domingo, 19 de maio de 2019

Ex-presidente da Nigéria adverte para ameaça terrorista na África

Em uma dura crítica aos últimos governos da Nigéria, o ex-ditador e ex-presidente Olusegun Obasanjo criticou a leniência com o grupo terrorista muçulmano Boko Haram e com massacres cometidos por tribos agropastoris no Norte do país, noticiou o jornal nigeriano Daily Post.

"Os atos de violência do Boko Haram e dos pastores não foram tratados como deveriam no começo", declarou Obasanjo ao sínodo dos bispos católicos, reunido na Catedral de São Paulo, da Igreja Anglicana, em Olê, no estado do Delta, no Sul do país, onde a maioria é cristã.

"Ambas as crises foram encubadas e se desenvolveram além do que a Nigéria pode resolver. Agora, estão combinadas e internacionalizadas, sob o controle do Estado Islâmico", acrescentou o político mais prestigiado do país, pacificador da guerra civil de Biafra (1967-70), ditador (1976-79) e presidente eleito na redemocratização da Nigéria (1999-2007).

Obasanjo alerta para a internacionalização de crises internas: "Não é mais uma questão de falta de educação e de falta de emprego para nossos jovens, que estão na origem do problema. É a islamização da África Ocidental e a ação de redes globais do crime organizado, com tráfico de pessoas, tráfico de drogas, tráfico de armas, lavagem de dinheiro, mineração ilegal e mudanças de regime."

O ex-governador Alhaji Sule Lamido, que foi ministro do Exterior no primeiro governo democrático de Obasanjo (1999-2003), criticou o ex-chefe, dizendo que o desapontamento com o governo Muhammadu Buhari não o deve tornar numa pessoa amarga. Mas o alerta está feito.

Se a Nigéria, o país mais rico da África, tem dificuldade para combater o terrorismo, o que dizer dos outros?

Desde 2009, quando aderiu à luta armada para tentar impor a lei islâmica na região, o Boko Haram, que significa repúdio à educação ocidental, é responsável por uma guerra civil com número de mortos estimado em 20 mil. A revolta atinge também os vizinhos Camarões, Níger e Chade,

O presidente Goodluck Jonathan (2010-15), um cristão iorubá do Sul da Nigéria era considerado incapaz de acabar com uma rebelião muçulmana no Norte do país, onde os muçulmanos são maioria. Ele conseguiu controlar a revolta no Delta do Rio Níger, principal região produtora de petróleo do maior produtor da África.

Em 2015, o líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, jurou lealdade ao Estado Islâmico e passou a chamar seu grupo de Província do Estado Islâmico na África Ocidental.

Com a miséria, a instabilidade política e o tráfico de armas, que aumentou com a guerra civil na Líbia, a ameaça do jihadismo se espalha hoje por toda a região do Sahel, ao Sul do Deserto do Saara, da Mauritânia à Somália, passando por Burkina Fasso, Mali, Níger, Nigéria, Camarões, República Centro-Africana, Chade, Sudão e Etiópia.

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