No meio a uma onda de prisões e expurgos de mais de 60 mil pessoas em reação ao fracassado golpe militar de 15 de julho, o presidente Recep Tayyip Erdogan decretou estado de emergência na Turquia por três meses, aumentando o autoritarismo que marca seu governo nos últimos anos.
Durante um discurso encerrado pouco antes da meia-noite pela hora local, Erdogan insistiu em que as medidas visam apenas a proteger a democracia no país, mas é evidente que o presidente aproveita a oportunidade para concentrar mais poderes.
"Nosso Conselho de Ministros decidiu instaurar o estado de emergência por três meses", afirmou o presidente, declarando ser "necessário para erradicar rapidamente todos os elementos da organização terrorista implicada na tentativa de golpe de Estado".
O governo turco acusa o movimento gulenista Hixmat de criar um "Estado paralelo" e de ser responsável pela tentativa de golpe. Um ministro chegou a acusar os Estados Unidos, onde Mohamed Fethullah Gülen vive em autoexílio desde que rompeu com Erdogan.
Mais cedo, em entrevista à televisão árabe especializada em jornalismo Al Jazira, o Sultão, como Erdogan é chamado ironicamente pelos críticos, sugeriu que "outros países podem estar implicados". Apesar da recente reaproximação com Israel, analistas políticos israelenses temem que, além dos EUA, o país possa ser usado como bode expiatório na histeria pós-golpe.
Desde que retomou o poder, Erdogan promove uma verdadeira caça às bruxas. Começou por 15 mil militares e policiais, inclusive 80 generais. Prosseguiu expurgando 2,7 mil juízes e promotores, 6,5 mil professores, inclusive reitores de universidades, e outros funcionários públicos. Todos os acadêmicos estão proibidos de sair do país.
"Há três tipos de pessoas do Judiciário sendo processadas", observa Mehmet Ozgür, de uma associação de advogados progressistas. "Os juízes e procuradores da confraria gulenista foram os primeiros a ser presos. Em seguida, foi a vez dos oposicionistas, que podem ser de esquerda ou kemalistas" [secularistas].
"Por fim, os magistrados independentes", acrescentou. "Dá para imaginar que as penas de cada categoria serão diferentes. Alguns vão ser presos, outros vão apenas perder o cargo. Erdogan vai aproveitar a oportunidade para substituí-los por juristas leais ao AKP" (Partido da Justiça e do Desenvolvimento).
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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Um comentário:
Abusando tanto da sorte, seria bom sabermos como é formado o núcleo duro de seu grupo de apoio. quem são os aliados de Erdogan, saberemos para onde a Turquia caminhará.
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