segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Erdogan recupera maioria absoluta na Turquia

Com uma campanha de medo e intimidação, marcada pela intervenção militar na Síria e por bombardeios aos rebeldes curdos, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), do presidente Recep Tayyip Erdogan, obteve 49% dos votos nas eleições parlamentares de ontem e terá maioria absoluta na Assembleia Nacional da Turquia.

Erdogan convocou novas eleições depois de boicotar a formação de um governo de coalizão quando o AKP, islamita moderado, perdeu a maioria nas eleições anteriores, em junho, ao receber apenas 40,9% dos votos. Mas não conseguiu a supermaioria de dois terços necessária para mudar a Constituição e instituir o presidencialismo, esvaziando o poder do primeiro-ministro.

O Partido Popular Republicano (CHP), o maior da oposição, que luta para manter o secularismo da República da Turquia, rejeitando a convergência entre religião e poder político, passou de 25% para 25,71%.

As maiores perdas foram do Partido Movimento Nacional (MHP), de ultradireita, que caiu de 16,3% para 12,1%, e o Partido Democrático Popular (HDP), esquerdista moderado e pró-curdo, que baixou de 13,1% para 10,5% mas superou a barreira de 10% para ter representação parlamentar.

Para conquistar a vitória, Erdogan apelou para o medo e a intimidação. Bombardeou os curdos, ameaçando o processo de paz. Interveio na guerra civil Síria a pretexto de combater o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, mas atacou mais o Partido dos Trabalhadores do Curdistão.

Ao mesmo tempo, negociou com a chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela Merkel, uma ajuda para cuidar dos refugiados da Síria e uma promessa de reabertura das negociações de adesão à União Europeia.

A economia turca permanece estagnada e o país é vulnerável a ações terroristas dos curdos, dos jihadistas e de radicais de esquerda. Erdogan é uma figura polarizadora. Cada vez mais autoritário, tenta recriar uma esfera de influência no antigo Império Otomano, dissolvido depois da Primeira Guerra Mundial, quando Mustafá Kemal Ataturk criou a república turca secularista, agora ameaçada por Erdogan.

Depois de 13 anos, para a metade do eleitorado turco, Erdogan permanece um símbolo de força e da prosperidade econômica dos últimos anos. Talvez o medo de uma longa instabilidade política sob governos de coalizão tenha atraído eleitores para o AKP, mais forte no interior do que nos centros urbanos, mais modernos e secularistas.

Com a nova maioria absoluta do AKP, a Turquia retoma um certo senso de normalidade política. A política externa não deve mudar. O envolvimento na guerra civil no Norte da Síria deve aumentar para evitar a fundação de um Curdistão independente, se proteger dos jihadistas, especialmente do Estado Islâmico, e tentar afastar definitivamente o ditador Bachar Assad do poder na Síria.

Na questão migratória, a Turquia deve continuar barganhando com a UE, mas não vai impedir os migrantes de seguirem rumo à Europa. Com um governo de maioria do AKP, terá mais força nas negociações para comprar gás natural da Rússia em troca do compromisso de participar do projeto do gasoduto TurkStream.

Se o presidente Vladimir Putin não concordar, Erdogan já avisou que pode comprar gás em outro lugar. Com a volta do Ira ao mercado internacional depois do fim das sanções contra o programa nuclear, a oferta de gás e petróleo tende a aumentar.

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