quinta-feira, 26 de novembro de 2015

"Querem me matar", diz mulher de oposicionista preso na Venezuela

Um dia depois do assassinato de um líder municipal do partido de oposição Ação Democrática (AD) que estava a seu lado num comício, Lilian Tintori acusou o regime chavista da Venezuela de tentar matá-la, noticiou hoje o jornal espanhol El País.

"Querem me matar", afirmou Lilian, mulher de Leopoldo López, condenado a 14 anos de prisão sob a falsa acusação de incitar à violência durante uma onda de protestos em fevereiro de 2014. "O sangue espirrou em mim."

Lilian Tintori participava de um ato da campanha para as eleições parlamentares de 6 de dezembro, quando o regime deve perder a maioria na Assembleia Nacional pela primeira vez desde a ascensão de Hugo Chávez.

"Ainda estávamos no palanque. Rummi [Olivo, um cantor popular] ia começar a cantar e, naquele momento, se escutou muito de perto uma rajada de metralhadora de dez tiros. Nós nos atiramos no chão e eu fiquei me tocando porque sentia que eram contra mim. Querem me matar", insistiu Lilian.

No ataque, morreu o secretário-geral do diretório municipal da AD em Altagracia de Orituco, Luis Manuel Díaz, e outra pessoa saiu ferida. O secretário-geral nacional do partido, Henrt Ramos Allup, declarou que os tiros partiram de um carro de militantes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

Em discurso, o presidente Nicolás Maduro definiu o assassinato de um político no palanque como crime comum: "O Ministério do Interior já tem elementos que mostram um acerto de contas entre quadrilhas rivais."

A conselho de Ramos Allup, Tintori passou a noite no estado de Guárico.

Para o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o ex-ministro do Exterior uruguaio Luis Almagro, o assassinato foi "uma ferida mortal na democracia" e não é um caso isolado: "Acontece de forma conjunta com ataques a outros dirigentes de oposição em uma estratégia para amedrontá-los. É hora de pôr fim ao medo. Cada morte na Venezuela hoje dói em toda a América."

Maduro ficou furioso. Chamou Almagro, ex-chanceler do governo esquerdista de José Mujica, de "lixo", acusando-se de agir "contra a Venezuela, contra o povo e contra a revolução bolivarista".

Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado americano, John Kirby, considerou o assassinato a maior violência de uma campanha eleitoral marcada por ataques e intimidações - e pediu proteção aos candidatos. Em Madri, o ministro do Exterior da Espanha, José Luis García, pediu uma investigação independente e garantias de que as eleições serão livres e limpas.

O Parlamento Europeu aprovou o envio de comissão para supervisionar as eleições. A missão de "acompanhamento" da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) condenou a morte e cobrou uma "investigação profunda".

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