Em pronunciamento no Royal Institute of International Affairs, o primeiro-ministro David Cameron apresentou hoje suas exigências para renegociar as relações do Reino Unido com a União Europeia e evitar a saída do país do bloco em referendo a ser realizado provavelmente em 2017.
As reivindicações vão contra o espírito da integração europeia, repudiam a união política e deixam o Reino Unido numa posição de membro de uma área de livre comércio e união aduaneira, mas não de um mercado comum.
O primeiro-ministro conservador acenou com a possibilidade de um referendo se fosse reeleito numa tentativa de pacificar seu próprio partido, dividido entre pertencer ou não à UE desde a era de Margaret Thatcher. A pressão aumentou nos últimos anos com o crescimento do Partido da Independência do Reino Unido, que obteve 26,6% dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu em 2014.
Cameron quer dar ao Parlamento Britânico o direito de veto sobre a legislação europeia. Se a Câmara dos Comuns não aprovar uma lei europeia, o país terá o direito de não obedecê-la. Ao mesmo tempo, quer impedir qualquer tipo de discriminação aos países que não adotaram o euro como moeda dentro do mercado comum europeu. Também quer reduzir a imigração da cidadãos de outros países do bloco e negar benefícios previdenciários a estrangeiros, contrariando o princípio da livre circulação de pessoas no mercado comum.
As pesquisas indicam a vantagem dos eurocéticos, mas o Reino Unido acaba de receber promessas de investimento maciço da China que não virá se o país abandonar a UE. Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama também advertiu que a importância estratégica do Reino Unido será consideravelmente reduzida fora do bloco europeu.
Com a crise das dívidas públicas de países da periferia da Zona do Euro (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália), alguns analistas econômicos acreditam que uma união monetária só pode funcionar se houver também uma união fiscal, com transferência de recursos dos países ricos para os mais pobres, e uma união bancária para sustentar os depósitos feitos em todos os países-membros.
A união fiscal e a união bancária exigem algum tipo de união política e o Reino Unido não quer pertencer aos Estados Unidos da Europa, embora talvez esta seja a única saída para manter a importância geopolítica do continente no século 21.
Ao mesmo tempo, ao ficar na zona de livre comércio, o Espaço Econômico Europeu, o Reino Unido teria de aceitar todas as leis, normais e regras do mercado comum sem ter direito de votar nelas. Ficaria à margem de decisões importantes sobre seu próprio futuro. Por fim, o centro financeiro de Londres seria esvaziado.
Sem o Reino Unido, a UE ficaria mais fraca política, econômica e militarmente. Mas o país pode assinar sua sentença de morte. O movimento pela independência da Escócia cresceu. O Partido Nacional Escocês teve enormes ganhos nas últimas eleições.
Se o Reino Unido sair da UE, a Escócia provavelmente vai declarar a independência e ficar na Europa. O maior império que o mundo jamais viu ficaria reduzido à pequena Inglaterra e ao País de Gales e abdicaria de qualquer influência significativa na política internacional. Seria um fim melancólico.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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