Com o fim das sanções internacionais ao Irã, a ex-república soviética da Armênia pode se tornar um importante país de trânsito do petróleo e do gás natural iranianos para o Ocidente através de portos de ex-república soviética da Geórgia. Em sua obstinação de manter o controle sobre as repúblicas da antiga União Soviética, o presidente Vladimir Putin mobiliza recursos para garantir a influência da Rússia.
Além de aumentar sua participação econômica na Armênia, o governo russo pressiona armênios importantes residentes na Rússia a entrar na política em seu país de origem. O Kremlin visa a isolar a Armênia para afastá-la do Ocidente e mantê-la na sua esfera de influência. Ao lançar na política armênios que vivem na Rússia, quer defensores de seus interesses em Ierevã.
Desde o colapso da URSS, a Armênia vive isolada entre a ex-república soviética do Azerbaijão, com que disputa o território de Alto Karaback, e a Turquia, inimiga histórica desde o Genocídio Armênio (1915-16), que apoia os azerbaijanos. Sob pressão, a Armênia recorreu à Rússia. Os dois países têm em comum a cultura cristã ortodoxa.
Durante as negociações com as grandes potências com direito de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Irã se aproximou da Armênia como possível via de escoamento de suas exportações do setor de energia. Com a discórdia em relação à guerra civil na Síria, onde Irã apoia o ditador Bachar Assad e a Turquia quer derrubá-lo, a Turquia deixou de ser uma opção para o petróleo e o gás natural iranianos.
No momento, Armênia e Irã discutem a construção de uma estrada de ferro de US$ 3,7 bilhões ligando os dois países. A Rússia é contra o projeto. O Irã cogita então fazer uma ligação ferroviária com o Azerbaijão, inimigo da Armênia.
Não é a única manobra russa para sabotar a aproximação entre a Armênia e o Irã. Em 9 de agosto, os dois países firmaram um convênio para construir a terceira linha de transmissão de energia de alta voltagem entre si. A empresa estatal russa Gazprom já teria obtido o direito de usar a energia para suas exportações.
A Gazprom e outra companhia russa, o grupo Tachir, domina as redes de distribuição de energia elétrica e de gás na Armênia. Com uma fortuna estimada em US$ 4,8 bilhões, o dono do grupo Tachir, Samuel Karapetian, é um dos armênios residentes na Rússia que o Kremlin quer lançar na política.
Outro candidato em potencial é o atual presidente da União dos Armênios na Rússia, Ara Abrahamian. Em 14 de outubro, ele anunciou a fundação de um partido para disputar as eleições parlamentares armênias em 2017.
As relações bilaterais enfrentam problemas. Em janeiro, um soldado das forças russas estacionadas no país matou uma família armênia inteira. O Kremlin aceitou que ele fosse julgado pela Justiça da Armênia, mas o crime estimulou o sentimento antirrusso.
Um aumento no preço da eletricidade imposto por uma empresa russa deflagrou uma onda de protestos. Com a Rússia em crise por causa das sanções contra a intervenção militar na Ucrânia e a queda nos preços do petróleo, a economia da Armênia também sofre. Mas o domínio de empresas russas sobre o setor de energia de Armênia vai dificultar a negociação para se tornar um país de trânsito para as exportações iranianas.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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