quarta-feira, 1 de maio de 2019

Violência tira sindicatos da rua no 1º de Maio em Paris

Os coletes amarelos e os black blocs sequestraram as manifestações do Dia do Trabalho em Paris. Cerca de 165 mil pessoas se manifestaram em toda a França e 40 mil na capital. Houve confrontos com a polícia, que usou gás lacrimogênio para conter os protestos violentos. Representantes sindicais disseram nunca ter visto nada parecido, "nem em maio de 1968".

Sob pressão dos novos militantes e dos anticapitalistas violentos, as centrais sindicais de dividiram. As mais moderadas se concentraram diante do cine-teatro Odeon, o "teatro da Europa", para defender "uma Europa social e ambiental" ameaçada pelos "populismos que ganham terreno", reportou o jornal Le Monde.

O movimento sindical mais à esquerda, inclusive a Confederação Geral do Trabalho (CGT), historicamente ligada ao Partido Comunista Francês (PCF), e a Força Operária (FO), de orientação trotskista, se concentraram diante da Torre de Montparnasse para "ampliar a batalha para que as urgências climáticas e sociais sejam levadas em conta pelo governo e o patronato".

A passeata da esquerda sindical sairia às 14h30 pela hora de Paris (9h30 em Brasília) em direção à Praça da Itália. Mas os coletes amarelos estavam decididos a assumir o protagonismo da manifestação. Perto do meio-dia, contrariando os sindicalistas, o cortejo começou a se mover lentamente.

Alguns coletes amarelos, que protestam todos sábado há 24 semanas e exigem a renúncia do presidente Emmanuel Macron, falavam que "é a guerra, o pessoal lá está em modo de comando" e "estamos aqui pela revolução".

Esta federação de descontentes, de insatisfeitos com as promessas feitas por Macron em entrevista coletiva em 25 de abril, reúne coletes amarelos, sindicalistas, estudantes, ecologistas e radicais de esquerda que se definem como antifascistas, anarquistas ou autonomistas.

Quando os black blocs emergiram do meio da multidão, as forças de segurança estavam prontas para enfrentá-los. Não eram 2 mil vindos de toda a Europa, como temia o Ministério do Interior; no máximo, uns 500.

Mesmo assim, no início da noite, a polícia havia feito 19.785 ações de controle. A passeata principal, rumo à Praça da Itália, estancou diante do Restaurante La Coupole, no Boulevard Montparnasse 102. A avenida foi fechada por uma barreira de policiais.

Aos gritos de "revolução", cerca de 150 militantes faziam ataques esporádicos, atirando garrafas contra a barreira policial. Quando os black blocs passaram a quebrar vitrines e saquear lojas, a polícia avançou.

A multidão recuou em pânico, em meio a uma nuvem irrespirável de gás lacrimogênio, explosão de granadas de efeito moral e tiros de balas de borracha. Do alto de um carro de som, um ativista da CGT pedia à massa que recuasse.

Depois de meia hora de conflito, a polícia reassumiu o controle da brasserie chic e se colocou diante da fachada para proteger o restaurante. Um sindicalista irritado protestava contra a violência: "Que vão quebrar lá onde está o dinheiro ou no Palácio do Eliseu, mas que nos deixem desfilar."

O secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, acusou a polícia de atacar os caminhões da central sindical e festejou a mobilização e o número de manifestantes. Alguns militantes de esquerda aplaudiram a violência em nome do combate "de todos os que sofrem". "A violência das manifestações é uma resposta à violência social."

Por volta das 16h, a polícia havia refeito sua barreira perto da Praça da Itália. A multidão recuou e se dispersou no Boulevard do Hospital, onde fica o Hospital Universitário Pitié-Salpêtrière. No fim deste Dia do Trabalho, como observou o jornal Libération, a Praça da Itália estava deserta, com colunas de fumaça ao fundo.

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