Com a reeleição de Hugo Chávez Frías para um terceiro mandato como presidente da Venezuela em 3 de dezembro de 2006, encerra-se um ciclo de 13 meses em que houve 12 eleições presidenciais e eleições legislativas em 13 países da América Latina.
Apurados 78% dos votos, Chávez tinha 61% contra 38% do principal candidato de oposição, Manuel Rosales, ex-governador do estado de Zúlia, o mais rico da Venezuela. É a nona vitória nas urnas do ex-coronel de pára-quedistas que liderou uma tentativa de golpe em 1992 e que já fala em se reeleger indefinidamente.
Rosales, por sua vez, apoiou o fracassado golpe contra Chávez de 12 de abril de 2002. Então, na origem, os dois lados são golpistas. Mas talvez a melhor novidade desta eleição venezuelana seja o ressurgimento de uma oposição forte, do retorno da política, depois das eleições legislativas do ano passado, boicotadas pela oposição, em que a abstenção superou 75% e foi eleita uma Assembléia Nacional 100% chavista.
Duas constatações imediatas sobre este ciclo de eleições: a democracia está se consolidando no continente, e a voz dos pobres e excluídos cobrando políticas sociais mais ativas começa a ser ouvida nas urnas.
A esquerda não ganhou em todos os países; perdeu no México, na Colômbia e no Peru. E nem todas as esquerdas são iguais.
Há uma esquerda que fez a transição do socialismo revolucionário e da luta armada para uma postura mais pragmática e moderada, social-democrata, que aceita a economia de mercado e dá ênfase às políticas sociais, numa espécie de terceira via. Neste grupo, estariam os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva; Tabaré Vázquez, do Uruguai; e Michelle Bachelet, do Chile.
No Chile, que adotou uma política econômica liberal desde Pinochet, pela primeira vez o Partido Socialista é maioria dentro da Concertación, a ampla aliança que derrubou a ditadura, a pressiona por maior ação social.
Do outro lado, estão líderes que estavam fora do sistema político, os chamados outsiders, que vêm para revolucionar, convocando Assembléias Constituinte para refundar o Estado, como os presidentes Hugo Chávez, da Venezuela; Evo Morales, da Bolívia; os candidatos derrotados no Peru, Ollanta Humala; e no México, Andrés Manuel López Obrador; e o presidente eleito do Equador, Rafael Correa.
Entre os dois grupos, estaria o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, que faz superávit primário para controlar a dívida pública mas impõe controles de preços e outras medidas não-ortodoxas, numa tentativa de governar politicamente a economia de mercado.
De modo geral, mesmo onde presidentes foram derrubados, como na Bolívia e no Equador, a eleição é vista como única forma legítima de acesso ao poder, o que é positivo para a América Latina, sempre ameaçada pelo autoritarismo e pelo caudilhismo.
Só no México López Obrador recusou-se a aceitar o resultado oficial, a vitória do conservador Felipe Calderón, denunciando fraude e declarando-se o presidente legítimo.
Chávez tentou interferir em todas as eleições. Perdeu com Humala, no Peru, mas ganhou na Bolívia, com Morales; na Nicarágua, com a volta de Daniel Ortega; e em 26 de novembro, no Equador, com Correa.
Ortega ainda é uma incógnita. Pelos acordos que fez com partidos de direita e com a Igreja, tudo indica que governará mais como Lula do que como Chávez.
Leia a íntegra em minha coluna de política internacional em www.baguete.com.br
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
segunda-feira, 4 de dezembro de 2006
Vitória de Chávez encerra ciclo de eleições dominadas pela esquerda na América Latina
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário