O governo da Turquia decretou luta nacional por três dias depois de um duplo atentado terrorista suicida contra uma manifestação pela paz que matou pelo menos 97 pessoas e feriu outras 180 hoje em Ancara, a capital do país, informou o jornal turco Hürriyet. Até agora, ninguém assumiu a autoria do ataque.
As explosões aconteceram por volta das dez da manhã (4h em Brasília) perto da estação central de trens da cidade no início da manifestação Paz, Trabalho e Democracia, convocada por sindicatos e outras entidades da sociedade civil para protestar contra o reinício da guerra civil contra os guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
A três semanas das eleições parlamentares, pode ser um sinal de aumento da violência. Os principais suspeitos são a organização terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante e o próprio PKK, mas também estão na lista grupos de extrema direita anticurdos e agentes do próprio governo, que teria interesse em distúrbios para justificar medidas excepcionais no período eleitoral.
Dentro de sua estratégia para tirar legitimidade do Partido Democrático Popular (HDP), curdo moderado, socialista democrático e anticapitalista, o governo tenta associá-lo ao PKK, considerado um grupo terrorista pelos Estados Unidos e a União Europeia, e aos guerrilheiros que lutam pela independência do Curdistão.
Ao superar a barreira dos 10% e entrar na Assembleia Nacional nas eleições de junhos, o HDP tirou a maioria parlamentar do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), do presidente Recep Tayyip Erdogan e do primeiro-ministro Ahmet Davutoglu, que está no poder desde 2002.
Sem condições de formar uma maioria estável, o governo islamita moderado convocou novas eleições para 1º de novembro de 2015. A oposição acusa o regime de ser responsável pela violência.
Depois de um atentado terrorista suicida atribuído ao Estado Islâmico que matou 32 pessoas em Suruç em 20 de julho, Erdogan ordenou uma intervenção direta na guerra civil da Síria. A pretexto de combater o Estado Islâmico, a Turquia passou a bombardear não só posições da milícia jihadista, mas também dos guerrilheiros curdos ligados ao PKK.
O objetivo é evitar a união da região autônoma curda do Norte do Iraque com áreas da Síria controladas pelos curdos para inviabilizar a fundação do Curdistão, que reivindicaria parte do Sudesde da Turquia, onde os curdos são maioria.
Desde a ruptura do cessar-fogo com os curdos, centenas de pessoas foram mortas na Turquia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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