Sob o impacto da crise dos refugiados, o partido conservador Lei e Justiça, nacionalista, católico e antieuropeu, venceu hoje as eleições parlamentares com 39,1% dos votos e terá maioria absoluta de 242 dos 460 deputados da Assembleia Nacional da Polônia.
A primeira-ministra demissionária, Ewa Kopacz, reconheceu a derrota de seu partido, a Plataforma Cívica, que estava no poder há oito anos e teve apenas 23,4% dos votos conquistando 133 cadeiras.
O partido Lei e Justiça é liderado pelo ex-primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski, mas deve indicar Beata Szydlo para próxima primeira-ministra. Quer fortalecer os poderes do presidente e do chefe de governo, criando um regime mais centralizado. Também quer aumentar a influência do Executivo sobre o Judiciário, os meios de comunicação e os serviços secretos.
Em política social, os conservadores prometeram programas com custo estimado em 9 a 14 bilhões de euros (R$ 38,5 bi a R$ 60 bi), inclusive medicamentos grátis para maiores de 75 anos, uma bolsa-família de 500 zlótis (pouco menos de R$ 500) por crianças e a redução da idade mínima para aposentadoria para 60 anos para mulheres e de 65 anos para homens. Hoje é de 65 para mulheres e de 67 para homens.
Uma das causas da derrota do governo foi a crise dos refugiados das guerras na África e no Oriente Médio que chegam em massa à União Europeia. Os antigos países comunistas da Europa Oriental, que ainda não atingiram o nível de desenvolvimento da Europa Ocidental, são contra a política de portas abertas da chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela Merkel, e a divisão dos refugiados entre os 28 países-membros do bloco.
Eurocético até onde isso é possível num país que se beneficiou extraordinariamente da adesão à UE, o novo governo vai explorar a crise dos refugiados prometendo repolonizar o país. Isso significa desde atrair de volta os poloneses que emigraram para a Europa mais rica a sobretaxar setores dominados pelo capital estrangeiro como bancos e supermercados.
Depois de oito anos em que a Plataforma Cívica reaproximou a Polônia da Alemanha e fortaleceu a identidade europeia do país, sob a liderança do ex-primeiro-ministro Donald Tusk, a situação está mudando.
Sem cogitar a saída da UE como os conservadores eurofóbicos do Reino Unido, o novo governo pode se aliar ao primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban. Kaczynski elogia o nacionalismo econômico húngaro, mas desaprova as tentativas de Orban de se aproximar da Rússia de Vladimir Putin, vista hoje como a grande inimiga da Polônia, especialmente depois da intervenção militar na vizinha Ucrânia.
Na política externa, o partido Lei de Justiça deve reaproximar o país dos Estados Unidos, pedindo reforço na presença militar americana em território japonês, se opor a qualquer nova transferência de poderes para a UE e não se comprometer com metas para corte das emissões de gás carbônico na Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, marcada para dezembro de 2015 em Paris. A indústria do carvão ainda é a mais forte do setor de energia na Polônia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
domingo, 25 de outubro de 2015
Direita conservadora vence eleições na Polônia
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