Diante de um Congresso dos Estados Unidos esvaziado pelo boicote do Partido Democrata, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, começa agora seu tão esperado discurso para bombardear o acordo negociado entre as cinco grande potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, China, Rússia, França e Reino Unido), a Alemanha e o Irã. O objetivo das negociações é desarmar o programa nuclear iraniano, impedindo a república islâmica de fazer a bomba atômica.
A linha-dura de Israel não acredita no acordo. Entende que o Irã apenas tenta ganhar tempo para explodir a bomba e tornar a questão um fato consumado. Quer o apoio da oposição republicana para derrubar o acordo no Congresso americano.
Como o discurso não tem o apoio da Casa Branca, que não vai recebê-lo nesta viagem por faltarem apenas duas semanas para as eleições gerais em Israel, Netanyahu iniciou agradecendo ao presidente Barack Obama por colaborar com Israel e aos EUA como um todo. Citou o Domo de Ferro, o escudo antimísseis usado por proteger Israel de foguetes de grupos como o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e a milícia fundamentalista xiita Hesbolá (Partido de Deus), desenvolvido com tecnologia americana.
Em seguida, ele lembrou ao longo da história várias tentativas de exterminar o povo judeu e afirmou que esta ameaça está viva hoje nas palavras do Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica, aiatolá Ali Khamenei, e do líder da milícia fundamentalista xiita libanesa Hesbolá, Hassan Nasrallah, quando pregam a destruição de Israel.
Como no Holocausto promovido pela Alemanha na Segunda Guerra Mundial, prosseguiu Netanyahu, comparando o regime iraniano aos nazistas, "a ameaça iraniana não se restringe a Israel, é um desafio ao mundo inteiro".
Entre os exemplos de agressões iranianas, citou a tomada do poder no Iêmen pelos rebeldes hutis, da etnia zaidita, que são xiitas. Isso daria condições ao Irã de fechar o acesso ao Mar Vermelho, estrangulando o comércio internacional de petróleo, advertiu.
"Em vez de se juntar à comunidade das nações", o Irã prefere "subjugar, dominar e aterrorizar", acusou o primeiro-ministro linha-dura de Israel. "Há dois anos, demos a oportunidade ao presidente Hassan Rouhani e ao ministro do Exterior, Mohamed Javad Zarif", mas a ideologia do regime iraniano está profundamente enraizada no fundamentalismo muçulmano.
Na visão do líder israelense, o Irã e o Estado Islâmico do Iraque e do Levante compartilham a mesma ideologia: "Um se chama Estado Islâmico; outro é uma República Islâmica". Estão competindo apenas para ver quem instala um regime jihadista de sua preferência: "Neste caso, o inimigo do meu inimigo é meu inimigo."
A maior advertência veio a seguir: "Vou repetir: a maior ameaça do mundo hoje é o fundamentalismo muçulmano armado com a bomba atômica. Não podemos deixar isso acontecer", afirmou o líder israelense (aplausos).
Se o acordo negociado pelos EUA for fechado, na opinião de Netanyahu, "não vai impedir o Irã de fazer a bomba, será a garantia de que o Irã fabricar armas nucleares. Se o acordo for fechado, o Irã será deixado com uma vasta infraestrutura nuclear. O programa nuclear ficará intacto e terá tempo para fazer a bomba. Em um ano, o Irã terá condições de fazer a bomba. E, se o Irã acelerar suas centrífugas, poderá fazer isso em menos tempo."
As inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) não seriam suficientes para impedir isso, acrescentou o primeiro-ministro de Israel, citando o exemplo da Coreia do Norte, que já fez três testes nucleares e agora anunciou a capacidade de miniaturizar a bomba para instalá-la em mísseis nucleares: "As inspeções constatam as violações, mas não as eliminam. A Coreia do Norte desligou as câmeras, explodiu a bomba e dentro em breve terá cem bombas atômicas."
Netanyahu afirmou que o acordo deixará o Irã com milhares de centrífugas, o suficiente para produzir um arsenal nuclear: "O maior patrocinador do terrorismo internacional poderá ter um vasto arsenal e o programa de mísseis nem sequer está na negociação. Em breve, o Irã poderá desenvolver mísseis para atacar o mundo inteiro, inclusive os EUA."
O acordo, proclamou, "não impedirá o Irã de fazer a bomba, vai pavimentar o caminho. Eu não acredito que o regime iraniano mude para melhor depois do acordo. Vai aumentar o apetite pela guerra. O Irã será menos agressivo quando tiver a bomba e as restrições à sua economia forem removidas? O Irã já domina quatro países do Oriente Médio [Iraque, Líbano, Síria e agora o Iêmen]. Estas são as perguntas que todos nos fazemos na região."
Em vez de conter o programa nuclear do Irã, o efeito será exatamente o oposto: "O acordo vai deflagrar uma corrida nuclear no Oriente Médio" porque os países árabes com ambições a serem potências regionais também vão querer armas atômicas. "Não temos de jogar com nosso futuro e o futuro de nossas crianças.Temos de manter as sanções enquanto o Irã continuar com suas agressões na região e no resto do mundo" (aplausos).
Netanyahu impôs três condições para aceitar um acordo com o Irã. A república islâmica precisa:
1. Parar com as agressões no Oriente Médio.
2. Parar de apoiar o terrorismo no resto do mundo.
3. Parar de ameaçar aniquilar o Estado de Israel.
"Se as grandes potências não querem exigir que o Irã mude seu comportamento antes do acordo, devem insistir para que o faça durante a vigência do acordo [que é de 10 anos; ele queria mais]. As sanções só devem ser suspensas quando o comportamento mudar. Se o Irã quer ser tratado como um país normal, deve agir como um país normal", acusou o primeiro-ministro israelense.
Neste momento de fragilidade da economia iraniana, agravada pela queda nos preços internacionais do petróleo, é o momento de pressionar Teerã, insistiu Netanyahu, observando que "este é um mau acordo. Ficaremos melhor sem ele."
"A alternativa para um mau acordo não é a guerra, é um acordo muito melhor, um acordo que deve manter as restrições até que as agressões iranianas acabem, um melhor acordo que não abra o caminho para o Irã fazer a bomba. Nenhum país é mais ameaçado do que Israel. Precisamos de um acordo que limite a capacidade do Irã de fazer a bomba. Outro acordo pode prevenir o Irã de ter armas atômicas e evitar uma corrida nuclear no Oriente Médio", alertou.
Citando o poeta americano Robert Frost, Netanyahu argumentou que, quando uma estrada tem dois caminhos, às vezes o mais difícil e espinhoso é o que leva ao melhor destino.
"Não vamos repetir os erros do passado. Os dias em que o povo de Israel não tinha como se defender acabaram. Restauramos nossa soberania na nossa antiga terra. O povo judeu pode se defender. Por isso, como primeiro-ministro de Israel posso afirmar: mesmo que Israel fique sozinho, vai ficar de pé. Mas eu sei que Israel não está sozinho. Sei que os EUA estão com Israel, que vocês estão com Israel", reiterou, sob aplausos de deputados e senadores.
Por fim, citou Moisés, que "tirou o povo judeu da escravidão e o levou às portas da terra prometida": "Sejam fortes e resolutos. O medo e a necessidade não nos vencerão."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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