de ultradireita Hans-Christian Strache negociava contratos públicos e a compra de um jornal com uma mulher que se fez passar por sobrinha a de um oligarca russo.

Quando o escândalo veio à tona, Strache caiu e o FPÖ retirou seus outros ministros do governo, que ficou em minoria. Ficaram evidentes as ligações da extrema direita austríaca com a Rússia. Na gravação, ele manifestou a intenção de tornar o jornalismo da Áustria igual ao da Hungria, onde o primeiro-ministro de ultradireita Viktor Orbán cerceia a liberdade de imprensa.

Até setembro, quando haverá novas eleições, a Áustria, um país de 9 milhões de habitantes, deve ser administrada por um governo tecnocrático. Kurz será candidato à reeleição e as pesquisas apontam a vitória do seu Partido Popular Austríaco (ÖVP).

Nas eleições para o Parlamento Europeu no último fim de semana, o ÖVP venceu com 35%, seguido pelo Partido Social-Democrata da Áustria (SPÖ) com 23,4%, o FPÖ com 17,2% e os Verdes com 14%.

Para revigorar o partido, ao se tornar líder, Kurz tomou algumas bandeiras da extrema direita como a linha dura contra imigrantes em à crise com a tentativa de entrada na Europa de uma onda de refugiados das guerras na África e no Oriente Médio. Ele também abraçou as guerras culturais, proibindo o véu islâmico em escolas primárias.

Ao contrário dos populistas de extrema direita, o ex-chanceler austríaco evita a retórica inflamada e o tom estridente. Tenta passar a imagem de um conservador moderno, claramente à direita da chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, (Angela Merkel), mas dentro de um partido tradicional.

Depois das eleições de 2017, ele preferiu se aliar à ultradireita a formar uma grande coalizão com os sociais-democratas, reunindo os dois partidos que dominaram a política austríaca no pós-guerra.

Agora, o SPÖ propôs a moção de desconfiança alegando que Kurz precisa ser responsabilizado por se aliar à extrema direita.

domingo, 26 de maio de 2019

Blocos tradicionais sofrem duras perdas nas eleições para o Parlamento Europeu

Os blocos tradicionais de centro-direita e centro-esquerda sofreram grandes perdas nas eleições para o Parlamento Europeu, de 751 cadeiras. O Partido Popular Europeu, uma aliança de partidos conservadores e democratas-cristãos, elegeu a maior bancada, com 175 eurodeputados, 46 a menos do que tinha, enquanto a coalizão de trabalhistas e sociais-democratas conquistou 149 cadeiras, 42 a menos do que tinha.

Em eleições onde o desemprego, a imigração e o aquecimento global foram temas importantes, a extrema direita ganhou no Reino Unido, na França, na Itália e na Hungria, elegendo ao todo 173 deputados. Seria a segunda maior bancada, mas é dividida em dois blocos e ganhou apenas 17 cadeiras. Os maiores avanços foram dos liberais-democratas (+40) e dos verdes (+20), a quarta e a quinta maiores bancadas.

Na França, a Reunião Nacional (RN), neofascista, liderada por Marine Le Pen, conquistou 23,3% dos votos, batendo a República em Marcha (ReM), do presidente Emmanuel Macron, com 22,4%. A aliança entre verdes e ecologistas ficou em terceiro, com 13,1%.

Os Republicanos, o partido conservador gaullista de direita, tiveram 8,4%, logo acima das duas listas de esquerda, da França Insubmissa e do Partido Socialista, com pouco mais de 6% cada. Na França, os partidos tradicionais naufragaram.

No Reino Unido, o Partido da Brexit (saída britânica), chefiado por Nigel Farage, antigo líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), foi o mais votado. Obteve 34,9% dos votos acusando os grandes partidos de trair o eleitorado ao não honrar o resultado do plebiscito de 23 de junho de 2016 para a saída do país da União Europeia.

Com 40% dos votos, a soma dos partidos favoráveis a ficar na UE bateu os eurocéticos. Os liberais-democratas (20,3%) ficaram em segundo, superando os trabalhistas (14%) e os conservadores (9%), os dois maiores partidos no Parlamento Britânico, massacrados pelo fracasso em resolver a Brexit.

O Partido Conservador teve o pior resultado da história em eleições europeias, uma das razões da queda da primeira-ministra Theresa May. Ficou atrás dos Verdes (12,2%), que costumam ter bom desempenho nas eleições europeias no Reino Unido.

O vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, Matteo Salvini, foi o grande vencedor na Itália. A Liga, de extrema direita, somou 33,6% dos votos, batendo o Partido Democrata, social-democrata, com 23,5%. O Movimento 5 Estrelas, parceiro da Liga na coalizão de governo, ficou com 16,6%, e a Força Itália, de direita, não passou de 7,8%, mas elegeu seu líder, o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi para o Parlamento Europeu pela primeira vez.

Esse resultado sugere que Salvini e a Liga poderiam liderar o próximo governo, se houver eleições gerais antecipadas na Itália. É uma tentação para um neofascista ávido pelo poder.

Mas o avanço da ultradireita nacionalista ficou abaixo da expectativa. Na Alemanha, a União Democrata-Cristã (CDU), da primeira-ministra Angela Merkel, ficou em primeiro com queda de 35% para 28,7% dos votos. Os Verdes chegaram em segundo com 20,7%, enquanto o Partido Social-Democrata amargou o terceiro lugar, com 15,6%. A Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita, não passou de 10,8%.

Na Holanda, ganharam os trabalhistas (18%), seguidos por liberais-democratas (14,6%), democratas-cristãos (12,1%), com verdes (10,9%) e ultranacionalistas (10,9%) empatados em quarto lugar. No seu melhor resultado, em 2010, Partido pela Liberdade, liderado por Geert Wilders, foi o terceiro maior do país.

Na Espanha, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) foi o primeiro com 32,8%, seguido pelo conservador Partido Popular (20,1), os Cidadãos (12,2%), de centro-direita, e Podemos (10%). O partido Vox, de extrema direita, teve apenas 6% dos sufrágios.

Desde o Tratado de Lisboa, de 2009, o Parlamento Europeu ganhou mais poderes. Com a exceção de questões fiscais, o Parlamento é co-legislador em praticamente todas as leis, normas e diretivas da UE, inclusive no orçamento comunitário.

sábado, 25 de maio de 2019

Coreia do Norte acusa EUA pelo fracasso nas negociações

O Ministério do Exterior da Coreia do Norte responsabilizou mais uma vez ontem os Estados Unidos pelo fracasso nas negociações entre o presidente Donald Trump e o ditador Kim Jong Un em Hanói, no Vietnã, em 27 e 28 de fevereiro.

Para pressionar os EUA a voltar à mesa de negociações, a Coreia do Norte deve fazer testes de mísseis. A ditadura comunista norte-coreana não aceita a exigência americana de uma total desnuclearização antes do levantamento das sanções que sufocam a economia do país.

A apreensão recente de um navio da Coreia do Norte transportando carvão, em violação das sanções internacionais contra o programa nuclear de Pyongyang, aumentou a hostilidade entre os dois países, que está no pior nível desde que Trump e Kim trocaram os insultos por afagos e juras de amor.

Os EUA querem resolver tudo de uma só vez. A Coreia do Norte aposta numa negociação longa. Desde o fim da União Soviética, em 1991, o regime stalinista de Pyongyang faz uma chantagem atômica com o Ocidente, ameaçando desenvolver armas nucleares para barganhar energia e alimentos para sua combalida economia.

Kim Jong Un chegou ao poder em dezembro de 2011, ano da queda e morte do ditador líbio Muamar Kadafi, que tinha feito um acordo com as potências ocidentais para entregar suas armas de destruição em massa. Isso o teria levado à determinação de desenvolver armas atômicas como garantia de sobrevivência do regime.

Com um arsenal estimado hoje de 20 a 60 ogivas nucleares, Kim estaria em condições de negociar uma abertura econômica para desenvolver a Coreia do Norte, um país que passa a noite no escuro por escassez de energia. Mas dificilmente vai abrir mão das armas que lhe deram o poder que tem hoje.

O regime comunista norte-coreano investiu muito no programa nuclear, sacrificando seu povo, que passa fome, para entregar tudo numa negociação com seu inimigo histórico.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Theresa May cai sob pressão do Partido Conservador

Sem apoio no Parlamento Britânico para aprovar o acordo que negociou para a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), sob pressão da ala mais extremista do Partido Conservador, a primeira-ministra Theresa May anunciou hoje de manhã que deixa o cargo em 7 de junho.

Segunda mulher a ocupar o cargo, sai como uma das piores governantes da história do país. O favorito para sucedê-la na liderança do partido e do governo é o ex-prefeito de Londres e ex-ministro do Exterior, Boris Johnson, um grande bufão da política britânica.

Por três vezes, a Câmara dos Comuns rejeitou o acordo fechado em novembro do ano passado por May com os outros 27 países-membros da UE. Também não houve maioria parlamentar para nenhuma das propostas alternativas, deixando o país no limbo. A saída da UE foi adiada duas vezes, até 31 de outubro.

Theresa May chorou ao se despedir diante da residência oficial do primeiro-ministro britânico em 10 Downing Street. Ela era contra a saída da UE, aprovada em plebiscito por 52% a 48% em 23 de junho de 2016.

A primeira-ministra venceu os eurocéticos quando o primeiro-ministro derrotado, David Cameron, pediu demissão, por causa de uma regra não escrita da política britânica: quem mata o rei (ou a rainha) não ascende ao trono.

Johnson e outro ministro eurocético importante, Michael Gove, não tiveram o apoio do partido para substituir Cameron. Foram vistos como traidores.

May se tornou a segunda mulher eleita primeira-ministra britânica, depois de Margaret Thatcher (1979-90), numa votação interna pela liderança conservadora, sem vencer eleições gerais. Na expectativa de ganhar força para negociar a saída da UE, convocou eleições antecipadas para 8 de junho de 2017 e perdeu a maioria absoluta que o Partido Conservador tinha na Câmara dos Comuns.

A maior parte de seus quase três anos de governo foi consumida na tentativa frustrada de tirar o Reino Unido da UE. Menos de uma semana depois das eleições, houve ainda uma tragédia: o incêndio na Torre Grenfell, em Londres, um edifício de habitação popular onde 72 pessoas morreram, em 14 de junho de 2017.

No fim de dois anos de negociações, em novembro de 2018, o governo May fechou um acordo com a UE que estabelecia uma série de obrigações para o Reino Unido até 2065, como o pagamento de pensões a ex-funcionários. Os eurocéticos nunca aceitaram este acordo, nem a oposição trabalhista. Por mais que May tenha insistido, o acordo nunca teve chance de ser aprovado no Palácio de Westminster.

Depois de agradecer "com enorme gratidão por ter tido a oportunidade de servir o país que amo", May apontou como sucessos de seu governo a redução do déficit público e do desemprego, e o aumento dos gastos com saúde mental. Mas admitiu que "é e sempre será matéria para profundo pesar não ter sido capaz de fazer a Brexit", a saída britânica da UE.

Sua última cartada foi "um novo acordo para a Brexit" de dez pontos anunciado na terça-feira. Enfureceu a bancada conservadora ao sugerir a realização de um referendo para aprovação do divórcio com a UE que permitiria superar a falta de consenso na Câmara dos Comuns.

Uma segunda consulta popular seria a saída mais democrática para resolver o impasse no Parlamento Britânico. Conta com o apoio da maioria da oposição trabalhista, embora seu líder, Jeremy Corbyn, hesite. Mas os deputados conservadores antieuropeus temem a anulação do resultado do plebiscito de 2016 e a manutenção do país na UE.

Corbyn parece mais interessado em eleições gerais antecipadas, em que seria o favorito para chefiar o futuro governo, do que numa segunda consulta popular para ficar na Europa. Mas os conservadores, que têm maioria na Câmara, não vão correr o risco de antecipar eleições em que seriam trucidados.

Nas eleições para o Parlamento Europeu, realizadas ontem, a expectativa é de uma queda dos conservadores abaixo de 10%, enquanto o Partido de Brexit, do antigo líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), Nigel Farage, deve ganhar com mais de 30%, enquanto os trabalhistas ficam com 18% e os liberais-democratas com 16%, se as pesquisas estiverem corretas.

Até 31 de julho, o Reino Unido terá um novo primeiro-ministro escolhido sem o aval de eleições gerais. Ele será escolhido em 7 de julho, na disputa pela liderança do Partido Conservador. Sua principal tarefa será resolver a questão europeia, mas nada vai mudar além da chefia de governo.

Por ironia da história, May herdou a guerra civil interna do Partido Conservador em torno da Europa da primeira primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, a principal líder do partido desde Winston Churchill.

Cameron convocou o plebiscito para pacificar o partido e acabou dividindo o país. Se o Reino Unido sair da UE, é provável que a Escócia convoque um novo plebiscito sobre a independência, acabando com uma união que vem desde 1707.

Além de Johnson, há 23 candidatos à liderança do partido e do governo, entre eles o atual ministro do Exterior, Jeremy Hunt, e os deputados Graham Brady e Steve Barker. Como os conservadores estão decididos a eleger um líder a favor de deixar a UE, aumenta o risco de uma "saída dura", sem acordo com os sócios europeus, que poderia ser catastrófica para a economia britânica.

De acordo com estudo do Banco da Inglaterra, sem acordo com a UE, um mercado responsável pela metade do comércio exterior britânico, a economia do Reino Unido pode encolher mais de 10% em cinco anos.

A tendência é de radicalização: ou haverá uma saída dura ou não haverá saída alguma, previu o jornalista Jonathan Freedland, do jornal The Guardian.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

EUA fazem mais 17 acusações a Julian Assange

A Justiça dos Estados Unidos apresentou hoje mais 17 acusações, inclusive por espionagem, contra o anarquista australiano Julian Assange, fundador do WikiLeaks, uma empresa de Internet especializada em vazar documentos sigilosos de governos e empresas. Ele já havia sido denunciado por conspiração para piratear computadores do Departamento da Defesa e roubar segredos militares.

Assange está preso no Reino Unido. Foi condenado por violar os termos de sua liberdade sob fiança ao se refugiar na Embaixada do Equador em Londres, em 2012, para escapar de um pedido de extradição da Suécia, onde é suspeito de estupro. Os EUA também querem sua extradição. A denúncia de hoje reforça o argumento americano.

As novas acusações aceitas pelo tribunal do júri de Alexandria, no estado da Virgínia, alegam que Assange violou a Lei de Espionagem por fazer vários esforços para obter, receber e divulgar "informações sobre a defesa nacional", das guerras no Iraque e no Afeganistão, e outros segredos de Estado.

Será um teste para a democracia americana, tão atacada pelo presidente Donald Trump. Assange afirma ter feito um trabalho jornalístico ao divulgar as informações obtidas pelo soldado americano Bradley Manning, que é transexual e mudou de sexo para Chelsea Manning.

O processo tem várias implicações sobre o direito à liberdade de imprensa garantido pela Emenda nº 1 à Constituição dos EUA, que diz expressamente que o Congresso não legislará sobre liberdade de imprensa. Piratear computadores e roubar informações secretas são crimes, mas a simples divulgação das notícias assim obtidas está protegida.

A denúncia alega que de 2009 até a prisão de Manning, em maio de 2010, Assange "encorajou Manning a roubar documentos classificados dos EUA e ilegalmente revelou essas informações no WikiLeaks."

Com base em mensagens trocadas entre os dois, a procuradoria cita uma frase o australiano quando Manning disse não ter mais material: "Olhos curiosos nunca ficam secos." Em seguida, argumenta que "Assange pretendia com essa declaração encorajar Manning a continuar roubando documentos classificados dos EUA e a continuar a entregá-los ilegalmente para Assange e o WikiLeaks."

Entre os documentos vazados, estavam por exemplo as regras de engajamento para as tropas de combate dos americanos no Iraque e no Afeganistão, quando reagir, em que circunstâncias atacar, quanta força usar e outras normas dos militares, além dos nomes de informantes e colaboradores dos EUA nesses países. Todos foram expostos.

"Estas ações alegadas revelaram nossas informações classificadas sensíveis de uma maneira que as tornou disponíveis para todo grupo terrorista estrangeiro, serviços de inteligência estrangeiros hostis e militares rivais", declarou o procurador-geral adjunto da divisão de segurança nacional do Departamento da Justiça, John Demers.

"Os documentos relativos a estes vazamentos foram encontrados até mesmo no esconderijo de Ossama ben Laden. Essa publicação tornou nossos adversários mais forte, com mais conhecimento, e os EUA menos seguros", acrescentou Demers para justificar a denúncia.

Pela defesa, o advogado Barry Pollack sustentou que Assange está sendo denunciado por "encorajar fontes para lhe fornecer informações confiáveis e por publicar estas informações". Em 2017, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, chamou o WikiLeaks de "serviço secreto hostil".

A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), uma organização não governamental, considerou as acusações "uma escalada extraordinária nos ataques do governo Trump contra o jornalismo e um ataque direto à Primeira Emenda."

O procurador-geral adjunto encarregado do caso defende a tese de que o acusado não é jornalista; "Alguns dizem que Julian Assange é um jornalista, então está imune a processos por essas ações. O departamento leva muito a sério o papel dos jornalistas em nossa democracia. Julian Assange não é jornalista."

A investigação do procurador especial Robert Mueller sobre a interferência indevida da Rússia nas eleições de 2016 nos EUA descreveu o WikiLeaks como um instrumento da inteligência russa para divulgar milhares de mensagens de correio eletrônico pirateadas por seus agentes do serviço secreto militar russo.

O WikiLeaks ficou famoso em 2010, quando divulgou informações sigilosas das Forças Armadas dos EUA, inclusive um vídeo de um incidente em que um helicóptero Apache atacou civis no Iraque, matando dois jornalistas da agência de notícias Reuters em Bagdá, em 2007.

Uma corte marcial condenou Manning em 2013 a 35 anos de prisão, mas ela recebeu indulto presidencial no fim do governo Barack Obama, em 2017. Foi presa de novo por se negar a depor no processo contra o WikiLeaks.

Vice de Obama lidera entre pré-candidatos democratas à Presidência dos EUA

O ex-vice-presidente Joe Biden lidera as pesquisas entre os 24 aspirantes à Casa Branca do Partido Democrata, com 33% das preferências em pesquisa da Universidade Monmouth, de West Long Beach, no estado da Virgínia. 

Biden subiu desde que declarou sua candidatura. Também avançaram as senadoras Elizabeth Warren e Kamala Harris, enquanto o senador socialista Bernie Sanders sofreu uma queda forte.

Biden tinha 28% em março e 27% em abril. Sanders caiu de 25% em março para 20% em abril. Agora, tem 15%. Harris aparece em terceiro, com 11%, um pouco acima dos 8% de abril e dos 10% de março. Warren está com 10%, depois de receber o apoio de 8% em março e 6% em abril.

O prefeito Pete Buttigieg, homossexual assumido, caiu para 6% depois de subir de menos de 1% em março para 8% em abril. O deputado Beto O'Rourke tem 4%, mesmo índice de abril, depois de registrar 6% em março. E a senadora Amy Klobuchar ficou com os 3% que tinha em março, após uma queda para 1% em abril.

Depois de Biden, Warren é a candidata mais conhecida pelos eleitores democratas (88%), seguida por Harris (82%).

Primeiro-ministro Modi obtém grande vitória nas eleições gerais na Índia

Com a apuração encerrada,  o Partido Bharatiya Janata, do primeiro-ministro Narendra Modi, obteve uma ampla vitória nas eleições parlamentares da Índia. 

Sua aliança elegeu 355 dos 543 deputados da Lok Sabha, a câmara baixa do Parlamento, e vai governar o país por mais cinco anos. A oposição liderada pelo Partido do Congresso conquistou apenas 87 cadeiras.

As maiores eleições do planeta foram realizadas durante sete dias no último mês e meio. Dois terços dos 900 milhões de eleitores inscritos, um em cada oito seres humanos, votaram. Prevaleceu o discurso nacionalista e autoritário de Modi.

O primeiro-ministro usou a segurança nacional como principal tema da campanha, especialmente depois de um atentado terrorista muçulmano na região da Caxemira atribuído a um grupo militante do Paquistão em que 49 policiais militares indianos foram mortos.

Na ocasião, Modi ordenou o bombardeio do campo de treinamento do grupo no país vizinho. O Paquistão contra-atacou e derrubou um avião de guerra da Índia, mas o primeiro-ministro aproveitou para se apresentar como o único capaz de garantir a segurança do país.

"Modi, Modi, Modi!", gritavam os partidários do primeiro-ministro na sede do partido. No discurso da vitória, ele disse: "Avançamos com humildade" e a Índia hoje é "um país governado por consenso".

Em verdade, Modi governa manipulando o nacionalismo hindu, o que tem aumentando o conflito com a minoria muçulmana, que representa mais de 10% da população total do país. Ameaça mudar a sociedade democrática que caracteriza a Índia desde a independência do Império Britânico, em 1947.

Trump rompe diálogo com oposição exigindo fim das investigações

Em mais uma reação temperamental, o presidente Donald Trump abandonou ontem, depois de três minutos, um encontro com líderes do Partido Democrata para discutir obras de infraestrutura. 

Nos jardins da Casa Branca, o presidente alegou ter sido acusado de tentar "acobertar" crimes cometidos no exercício do cargo e exigiu o fim das investigações da Câmara dos Representantes sobre obstrução de justiça.

"Entrei na sala e vi uma pessoa que me acusou de acobertamento. Não faço acobertamentos. Vocês provavelmente sabem disso melhor do que ninguém", declarou Trump aos jornalistas, referindo-se a uma entrevista dada horas antes pela presidente da Câmara, deputada Nancy Pelosi. "Acabem com estas investigações espúrias."

Pelosi descreveu a reação do presidente como "um ataque de fúria temperamental" para esconder a "falta de confiança" do presidente diante do "tamanho do desafio" de recuperar a infraestrutura dos EUA. Ela falou em "acobertamento" diante da recusa de Trump de fornecer documentos pedidos pela Câmara, de maioria oposicionista, e de impedir assessores e ex-assessores de depor em inquéritos parlamentares.

Horas antes do encontro, Trump havia enviado uma carta ao Congresso dizendo que primeiro os deputados e senadores teriam de aprovar o novo acordo de livre comércio da América do Norte. Ao entrar na sala, o presidente não cumprimentou os líderes democratas e nem chegou a se sentar.

O líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, acusou Trump de armar uma cena teatral porque não pretende financiar um grande plano para recuperar e melhorar estradas, portos, pontes, canais, redes de energia e a infraestrutura da Internet, estimado em US$ 2 trilhões.

Alguns analistas políticos entendem que a obstrução do presidente visa a pressionar os democratas a abrir um processo de impeachment contra ele. Como dificilmente seria condenado pelo Senado, onde a oposição é minoria e precisaria dos votos de 20 senadores republicanos, Trump posaria de vítima de perseguição durante a campanha para a eleição presidencial de 2020.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Rússia completa instalação de rede de guerra radioeletrônica no Ártico

A Frota do Norte da Marinha da Rússia concluiu a instalação de um novo Centro para Guerra Radioeletrônica na região do Oceano Ártico, cada vez mais importante estrategicamente devido ao degelo da calota polar, noticiou o jornal russo Izvestia.

A Rússia está construindo há anos uma rede de estações de guerra radioeletrônica. Em 2018, fez vários testes. A escala da rede indica que os equipamentos podem ser usados como postos de comando para operações militares russas, para interceptar mensagens de inteligência ou perturbar as comunicações de inimigos.

Os sistemas têm capacidade para perturbar comunicações por rádio, inclusive transmissões de satélite. De acordo com a Rússia, terão um alcance de 8 mil quilômetros.

terça-feira, 21 de maio de 2019

Milícia pouco conhecida reivindica ataque de foguete em Bagdá

Um grupo armado intitulado Operações do Mártir Ali Mansur reivindicou hoje a autoria de um ataque com foguete contra a superprotegida Zona Verde de Bagdá realizado há dois dias. Ninguém saiu ferido.

Como há poucas informações sobre o grupo, há dúvidas se agiu por conta própria ou está a serviço de uma milícia maior interessada em atacar interesses do governo do Iraque ou dos Estados Unidos.

A crescente tensão entre os EUA e o Irã tornam o Iraque, um país de maioria xiita como o vizinho, num possível local para atacar americanos. O governo Donald Trump ordenou a retirada do país de todo o pessoal não essencial da embaixada e dos consulados dos EUA.

Nas últimas semanas, o governo americano acusou a República Islâmica de preparar ataques contra forças e interesses dos EUA no Oriente Médio. Trump rompeu há um ano o acordo nuclear de 2015 negociado pelo governo Barack Obama para congelar por dez anos o programa nuclear militar iraniano e reinstaurou as sanções econômicas e militares do país.

Em resposta, o governo iraniano declarou estar abandonando partes do acordo e voltando a enriquecer urânio acima do teor necessário para uso em usinas atômicas de geração de energia.

Suécia pede extradição de Assange por crimes sexuais

A Justiça da Suécia pediu ontem a extradição do anarquista e hacker australiano Julian Assange, fundador do WikiLeaks, especializado em vazar informações confidencias de governos e empresas, para processá-lo por supostos crimes sexuais.

Assange está preso no Reino Unido por violar os termos de sua liberdade sob fiança ao se refugiar na Embaixada do Equador em Londres, onde ficou por quase sete anos. Preso no mês passado, quando o Equador revogou o asilo, foi condenado a 50 semanas de prisão.

A subprocuradora-geral Eva Marie Persson declarou que um tribunal sueco decidiu reabrir o caso contra Assange por "suspeita de estupro", que havia sido encerrado em 2017. Ele pode ser condenado a até quatro anos de prisão por ter forçado uma relação sexual com uma mulher que estava dormindo, sem usar camisinha. Pela lei sueca, isto caracteriza um estupro.

O mandato de prisão europeu cria uma disputa entre a Suécia e os Estados Unidos, que querem processá-lo pela acusação de conspiração para piratear computadores do governo americano.

Cabe agora à Justiça britânica decidir para onde vai Assange. A acusação de estupro na Suécia prescreve em agosto de 2020. As outras alegações de crimes sexuais prescreveram em 2017. O australiano proclama inocência, afirmando que o sexo foi consensual e que tudo não passa de uma manobra política para enviá-lo para os EUA.

Diante da Embaixada do Equador, manifestantes protestaram hoje contra a entrega de seus objetos pessoais aos EUA aos gritos de "ladrões" e "vergonha".

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Google bloqueia atualizações do Android para a Huawei

Em mais um golpe contra a companhia chinesa de equipamentos de telecomunicações Huawei, o Google bloqueou seu acesso a atualizações do sistema operacional Android, usado nos telefones celulares da Huawei.

Os fabricantes de microchips também devem cortar o suprimento por força de um decreto do presidente Donald Trump vetando negócios com a empresa, acusada de espionagem para o regime comunista da China.

O Google alegou estar cumprindo o decreto do presidente dos Estados Unidos e revisando suas "implicações". Na quinta-feira, o governo Trump colocou a companhia chinesa numa lista negra de empresas que ameaçam à segurança nacional e declarou uma "emergência econômica nacional" para proibir a compra de tecnologia e serviços de "adversários estrangeiros".

A medida praticamente impede a Huawei - segunda maior fabricante de telefones celulares, atrás da Samsung e à frente da Apple - de fazer negócios com empresas americanas. Os EUA pressionam os países aliados a excluir a companhia chinesa da infraestrutura da Internet móvel de quinta geração (5G), sob a acusação de "espionagem" por ser próxima do regime.

Mais tarde, a megaempresa americana esclareceu que os aparelhos da Huawei poderão continuar usando o Google Play e seus mecanismos de segurança, mas as novas versões não terão acesso a aplicativos e serviços como Google Play Store, Google Maps e Gmail.

Grandes fabricantes de microchips como Intel, Qualcomm, Xilinx e Broadcom avisaram seus empregados que não venderão chips para a Huawei até segunda ordem, noticiou hoje a agência Bloomberg.

A Huawei anunciou em março que trabalha no desenvolvimento de seu próprio sistema operacional, se for proibida de usar programas de computador dos EUA: "Se algum dia acontecer de não podermos usar esses sistemas, estaremos preparados", declarou o diretor da divisão de produtos ao consumidor da companhia, Richard Yu, ao jornal alemão Die Welt.

domingo, 19 de maio de 2019

Ex-presidente da Nigéria adverte para ameaça terrorista na África

Em uma dura crítica aos últimos governos da Nigéria, o ex-ditador e ex-presidente Olusegun Obasanjo criticou a leniência com o grupo terrorista muçulmano Boko Haram e com massacres cometidos por tribos agropastoris no Norte do país, noticiou o jornal nigeriano Daily Post.

"Os atos de violência do Boko Haram e dos pastores não foram tratados como deveriam no começo", declarou Obasanjo ao sínodo dos bispos católicos, reunido na Catedral de São Paulo, da Igreja Anglicana, em Olê, no estado do Delta, no Sul do país, onde a maioria é cristã.

"Ambas as crises foram encubadas e se desenvolveram além do que a Nigéria pode resolver. Agora, estão combinadas e internacionalizadas, sob o controle do Estado Islâmico", acrescentou o político mais prestigiado do país, pacificador da guerra civil de Biafra (1967-70), ditador (1976-79) e presidente eleito na redemocratização da Nigéria (1999-2007).

Obasanjo alerta para a internacionalização de crises internas: "Não é mais uma questão de falta de educação e de falta de emprego para nossos jovens, que estão na origem do problema. É a islamização da África Ocidental e a ação de redes globais do crime organizado, com tráfico de pessoas, tráfico de drogas, tráfico de armas, lavagem de dinheiro, mineração ilegal e mudanças de regime."

O ex-governador Alhaji Sule Lamido, que foi ministro do Exterior no primeiro governo democrático de Obasanjo (1999-2003), criticou o ex-chefe, dizendo que o desapontamento com o governo Muhammadu Buhari não o deve tornar numa pessoa amarga. Mas o alerta está feito.

Se a Nigéria, o país mais rico da África, tem dificuldade para combater o terrorismo, o que dizer dos outros?

Desde 2009, quando aderiu à luta armada para tentar impor a lei islâmica na região, o Boko Haram, que significa repúdio à educação ocidental, é responsável por uma guerra civil com número de mortos estimado em 20 mil. A revolta atinge também os vizinhos Camarões, Níger e Chade,

O presidente Goodluck Jonathan (2010-15), um cristão iorubá do Sul da Nigéria era considerado incapaz de acabar com uma rebelião muçulmana no Norte do país, onde os muçulmanos são maioria. Ele conseguiu controlar a revolta no Delta do Rio Níger, principal região produtora de petróleo do maior produtor da África.

Em 2015, o líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, jurou lealdade ao Estado Islâmico e passou a chamar seu grupo de Província do Estado Islâmico na África Ocidental.

Com a miséria, a instabilidade política e o tráfico de armas, que aumentou com a guerra civil na Líbia, a ameaça do jihadismo se espalha hoje por toda a região do Sahel, ao Sul do Deserto do Saara, da Mauritânia à Somália, passando por Burkina Fasso, Mali, Níger, Nigéria, Camarões, República Centro-Africana, Chade, Sudão e Etiópia.

sábado, 18 de maio de 2019

Cristina Kirchner será candidata a vice-presidente da Argentina

Em vídeo de 12 minutos gravado em seu apartamento no aristocrático bairro da Recoleta, em Buenos Aires, a ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner anunciou a intenção de se candidatar a vice-presidente na eleição presidencial de 27 de outubro na Argentina. 

O candidato a presidente seria seu ex-chefe de Gabinete, o equivalente a chefe da Casa Civil, Alberto Fernández, que não tem parentesco com sua líder.

O ex-assessor dava aula na Universidade de Buenos Aires na quarta-feira quando o telefone tocou. Cristina pedia para ele passar na casa dela mais tarde. Na noite daquela quarta-feira, o acordo foi selado, noticiou o jornal Clarín.

Num encontro a dois, Cristina fez a proposta: "Tenho um teto. Pode dar para ganhar, mas vai ser muito difícil para governar. Você terá de ser presidente. Eu vou te acompanhar."

Surpreso, Alberto Fernández alegou que tal decisão não poderia ser tomada "a quente". Pediu 24 horas "para meditar". A quinta-feira foi infernal para o kirchnerismo: a Justiça confirmou a audiência de um dos processos contra Cristina e houve panelaço antiperonismo.

Na sexta-feira, a decisão estava tomada. Era irreversível. Cristina estava relaxada "como se tivesse tirado de cima um peso enorme", comentou um alto funcionário do Partido Justicialista, peronista. A ex-presidente chamou Fernández, mostrou-lhe o vídeo e avisou que pretendia divulgá-lo hoje.

Falando como pré-candidato, Alberto Fernández tentou acalmar os mercados, temerosos da volta do kirchnerismo ao poder: "No me assusta o FMI (Fundo Monetário Internacional). Já negociamos com o Fundo. Temos de encontrar uma saída para os compromissos que a Argentina tem com o mundo. Temos de cumpri-los sem que isso represente mais penúria para os argentinos."

Com sua tacada de mestra, Cristina reforça o discurso de "humildade", "grandeza" e "renúncia", tentando sair do foco dos ataques durante a campanha.

A candidatura de Fernández atinge o movimento peronista não kirchnerista, que articulava uma chapa com o ex-ministro da Economia no governo Néstor Kirchner, Roberto Lavagna, e o deputado Sergio Massa, terceiro colocado na eleição presidencial de 2015, quando Mauricio Macri venceu o candidato de Cristina, o governador Daniel Scioli.

Também surpresa, a Casa Rosada reagiu rapidamente. Para o governo Macri, a polarização com o kirchnerismo continua e Fernández não pode ser apresentado como uma "renovação".

Nas últimas pesquisas, Cristina chegou a ter uma vantagem de até sete pontos percentuais para Macri, que perderia para Lavagna num segundo turno, a ser realizado em 24 de novembro. A pesquisa com Fernández ainda não saiu.

De certa forma, observa o chefe de redação do jornal Perfil, Javier Calvo, houve um resgate da fórmula "Cámpora no governo, Perón no poder", usada na eleição de Héctor Cámpora, em março da 1973, que preparou o retorno à Argentina do caudilho Juan Domingo Perón.

Corrupção derruba o governo da Áustria

O chanceler (primeiro-ministro) conservador Sebastian Kurz convocou hoje eleições antecipadas na Áustria diante da divulgação de um vídeo em que o vice-chanceler Heinz-Christian Strache discute contratos públicos com uma mulher que se passou por sobrinha de um oligarca russo, noticiou a agência Reuters.

Strache entrou no governo como líder do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), de extrema direita, o mais bem-sucedido dos partidos ultranacionalistas anti-imigrantes da União Europeia. A uma semana das eleições para o Parlamento Europeu, o escândalo é um duro golpe.

Aliado da primeira hora da Reunião Nacional, de Marine Le Pen, na França, e da Liga de Matteo Salvini na Itália, Strache foi um dos arquitetos da aproximação da ultradireita europeia à Rússia de Vladimir Putin.

Kurz, do Partido Popular Austríaco (ÖVP), democrata-cristão, formou o governo de coalizão com o Partido da Liberdade há um ano e meio. Em entrevista coletiva, ele alegou que outros líderes da ultradireita não aceitaram fazer as mudanças que o chanceler considera necessárias para manter a aliança.

O vídeo foi gravado em julho de 2017 na ilha de Ibiza, na Espanha, e discutia o financiamento do FPÖ com caixa 2, o controle de um jornal e investimentos em obras públicas, meses antes das eleições de outubro daquele ano, quando o ÖVP venceu com 31,5% dos votos e 62 cadeiras. O FPÖ ficou em terceiro, com 26% e 51 deputados, atrás do Partido Social-Democrata da Áustria (SPÖ), com 27% e 52 cadeiras.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Taiwan é primeiro país asiático a aprovar o casamento gay

A Assembleia Nacional de Taiwan aprovou hoje o casamento entre pessoas do mesmo, tornando-se o primeiro país da Ásia a fazer isso. A presidente Tsai Ing-wen saudou a decisão como "um grande passo rumo à verdadeira igualdade".

O casamento gay é legal em 27 países e 72 possuem leis contra a discriminação sexual, enquanto vários países ainda consideram a homossexualidade um crime.

Há dois anos, o Tribunal Constitucional de Taiwan declarou a inconstitucionalidade da lei que definia o casamento como a união de um homem com uma mulher e deu dois anos aos deputados para mudarem a legislação.

A uma semana do fim do prazo, o Parlamento aprovou o casamento gay. A nova lei entra em vigor daqui a uma semana, em 24 de maio.

Embora a ilha, que a China considera uma província rebelde, tenha uma grande comunidade gay e sua parada gay seja a maior da Ásia, a questão divide a sociedade taiwanesa. Em plebiscito realizado em novembro do ano passado, 67% votaram contra o casamento homossexual.

Dezenas de milhares de pessoas enfrentaram a chuva em Taipé para pressionar os deputados a aprovar a proposta. Entre eles, estava Wu Tzu-an, um artista de 33 anos: "O resultado de hoje é o melhor que poderíamos conseguir a esta altura. É também um sinal que mostra que Taiwan é diferente da China. Pessoalmente, não tenho planos de casar, mas é um sinal de igualdade."

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Queda na produção de petróleo agrava crise na Venezuela

A produção de petróleo da Venezuela caiu dois terços em um ano e meio. Caiu de 1,5 milhão para 500 mil barris diários, informou na terça-feira, 14 de maio, o boletim de notícias Argus, especializado em matérias-primas. O país extrai hoje apenas 500 mil barris por dia de suas imensas reservas, as maiores do mundo.

Em abril, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) estimou a produção venezuelana em 770 mil barris por dia. Uma redução desta ordem, se confirmada, será mais uma péssima notícia para a ditadura de Nicolás Maduro.

A forte queda é atribuída ao aumento das sanções impostas pelos Estados Unidos, que incluem a importação de petróleo venezuelano e a exportação dos diluentes que a companhia estatal Petróleos de Venezuela S. A. (PdVSA) usada para misturar ao óleo pesado que produz e torná-lo próprio para a exportação.

A primeira rodada de sanções dos EUA pressionou uma produção de petróleo abalada por problemas estruturais generalizados, com fuga de mão de obra especializada, falhas de manutenção e a corrupção endêmica do regime chavista.

Um declínio ainda maior na indústria petrolífera da Venezuela é esperada quando as sanções secundárias começarem a ser sentidas. Os EUA proibiram empresas e indivíduos que não moram no país de fazer negócios com a PdVSA, sob pena de não poderem atuar no mercado americano.

Até o final de 2020, a produção pode baixar para 375 mil barris por dia. No pico, em 1998, a Venezuela chegou a produzir mais de 3 milhões de barris por dia.

Como o principal é o único produto de exportação importante da Venezuela e a principal fonte de arrecadação do governo, o virtual colapso do setor agrava ainda mais a situação.

O país vive a pior crise de sua história, com inflação 1.300.000% no ano passado, previsão de 10.000.000% neste ano, queda do produto interno bruto pela metade em cinco anos e desabastecimento generalizado.

Com a crise política, dois governos, a pressão internacional sobre Maduro e a piora da economia, a Venezuela afunda cada vez mais no caos.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

EUA retiram pessoal não essencial do Iraque

Diante do aumento das tensões com o Irã, os Estados Unidos a saída de todos os funcionários não essenciais da embaixada americana no Iraque, enquanto a Alemanha e a Holanda anunciaram a suspensão do treinamento da forças de segurança iraquianas por causa da situação atual, noticiou hoje a agência Associated Press (AP).

A decisão acontece num momento de aumento das tensões entre os EUA e o Irã, com relatórios dos serviços secretos americanos alertando para a possibilidade de ataques iranianos contra os interesses americanos no Oriente Médio.

Em setembro de 2018, os EUA fecharam o consulado em Bássora, no Sul do Iraque. A Espanha resolveu retirar uma fragata que acompanhava um grupo naval dos EUA na  entrada do Estreito de Ormuz para evitar um confronto direto

Indonésia registrou em abril maior déficit comercial da história

O déficit comercial da Indonésia bateu recorde em abril, chegando a US$ 2,5 bilhões, com a queda de 13,1% nas exportações, enquanto as importações baixaram apenas 6,6%, dificultando a luta da maior economia do Sudeste Asiático para enfrentar um período de turbulência com a guerra comercial entre Estados Unidos e China e a desaceleração da economia mundial.

A expectativa de economistas ouvidos pela agência Reuters era de queda de 7,2% nas exportações e de US$ 12,1% nas importações. O resultado foi o maior déficit da balança comercial desde que o jovem país independente começou a compilar estatísticas, no início dos anos 1950s. O governo tenta conter o problema limitando a importação.

A Indonésia é a 16ª maior economia do mundo, com produto interno bruto um pouco acima de US$ 1 trilhão no ano passado, o quarto país mais populoso do mundo, com 261 milhões de habitantes, e o maior muçulmano. É grande exportadora de matérias-primas como carvão e óleo de palma, que baixaram de preço em 2019 por causa da desaceleração do crescimento mundial.

O país era um grande exportador de petróleo nos anos 1980s, membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), mas no século 21 o consumo interno ultrapassou a produção. Nos últimos anos, a Indonésia passou a importar petróleo.

Grande fornecedora de cartão, borracha e produtos florestais, inclusive madeira, para os EUA e a China, a Indonésia sofre com a guerra comercial entre os dois países mais ricos do mundo.

Mesmo assim, no primeiro trimestre de 2019, a Indonésia cresceu num ritmo anual de 5,07%, de causar inveja a qualquer país da América Latina. Em 2018, a expansão foi de 5,17%, a maior desde 2013.

Com 54% dos votos válidos, o presidente Joko Widodo foi reeleito em 17 de abril para um segundo mandato de cinco anos.

Produção industrial e vendas do varejo na China desapontam

As vendas do varejo na China cresceram em abril no menor ritmo em 16 anos, enquanto a produção industrial e o investimento em capital fixo ficaram abaixo da expectativa do governo, que tenta revigorar a economia para enfrentar a guerra comercial com os Estados Unidos, noticiou o jornal inglês Financial Times.

De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas da China, as vendas no varejo registraram um avanço anual de 7,2% no mês passado, o menor desde 2003, com queda no comércio de cosméticos e artigos de uso pessoal. Os economistas entrevistados pela agência Reuters esperavam alta de 8,6%, depois um crescimento de 8,7% em março.

A produção industrial subiu 5,4% nos últimos 12 meses, abaixo da expectativa, que era de 6,5%, caindo para o nível de novembro, o menor desde a crise financeira internacional de 2008.

O investimento em capital fiou nos primeiros quatro meses do anos cresceu 6,1% em relação ao mesmo período no ano passado, ficando abaixo dos 6,3% do mês passado e dos 6,4% das previsões. O investimento privado avançou 5,5% e o das empresas estatais 7,8%.

No mês passado, a segunda maior economia do mundo, com PIB rondando os US$ 14 trilhões, parecia mais robusta. O presidente Donald Trump se vangloria de que os EUA estão mais fortes economicamente para o embate.

O cacife americano é maior. Os EUA importaram no ano passado US$ 539 bilhões em produtos chineses e exportaram bens no valor de US$ 120 bilhões.  A China precisa dos dólares americanos para manter o ritmo de sua economia.

Houve uma escalada na guerra comercial entre os dois países. Na seta-feira, o governo Trump impôs tarifas de 25% sobre US$ 200 bilhões em importações anuais da China, que reagiu ontem aplicando a mesma taxa a US$ 60 bilhões das exportações anuais dos EUA para lá.

Trump prometeu ontem uma grande vitória, mas a China não vai aceitar nenhum tipo de humilhação, acordo desfavorável e mudança de seu modelo econômico, do capitalismo de Estado que a transformou numa potência mundial. Nenhum líder chinês pode dar a impressão de estar fazendo muitas concessões ao Ocidente.

terça-feira, 14 de maio de 2019

Desemprego sobe na Coreia do Sul em meio à turbulência internacional

Sob o impacto da guerra comercial entre Estados Unidos e China e da desaceleração do setor de alta tecnologia, o desemprego na Coreia do Sul voltar a subir em abril de 2019, passando de 3,8% para 4,1%, anunciou nesta quarta-feira o instituto de estatísticas do governo sul-coreano. Os economistas ouvidos pela agência Bloomberg previam que a taxa ficasse inalterada.

O comércio exterior tem um peso importante, a economia sul-coreana, a 12ª maior do mundo, com produto interno bruto de US$ 1,6 trilhão em 2018. A Coreia do Sul sente o menor crescimento da China, a turbulência no comércio internacional e a desaceleração do setor de alta tecnologia, que atinge empresas como a Samsung, hoje a maior fabricante de eletroeletrônicos do mundo.

Nos primeiros três meses do ano, o país sofreu a maior contração desde a Grande Recessão de 2008-9, com perda de 0,3% do PIB. O desemprego caiu em fevereiro depois de atingir em janeiro o maior índice em uma década, mas voltou a subir em março e abril.

A crise econômica e a estagnação das negociações de desnuclearização entre os EUA e a Coreia do Norte, em que é mediador, abalam a popularidade do presidente sul-coreano, Moon Jae In.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

China sobretaxa produtos dos EUA no valor de US$ 60 bilhões

As bolsas de valores caem no mundo inteiro diante do anúncio da China de que vai retaliar o tarifaço do presidente Donald Trump impondo taxas de 10% a 25% sobre 4.545 produtos dos Estados Unidos, importados num valor de US$ 60 bilhões por ano, a partir de 1º de junho, noticiou o jornal inglês Financial Times.

"O ajuste das tarifas é uma resposta ao unilateralismo e ao protecionismo comercial dos EUA", declarou em nota o Ministério das Finanças da China. "Para proteger o sistema multilateral de comércio e defender seus direitos e interesses legítimos, a China teve de ajustar as tarifas sobre alguns bens importados dos EUA."

As sobretaxas atingem vários setores da economia americana, da indústria pesada à agricultura, passando por produtos de consumo doméstico.

Para a maioria dos produtos sobretaxados, a tarifa sobe para 25%. Este grupo inclui alimentos como espinafre congelado e mel natural, substâncias como o sulfato de potássio, usado como fertilizante, e bens industriais como lâmpadas de LED.

Outras duas listas têm 1.078 produtos taxados em 20% e 974 itens tarifados em 10%. Entre eles, estão pasta de dentes, tecidos, roupas e máquinas para fabricar sapatos. Ficaram de fora 595 itens, inclusive lítio, aldeído fórmico, petróleo bruto, impressoras em três dimensões, aviões e instrumentos eletrônicos para dar a partida em carros, barcos e aviões.

Ao anunciar a retaliação, o Conselho de Estado da China declarou que "o lado chinês espera que os EUA voltem ao lado correto das consultas bilaterais comerciais e econômicas, e a trabalhar junto com a China para uma aproximação e tentar chegar a um acordo mutuamente benéfico na base do respeito mútuo."

Se não houver progresso nas negociações para acabar com a guerra comercial entre os dois países mais ricos do mundo, o governo Trump ameaça aumentar para 25% as alíquotas sobre outros produtos chineses, com um valor anual de importação de US$ 325 bilhões.

Isto cobriria quase todas as exportações chinesas para os EUA, que somaram US$ 539 bilhões em 2018. Os detalhes deste novo salvo na guerra comercial podem ser anunciados ainda hoje.

Na manhã desta segunda-feira, antes do anúncio, Trump advertiu a China a não retaliar e afirmou que será "gravemente atingida" se não chegar a um acordo porque as empresas americanas "serão forçadas a deixar a China e ir para outros países".

Minutos depois, a televisão estatal chinesa reagiu: "Se os EUA quiserem conversar ou lutar na próxima etapa, ou adotar outras ações, a China está totalmente preparada com sua caixa de ferramentas políticas para dar uma resposta ampla."

Em Nova York, as bolsas vivem o pior dia em quatro meses. Os índices Dow Jones e S&P 500 caem mais de 2,5%, enquanto a bolsa eletrônica Nasdaq, de ações de empresas de alta tecnologia, perde mais de 3%. A Bolsa de Valores de São Paulo opera em baixa de 2,5%.

Os preços do petróleo também estão em queda por causa do impacto da guerra comercial sobre a economia internacional. A soja está na sua pior cotação em dez anos. Vale US$ 292 por tonelada na Bolsa Mercantil de Chicago, informou a agência Bloomberg.

A escalada na guerra comercial fortalece os radicais dos dois lados e desacelera a economia mundial. "Os dois maiores riscos enfrentados hoje pelos mercados são uma guerra comercial e bancos centrais aumentando as taxas de juros depressa demais", avaliou a economista Kristina Hooper, estrategista para o mercado global da Invesco.

Apertem os cintos! A economia mundial passa por um período de fortes turbulências. A esperança é que Trump e o ditador Xi Jinping se encontrem na reunião de cúpula do Grupo dos 20 em 28 e 29 de junho, em Osaka, no Japão, e aliviem a tensão.

domingo, 12 de maio de 2019

Complexo industrial militar da China resiste a pressões dos EUA

O presidente Donald Trump e o ditador Xi Jinping devem se encontrar durante a reunião de cúpula do Grupo dos 20 em Osaka, no Japão, em 28 e 29 de junho, para tentar acabar com a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, noticiou o jornal inglês Financial Times. A deterioração das negociações fortalece os falcões dos dois lados.

Além de aumento das importações chinesas para reduzir um déficit comercial de US$ 419 bilhões em 2018, os EUA exigem o fim da pirataria industrial, com respeito à propriedade intelectual e o fim da transferência forçada de tecnologia, fim da discriminação a empresas americanas no mercado chinês, cortes de subsídios estatais e fim da manipulação do câmbio. É uma mudança no modelo econômico, do capitalismo de Estado que tornou o país numa superpotência.

Um acordo parecia iminente quando Trump ameaçou, no domingo passado, aumentar de 10% para 25% as tarifas sobre produtos importados da China no valor de US$ 200 bilhões por ano e, se os chineses não cederem, aplicar a mesma alíquota para outras importações, no valor de US$ 325 bilhões. Na sexta-feira, cumpriu a primeira parte da ameaça.

Quando o regime comunista chinês exige "respeito mútuo" diante do tarifaço de Trump, fala a voz da linha dura e do complexo industrial militar. Do outro lado, o ex-estrategista da Casa Branca Steve Bannon escreveu no jornal The Washington Post que "os EUA estão em guerra econômica com a China. É fútil fazer acordo."

"Espero que as negociações fracassem", torce o coronel reformado da Força Aérea da China Dai Xu, professor da Universidade Nacional de Defesa da China, citado pelo jornal inglês Financial Times. "Quando as negociações forem abandonadas, os EUA estarão acabados... Expulsamos todas as empresas americanas e trazemos as nossas de volta... De jeito nenhum, Trump será reeleito."

O professor Dai falava num fórum cívico-militar sobre tecnologias de uso duplo organizado por empresas do setor de defesa, na maioria estatais, para incentivar parcerias no desenvolvimento tecnológico.

As empresas chinesas aproveitam a oportunidade para apresentar numa feira seus últimos lançamentos de alta tecnologia militar, como protótipos de drones, mísseis subaquáticos e robôs tipo tanques em miniatura para escanear a estrutura subterrânea das estradas.

Enquanto é flexível nas negociações comerciais com os EUA para preservar o acesso a um mercado que importou US$ 539 bilhões da China no ano passado, o regime chinês tenta passar para seus cidadãos uma imagem de firmeza.

"Xi está muito preocupado com sua autoridade", observou o comentarista Wu Qiang, ex-professor de ciência política da Universidade Tsinghua, "não quer ser visto como Yuan Shikai", que foi primeiro-ministro no Império e presidente da República, acusado de ter feito concessões demais às potências ocidentais.

O objetivo da linha-dura chinesa é ter um sistema de defesa "autônomo e controlável". Isso significa desenvolver sua própria tecnologia militar e suas cadeias produtivas.

Nos EUA, o representante comercial Robert Lighthizer e o assessor para indústria da Casa Branca, Peter Navarro, vem a China como uma força predadora no comércio internacional que só vai ceder sob pressão máxima. São considerados negociadores linha-dura, em contraste com o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e o assessor econômica da Casa Branca, Larry Kudlow, mais flexíveis.

"Endurecer com a China para trazer empregos industriais de volta para os EUA estava no centro da marcha eleitoral do presidente Trump pelo Cinturão da Ferrugem em sua vitória em 2016. Hoje, a meta do grupo de radicais que governa a China - o Partido Comunista Chinês - é ser a potência hegemônica global", afirmou Bannon.

"Mas", ressalvou, "enquanto Washington e Beijim concluem um acordo neste mês depois de meses de negociações, o que quer que emerja não será um acordo comercial. Será uma trégua numa guerra econômica e estratégica de muitos anos com a China."

Com este discurso, a linha dura chinesa não tem dúvida: "Os EUA nos veem abertamente como seu maior inimigo", declarou o coronel-aviador Tan Yungang, "Os EUA vão bloquear o desenvolvimento da China mais do que fizeram com a União Soviética." Ele acredita que Washington está impondo uma série de "bloqueios tecnológicos" para manter seu domínio.

O tarifaço seria uma manobra "intencional" forçar as cadeias produtivas a voltarem para os EUA, a Europa e o Japão. Esta impressão foi reforçada por um tuíte de Trump dizendo que quem não quiser pagar impostos de importação deve produzir nos EUA. É o clássico discurso antiglobalização, como se os EUA não se beneficiassem com o comércio internacional.

A prisão no Canadá, com pedido de extradição para os EUA, da diretora financeira e filha do fundador da Huawei, Meng Wanzhou, "foi completamente fabricada para conter" o crescimento da maior companhia fabricante de equipamentos de telecomunicações do mundo, na visão do coronel Tan.

"Os EUA estão descendo ladeira abaixo e berram alto num sinal de declínio", criticou o secretário-geral do Centro de Ciências da China na Academia Internacional de Ciências da Eurásia, Liu Honghai.

Liu a defende a criação de um bloco de nações liderado pela China a partir da Iniciativa Um Cinturão Uma Estrada, um gigantesco programa de obras de infraestrutura ao longo do antigo Caminho da Seda. É um marco do imperialismo econômico chinês.

A China é acusada de fazer uma "diplomacia de talão de cheques" para dominar países em desenvolvimento através do endividamento. No mês passado, Xi assinou contratos com outros países no valor de US$ 64 bilhões.

"Por muito tempo, a China comunista vem trapaceando no comércio com os EUA", argumenta o jornalista Lou Dobbs, da televisão Fox Business, um aliado do tarifaço. "O presidente Trump deixou claro: o fracasso de presidentes anteriores de representar os interesses dos EUA acabou."

Ao atacar a globalização, o sistema multilateral e até mesmo os aliados dos EUA, que seriam úteis no conflito econômico com a China, Trump indica acreditar num mundo dividido em esferas de influência de grandes potências militares: EUA, China e Rússia.

"O mundo em que estamos entrando não será uma era de paz e desenvolvimento, será uma era de separação estratégica", prevê Yu Shiguang, da Associação de Investimentos na China, um órgão governamental. "O trumpismo não é apenas o imperialismo americano, é 'EUA primeiro', mais selvagem, mais sangrento e mais guerreiro."

sábado, 11 de maio de 2019

Dois soldados franceses morrem em resgate de reféns na África

Uma operação de resgate de turistas franceses sequestrados por terroristas muçulmanos no Benin, na África, mobilizou 20 soldados especializados em resgate de reféns, drones e helicópteros das Forças Armadas da França no Norte de Burkina Fasso, na África Ocidental. 

Quatro reféns foram libertados, entre eles dois franceses, uma americana e uma sul-coreana, mas dois soldados franceses morreram em ação, noticiou o jornal francês Le Monde. É mais um sinal de que a guerra contra o terrorismo se dá cada vez mais na África.

Laurent Lassimouillas e Patrick Picque faziam um safári no Parque da Pendjari, no Norte do Benin, uma das últimas reservas de vida selvagem na África Ocidental, que fica ao longo da fronteira com Burkina Fasso. Na noite de 1º de maio, eles não voltaram ao acampamento. Dias depois, foi encontrado corpo seviciado de seu guia.

A operação de resgate foi realizada pela força francesa na região Sahel, no Sul do Deserto do Saara, chamada Barkhane e a Força-Tarefa Sabre, com a participação de 20 especialistas do Comando Hubert, uma das sete unidades comandos da Marinha e talvez a tropa de elite mais prestigiada das Forças Armadas da França.

Tudo foi planejado e feito com a cooperação da inteligência militar dos Estados Unidos na região e com o Exército de Burkina Fasso. Desde que os reféns foram sequestrados, os serviços secretos formaram uma rede para obter informações sobre seu paradeiro.

Um oficial francês revelou que os reféns em trânsito em Burkina Fasso. Os terroristas pretendiam levá-los para o Norte do Mali. Em 7 de maio, os franceses foram localizados no Norte de Burkina Fasso. Enquanto o comboio estava em movimento, era impossível agir sem ameaçar a vida dos reféns, explicou o comandante militar da operação.

Na quinta-feira, o comandante de operações especiais viu que os sequestradores haviam parado e pediu a autorização ao presidente Emmanuel Macron para atacar. À noite, Macron deu a ordem.

A decisão foi tomada antes que os reféns fossem entregues a outra grupo terrorista mais poderoso, a katiba Macina ou Frente de Libertação do Macina, uma milícia islamista ligada à rede terrorista Al Caeda que atua no Norte do Mali e teria encomendado o sequestro.

Seu líder, Amadou Koufa, é considerado mais do que um comandante militar. É um guia espiritual, um catalisador das frustrações dos jovens da região. Em janeiro de 2015, ele lançou sua insurreição, que no ano passado causou a morte de cerca de 500 civis.

Em março de 2017, Koufa apareceu ao lado de líderes tuaregues do Mali e da rede Al Caeda no Magreb e Al Mourabitoun, unindo suas forças no Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos. Todos estavam sob o comando de Ag Ghali dentro de Al Caeda no Magreb Islâmico.

Mas, de acordo com o serviço secreto burkinense, o sequestro no Norte do Benin foi realizado pelo Estado Islâmico no Grande Saara. Se for o caso, a Frente Macina, afiliada a Al Caeda, mantém ligações com outros grupos jihadistas como o burkinense Ansaroul Islam e com o Estado Islâmico, concorrente da Caeda.

Sob a noite escura, os comandos franceses avançaram 200 metros a céu aberto e passaram por um sentinela para chegar às quatro barracas do acampamento. Quando estavam a cerca de 10 metros, foram percebidos. Os sequestradores engatilharam suas armas. Mesmo assim, os franceses decidiram não abrir fogo para preservar os reféns.

Neste momento, os soldados Cédric de Pierrepont e Alain Bertoncello foram mortos, cada um em uma barraca. Quatro terroristas foram mortos e dois conseguiram fugir. A presença das duas outras reféns, a americana e a sul-coreana, não era esperada. Elas eram reféns há 28 dias.

O presidente Macron "curva-se com emoção e gravidade diante do sacrifício de nossos dois militares", declarou em nota o Palácio do Eliseu. Em 14 de maio, às 11h em Paris (6h em Brasília), Macron vai presidir uma homenagem aos mortos no Palácio dos Inválidos, onde fica o túmulo de Napoleão Bonaparte.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

EUA impõem tarifas de 25% sobre produtos chineses no valor de US$ 200 bilhões

Numa escalada da guerra comercial entre os dois países mais ricos do mundo, sem avanço nas negociações bilaterais retomadas ontem em Washington, o governo Donald Trump aumentou de 10% para 25% a alíquota de mais de 5 mil produtos chineses importados pelos Estados Unidos, num valor anual de US$ 200 bilhões. A China "lamentou profundamente" e prometeu retaliar, mas não abandonou as negociações.

As novas alíquotas serão aplicadas a produtos que deixem a China e entrem nos EUA a partir de zero hora de hoje. As cargas aéreas serão sobretaxadas imediatamente. As cargas embarcadas em navios e portos chineses até a meia-noite de ontem estão isentas.

Quem paga este imposto de importação é o consumidor americano. Os produtos sobretaxados incluem iPhones, outros telefones celulares, computadores, roupas, calçados e bens de consumo intermediário como circuitos integrados, microprocessadores, máquinas e autopeças.

"É de se esperar que os EUA e a China trabalhem juntos para resolver os problemas existentes através da cooperação e de consultas", declarou em nota o Ministério do Comércio chinês.

Depois de meses de negociações, havia uma expectativa de que a atual rodada iniciada ontem em Washington com uma delegação de mais de cem chineses, chefiada pelo vice-primeiro-ministro Liu He, fechasse o acordo com os EUA, com a equipe liderada pelo secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e o representante comercial Robert Lighthizer.

As duas delegações tiveram um jantar de trabalho. No fim, Mnuchin e Lighthizer fizeram um relato ao presidente.

No domingo, Trump ameaçara sobretaxar as importações da China sob o argumento de que as negociações estão em "marcha lenta". Os EUA acusam o governo chinês de recuar em pontos que já estavam acertados.

Desde setembro, os EUA usam tarifas para pressionar a China a reduzir o saldo comercial e fazer concessões. O regime chinês reagiu sobretaxando sobretudo produtos agropecuários dos EUA, de modo a atingir estados que votaram em Trump nas últimas eleições.

Passado o impacto inicial dos primeiros salvos da guerra comercial, Trump e Xi decidiram em jantar em Buenos Aires, durante a reunião do Grupo dos 20, em 30 de novembro de 2018, adotar uma trégua de 90 dias para iniciar as negociações.

O prazo final era 1º de março, quando Trump adiou o tarifaço para dar mais prazo às negociações.

Além de maior acesso ao mercado chinês para equilibrar o déficit comercial americano, os EUA exigem mudanças em leis e políticas da China, fim de restrições a empresas americanas, corte de subsídios, respeito à propriedade intelectual, fim da transferência forçada de tecnologia, fim da manipulação do câmbio e mecanismos de aplicação e fiscalização dos acordos.

A China tenta prolongar as negociações. O ditador Xi Jinping teria vetado mudanças na legislação chinesa para dar a empresas americanas igualdade de condições para competir no mercado chinês.

Os chineses também gostam de usar uma linguagem vaga, sem metas definidas para futura prestação de contas, que permita múltiplas interpretações.

Trump contou ter recebido uma "carta linda" de Xi convidando para trabalharem juntos e disse que esperava falar com o líder chinês, mas a conversa que poderia evitar o tarifaço não aconteceu.

Se as negociações não evoluírem favoravelmente, Trump ameaça impor tarifas de 25% sobre outros US$ 325 bilhões em produtos chineses, cobrindo quase todas as exportações da China para os EUA, que chegaram a US$ 539 bilhões em 2018, com importações chinesas de US$ 120 bilhões.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu que a guerra comercial entre EUA e China "ameaça a economia global".

quinta-feira, 9 de maio de 2019

CNA ganha eleições sem emoção na África do Sul

Com 70% dos votos apurados, o Congresso Nacional Africano (CNA) recebeu 57% votos nas eleições de 8 de maio na África do Sul. Ficou abaixo dos 62% das eleições anteriores, de 2014, noticiou a televisão pública britânica BBC

O partido mantém o poder desde o fim do regime segregacionista branco do apartheid, em 1994, quando Nelson Mandela virou presidente. Mas esse foi o pior resultado.

Em segundo lugar, ficou a Aliança Democrática (AD), com 22%. Em terceiro lugar, vem os Combatentes pela Liberdade Econômica (EEF, do inglês), com 10%.

O índice de comparecimento às urnas foi de 65%, abaixo dos 73% de 2014. Cerca 26,7 milhões de eleitores votaram em 48 partidos. Seis milhões de pessoas não se registraram para votar desta vez. Os resultados finais saem no sábado.

Vinte e cinco anos depois do fim do apartheid, a África do Sul ainda é um dos países mais desiguais do mundo. Os 10% mais ricos ficam com dois terços da renda e mais da metade dos 57 milhões de habitantes vive na miséria.

O desemprego, hoje em 27%, a situação econômica da maioria negra e a corrupção generalizada do governo Jacob Zuma (2009-17) diminuíram o prestígio do CNA.

A ascensão ao poder de Cyril Ramaphosa, que seria o vice-presidente preferido por Mandela, no ano passado, deu uma esperança de recuperação da economia e da política sul-africanas, mas o longo tempo de monopólio do poder criou muitas oportunidades de enriquecimento ilícito para a burocracia do partido.

Coreia do Norte testa mais dois mísseis de curto alcance

Em mais uma provocação diante da estagnação das negociações de desarmamento com os Estados Unidos, a Coreia do Norte testou hoje dois mísseis lançados de Kusong. 

Os foguetes teleguiados atingiram uma altitude de 50 quilômetros e caíram no Mar do Japão, o primeiro a uma distância de 420 quilômetros e o segundo, de 270 km.

O segundo teste em uma semana coincide com a visita do representante especial dos EUA para a Coreia do Norte, Stephen Biegun, à Coreia do Sul. É um sinal claro do descontentamento do regime comunista de Pyongyang com o estado atual das negociações com Washington.

A ditadura de Kim Jong Un mantém a moratória de testes nucleares e de mísseis de médio e longo alcances, mas as negociações de desarmamento nuclear estão paradas desde o fracasso do segundo encontro de cúpula entre Kim e o presidente Donald Trump, em 27 e 28 de fevereiro de 2019, em Hanói, no Vietnã.

Biegun teve hoje os primeiros encontros com autoridades da Coreia do Sul. Mais tarde, o presidente Moon Jae In deu uma entrevista para marcar o início de seu terceiro ano de governo e fez um apelo para um quarto encontro de cúpula com Kim.

O regime stalinista norte-coreano não realizava testes de mísseis desde novembro de 2017. As experiências de 4 de maio foram consideradas "testes de projéteis".

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Venezuela prende vice-presidente da Assembleia Nacional

Na primeira retaliação contra um dos líderes da fracassada rebelião de 30 de abril, o Serviço Bolivarista de Inteligência Nacional (Sebin) prendeu hoje o vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Edgar Zambrano.

Dez líderes da oposição são acusados de "traição, conspiração e rebelião" por terem convocado militares e a população em geral para um levante contra a ditadura de Nicolás Maduro, inclusive o presidente da Assembleia Nacional e autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, e o líder de seu partido, Vontade Popular, Leopoldo López.

Guaidó reagiu no Twitter: "Estão tentando destruir o poder que representa todos os venezuelanos, mas não vão vencer."

O próprio Zambrano transmitiu sua prisão ao vivo. Seu carro foi cercado por agentes do Sebin. Como ele se recusou a sair, o carro foi guinchado até a prisão de Helicoide, onde o regime chavista mantém vários prisioneiros políticos.

A oposição obteve maioria de dois terços na Assembleia Nacional nas últimas eleições democráticas realizadas na Venezuela, em 6 de dezembro de 2015. Desde então, Maduro tomou várias medidas para anular a vitória da oposição, em especial a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte eleita sob medida pelo regime para usurpar o poder do parlamento eleito democraticamente.

Em maio do ano passado, Maduro foi reeleito com fraude generalizada. Os principais candidatos da oposição foram impedidos de concorrer. Depois da posse, em 10 de janeiro de 2019, a Assembleia Nacional o considerou um presidente ilegítimo e proclamou Guaidó como presidente interino até a realização de nova eleição.

Por três vezes, Guaidó tentou derrubar Maduro: ao se apresentar como presidente legítimo, em 23 de janeiro, ao tentar promover uma entrega de ajuda humanitária e no fim do mês passado, ao convocar a rebelião.

Apesar dos apelos da oposição e uma suposta negociação de seus líderes com os militares, a cúpula das Forças Armadas manteve o apoio a Maduro. A prisão de Zambrano marca o início de uma repressão mais dura contra os chefes da rebelião.

terça-feira, 7 de maio de 2019

Mianmar solta jornalistas presos por denunciar massacre do Exército

Depois de 511 dias de prisão, Mianmar libertou hoje dois jornalistas condenados por denunciar um massacre cometido pelo Exército do país na guerra contra a minoria rohingya num processo que gerou pesadas críticas ao desrespeito aos direitos humanos pelo governo mianmarense.

Wa Lone, de 33 anos, e Kyaw Soe Oo, de 29, foram presos em dezembro de 2017 e considerados culpados com base na Lei de Segredos Oficiais, do tempo em que a antiga Birmânia era uma colônia do Império Britânico. Em setembro de 2018, pegaram sete anos de cadeia.

Hoje, saíram da prisão por causa de uma anistia dada pelo presidente Win Myint a 6.250 prisioneiros no início do Ano Novo pelo calendário tradicional de Mianmar.

"Estou feliz e ansioso para ver minha família e meus colegas", declarou Wa Lone, citado pela agência de notícias Reuters. "Não vejo a hora de voltar à redação."

A reportagem que provocou a ira dos militares denunciou o massacre de 10 muçulmanos da minoria rohingya, perseguida pela maioria budista que domina Mianmar e o Exército, em Inn Din, no estado de Rakhine.

As autoridades mianmarenses reconheceram o massacre. No ano passado, sete soldados foram condenados a 10 anos de trabalhos forçados pelos crimes cometidos.

Mesmo assim, no mês passado, a Suprema Corte rejeitou um recurso dos jornalistas pedindo a revogação da sentença condenatória. Também no mês passado, a agência Reuters recebeu o Prêmio Politzer, o mais importante do jornalismo americano, pelo trabalho de reportagem em Mianmar, com destaque para as "notáveis contribuições" dos dois.

O caso suscitou pesadas críticas contra a principal líder política do país, Aung San Suu Kyi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz 1991. Vários críticos pediram que o prêmio fosse retirado.

Mais de 730 mil rohingyas fugiram para Bangladesh para escapar da repressão em Mianmar, que não os reconhece como cidadãos alegando que são parte e descendentes de refugiados da Guerra da Independência de Bangladesh, em 1971.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Ex-procuradores dos EUA veem obstrução de justiça em atos de Trump

Mais de 720 ex-procuradores federais dos Estados Unidos contrariam a versão oficial da Casa Branca sobre o relatório do procurador especial Robert Mueller, que investigou a interferência da Rússia nas eleições americanas. Eles veem tentativas de obstrução de justiça em várias ações do presidente Donald Trump.

"Nós somos ex-procuradores federais. Servimos tanto sob governos democratas quanto republicanos em diferentes níveis do sistema federal, como advogados, supervisores, procuradores, procuradores especiais e altos funcionários do Departamento da Justiça", declararam em nota.

"Cada um de nós acredita que a conduta do presidente Trump descrita pelo procurador especial Robert Mueller, em qualquer caso de pessoa não coberta pela política de não denunciar um presidente no exercício do cargo, resultaria em múltiplas acusações criminais de obstrução de justiça", acrescentam os signatários.

"Olhar para esses fatos e dizer que um procurador não seria capaz de conseguir uma condenação por obstrução de justiça - o padrão estabelecido pelos princípios da Procuradoria Federal [para abrir um processo] - vai contra a lógica e a nossa experiência", afirmam os procuradores.

Trump poderia receber até dez acusações de tentar impedir o trabalho da Justiça. As principais atividades suspeitas foram: pressionar o então diretor-geral do FBI (Federal Bureau of Investigation), a polícia federal dos EUA, James Comey, a encerrar o inquérito sobre o general Michael Flynn, seu primeiro assessor de Segurança Nacional; demitir Comey quando este não cedeu; e pedir ao advogado-geral da Casa Branca Don McGhan para mandar o subprocurador-geral Rod Rosenstein demitir o procurador especial.

É política do Departamento de Justiça não processar presidentes dos EUA no exercício do cargo. Eles só podem ser julgados pelo Congresso num processo de impeachment ou depois de deixar a Casa Branca.

A abertura de um processo de impeachment depende da maioria simples da Câmara dos Representantes, que o Partido Democrata tem, mas a condenação exige os votos de dois terços do Senado, de pelo menos 67 dos 100 senadores. Isto significa que 20 senadores do Partido Republicano teriam de votar contra o presidente, o que é altamente improvável. Trump tem o apoio das principais bases do partido.

Macri propõe acordo de dez pontos para estabilizar economia argentina

Em carta a líderes políticos, inclusive a sua maior rival, a ex-presidente Cristina Kirchner, governadores, empresários e a Confederação Geral do Trabalho (CGT), o presidente Mauricio Macri propôs um acordo nacional em torno de dez pontos para garantir a estabilidade da economia da Argentina independentemente de quem vencer a eleição presidencial de 27 de outubro de 2019.

No texto, transcrito pelo jornal Clarín, Macri admite que o país conseguiu "um consenso democrático que fechou às portas a excperiências autoritárias, a alocação universal por filho, o rechaço à violência política, a aliança estratégica com o Mercosul, para dar alguns exemplos."

Ao mesmo tempo, não conseguiu um acordo sobre questões básicas para o desenvolvimento econômico, acrescentou o presidente argentino, "convertendo nosso país num paradoxo mundial pela falta de desenvolvimento e a pobreza, apesar de nossos recursos e nossas potencialidades."

A seguir, Macri lista dez pontos que considera imprescindíveis, esclarecendo que "não são um plano de governo, nem uma proposta eleitoral, nem um contrato de adesão":

  1. Atingir e manter o equilíbrio fiscal, tanto na nação quanto nas províncias.
  2. Sustentar um central independente no manejo dos instrumentos de política monetária e cambial, em função do seu objetivo principal, que é o combate à inflação até levá-la a índices similares aos dois países vizinhos.
  3. Promover uma integração inteligente com o mundo, trabalho para o crescimento sustentável de nossas exportações.
  4. Respeito à lei, aos contratos e aos direitos adquiridos a fim de consolidar a segurança jurídica, elemento chave para promover o investimento.
  5. Criação de empregos formais através de uma legislação trabalhista moderna, que se adapte às novas realidades do mundo do trabalho sem pôr em risco os direitos dos trabalhadores.
  6. Reduzir a carga de impostos nacional, provincial e municipal, começando pelos impostos distorcivos.
  7. Consolidação do sistema previdenciário sustentável e equitativo que dê segurança aos atuais e futuros aposentados.
  8. Consolidação de um sistema federal transparente que assegure transferências às províncias não sujeitas à discricionariedade do governo nacional do dia.
  9. Assegurar um sistema de estatísticas profissional, confiável e independente.
  10. Cumprimento das obrigações com nossos credores.
A ex-presidente Cristina Kirchner, que aparece à frente de Macri em pesquisas eleitorais, está em El Calafate, no extremo sul da Argentina. Volta a Buenos Aires e reaparece em público na quinta-feira para lançar Sinceramente, seu livro de memórias. 

Sua assessoria antecipou que ela não assinará em baixo de todas as propostas de Macri e de responder por escrito, rejeitando o convite para um diálogo nacional e a criação de uma espécie de seguro contra a instabilidade decorrente da disputa eleitoral.

A recessão econômica de 2,6% no ano passado, que pode chegar a 6% neste ano, e uma inflação prevista em 40% para este ano derrubaram a popularidade do presidente e ameaçam sua reeleição. Nos últimos 12 meses, a construção civil recuou 12,3% e a indústria 13,4%.

O mercado aposta numa candidatura alternativa da governadora da província de Buenos Aires, María Eugenia Vidal, para evitar a volta de Cristina, que abandonaria o esforço fiscal das reformas de Macri para equilibrar as contas públicas. A governadora já disse que só vai concorrer se Macri pedir.