segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Economia venezuelana é petroleira e rentista

A Venezuela é uma economia petroleira e rentista onde tudo depende da decisão política e unilateral do presidente, afirmou o economista venezuelano José Manuel Ponte, do Instituto de Estudos Superiores de Administração da Venezuela, ao participar do seminário internacional Mercosul + 1: conseqüências da entrada da Venezuela, realizado no Rio de Janeiro em 7 de dezembro de 2006 pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

Durante quase 30 anos (1950-77), “houve baixo crescimento e inflação baixa”, explicou Puente. O impacto positivo dos choques do petróleo foi seguido por quedas fortes. “A renda real per capita teve um crescimento sustentado de 1950-79. Se continuasse, o PIB seria o dobro do que é hoje”, cerca de US$ 110 bilhões.

Sucessivas crises levaram a Venezuela de democracia estável desde 1959 a um país instável e polarizado, analisa o economista, que apontou diversas distorções de uma economia rica em petróleo: “É melhor importar do que comercializar. Há um boom de importações”, que não favorece o desenvolvimento da indústria nacional.

“O país está crescendo há três anos consecutivas. Pela primeira vez em 26 anos, vai crescer quatro anos consecutivos”, constata Puente, o que se deve principalmente à alta nos preços do petróleo. “Mas tem a inflação mais alta da América Latina. Até outubro, estava em 13,7% este ano”.

Como o governo Hugo Chávez controla o câmbio e a Venezuela está sendo inundada este ano por US$ 60 bilhões da renda do petróleo, isto provoca mais inflação: “O boom petroleiro financia as importações. Isto só pode ser sustentado por preços do petróleo altíssimos. Um boom petroleiro clássico mantém o câmbio estável, um boom petroleiro clássico”.

As exportações de petróleo crescem mas o resto da economia venezuelana decresce.

De 1998 a 2005 o produto interno bruto cresceu 9,4% mas as exportações não-petrolíferas caíram 8,7%.

O petróleo representa 95% das exportações, 90% dos dólares e 50% da arrecadação da Venezuela. Com o barril em torno de US$ 60, depois de ter ido a US$ 78 em agosto, Chávez pode fazer “uma política fiscal superexpansiva” num sistema clientelista e rentista em que o Estado domina a economia que Puente compara com o varguismo no Brasil.

“É uma economia de portos, onde o Estado controla o petróleo”, a grande riqueza nacional, que José Manuel Puente não sabe se “é uma bendição de Deus ou o excremento do diabo”. Fala-se de uma ‘maldição do petróleo’: os países ricos em petróleo geralmente são autoritários ou abertamente ditatoriais.

A Venezuela tem reservas de petróleo para 100 anos.

CRISE NO SETOR DE PETRÓLEO
Paradoxalmente, o setor de petróleo contraiu-se 1,8% nos três primeiros trimestres do ano. Como Chávez demitiu 18 mil técnicos depois da greve da companhia estatal Petroleos de Venezuela S. A. (PdVSA) em 2002-3, metade de seu quadro de pessoal. “Há uma debilidade gerencial que pode trazer problemas a médio e longo prazos”, ressalva Puente.

As empresas estrangeiras, inclusive a Petrobrás, foram obrigadas a assinar contratos dando maioria à PdVSA. Isto provocou uma redução nos investimentos privados.

“Aprofunda-se uma cultura estatista’, comentou a cientista política Francine Jácome, do Instituto Venezuelano de Estudos Políticos e Sociais. “É um empresariado parasitário e clientelista”.

Chávez prometeu durante a campanha investir mais de US$ 50 bilhões para dobrar a produção de petróleo em cinco anos. Puente não acredita, já que parte da renda do petróleo é desviada para os programas sociais que o presidente não vai cortar.

O país tem hoje o orçamento mais alto dos últimos 30 anos, altos níveis de liquidez e generosos programas sociais, as missões, que Chávez financia com a renda do petróleo. “Em cinco anos, a quantidade de dinheiro em circulação quintuplicou’, observa Puente.

Este modelo é sustentável? Com taxas de juros abaixo da inflação, estimula o consumo, não a poupança e o investimento.

Na vida fácil de quem tem petróleo abundante, e fala-se de uma maldição do petróleo, “há 40 anos os EUA são o principal parceiro comercial dos Estados Unidos”, disse Puente. “Os padrões de comércio não se alteraram. É um casal que já não se ama mas romper o relacionamento tem um custo muito alto. Chávez protesta contra os EUA mas não deixa de enviar 1,5 milhão de barris por dia”.

Tanto com a Argentina quanto com o Brasil, a Venezuela importa mais e exporta menos, o que mostra que a adesão ao Mercosul pode ter um impacto negativo para a economia venezualana.

“Seu aporte ao Mercosul é o petróleo”, resume Puente. Vai junto o “problema estrutural da economia venezuelana”.

Como a decisão de entrar no Mercosul foi tomada pessoalmente por Chávez, sem avaliar o impacto econômico, raciocina o economista, não foram levadas em conta “as distorções econômicas que dificultam a integração, a valorização do câmbio, a política fiscal superexpansiva, altos níveis de liquidez e juros negativos, gigantescas assimetrias, problemas de direito de propriedade e a alta dependência do petróleo. Chávez não é tão ruim mas é incendiário, assusta os investidores”.

Os problemas são:
- a sustentabilidade do crescimento:
- a competitividade; e
- a capacidade para enfrentar os desafios da integração.

Com o antiliberalismo, o anticapitalismo e o caudilhismo de Chávez, a economia venezuelana só funciona por causa do petróleo. Mas já era assim antes da ascensão do neopopulismo.

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