Diante da espetacular intervenção militar da Rússia na guerra civil da Síria, os Estados Unidos estão recalibrando sua estratégia na guerra contra o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, deflagrando uma nova ofensiva com o Exército iraquiano e milícias aliadas para retomar a cidade de Ramadi, capital da província de Ambar, conquistada pelos jihadistas em 17 de maio de 2015.
Com cobertura da Força Aérea dos EUA, as forças iraquianas tomaram hoje uma ponte a 14 quilômetros do centro da cidade, anunciou o Comando de Operações do Exército do Iraque em Ambar. Dezenas de milicianos do Estado Islâmico teriam morrido em combates em Faluja e perto de Ramadi, informou a agência iraquiana Shafaq News.
Ontem, o porta-voz do comando militar americano na coalizão aérea contra o Estado Islâmico, coronel Steve Warren, confirmou que o Exército do Iraque estava pronto para reconquistar Ramadi. Hoje, a bandeira iraquiana tremula sobre a ponta Albu Faraj, que liga a cidade ao distrito de Albu Faruj por sobre o Rio Eufrates.
Tanto os EUA quanto o Iraque precisam de uma vitória sobre o Estado Islâmico para recuperar a moral. No caso americano, por causa da intervenção russa na Síria. No Iraque, o primeiro-ministro Heidar al-Abadi enfrenta um movimento de protesto crescente. Há rumores de golpe militar articulado pelo ex-primeiro-ministro Nuri al-Maliki e seus aliados iranianos, e a economia sofre com a queda nos preços internacionais do petróleo.
Dezesseis meses depois da queda de Mossul, a segunda maior cidade do país, a unidade do Iraque está cada vez mais ameaçada. Muitos analistas internacionais consideram inevitável a divisão do país, arrasado pela invasão dos EUA em 2003.
A autonomia da região curda no Norte do país se consolida cada vez mais. Com o apoio dos EUA, os peshmerga (guerrilheiros curdos) são a principal resistência ao Estado Islâmico. O governo dominado pela maioria árabe xiita, aliado do Irã, só controla o Centro e o Sul do Iraque, aprofundando as divisões étnicas e religiosas. A maior parte das áreas de maioria sunita está sob o domínio do Estado Islâmico.
Uma vitória em Ramadi vai melhorar a força moral da tropa, mas não resolve os problemas do país. Os jihadistas devem fugir para o deserto, onde terão a proteção de tribos sunitas que têm mais identidade com eles do que os americanos ou o governo xiita.
Essa divisão interna e a crise econômica enfraquecem o Iraque, complicam as ações militares contra o Estado Islâmico e tornam o país um campo de batalha dos candidatos a potências regionais no Oriente Médio: a Arábia Saudita, o Irã e a Turquia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
EUA e Exército do Iraque lançam ofensiva para retomar Ramadi
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