A
Argentina vota hoje em eleições presidencial e parlamentares que devem marcar o
fim da era Kirchner, iniciada em 2003, com a eleição de Néstor Kirchner em meio
à pior crise econômica da história de um país moderno.
Além do presidente, serão eleitos 130 deputados (metade da Câmara), 24 senadores (um terço do Senado) e 43 parlamentares do Parlasul, o Parlamento do Mercosul.
Além do presidente, serão eleitos 130 deputados (metade da Câmara), 24 senadores (um terço do Senado) e 43 parlamentares do Parlasul, o Parlamento do Mercosul.
O
candidato oficial, Daniel Scioli, governador da provincial de Buenos Aires, é o
favorito. Pode ganhar no primeiro turno se obtiver 45% dos votos válidos ou 40%
e uma vantagem de dez pontos sobre o segundo colocado.
Nas
últimas pesquisas, Scioli tem de 38% a 41% votos. Em segundo lugar, está o
prefeito de Buenos Aires e ex-presidente do Boca Juniors, Mauricio Macri, de
centro-direita, herdeiro político do menemismo, com 27% a 31%.
O
terceiro colocado é o deputado Sergio Massa, ex-ministro-chefe da Casa Civil do
governo Cristina Kirchner com 20% a 23% das preferências. Se houver segundo
turno, previsto para 22 de novembro, seu cacife aumenta.
Para
o Brasil, mais importante é a recuperação econômica da Argentina, o que deve
acontecer com qualquer governo, dado o desastre das políticas econômicas do
kirchnerismo. Os controles de preços que faziam sentido depois do colapso da
dolarização da era Carlos Menem, em 2001, prejudicam a economia do país desde o
agravamento da crise financeira internacional, no primeiro ano do primeiro
governo de Cristina Kirchner.
Diante
da crise, além de manipular os índices de inflação desde a primeira campanha presidencial
de Cristina, em 2007, o governo aumentou sua política de confrontação com
setores empresariais e os credores internacionais, elevou os impostos sobre
exportações de grãos causando uma greve de produtores rurais, atacou a imprensa
crítica do governo, comprou uma nova briga com credores que não aceitaram a
renegociação da dívida, controlou o câmbio e as exportações.
Com sua confrontação também com as potências ocidentais, terminou por apelar para a China, o que abala as pretensões do Brasil à liderança regional à medida que diminui a hegemonia dos EUA sobre a América Latina. Melhorar as relações com os EUA será prioridade do novo presidente argentino, seja quem for.
A presença dos três principais candidatos na festa de aniversário do jornal oposicionista Perfil é um sinal do fim da guerra dos Kirchner contra a grande imprensa argentina. O Clarín, maior jornal do país, apoiou Néstor Kirchner e a reconstrução do país depois do colapso da dolarização. Passou para a oposição em 2008, durante a paralisação dos produtores rurais.
Para enfrentar a mídia de oposição, o governo Cristina Kirchner aprovou a Lei de Meios de Comunicação. Apesar dos inegáveis méritos de regulamentar o setor para combater monopólios, a lei virou um instrumento para perseguir críticos do regime e sufocar empresas, muitas vendidas a aliados do kirchnerismo. Os três candidatos querem paz também nesta frente de luta do kirchnerismo.
Com sua confrontação também com as potências ocidentais, terminou por apelar para a China, o que abala as pretensões do Brasil à liderança regional à medida que diminui a hegemonia dos EUA sobre a América Latina. Melhorar as relações com os EUA será prioridade do novo presidente argentino, seja quem for.
A presença dos três principais candidatos na festa de aniversário do jornal oposicionista Perfil é um sinal do fim da guerra dos Kirchner contra a grande imprensa argentina. O Clarín, maior jornal do país, apoiou Néstor Kirchner e a reconstrução do país depois do colapso da dolarização. Passou para a oposição em 2008, durante a paralisação dos produtores rurais.
Para enfrentar a mídia de oposição, o governo Cristina Kirchner aprovou a Lei de Meios de Comunicação. Apesar dos inegáveis méritos de regulamentar o setor para combater monopólios, a lei virou um instrumento para perseguir críticos do regime e sufocar empresas, muitas vendidas a aliados do kirchnerismo. Os três candidatos querem paz também nesta frente de luta do kirchnerismo.
Scioli,
vice de Kirchner no primeiro mandato, não era o favorito de Cristina, mas sim o
candidato mais elegível da coalizão governista. Representa ao mesmo tempo o
desejo do eleitorado argentino de acabar com a política de confronto permanente
de Néstor e Cristina Kirchner sem um corte radical dos subsídios que garantem
certa proteção social num país empobrecido.
Por
outro lado, como o peronismo é uma força política que historicamente foi da
extrema direita à extrema esquerda, um grande saco de gastos onde tudo
cabe, até o americanismo de Menem, totalmente contrário ao que dizia o general
Juan Domingo Perón, quando um novo presidente chega à Casa Rosada trata de
assumir o controle do movimento, muitas vezes se livrando de quem os levou até
lá.
Néstor
Kirchner concorreu como candidato da esquerda peronista, indicado por Eduardo
Duhalde, vice de Menem no primeiro governo que foi derrotado pelo radical
Fernando de La Rúa em 1999 e assumiu a Presidência no auge da crise. Ao chegar ao poder, e especialmente
depois de renegociar a dívida, tratou de descartar Duhalde. Em 2005, Cristina
concorreu à senadora pela provincial de Buenos Aires contra Hilda Chiche Duarte, numa guerra de
primeiras-damas.
Talvez
Scioli não tenha uma base suficientemente forte no peronismo para desafiar
Cristina, mas certamente não está lá simplesmente para esquentar a cadeira para
a chefe como pretende a presidente das Mães da Praça de Maio, Estela Carlotto,
eternamente grata aos Kirchner por botar na cadeia os torturadores e assassinos
da última ditadura militar e por recuperar seu próprio neto.
Ao
manipular a inflação, Cristina perdeu o apoio dos sindicatos, principal base política do peronismo. A partir daí, Scioli pode
criar sua base. É certo que tentará compor com os setores empresariais para
destravar a economia argentina e levar o país de volta do reino desencantado do
kirchnerismo à realidade.
Como
observa o ex-secretário de Comércio Dante Sica, qualquer que seja o presidente
terá de fazer um ajuste fiscal forte para conter a inflação, cortar subsídios e
liberar preços.
Embora
não seja tratado pela imprensa brasileira como peronista, o empresário Mauricio Macri, ex-presidente do Boca, é um herdeiro do peronismo de direita e do
menemismo. Sua ênfase será na normalização da economia, no controle da
inflação, na retomada do crescimento e na reabertura da economia.
A
exemplo de Menem, sua política econômica deve ser mais orientada para os EUA,
mas ele não ignora a importância econômica do Brasil e da China. Sua eleição
ajudaria a resgatar o papel do Mercosul em negociações de liberalização
comercial, se o regime chavisa da Venezuela permitisse.
O
terceiro colocado nas pesquisas, Sérgio Massa, foi ministro de Cristina.
Representa uma esperança de renovação do peronismo. Mesmo que feche com Macri
caso haja segundo turno, dificilmente conseguiria transferir uma quantidade de
votos suficientes para superar Scioli, que pode ganhar no primeiro turno.
O
governo Dilma Rousseff aposta na vitória de Scioli por afinidade ideológica com o
kirchnerismo, mas o protecionismo de Cristina e suas concessões à China não
ajudaram as relações bilaterais. Quem quer que seja eleito não pode continuar a
estratégia populista de Cristina.
Uma coisa é certa: o vencedor será um peronista, de direita ou de esquerda. O movimento ganhou nove das 11 eleições que disputou. Perdeu para Raúl Alfonsín e De la Rúa, ambos da União Cívica Radical, que deixaram seus governos antes do fim em meio a crises econômicas gravíssimas, tornando o partido inelegível.
Uma coisa é certa: o vencedor será um peronista, de direita ou de esquerda. O movimento ganhou nove das 11 eleições que disputou. Perdeu para Raúl Alfonsín e De la Rúa, ambos da União Cívica Radical, que deixaram seus governos antes do fim em meio a crises econômicas gravíssimas, tornando o partido inelegível.
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