A Jordânia se ofereceu para sediar um encontro trilateral entre o governo de Israel, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) e o secretário de Estado americano, John Kerry, para tentar aliviar a tensão deflagrada por uma rebelião generalizada de jovens palestinos contra a ocupação israelense, que já dura mais de 48 anos, noticiou o jornal The Jordan Times.
Pelo menos sete israelenses e 30 palestinos foram mortos numa onda de violência que começou no início deste mês com ataques de jovens árabes contra judeus. Alguns observadores, inclusive o jornal francês Le Monde, falam uma terceira intifada, a Intifada das Facas.
Hoje os palestinos tocaram fogo num santuário judaico na cidade de Nablus, a Tumba do Patriarca José, e convocaram protestos generalizados.
A revolta é resultado de uma estagnação no processo de paz. O presidente da ANP, Mahmoud Abbas, se nega a negociar enquanto Israel não congelar a ampliação das colônias judaicas ilegais instaladas nos territórios ocupados violando o direito internacional. O governo linha-dura de Israel, onde vários partidos se negam a devolver a Cisjordânia, alega então que os palestinos não querem negociar.
Na prática, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que chegou a declarar na campanha que se fosse reeleito jamais permitiria criação de um Estado Nacional palestino, está preocupado com o programa nuclear do Irã e o crescimento de grupos terroristas como o Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Não vê nos palestinos uma ameaça à segurança de Israel. Mas o clima de anarquia deflagrado pela revolta generalizada favorece a adesão de jovens sem esperança a milícias extremistas.
A causa imediata da revolta é a disputa por um lugar considerado sagrado para o islamismo e o judaísmo, que os judeus chamam de Monte do Templo e os muçulmanos de Esplanada das Mesquitas. De um lado, o Muro das Lamentações, o muro ocidental do antigo Templo de Jerusalém, é o local mais sagrado para os judeus.
Subindo ao alto do monte, fica a Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar mais sagrado do Islã, de onde o profeta Maomé teria ascendido ao céu. Quando Israel ocupou a Cisjordânia, inclusive o setor oriental (árabe) de Jerusalém, na Guerra dos Seis Dias, em 1967, deixou a administração das mesquitas a cargo da Jordânia. Pelo acordo, os judeus podem visitar a esplanada, mas não fazer orações.
Hoje a direita israelense, cada vez mais determinada a não devolver a Cisjordânia ocupada, desafia essa regra. O sonho dos fundamentalistas judaicos é reconstruir o Templo de Jerusalém, o que obrigaria a derrubar ao menos parte das mesquitas. É um barril de pólvora.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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