A pedido do primeiro-ministro conservador David Cameron, a rainha Elizabeth II dissolveu ontem a Câmara dos Comuns e convocou para 7 de maio de 2015 as eleições gerais mais imprevisíveis da história do Reino Unido depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
O bipartidarismo clássico do modelo de Westminster está em xeque. Como o país adota o sistema de voto distrital em turno único, um candidato pode se eleger com pouco mais de 30% dos votos. Margaret Thatcher e Tony Blair nunca obtiveram maioria absoluta de votos, mas tinham maiorias de mais de cem deputados na Câmara dos Comuns.
Nas últimas eleições, em 2010, o líder conservador Cameron conseguiu derrotar o Partido Trabalhista do então primeiro-ministro Gordon Brown, mas não conseguiu maioria absoluta no Parlamento. Governou em aliança com o Partido Liberal-Democrata, do vice-primeiro-ministro Nick Clegg.
Esse terceiro partido historicamente sempre foi prejudicado pelo sistema eleitoral britânico, que favorece o voto útil. O líder do terceiro partido não tem chance de ser primeiro-ministro. Seu percentual de deputados na Câmara é sempre muito inferior ao percentual de votos. Com o desgaste de governar sem ter a chefia do governo, os liberais-democratas devem perder espaço.
Há novos atores em jogo na política britânica. O Partido da Independência do Reino Unido, de ultradireita, favorável a sair da União Europeia, foi o mais votado nas eleições para o Parlamento Europeu no ano passado. Sob a liderança de Nigel Farage, este partido fundado em 1993 e até há pouco marginal vai tomar votos à direita dos conservadores.
Por outro lado, o Partido Trabalhista, liderado por Ed Miliband, que não é considerado muito confiável nas pesquisas de opinião depende da bancada da Escócia para ter maioria no Parlamento de Westminster. O Partido Nacional Escocês perdeu o plebiscito sobre a independência no ano passado, mas, sob a nova liderança de Nicola Sturgeon, deve tomar cadeiras dos trabalhistas, que defenderam a União.
E o Partido Verde, que sempre obtém melhores resultados nas eleições para o Parlamento Europeu, também são uma força importante na nova situação política no Reino Unido, sob a liderança de Natalie Bennett.
Assim, em vez de três partidos maiores, serão seis a embaralhar a política britânica na disputa pelas 650 cadeiras da Câmara dos Comuns do Parlamento de Westminster, que se orgulha de ser o mais antigo ainda em atividade.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
terça-feira, 31 de março de 2015
Reino Unido fará eleições mais imprevisíveis da história recente
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