O presidente Recep Tayyip Erdogan advertiu hoje que a importação de gás natural e a construção da primeira usina nuclear da Turquia, com tecnologia russa, estão ameaçados por causa da intervenção militar do Kremlin na Síria e da invasão do espaço aéreo turco por caças-bombardeiros da Rússia, noticiou a Agência France Presse (AFP).
A Turquia é um dos maiores importadores de gás natural russo. Os dois países têm um projeto conjunto para construir o gasoduto TurkStream (Fluxo Turco). Para a Rússia, é uma alternativa ao gasoduto que passa pela ex-república soviética da Ucrânia, que também sofre uma intervenção militar russa.
A Rússia já investiu US$ 3 bilhões na construção da usina nuclear de Akkuyu, um projeto de US$ 20 bilhões. Erdogan alertou que a Turquia pode comprar gás natural de outro país e o mesmo vale para a usina atômica.
Ao intervir militarmente na Síria, o presidente Vladimir Putin estragou a intervenção de Erdogan, que desde junho, sob o pretexto de combater o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, bombardeia rebeldes curdos ligados ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). O governo turco também pretendia criar uma zona de proibição de voo uma e "zona de segurança" em território sírio para instalar os 2,5 milhões de refugiados que vivem hoje na Turquia.
Com as violações do espaço aéreo turco por caças-bombardeiros russos que miraram agressivamente seus mísseis nos caças turcos que os interceptaram, Putin deixa claro que não aceita uma zona de exclusão aérea na Síria. Os Estados Unidos sempre foram contra a ideia.
A Turquia é um país-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar liderada pelos EUA, criada durante a Guerra Fria sob o princípio de que um ataque contra qualquer país é um ataque contra todos. Se a Turquia quiser impor uma "zona de segurança" na Síria e a Rússia não aceitar, a OTAN é obrigada a defender o aliado.
Na visão de Erdogan, o ditador Bachar Assad é o maior responsável pela guerra civil na Síria e a expansão do Estado Islâmico. Mas a Turquia não conseguiu convencer os EUA a atacar também o regime sírio e um objetivo central da intervenção russa é manter o aliado Assad no poder.
Se Assad caísse, provavelmente ascenderia um regime dominado pela maioria sunita. Isso aumentaria a área de influência da Turquia, uma potência regional do Oriente Médio, ao lado de Israel, Arábia Saudita, Egito e Irã.
Ao mesmo tempo, Erdogan quer inviabilizar a fundação de um Curdistão independente unindo a região autônoma curda do Norte do Iraque com áreas da Síria tomadas do Estado Islâmico por guerrilheiros curdos. Os curdos são a maior nação do planeta sem um Estado nacional. A maioria vive no Sudeste da Turquia, que seria reivindicado pelo novo país.
A "zona de segurança" também serviria para manter distância do califado do Estado Islâmico.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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