domingo, 22 de novembro de 2015

Macri é favorito no segundo turno na Argentina

O prefeito da capital da Argentina, Mauricio Macri, e o governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, apoiado pela presidente Cristina Kirchner disputam hoje a Presidência da Argentina, que pela primeira vez será decidida no segundo turno. As pesquisas dão vantagem de oito a dez pontos percentuais ao oposicionista.

Quem quer que ganhe deve ser o fim do kirchnerismo, uma derivação da esquerda peronista que domina a política argentina desde 2003, quando Néstor Kirchner venceu o ex-presidente Carlos Menem, que não disputou o segundo turno para negar legitimidade ao adversário.

"Hoje é um dia histórico que vai mudar nossas vidas", declarou Macri depois de votar, enquanto Scioli que "hoje ganha o povo".

Depois de votar, a presidente Cristina Kirchner falou durante 28 minutos, o que lhe rendeu cinco denúncias apresentadas à Procuradoria Eleitoral por fazer campanha fora de hora.

O kirchnerismo se caracterizou por uma política de confrontação permanente que fez do "antogonismo sua razão de ser", observou hoje o jornalista Ricardo Kirschbaum, editor-chefe do jornal Clarín, perseguido pelo governo.

Seu primeiro alvo foi a "pátria financeira", os setores que lucraram com a dolarização da economia promovida por Menem, que desabou espetacularmente em 2001, dois anos depois que ele deixou o governo.

Com subsídios, ajuda direta aos pobres, que chegaram a ser 58% da população, e a renegociação da dívida, a Argentina retomou o crescimento econômico no embalo da alta nos preços dos produtos primários que exporta, especialmente carne e grãos.

Sob o desgaste das rixas políticas constantes, Kirchner indicou sua mulher, a senador Cristina Fernández de Kirchner, como sucessora. Já na campanha eleitoral de Cristina, em 2007, começou a manipulação das estatísticas, especialmente da inflação.

Em março de 2008, com Cristina na Casa Rosada, o governo aumentou as alíquotas dos impostos sobre exportações de grãos, que passaram de 35% em caso de grandes volumes, deflagrando uma greve de produtores rurais. O jornal Clarín apoiou os ruralistas, iniciando um conflito que Cristina tentou desmantelar o maior grupo de mídia argentino.

Os Kirchner travaram batalhas com os fazendeiros, os meios de comunicação, a Justiça e a Igreja Católica, até o cardeal Jorge Mario Bergoglio ser eleito papa. Néstor Kirchner chegou a chamar o arcebispo de Buenos de "oposição de batina". Perderam todas. A derrota nas eleições parlamentares de 2013 acabou com o sonho de permitir a reeleição sem limites do presidente.

Abandonada pelos sindicatos, tradicionalmente a base de poder da esquerda peronista, por causa do impacto da manipulação dos índices de inflação sobre os salários, Cristina se apoiou no grupo da juventude peronista La Cámpora, liderado por seu filho Máximo Kirchner, e na população mais pobre que depende dos subsídios governamentais.

Essa política de subsídios aumentou o déficit público para pelo menos 3,5% do produto interno bruto e gerou mais inflação, enquanto novo conflito com os credores que não aceitaram a renegociação da dívida isolou o país do mercado financeiro internacional, levando Cristina a fazer acordos com a China que afetam o Mercosul.

Mesmo que Scioli vença, o que é improvável, o novo governo terá de fazer um ajuste fiscal profundo, acabar com o confronto permanente com o empresariado, estimular o investimento estrangeiro e renegociar o acesso ao mercado financeiro internacional. Mas os fatores críticos para a situação política, econômica e financeira da Argentina vão persistir.

Só um longo período de crescimento sustentado que parece distante da América Latina permitirá atacar os problemas estruturais, a falta de competitividade de um mercado superprotegido por uma presidente costuma botar a culpa nos inimigos internos e externos por seus próprios erros.

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