Os blocos tradicionais de centro-direita e centro-esquerda sofreram grandes perdas nas eleições para o Parlamento Europeu, de 751 cadeiras. O Partido Popular Europeu, uma aliança de partidos conservadores e democratas-cristãos, elegeu a maior bancada, com 175 eurodeputados, 46 a menos do que tinha, enquanto a coalizão de trabalhistas e sociais-democratas conquistou 149 cadeiras, 42 a menos do que tinha.
Em eleições onde o desemprego, a imigração e o aquecimento global foram temas importantes, a extrema direita ganhou no Reino Unido, na França, na Itália e na Hungria, elegendo ao todo 173 deputados. Seria a segunda maior bancada, mas é dividida em dois blocos e ganhou apenas 17 cadeiras. Os maiores avanços foram dos liberais-democratas (+40) e dos verdes (+20), a quarta e a quinta maiores bancadas.
Na França, a Reunião Nacional (RN), neofascista, liderada por Marine Le Pen, conquistou 23,3% dos votos, batendo a República em Marcha (ReM), do presidente Emmanuel Macron, com 22,4%. A aliança entre verdes e ecologistas ficou em terceiro, com 13,1%.
Os Republicanos, o partido conservador gaullista de direita, tiveram 8,4%, logo acima das duas listas de esquerda, da França Insubmissa e do Partido Socialista, com pouco mais de 6% cada. Na França, os partidos tradicionais naufragaram.
No Reino Unido, o Partido da Brexit (saída britânica), chefiado por Nigel Farage, antigo líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), foi o mais votado. Obteve 34,9% dos votos acusando os grandes partidos de trair o eleitorado ao não honrar o resultado do plebiscito de 23 de junho de 2016 para a saída do país da União Europeia.
Com 40% dos votos, a soma dos partidos favoráveis a ficar na UE bateu os eurocéticos. Os liberais-democratas (20,3%) ficaram em segundo, superando os trabalhistas (14%) e os conservadores (9%), os dois maiores partidos no Parlamento Britânico, massacrados pelo fracasso em resolver a Brexit.
O Partido Conservador teve o pior resultado da história em eleições europeias, uma das razões da queda da primeira-ministra Theresa May. Ficou atrás dos Verdes (12,2%), que costumam ter bom desempenho nas eleições europeias no Reino Unido.
O vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, Matteo Salvini, foi o grande vencedor na Itália. A Liga, de extrema direita, somou 33,6% dos votos, batendo o Partido Democrata, social-democrata, com 23,5%. O Movimento 5 Estrelas, parceiro da Liga na coalizão de governo, ficou com 16,6%, e a Força Itália, de direita, não passou de 7,8%, mas elegeu seu líder, o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi para o Parlamento Europeu pela primeira vez.
Esse resultado sugere que Salvini e a Liga poderiam liderar o próximo governo, se houver eleições gerais antecipadas na Itália. É uma tentação para um neofascista ávido pelo poder.
Mas o avanço da ultradireita nacionalista ficou abaixo da expectativa. Na Alemanha, a União Democrata-Cristã (CDU), da primeira-ministra Angela Merkel, ficou em primeiro com queda de 35% para 28,7% dos votos. Os Verdes chegaram em segundo com 20,7%, enquanto o Partido Social-Democrata amargou o terceiro lugar, com 15,6%. A Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita, não passou de 10,8%.
Na Holanda, ganharam os trabalhistas (18%), seguidos por liberais-democratas (14,6%), democratas-cristãos (12,1%), com verdes (10,9%) e ultranacionalistas (10,9%) empatados em quarto lugar. No seu melhor resultado, em 2010, Partido pela Liberdade, liderado por Geert Wilders, foi o terceiro maior do país.
Na Espanha, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) foi o primeiro com 32,8%, seguido pelo conservador Partido Popular (20,1), os Cidadãos (12,2%), de centro-direita, e Podemos (10%). O partido Vox, de extrema direita, teve apenas 6% dos sufrágios.
Desde o Tratado de Lisboa, de 2009, o Parlamento Europeu ganhou mais poderes. Com a exceção de questões fiscais, o Parlamento é co-legislador em praticamente todas as leis, normas e diretivas da UE, inclusive no orçamento comunitário.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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