Depois de sete anos e de um gasto de 10 milhões de libras (R$ 43 milhões), a investigação oficial do governo do Reino Unido concluiu que a invasão do Iraque em 2003 foi "desnecessária", mas não acusou o então primeiro-ministro Tony Blair de mentir ao Parlamento Britânico.
O Relatório Chilcot, com 2,6 milhões de palavras, conclui que o Reino Unido aderiu à invasão do Iraque pelos Estados Unidos, ordenada pelo presidente George Walker Bush, "antes que todas as opções pacíficas de desarmamento estivessem esgotadas. A ação militar naquele momento não foi a último recurso."
Em uma série de 31 cartas secretas a Bush, Blair se comprometeu com a invasão do Iraque oito meses antes da aprovação da guerra pela Câmara dos Comuns. Em 28 de julho de 2002, o primeiro-ministro britânico afirmou estar ao lado dos EUA "aconteça o que acontecer".
Apesar de ser um ditador, observou John Chilcot, Saddam Hussein não representava uma "ameaça iminente" e poderia ter sido "contido" com o regime de sanções e inspeções das Nações Unidas. A avaliação do risco das armas de destruição em massa no Iraque "foi apresentada com uma certeza que não era justificada".
Blair foi acusado de declarar ao procurador-geral que o Iraque havia violado a Resolução 1.441 do Conselho de Segurança da ONU sem apresentar provas, de mandar os soldados britânicos para a guerra sem o equipamento necessário, pelo planejamento "totalmente inadequado" para o pós-guerra e pelo "fracasso em atingir os objetivos declarados".
"Aceito toda a responsabilidade sem desculpas nem exceções por ter levado a Grã-Bretanha à guerra", declarou Blair ao tomar conhecimento do relatório, reportou o jornal conservador The Daily Telegraph.
O ex-primeiro-ministro expressou "tristeza, pesar e desculpas" pelos "fracassos" na guerra do Iraque, onde morreram 179 militares britânicos, mas disse que faria o mesmo hoje: "Se estivesse no mesmo lugar com as mesmas informações, eu tomaria a mesma decisão. Posso olhar não apenas para as famílias deste país, mas nos olhos da nação, e dizer que eu não enganei este país. Tomei a decisão em boa fé com as informações que tinha na época."
Desde os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA, Blair tentou fortalecer a relação com Washington mostrando-se como um parceiro leal e incondicional de Bush na guerra contra o terrorismo.
Para o atual líder trabalhista, Jeremy Corbyn, que luta pelo poder no partido contra o neotrabalhismo de Blair, citado pelo jornal The Guardian, a guerra foi "a mais séria calamidade da política externa britânica nos últimos 60 anos".
Corbyn pediu desculpas em nome do partido, observou que o Iraque vive em estado de anarquia e guerra civil até hoje, o que desencadeou o surgimento de forças como o Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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