terça-feira, 28 de maio de 2019

EUA evitam acusar a China de manipulação do câmbio

Apesar da guerra comercial entre os dois países, o Tesouro dos Estados Unidos decidiu hoje não qualificar a China como manipuladora do câmbio, mas a deixou numa lista de países em observação numa revisão geral do comércio exterior americano em busca de sinais de práticas comerciais desleais, noticiou o jornal britânico Financial Times.

O Tesouro manifesta preocupação "significativa" com várias práticas comerciais chinesas, mas evitou a acusação, indicando uma preocupação em evitar uma nova escalada no conflito comercial entre os dois países mais ricos do mundo.

No relatório, o governo americano anuncia um reexame geral dos critérios usados para decidir que países devem ter suas práticas econômicas e cambiais escrutinadas para identificar possíveis manipulações cambiais.

Foram citados 21 países, em comparação com 12 no relatório anterior. Nove estão na lista de observação do Tesouro americano: Cingapura, Irlanda, Itália, Malásia e Vietnã foram acrescentados à lista; Alemanha, China, Coreia do Sul e Japão já estavam nela.

Na semana passada, o Departamento do Comércio dos EUA adotou uma nova regra para penalizar países que "ajam para desvalorizar suas moedas em relação ao dólar, num subsídios a suas exportações."

Com seu nacionalismo e protecionismo, Trump luta para reduzir o déficit comercial dos EUA, até agora sem sucesso. No ano passado, o déficit no comércio de bens bateu um recorde a US$ 891,3 bilhões.

O foco do Tesouro será todos os países com saldo comercial com os EUA superior a US$ 40 bilhões por ano e não apenas seus 12 maiores parceiros comerciais, como era antes. Os 21 países sob exame negociaram US$ 3,5 trilhões com os EUA em 2018, mais de 80% do comércio exterior do país.

Durante a campanha eleitoral, Trump acusou a China de manipular o câmbio, mas até hoje o Tesouro não formalizou a denúncia. Neste momento em que os dois países negociam um acordo de paz na sua guerra comercial, uma acusação dessas escalaria as tensões, exacerbadas desde que Trump aplicou tarifas de 25% sobre exportações chinesas no valor de US$ 200 bilhões anuais.

A China continua em observação porque o iuane (yuan) caiu 8% em relação ao dólar nos últimos 12 meses e, nas palavras do secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, tem "um saldo comercial bilateral extremamente grande e em expansão".

Em 2018, o déficit no comércio dos EUA com a China foi de US$ 419 bilhões. A maioria dos economistas atribui o déficit ao consumismo americano, mas Trump vê a economia como um jogo de soma zero, em que o ganho de uns é necessariamente a perda de outros. Então trava suas guerras comerciais, até agora sem sucesso na redução do déficit.

Há várias razões para discordar das práticas comerciais da China, que se tornou a fábrica do mundo absorvendo capital e tecnologia do mundo desenvolvido, com um custo de mão de obra baixíssimo que provocou o desemprego em muitos países ricos, inclusive nos EUA.

Como as práticas econômicas e comerciais da China afetam hoje todos os países do mundo, seria mais racional articular uma aliança e levar as questões para o painel de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Mas Trump é contra alianças e contra as instituições internacionais criadas pelos EUA. Quebra um paradigma da política externa americana que vem desde a Segunda Guerra Mundial: mesmo sendo a maior potência mundial, os EUA agem em conjunto com aliados no plano internacional.

Trump quer resolver tudo no mano a mano, em negociações bilaterais, confiando na superioridade dos EUA. É mais caro, desgastante e gerador de conflitos.

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