A "arrogância" e a "linha-dura" do vice-presidente Dick Cheney e do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, na resposta aos atentatos terroristas de 11 de setembro de 2001 prejudicaram o governo de seu filho e os Estados Unidos, acusa uma nova biografia chamada Destino e Poder: a odisseia americana de George Herbert Walker Bush.
O livro escrito por Jon Meacham se baseia em gravações diárias feitas durante a presidência de George Bush sênior (1989-93) e entrevistas com o ex-presidente e sua mulher, Barbara Bush, noticia hoje o jornal inglês The Guardian.
Richard Cheney foi secretário da Defesa de Bush sr. Teria mudado depois do 11 de setembro: "Não sei, ele se tornou muito linha-dura e muito diferente do Dick Cheney que eu conhecia e com quem tinha trabalhado na reação e no que fazer com o Oriente Médio. Foi muito cu-de-ferro. Aparentemente se rendeu aos durões que querem lutar em todos os casos, usar a força para conseguir o que queremos no Oriente Médio."
Ao mesmo tempo, ele defendeu George Walker Bush: "Ele é meu filho, fez o melhor e o apoio. É simples assim". Mas criticou o filho por permitir que Cheney criasse "uma espécie de seu próprio Departamento de Estado" e pelo discurso inflamado na resposta aos atentados de 2001.
"Preocupo-me com parte da retórica daquele tempo, em parte dele e também das pessoas ao redor dele. Uma retórica inflamada chega às manchetes com grande facilidade, mas não necessariamente resolve os problemas diplomáticos", declarou Bush pai ao biógrafo.
O famoso discurso sobre o Estado da União feito pelo filho perante o Congresso em janeiro de 2002 denunciando um suposto eixo do mal (Coreia do Norte, Irã e Iraque) não escapou da crítica: "Pode ficar provado historicamente que não ajudou em nada."
De fato, depois do discurso e da invasão do Iraque em 2003, a Coreia do Norte e o Irã aceleraram o desenvolvimento de armas atômicas como única garantia contra uma intervenção dos EUA.
Rumsfeld, secretário da Defesa durante a maior parte dos governos do filho, é descrito como um "cara arrogante": "Não gosto do que ele fez e acredito que ele prejudicou o presidente. Nunca fui próximo a ele, de qualquer maneira. Há uma falta de humildade, de ouvir o que os outros pensam. Ele é mais de chutar traseiros, pegar nomes e números. Pagou um preço por isso."
Em entrevista à televisão conservadora Fox News, Cheney considerou a acusação de cu-de-ferro um elogio: "Recebi com um orgulho. O ataque de 11 de setembro foi pior do que o que Pearl Harbor em termos do número de mortos e dos danos produzidos. Penso que muita gente acreditava então, e acredita até hoje, que fui agressivo na defesa e implementação das políticas que eu pensava serem corretas."
O ex-vice-presidente recomendou a leitura: "O diário é fascinante porque você pode ver como ele se sentiu em vários momentos-chaves de sua vida. Estou apreciando o livro. Recomendo aos meus amigos e tenho orgulho de fazer parte dele."
Cheney negou que ele e a filha Liz Cheney fossem eminências pardas do governo de Bush júnior: "Talvez seja sua visão do que aconteceu, mas minha família não estava conspirando para de alguma forma me tornar num indivíduo mais duro, mais nariz-de-ferro. Cheguei lá por mim mesmo."
George W. Bush declarou que seu pai "nunca diria para mim: 'Ei, você precisa controlar Cheney. Ele está arruinando seu governo.' Seria algo que não faz parte do seu caráter. Tomei minhas decisões. Era minha filosofia. É verdade que minha retórica foi muito forte e pode ter incomodado algumas pessoas. Obviamente incomodou, inclusive meu pai, mas ele nunca mencionou isso."
Bush sr. chegou à Casa Branca depois de uma longa carreira. Foi deputado federal, presidente do Partido Republicano, diretor da CIA (Agência Central de Inteligência), embaixador na China e na ONU, e vice-presidente nos governos Ronald Reagan (1981-89). Estava preparado para ser presidente. Foi um conservador moderado num partido que se radicalizava desde a era Reagan.
Ex-governador do Texas, Bush jr. era simplesmente o "candidato conservador mais elegível do país" em 2000, depois de dois governos democratas de Bill Clinton, nas palavras de um líder da Coalizão Cristã na época. Playboy, foi alcoólatra e usuário de drogas na juventude até se converter a um cristianismo reacionário.
Desde a batalha judicial em torno dos votos na Flórida que garantiram sua vitória sobre o então vice-presidente Al Gore na eleição presidencial de 2000, quando perdeu nacionalmente no voto popular, Bush jr. deixou claro que confiava nos amigos do pai para se livrar de problemas. Seu advogado perante a Suprema Corte foi o ex-secretário de Estado e ex-secretário do Tesouro James Baker.
Sem experiência internacional, ao convidar Cheney para vice, colocou uma sombra sobre si mesmo. Foi presa fácil dos neoconservadores convencidos de que os EUA não tinham tirado todo o proveito da vitória na Guerra Fria e queriam usar a força para impor suas ideias em escala planetária.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
George Bush pai culpa Cheney e Rumsfeld por fracasso do filho
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