Diante da queda nos preços do petróleo, o segundo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed ben Salman, admitiu hoje em entrevista ao jornal The New York Times que o governo pode cortar os subsídios para água e energia e aumentar o imposto de valor agregado sobre cigarros e refrigerantes.
O príncipe revelou a intenção de privatizar minas e vender terras públicas para a construção civil. Também pretende reduzir o consumo interno de petróleo investindo mais em energia nuclear e energia solar.
Além de segundo príncipe herdeiro, Mohamed ben Salman, filho do rei Salman, é ministro da Defesa, presidente do comitê de economia e desenvolvimento e diretor do Centro Nacional de Performance, que fiscaliza a eficiência da burocracia governamental.
Com a queda nos preços do petróleo, há uma preocupação crescente em diversificar a economia, o que não aconteceu para valer desde a valorização da mercadoria a partir de 1973. "Os nossos principais desafios são a grande dependência do petróleo e onde gastar o orçamento."
Sem tantos subsídios, "mesmo que petróleo caia para US$ 30 por barril, Riade terá arrecadação suficiente para continuar construindo o país sem exaurir a poupança", acrescentou o príncipe Mohamed ben Salman.
Sob pressão da queda nos preços do petróleo e de uma população jovem, em que 70% dos 30 milhões têm menos de 30 anos, uma monarquia absolutista, um dos regimes mais fechados do mundo, discute reformas.
Durante o reino do sultão Abdala, que morreu em janeiro de 2015, a Arábia Saudita privatizou grandes estatais, abrindo vários setores ao investimento privado nacional e estrangeiro, mudou a legislação trabalhista e aderiu à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Como o wahabismo, a corrente do islamismo adotada oficialmente na Arábia Saudita, é acusada de ser a ideologia dos jihadistas da rede terrorista Al Caeda e do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, o terrorismo é uma grande preocupação. Mas a monarquia saudita põe a culpa num tradicional aliado.
"Não havia Estado Islâmico antes dos Estados Unidos se retirarem do Iraque. Com a saída dos EUA e a entrada do Irã, o EI apareceu", afirmou o príncipe, acusando também a República Islâmica do Irã, xiita, com quem a monarquia saudita, sunita, disputa a liderança regional no Oriente Médio.
Ele reclamou que o EI está atacando mesquitas sunitas no reino para desestabilizar a monarquia, o resto do mundo responsabiliza o país de ser a grande inspiração, de ser o verdadeiro Estado islâmico: "O Estado Islâmico diz que não sou muçulmano e o mundo diz que eu sou um terrorista."
Na sua opinião, a mensagem do EI nas redes sociais é clara: "O Ocidente está tentando impor suas ideias e o governo saudita está ajudando, enquanto o Irã tenta colonizar o mundo árabe. Nós somos os defensores do Islã."
Neste clima de guerra permanente no Oriente Médio, o príncipe saudita fez um apelo aos EUA para que não abandonem a região: "Há períodos em que há líder e outros em que não há. Quando não há líderes, é o caos."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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