Em comunicado divulgado na Internet, a organização terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante reivindicou hoje a responsabilidade pelos atentados que mataram pelo menos 128 pessoas ontem em Paris, descrita pelos jihadistas como "a capital do adultério e do vício". Outras 237 pessoas estão feridas, 99 em estado grave.
O grupo declara que estudou os alvos e mobilizou oito milicianos com explosivos levados junto ao corpo, além de fuzis de guerra, para atacar seis pontos diferentes de Paris. Oito terroristas foram mortos, mas se acredita que os que atacaram bares e restaurantes tenham conseguido fugir. O comunicado tenta proteger a fuga dos outros participantes.
Três terroristas suicidas morreram em ataques ao redor do Estádio da França, alvejado por se tratarem de "dois países cristãos" e pela presença do presidente François Hollande, retirado às pressas pelo serviço secreto depois da primeira explosão. Suspeita-se que os homens-bomba tenha tentado entrar no estádio, que estava com a segurança reforçada por causa do presidente francês.
Além dos jihadistas que atacaram, muito mais gente deve ter participado da organização da noite de terror em Paris para escolher alvos, escalar os milicianos, conseguir as armas e levá-los aos locais atacados.
A maior matança foi no teatro Bataclan, onde uma banda de rock pesado americana, Eagles of Death Metal, dava um show. Pelo menos 90 pessoas e quatro terroristas morreram lá. Um vídeo da fuga do público foi divulgado pelas Notícias do Yahoo.
Os atentados foram os mais violentos em uma década, desde o auge dos ataques espetaculares da rede terrorista Al Caeda contra Nova York e o Pentágono, nos EUA, em 11 de setembro de 2001, com quase 3 mil mortes; Báli, na Indonésia, onde 202 pessoas morreram em 12 de outubro de 2002; Madri, na Espanha, onde 191 pessoas foram mortas em explosões no metrô; e Londres, no Reino Unido, em 7 de julho de 2005, quando 52 pessoas morreram em ataques coordenados ao sistema de transportes.
A onda de terror em Paris se parece mais com o que aconteceu em Mumbai de 26 a 29 de novembro de 2008, quando a maior e mais rica cidade da Índia foi atacada em 12 pontos por 10 terroristas paquistaneses do grupo Lashkar-e-Taiba (Exército dos Puros). Em quatro dias, 164 pessoas foram mortas e 308 saíram feridas de ações contra hotéis de luxo, uma estação ferroviária, um centro comercial e um clube judaico.
Em 7 de janeiro deste ano, os irmãos Chérif e Saïd Kouachi, cidadãos franceses, metralharam a redação do jornal satírico Charlie Hebdo, que havia publicado caricaturas do profeta Maomé consideradas ofensivas à religião muçulmana. Doze pessoas foram mortas no ataque e na fuga. Um dos terroristas havia sido treinado no Iêmen pela rede Al Caeda na Península Arábica.
No dia seguinte, Amédy Coulibali matou uma policial numa cidade-satélite de Paris. Em 9 de janeiro, ele invadiu um supermercado de comida kosher e matou quatro pessoas antes de ser morto pela polícia.
Neste verão no Hemisfério Norte, em 21 de agosto, o marroquino Ayoub el-Kazzani saiu do banheiro de um trem que fazia a rota Amsterdã-Paris sem camisa, com um fuzil de guerra AK-47 e nove cartuchos de munição com um total de 270 balas.
Por sorte, havia um militar das Forças Armadas dos EUA, Spencer Stone, e um membro da Guarda Nacional, Alex Skarlatos, em férias na Europa. Com a ajuda de um amigo e outros passageiros, eles dominaram o terrorista e evitaram um massacre. Eles foram condecorados pelo presidente Hollande como heróis da França. Não é todo dia que um terrorista desajeitado tenta carregar suas armas diante de dois militares americanos.
Com 224 mortos, o abate de um avião de passageiros Airbus da companhia russa Metrojet na Península do Sinai, no Egito, em 31 de outubro de 2015, reivindicado pelo Estado Islâmico, foi o pior contra a aviação civil desde 11 de setembro de 2001. Há dois dias, um duplo atentado terrorista matou pelo menos 43 pessoas no Sul de Beirute, no Líbano, reduto da milícia fundamentalista xiita Hesbolá (Partido de Deus).
Sob bombardeios aéreos das duas maiores potências mundiais, os EUA e a Rússia, nos campos de batalha do Oriente Médio, o Estado Islâmico vê seu território encolher nas guerras civis do Iraque e da Síria - e apela ao terrorismo.
Para combater e acabar com o EI, é preciso primeiro lhe negar o controle dos territórios onde fundou um califado para se apresentar como um Estado. A discussão hoje é quem vai realizar a operação terrestre para reconquistar as terras tomadas pelos jihadistas.
Mas mesmo depois de derrotado no campo de batalha e acuado, o EI ainda terá o poder de realizar atentados espetaculares. A onda de terror em Paris é um exemplo. E o Rio de Janeiro deve estar preparado. Atacar pessoas que se divertem numa sexta-feira à noite no futebol, num show de rock, em bares e restaurantes é muito fácil.
O terror procura alvos fáceis e a sociedade democrática e liberal não tem como evitar essas tragédias sem uma militarização que comprometeria seus valores mais importantes.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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