domingo, 30 de abril de 2006

Cem mil protestam contra fábricas de papel em construção junto ao Rio Uruguai

Uma manifestação convocada pelos moradores da cidade argentina de Gualeguaychú e por ecologistas argentinos e uruguaios reuniu cerca de 100 mil pessoas neste domingo para protestar contra a instalação de duas fábricas de papel e celulose em Fray Bentos, no Uruguai, na margem oriental do Rio Uruguai.

No dia 5 de maio, quando a Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas começa a examinar em Haia, na Holanda, o caso apresentado pela Argentina por uma suposta violação do tratado bilateral sobre o uso compartilhado do Rio Uruguai, o presidente argentino, Néstor Kirchner, pretende reunir todos os governadores argentinos em Gualeguaychú para mostrar que se trata de uma questão nacional e não de uma picuinha de um líder autoritário. A Argentina exige a suspensão das obras por 90 dias para a realização de um estudo de impacto ambiental, já que fábricas de papel e celulose podem poluir a água e o ar.

Em entrevista ao jornal La Nación, o ex-presidente uruguaio Jorge Battle criticou a proposta de Kirchner de pagar os salários dos operários uruguaios durante a paralisação das obras dizendo que "o Uruguai não é mais uma província argentina". Acrescentou que "a melhor alternativa é sair do Mercosul".

Como parte mais fraca nesta briga, o Uruguai pediu a convocação do Conselho Consultivo do Mercosul, apelou à ONU e à Organização Mundial do Comércio. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou mediar a chamada 'guerra das papeleiras' mas, diante da rejeição argentina, que a considera uma questão bilateral, recuou.

Sudão aceita acordo de paz em Darfur

No prazo-limite fixado pela União Africana, o governo islamita do Sudão aceitou assinar um acordo de paz para acabar com o conflito na província de Darfur, onde mais de 200 mil pessoas foram mortas e cerca de 2 milhões expulsas de suas casas nos últimos quatro anos, o que está sendo denunciado internacionalmente como um novo genocídio. Mas os dois grupos rebeldes, o Movimento de Libertação Sudanês e o Movimento pela Paz e a Igualdade, não concordaram mas o negociador da UA ainda tem esperança de convencê-los.

"A segurança é chave para a ajuda humanitária", declarou Louise Arbour, alta comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos. "As mulheres que saem dos campos de refugiados para catar lenha estão sujeitas a todo tipo de violência sexual. Sem segurança, nem a ONU, nem as ONGs nem outras agências de ajuda humanitária pode fazer seu trabalho".

Os maiores acusados pelas violações dos direitos humanos fazem parte da milícia Janjaweed, um grupo muçulmano apoiado pelo governo sudanês.

Em Washington, milhares de pessoas participaram de uma manifestação liderada pelo ator George Clooney diante do Capitólio, sede do Congresso dos EUA, para pressionar o governo George W. Bush, os deputados e senadores a tomar uma atitude para acabar com o genocídio em Darfur, uma obrigação dos países que assinaram a Convenção contra o Genocídio aprovada pelas Nações Unidas, em 1948.

A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, declarou é preciso apoiar o Acordo de Abuja, firmado na capital da Nigéria, com a presença de uma força de paz reforçada que pode ter 10 mil soldados, em sua maioria da própria África.

Fracasso da OMC prejudica a todos

Os 149 países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) não conseguiram chegar a um acordo prévio nas negociações de liberalização comercial da Rodada Doha no prazo previsto: 30 de abril. Esta era a data marcada para que seja possível concluir a rodada até julho de 2007, quando vence a autorização para promoção de comércio dada pelos Congresso dos Estados Unidos ao presidente George W. Bush. Sem esta autorização, deputados e senadores americanos poderiam tentar emendar o projeto, tornando a negociação inviável.

Apesar das declarações de europeus e americanos de que estão empenhados na liberalização comercial, os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, desconfiam do real compromisso dos países ricos com o livre comércio nos setores onde não são competitivos, especialmente na agricultura. Sem um acordo agrícola, não haverá um acordo global.

Um estudo da Universidade de Michigan, nos EUA, calcula que a liberalização comercial proporcionaria um aumento de 6,3% no produto regional bruto da União Européia, de 6,2% no produto interno bruto do Japão e de 5,5% nos EUA. Os agricultores dos países ricos têm peso pequeno na formação da riqueza nacional mas seus lobbies são poderosos, inviabilizando grandes concessões, especialmente num ano eleitoral nos EUA.

sábado, 29 de abril de 2006

Número de ataques terroristas cresceu quatro vezes em 2005

Um relatório do Departamento de Estado americano revelou ontem que o número de atentados terroristas cresceu quatro vezes no passado, atingindo um total de 11.111 casos que mataram mais de 14,6 mil civis, dos quais 56 americanos.

Cerca de 30% dos casos aconteceram no Iraque, que segundo o relatório se tornou um "refúgio" para terroristas. Só nas últimas 24 horas, os rebeldes iraquianos mataram cinco pessoas. Uma bomba detonada junto a uma estrada matou um soldado americano. Em Bagdá, foram encontrados ainda 12 cadáveres baleados na cabeça e com sinais de tortura.

Os dados foram compilados pelo Centro Nacional de Combate ao Terrorismo e divulgados junto com o relatório anual do Departamento de Estado sobre o terrorismo, que afirma que a rede Al Caeda não tem mais o poder de fogo de quatro anos atrás.

No relatório de 262 páginas, o governo americano admite estar "no início de uma guerra potencialmente longa. A provada capacidade de adaptação do inimigo significa que provavelmente atravessaremos vários ciclos de ação e reação até que o resultado final não deixe mais dúvidas."

O Brasil foi acusado de não colaborar efetivamente na guerra contra o terrorismo. Embora reconheça que "o governo brasileiro condena vigorosamente o terrorismo", não apresentou nova legislação para criar estruturas antiterror. Os EUA preocupam-se especialmente com o tráfico de armas e drogas, e a lavagem de dinheiro, na fronteira tríplice Brasil-Paraguai-Argentina na Foz do Iguaçu.

O embaixador brasileiro em Washington, Roberto Abdenur declarou que "o governo faz tudo o que pode e que está a seu alcance e tem colaborado no combate ao terrorismo".

Como no ano passado, o Irã foi acusado de ser "o mais ativo patrocinador do terrorismo". Sua Guarda Revolucionária colaboraria no planejamento e execução de atos perpetrados por organizações com sede no Líbano e na Síria, com Israel como principal alvo, e também pelas milícias xiitas no Iraque.

Outros grupos citados são as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o Exército de Resistência do Senhor, de Uganda.

Os outros países acusados de patrocinar o terrorismo são os mesmos: Coréia do Norte, Cuba, Líbia, Síria e Sudão.

Vice-líder da Al Caeda pede queda do presidente do Paquistão e elogia rebeldes do Iraque

Num novo vídeo divulgado sexta-feira via Internet, o segundo homem na hiearaquia d'al Caeda, o médico egípcio Ayman al-Zawahiri, considerado o principal estrategista da rede terrorista, fez um apelo aos muçulmanos radicais para que derrubem o presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, um aliado dos Estados Unidos que descreveu como "um criminoso corrupto e traidor".

No início da Mensagem ao Povo do Paquistão, de 15 minutos, o vice de Ossama ben Laden mencionou os três anos da invasão do Iraque pelos EUA elogiou os rebeldes que lutam contra a ocupação americana. Afirmou que Al Caeda realizou "mais de 800 operações de martírio em três anos. Ao lado das operações de outros mujahedins, foi isto que quebrou a espinha dos EUA no Iraque".

Em janeiro, Al-Zawahiri foi alvo de um bombardeio americano no Paquistão mas o ataque acabou matando 18 civis. Acredita-se que ele e Ben Laden estejam refugiados nas montanhas do Norte do Paquistão junto à fronteira com o Afeganistão.

Abril foi o pior mês deste ano para as tropas dos EUA no Iraque. Pelo menos 70 soldados americanos foram mortos.

Hugo Chávez ameaça retirar embaixador do Peru se Alan García for eleito presidente

Numa clara intervenção na política interna do Peru, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ameaçou retirar seu embaixador de Lima se o ex-presidente Alan García for eleito no segundo turno da eleição presidencial, em 28 de maio. O governo peruano protestou formalmente, denunciando a ingerência indevida em seus assuntos internos.

Chávez atacou García durante manifestação convocada para festejar ontem o Dia do Trabalho em Caracas, respondendo a acusações do candidato peruano de que o presidente venezuelano "é um sem vergonha por pedir que ninguém negocie para os EUA enquanto a Venezuela vende petróleo no valor de US$ 50 bilhões por ano" aos americanos.

A resposta chavista veio com a mesma dureza: "Se por obra do demônio García chegar a ser presidente do Peru, vou retirar meu embaixador porque não teremos relações com um presidente desta canalhice, um sem vergonha, um corrupto um ladrão". Disse que não poderia participar de reuniões de cúpula com García sem cuidar de sua carteira. E continuou: "Isto que ele disse faz parte da cartilha que lhe leram da Casa Branca. Antes, a candidata do Pentágono e de George W.Bush era Lourdes Flores mas agora García é o candidato escolhido por Bush para continuar escravizando os povos da América Latina".

Depois de dar vivas ao povo do Peru, aos trabalhadores e aos indígenas, o presidente venezuelano defendeu o candidato nacionalista Ollanta Humala, que como ele é um ex-oficial golpista: "Tens de ganhar, Ollanta, não por ti mas pelo Peru. Que Deus livre o Peru de um bandido e corrupto como este!"

O presidente venezuelano também atacou o atual presidente do Peru, Alejandro Toledo, acusando-o de deixar "um país arrasado pelo neoliberalismo, sobretudo por este último governo, que se ajoelhou diante do império e assinou um tratado de livre comércio com os EUA".

Há pouco mais de uma semana, Chávez anunciou que a Venezuela está se retirando da Comunidade Andina das Nações porque a Colômbia e o Peru assinaram acordos de livre comércio com os EUA. Mas negou que tenha pedido que não negociem com os americanos: "É mentira dizer que estamos pedindo ao Peru e à Colômbia que não comerciem com os EUA. São países soberanos e têm todo o direito de fazerem o que quiserem. Mas nós estamos saindo porque, com a assinatura dos acordos de livre comércio, a CAN acabou".

Na semana passada, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, pediu a mediação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para salvar a CAN. O governo Lula defende a criação da Comunidade Sul-Americana das Nações unindo o Mercosul à Comunidade Andina.

Irã admite inspeções nucleares se caso for retirado do Conselho de Segurança da ONU

O governo fundamentalista do Irã está disposto a aceitar inspeções de surpresa em suas instalações nucleares se seu caso for retirado do Conselho de Segurança das Nações Unidas e tratado somente pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Na sexta-feira, a AIEA declarou ao Conselho de Segurança que o Irã não está cooperando com as inspeções e que acelerou seu programa de enriquecimento de urânio.

A república islâmica insiste em que está realizando pesquisas nucleares exclusivamente para fins pacíficos mas os Estados Unidos e a Europa estão convencidos de que pretende fabricar armas atômicas. Ontem o presidente Mahmoud Ahmadinejad declarou que o programa nuclear pode transformar o Irã numa superpotência. Não há superpotência sem bom atômica.

Mesmo que permita o reinício da fiscalização da AIEA, o Irã pretende continuar enriquecendo urânio. Vai instalar duas novas centrífugas na central nuclear de Natanz, apontada como possível alvo de um bombardeio dos EUA ou de Israel, se um destes países decidir usar a força na tentativa de neutralizar o programa nuclear iraniano.

O Irã impede inspeções desde fevereiro, quando a AIEA, órgão da ONU, remeteu o caso ao Conselho de Segurança, que pode impor sanções e até autorizar o uso da força contra a república dos aiatolás. Mas a China e a Rússia, duas potências com poder de veto no Conselho de Segurança se opõem às sanções, pedindo mais tempo para a diplomacia.

Na próxima terça-feira, 2 de maio, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (EUA, França, Grã-Bretanha, Rússia e China) se reúnem em Paris para decidir qual será o próximo passo. A Alemanha também participa porque faz parte do grupo que negocia a questão nuclear iraniana em nome da União Européia. Os EUA e seus aliados europeus defendem a aplicação sanções.

O presidente George W. Bush afirma estar dando uma chance para a diplomacia. Mas não descarta a possibilidade de usar a força. Os EUA já estariam escolhendo alvos para um bombardeio limitado contra as instalações nucleares do Irã.

Berlusconi renuncia na terça-feira abrindo caminho para o governo Romano Prodi

O primeiro-ministro conservador italiano, Silvio Berlusconi, finalmente admite sua derrota nas eleições de 9 e 10 de abril. Depois de perder uma tumultuada eleição para a presidência do Senado, ele anunciou que vai renunciar ao cargo numa reunião do gabinete marcada para terça-feira. Isto abrirá caminho para o ex-primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Européia (órgão executivo da União Européia) voltar à chefia do governo, que ocupou de 1996 a 1998.

A União, de centro-esquerda, venceu as eleições para a Câmara por pouco mais de 25 mil votos sobre a Casa das Liberdades, a coalizão direitista chefiada por Berlusconi. Terá 347 deputados do total de 630 graças à legislação introduzida por Berlusconi, que dá um bônus ao partido vencedor para que o governo tenha uma maioria capaz de garantir a governabilidade.

No Senado, Prodi tem apenas duas cadeiras a mais do que a direita. A confusão desta sexta-feira na eleição para presidente do Senado foi uma indicação das dificuldades que o futuro governo terá.

O sindicalista Franco Marini, de 73 anos, só foi eleito presidente do Senado na madrugada deste sábado na quarta votação contra o ex-primeiro-ministro Giulio Andreotti, de 87 anos, indicado por Berlusconi, por 165 contra 156 votos. Andreotti liderou a Democracia Cristã e foi várias vezes primeiro-ministro mas caiu em desgraça com os escândalos de corrupção revelados pela Operação Mãos Limpas no início dos anos 80.

A segunda votação foi anulada porque três deputados escreveram na cédula Francesco em vez de Franco Marini. Isto despertou suspeitas de que fosse um erro proposital.

O presidente da Câmara e do Congresso será Fausto Bertinotti, de 66 anos, líder da Refundação Comunista, um dos radicais da coligação de Prodi. Também foi eleito na quarta votação. Nas anteriores, precisava de 75% dos votos.

Foram os primeiros testes para a coligação de Prodi, que inclui dois partidos comunistas. Mostraram as dificuldades que o futuro governo terá para fazer as reformas necessárias para reestimular a estagnada economia italiana, que cresceu em média 0,8% nos cinco anos do governo Besluconi (2001-06).

Bertinotti é contra qualquer reforma da legislação trabalhista que reduza direitos e garantias sociais. Quer inclusive revogar a Lei Biaggi, que permite contratações por curto prazo, uma das poucas reformas aprovadas pelo governo Berlusconi.

Antes da formação do novo governo, o Congresso deve eleger o novo presidente da Itália.

Ahmadinejad afirma que Irã será potência mundial

Em mais um desafio à sociedade internacional, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, declarou que seu país pode se tornar uma superpotência com seu programa nuclear, que ele afirma ter fins pacíficos. Como não há superpotências sem armas atômicas, a mensagem deixa nova suspeita sobre as reais intenções do regime fundamentalista iraniano.

Nesta sexta-feira, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) acusou o Irã de não colaborar com as inspeções e de continuar enriquecendo urânio, em desrespeito a decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ahmadinejad comentou que não haverá resolução da ONU capaz de impedir o desenvolvimento nuclear do Irã.

Desemprego cai na Alemanha e França mas sobe na Espanha

A taxa de desemprego caiu 1,5 ponto percentual na França em março, indo para 9,5% da população economicamente ativa. Na Alemanha, foram criados 40 mil novos empregos. O índice de desemprego continua elevado, em 12%, sobretudo por causa da antiga Alemanha Oriental. Se for considerado apenas o lado ocidental, a taxa ficaria em torno de 9%. Mas na Espanha, o número de desempregados aumentou em 94,5 mil, atingindo 9,07%. O total de espanhóis desempregados é de 1.935.800.

Na Alemanha, um dos fatores responsáveis pela queda no desemprego foi a Copa do Mundo, que aumentou o trabalho de publicitários e seguranças.

sexta-feira, 28 de abril de 2006

México descriminaliza maconha, cocaína, heroína e outras drogas apesar do protesto dos EUA

A posse de pequenas quantidades de drogas para uso pessoal não será mais crime no México. Por 53 votos contra 26, o Senado deu aprovação final à lei que deve ser sancionada pelo presidente Vicente Fox, apesar da oposição dos Estados Unidos. O objetivo é deixar a polícia se concentrar no combate ao tráfico.

"Esta lei dá mais instrumentos para as autoridades combaterem o crime", declarou o porta-voz presidencial Rubén Aguilar, esclarecendo que as penas para os grandes traficantes serão mais duras.

Mas a notícia desagrada aos Estados Unidos, que conta com o México na sua guerra contra as drogas. A fronteira entre os dois países é rota para a entrada nos EUA de grandes quantidades de maconha, cocaína, heroína e metanfetaminas.

"Qualquer lei que descriminalize drogas perigosas não ajuda muito", reagiu Judith Brien, porta-voz da embaixada americana na Cidade do México. "Drogas são perigosas. Não acredito que este seja o procedimento adequado."

Pela nova lei, não será punido quem tiver até 5 gramas de maconha, 5 gramas de ópio, 25 miligramas de heroína e 500 miligramas de cocaína. Quem for pego com quantidades maiores será enquadrado como traficantes e estará sujeito a penas maiores do que as atuais.

Também será discriminalizada a posse de pequenas quantidades para consumo pessoal de outras drogas como LSD, cogumelos alucinógenos, anfetaminas e peiote, um cactus psicotrópico nativo dos desertos do Norte do México.

Uma delegação da Câmara de Representantes dos EUA visitou o México na semana passada para discutir o combate às drogas mas não foi informada da mudança na lei.

Centenas de pessoas, inclusive muitos policiais, morreram no ano passado no México na luta contra as máfias que disputam as lucrativas rotas do tráfico para os EUA. Pela legislação atual, cabe à polícia e aos juízes de primeira instância decidir caso a caso se processam usuários detidos com pequenas quantidades de drogas.

AIEA declara que Irã não colabora com inspeções a seu programa nuclear

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) apresentou relatório hoje ao Conselho de Segurança das Nações Unidas informando que o Irã não está colaborando com a fiscalização de seu programa nuclear e que não suspendeu o enriquecimento de urânio, como exige a ONU. Ao contrário, acelerou-o.

Os Estados Unidos acusam o regime fundamentalista de Teerã de acelerar as pesquisas para enriquecimento de urânio para desenvolver armas atômicas. Devem propor uma resolução aplicando sanções ao Irã na próxima semana, provavelmente na quarta-feira, depois de uma reunião terça-feira em Paris, na França, das grandes potências com direito de veto no Conselho de Segurança.

Se a resolução for baseada no Capítulo 7 da Carta da ONU, como quer o embaixador americano junto às Nações Unidas, John Bolton, poderá prever inclusive o uso da força. Mas a China e a Rússia, que têm direito de veto, resistem à aplicação de sanções e não admitem o uso da força.

Hoje terminou o prazo dado pela ONU para que o Irã suspendesse o enriquecimento de urânio. O documento divulgado hoje não afirma que a república islâmica está desenvolvendo armas atômicas. Mas o embaixador John Bolton, um notório linha-dura, apontou vários indícios para justificar a posição americana.

"O Irã está tentando fabricar urânio com características de quem quer produzir uma ogiva nuclear", afirmou Bolton. "Também ameaçou abandonar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Se seu programa fosse exclusivamente para fins pacíficos, não precisaria abandonar o TNP".

Em 11 de abril, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou que o país conseguiu enriquecer urânio no teor necessário para usinas atômicas de geração de energia. Os EUA alegam que o Irã, que tem a terceira maior reserva mundial de petróleo, não precisa de energia nuclear mas o governo de Teerã insiste em que é um direito.

Nesta semana, o ex-presidente iraniano Ali Akbar Hachemi Rafsanjani disse que o programa nuclear do país chegou a um ponto que não tem volta. Ou seja, já acumulou conhecimento suficiente para dominar o ciclo completo do urânio. Isto lhe permitiria fabricar armas nucleares.

O presidente dos EUA, George Walker Bush, comentou que a AIEA deu um alerta ao mundo, que "está unido e preocupado" com as supostas ambições nucleares do Irã. Bush não descarta o uso da força contra Teerã. Pode ordenar um bombardeio aéreo e de mísseis contra instalações nucleares iranianas ainda este ano, embora especialistas acreditam que o Irã ainda precise de mais cinco ou dez anos para fazer a bomba atômica.

Se for alvo de sanções, o Irã ameaça reagir parando de vender petróleo a países que apoiarem a medida. Se for bombardeado, promete retaliar atacando alvos americanos no mundo inteiro, inclusive com ações terroristas. Milhares de iranianos estão se alistando como voluntários para cometer atentados terroristas suicidas.

Economia dos EUA cresce a uma taxa anual de 4,8% no primeiro trimestre do ano

A maior economia do mundo, os EUA (PIB de cerca de US$ 13 trilhões), cresceu no primeiro trimestre do ano no seu ritmo mais forte em quase três anos, a uma taxa anual de 4,8%, impulsionada pelo consumo pessoal e das empresas. Não se expandia tanto desde o terceiro trimestre de 2003, quando cresceu 7,2% em bases anuais.

O índice divulgado hoje ficou um pouco abaixo da expectativa do centro financeiro de Nova Iorque, que era de %5, mas bem acima do 1,7% do último trimestre de 2005.

Ao mesmo tempo, os custos trabalhistas cresceram no ritmo mais fraco em sete anos, o que sugere que apesar do baixo índice de desemprego os trabalhadores não têm conseguido negociar grandes aumentos de salários e outras vantagens. Isto limita a pressão inflacionária.

Os analistas esperam uma alta na taxa básica de juros americana de 4,75% para 5% ao ano na próxima reunião do Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve Board (Fed), o banco central dos EUA, em 10 de maio. Mas depois do depoimento do novo presidente do Fed, Ben Bernanke, ao Congresso dos EUA, espera uma pausa durante o verão no Hemisfério Norte.

Diante da perspectiva de uma pausa nas altas de juros nos EUA e de aumentos na Europa e no Japão, o dólar caiu, atingindo sua cotação mais baixa em 11 meses em relação ao euro e em sete meses em relação ao iene japonês. Neste momento, o dólar compra 113,75 ienes e um euro vale 1,2623 dólar.

Já a onça de 28,35 gramas de ouro subiu para US$ 657 por causa do relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informando ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que o Irã não está colaborando com as inspeções a seu programa nuclear, suspeito de desenvolver a bomba atômica.

Kirchner vai liderar grande manifestação de protesto na guerra das papeleiras

O presidente Néstor Kirchner vai liderar na próxima sexta-feira, 5 de maio, uma manifestação de protesto em Gualeguaychú, ao lado do vice-presidente e de todos os governadores argentinos, contra a instalação de duas fábricas de papel celulose do lado uruguaio da fronteira com a Argentina.

Será uma demonstração de força para provar que o conflito conhecido como a guerra das papeleiras não é um capricho de um presidente autoritário mas uma defesa do interesse nacional argentino.

O objetivo é manifestar "um compromisso público com o meio ambiente e a qualidade de vida", disseram altos funcionários da Casa Rosada ao jornal La Nación, e pressionar o presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez, que recorreu à Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas. A Argentina exige a suspensão das obras por 90 dias para a realização de um estudo de impacto ambiental sobre os riscos de poluição do ar e do Rio Uruguai.

Japão festeja inflação em alta e desemprego em queda

Para a segunda economia do mundo, a inflação é uma boa notícia. Há quase uma década, a economia do Japão (PIB de US$ 4,9 trilhões) se arrastava com um misto de estagnação e deflação, a queda nos preços. Agora, pelo quinto mês consecutivo, houve aumento de preços, sinal de que a deflação acabou. Em março, os preços ao consumidor cresceram 0,5% a mais do que em março do ano passado e 0,3% em relação a fevereiro. Nos dois meses anteriores, a inflação aumentara 0,2%.

Ao criar uma expectativa de redução nos preços, a deflação adia as decisões de compra. Por que comprar hoje se amanhã deve estar mais barato? Assim, o comércio não vende, a indústria não recebe encomendas, a atividade econômica se retrai e o governo arrecada menos. Com o forte estímulo da demanda chinesa, o Japão finalmente vence a crise.

O índice de desemprego, que chegou a 3,1% nos anos 80, época do SuperJapão, subiu para cerca de 5% durante a crise asiática, caiu para 4,1%. É o menor em oito anos.

Então hoje foram divulgadas duas boas notícias para a economia japonesa. Mas a maioria das bolsas asiáticas fechou em queda por causa da alta de juros na China, que pode desacelerar a economia que mais cresce no mundo. É mais um sinal de que a China tornou-se a locomotiva econômica da Ásia.

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Líder supremo dos xiitas do Iraque pede desarmamento de milícias

O grão-aiatolá Ali al Sistani, líder espiritual supremo dos xiitas do Iraque, deu hoje seu apoio à formação de um governo de união nacional e pediu ao novo primeiro-ministro designado, Nuri al-Maliki, que desarme as milícias. Pelo menos 20 pessoas foram mortas pela violência no Iraque, inclusive a irmã de um importante líder sunita.

"As armas devem estar nas mãos das forças de segurança, que devem estar submetidas ao poder político", declarou o grâo-aiatolá.

Depois do encontro com Al Sistani, Maliki se encontrou com o aiatolá rebelde Muktada al-Sader, líder de uma milícia de 10 mil homens, o Exército Mahdi. Al Sader disputa a liderança dos xiitas iraquianos com Al Sistani.

Lucro da Microsoft sobe 16%

A maior empresa de informática do mundo, a Microsoft, anunciou hoje à tarde um aumento de 16% no seu lucro líquido no primeiro trimestre deste ano por causa do aumento da demanda por seus programas para servidores de empresas e computadores pessoais. Mesmo assim, suas ações caíram 5% na Bolsa de Nova Iorque por causa de sua previsão de lucros para este ano, inferior à expectativa de Wall Street.

O faturamento da Microsoft aumentou 13%, chegando a US$ 10,9 bilhões no trimestre. Já o lucro líquido passou de US$ 2,56 bilhões para US$ 2,98 bilhões, 29 centavos por ação. Para este trimestre, a companhia prevê um lucro de 30 centavos por ação, abaixo da expectativa do mercado, que era de 34 centavos.

EUA devem crescer menos mas petróleo pressiona inflação

Em depoimento no Congresso, Ben Bernanke, novo presidente do Federal Reserve Board (Fed), o banco central americano, previu que o crescimento da economia dos Estados Unidos deve cair a um nível mais sustentável no segundo semestre. Mas advertiu que a alta nos preços do petróleo ameaça aumentar a inflação e reduzir a atividade econômica, indicando que uma pausa na elevação das taxas de juros não significará necessariamente o fim do aperto monetário.

"Em algum momento no futuro, o comitê pode decidir não mexer nas taxas de juros por uma reunião ou duas, ganhando tempo para receber mais informações sobre as perspectivas", declarou Bernanke. Mas ressalvou: "É claro que não agir numa reunião não exclui ações em reuniões subseqüentes, e o Fed não vai hesitar, se for necessário."

Bernanke apontou o aquecimento do mercado imobiliário como ameaça inflacionária. Ontem, foi revelado que a venda de casas novas cresceu 13,8% em março nos EUA.

O Fed aumentou os juros nas últimas 15 reuniões do Comitê do Mercado Aberto, desde meados de 2004. A expectativa era de um aumento de 0,25 ponto percentual na próxima reunião, em 10 de maio, para 5% ao ano.

Para os analistas, o depoimento de Bernanke indica que haverá um aumento para 5% em maio mas que depois o Fed derá uma trégua de verão às taxas de juros. Ao assumir, ele prometeu maior transparência nas decisões.

China aumenta juros para esfriar economia

A China aumenta na sexta-feira sua taxa básica de juros pela primeira vez desde outubro de 2004, passando-a de 5,58% para 5,85% ao ano. É uma alta moderada, de apenas 0,27 ponto percentual. Foi o suficiente para afetar o mercado. Gerou um temor de que a redução no extraordinário crescimento econômico diminua as importações chinesas de produtos primários, provocando queda nas bolsas européias no início do pregão e no mercado futuro nos Estados Unidos. Mas os economistas não acreditam numa forte redução da expansão chinesa, de 10,2% ao ano no primeiro trimestre de 2006, o que tornaria estes temores exagerados.

Com a alta dos juros, a moeda chinesa, o iuã, tende a se valorizar, uma das exigências dos EUA, preocupados com o déficit no comércio bilateral, que chegou a US$ 202 bilhões em 2005. Sob pressão americana, Beijim desvalorizou o iuã em 2,1% em julho mas desde então só permite flutuações de mais ou menos 1%.

A inflação está sob controle, abaixo de 1% ao ano, ao contrário do que acontecia em 2004, quando estava em torno de 5%, pressionada pela escassez de energia e de transportes. Na época, o governo chinês reagiu construindo portos, estradas e centrais elétricas. Hoje há um excesso de oferta de imóveis e de produtos manufaturados.

Os economistas esperam agora novas medidas para desaquecer a economia chinesa, por exemplo, aumento da porcentagem de dinheiro que os bancos devem depositar no banco central, reduzindo o montante que pode ser emprestado. A elevação dos juros fora recomendada pelo Fundo Monetário Internacional na sua recém-publicada Perspectiva para a Economia Mundial.

No momento, as previsões são de uma pequena redução no crescimento, estimado em 9,6% este ano pelo economista Frank Gong, especialista em China do banco de investimentos JP Morgan.

Enquanto isso, o presidente Hu Jintao visita a África, onde assinou um acordo sobre energia com a Nigéria, indicando que a voracidade da economia chinesa por produtos primários tende a se manter. A China está buscando uma parceria estratégica com a África, onde concorre cada vez mais com os EUA pelo suprimento de energia e de matérias-primas.

CIA seqüestrou suspeitos de terrorismo na Europa para torturar em países muçulmanos

O deputado socialista italiano Claudio Fava, relator da comissão de investigação do Parlamento Europeu sobre as atividades da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos na Europa na guerra contra o terrorismo, concluiu haver provas suficientes de que o serviço secreto americano seqüestrou suspeitos na União Européia para torturá-los em outros países. Os governos europeus sabiam o que estava acontecendo e colaboraram com os EUA.

Mais de mil vôos fretados pela CIA tiveram aterrissagens na Europa. Era impossível que seus governos e serviços secretos ignorassem isto. Os suspeitos foram presos e levados para países como a Jordânia, a Síria, o Egito ou o Afeganistão, onde a tortura é um método rotineiro de interrogatório, como reconhecem os documentos sobre direitos humanos do próprio governo dos EUA.

O relatório destaca que seqüestro e tortura são violações inaceitáveis dos direitos humanos e que os governos e agentes que colaboraram ou foram coniventes com estes crimes são igualmente culpados.

A Itália, a Suécia e a Bósnia-Herzegovina são citadas como países que colaboraram com os vôos secretos da CIA. Surpreendentemente o relatório ignora a Alemanha, que teria cooperado na detenção de Khaled al-Masri, cidadão alemão seqüestrado na Macedônia e levado para o Afeganistão, onde foi torturado.

Agora o relatório passará por comissões. Em julho, deve ser aprovado pelo plenário do Parlamento Europeu.

quarta-feira, 26 de abril de 2006

Irã ameaça retaliar EUA no mundo inteiro

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, ameaçou hoje atacar alvos americanos no mundo inteiro se os Estados Unidos bombardearem a república islâmica para destruir seu programa nuclear, suspeito de desenvolver armas atômicas.

"Os americanos devem saber que, se atacarem o Irã, seus interesses serão prejudicados em qualquer lugar do mundo onde seja possível", disse a televisão estatal iraniana, citando o líder espiritual, sucessor do aiatolá Ruhollah Khomeini, que liderou a revolução islâmica em 1979. "A nação iraniana responderá a cada ataque com o dobro da intensidade".

Ontem, o ex-presidente Ali Akbar Hachemi Rafsanjani disse que o programa nuclear iraniano é uma bala que já foi disparada, sugerindo que atingiu um ponto em que não há mais volta. E o atual presidente, o radical Mahmoud Ahmadinejad, declarou que o Irã pode abandonar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear e romper com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Por decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Irã tem até sexta-feira para suspender seu programa de enriquecimento de urânio.

Nesta quarta-feira, o principal negociador iraniano, Gholamreza Aghazadeh, teve um encontro de última hora com o diretor-geral da AIEA, Mohamed el Baradei. Eles estiveram com Olli Heinonen, diretor de salvaguardas da agência, um órgão da ONU.

Mas como observou um diplomata que trabalha junto à sede da ONU em Viena, na Áustria, onde fica a AIEA, é positivo que Heinonen fale com Aghazadeh mas "o que quer que ele diga não haverá tempo suficiente para que inspetores possam conferir antes da conclusão do relatório" a ser encaminhado ao Conselho de Segurança.

Os EUA, com o apoio da Europa, querem impor sanções ao Irã, que neste caso pode retaliar suspendendo as exportações de petróleo para países que considere hostis. Isto causaria mais tumulto no já conturbado mercado internacional de petróleo, onde o agravamento da crise do Irã fez o preço do barril passar de US$ 75.

A China e a Rússia, potências com poder de veto no Conselho de Segurança são contra a aplicação de sanções ao Irã. O governo de Beijim rejeitou um anteprojeto de resolução que está circulando informalmente para consultas dentro do CS.

Venda de casas novas sobe quase 14% nos EUA

A venda de casas novas cresceu 13,8% em março nos Estados Unidos, projetando uma venda anual de 1,213 milhão novas moradias.

Este crescimento espetacular supera as expectativas mais otimistas do mercado, neutraliza a queda de 10,9% registrada em fevereiro e acena com a possibilidade de mais aumentos na taxa básica de juros nos EUA. Um dos temores do mercado é a formação de uma bolha especulativa no mercado imobiliário.

Mas o economista Ian Shepherdson, da consultoria High Frequency Economics, observa que a verdadeira notícia está atrás das manchetes, afirmando que a queda nos preços e o aumento do estoque de casas não-vendidas apontam para uma desaceleração do mercado imobiliário. De qualquer forma, os analistas notam que o aquecimento do mercado acontece nos grandes centros urbanos, não afetando a maior parte da população americana.

Alan García lidera pesquisa no Peru

A primeira pesquisa depois de definidos os candidatos que disputarão o segundo turno da eleição presidencial peruana, em 28 de maio, indica 54% de preferências para o ex-presidente Alan García, que bateria assim o ex-oficial golpista Ollanta Humala, apoiado pelos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales.

A candidata direitista Lourdes Flores ainda tem esperanças mas a Justiça Eleitoral deve confirmar hoje o segundo lugar para García, o que é uma surpresa porque seu primeiro governo (1985-90) terminou com inflação de 7.600% ao ano, 80% de desemprego e subemprego, e guerras civis contra os grupos Sendero Luminoso e Movimento Revolucionário Tupac Amaru.

Pior acidente nuclear da História abalou a URSS

Há 20 anos, em 26 de abril de 1986, uma explosão seguida de incêndio no reator número 4 da central nuclear de Chernóbil, na Ucrânia, então parte da União Soviética, causou o pior acidente nuclear da História. Trinta e uma pessoas morreram tentando controlar o acidente. Uma nuvem radioativa espalhou-se por toda a Europa. O total de mortos pela radiação estaria hoje em 9 mil.

Ao contrário do que costumava fazer, a URSS admitiu no dia seguinte que tinha ocorrido um acidente. Mas alegou que a radiação estava em níveis normais. Durante 10 dias, o reator fundido espalhou material radioativo. Depois, foi coberto por um sarcófago de concreto armado que agora estaria rachando, o que poderia liberar mais material radioativo.

O líder do Partido Comunista da URSS, Mikhail Gorbachev, ordenou a abertura de inquérito para apurar como o sistema falhara. A conclusão foi de que era preciso mudar o regime político. Num sistema em que toda denúncia de irregularidade era vista como uma traição ao Estado e à pátria do socialismo, dificilmente subalternos tomavam a iniciativa de criticar superiores.

Chernóbil virou um símbolo da derrocada da URSS.

Parecia também o fim do uso da energia atômica para fins pacíficos. Mas a alta dos preços do petróleo, o aquecimento da Terra e a busca de novas fontes de energia estão provocando um renascimento da indústria

Brasil e Argentina fazem gesto de unidade

Num encontro de cúpula entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner ontem em S. Paulo, Brasil e a Argentina declararam ontem que sua união como sócios fundadores do Mercosul (Mercado Comum do Sul) é a base da integração regional e que a chamada guerra das papaleiras, o conflito entre Uruguai e Argentina sobre a construção de duas fábricas de papel e celulose na cidade uruguaia de Fray Bentos, deve ser resolvido bilateralmente e não no âmbito do bloco regional. Prevaleceu a posição do sócio mais forte. Isto tem provocado protestos dos sócios menores, o Paraguai e o Uruguai, que podem fazer acordos com os Estados Unidos, minando a unidade do Mercosul.

Na opinião do jornal argentino La Nación, Lula tentou bancar o equilibrista ao falar no assunto num encontro com a presidente da Finlândia, Tarja Halonen, em 6 de abril, já que uma das empresas envolvidas é finlandesa. Mas o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, negou que tenha havido qualquer intervenção, alegando que houve apenas uma tentativa de facilitar o entendimento: "O Brasil entende e sempre entendeu que o problema das papeleiras pode e deve ser resolvido em âmbito bilateral".

O Uruguai insiste a convocação do Conselho Consultivo do Mercosul. Seu presidente, Tabaré Vásquez, chegou a dizer na semana passada que "o Mercosul assim como está não serve".

Mesmo assim, os dois governos disseram que a relação entre Lula e Kirchner é a melhor desde que se conheceram e que "o momento é excepcional" para as relações Brasil-Argentina. "Os dois líderes concordaram na necessidade de ratificar a decisão já tomada por Brasil e Argentina de formar uma aliança sólida e, a partir dela, aprofundar o Mercosul", disse o chefe de gabinete do governo argentino, Alberto Fernández.

Garcia manifestou ainda a intenção de negociar a crise na Comunidade dos Países Andinos. Na semana passada, o presidente Hugo Chávez anunciou a retirada da Venezuela porque dois países andinos, a Colômbia e o Peru, firmaram acordos de livre comércio com os EUA.

terça-feira, 25 de abril de 2006

Líder da Al Caeda no Iraque mostra sua cara

Num desafio aos Estados Unidos, o líder terrorista jordaniano Abu Musab al Zarkawi mostrou sua cara no vídeo pela primeira vez, defendeu a luta armada contra a invasão americana e convocou os muçulmanos para a guerra.

O vídeo foi divulgado hoje num site de Internet, dois dias depois da TV árabe Al Jazira ter apresentado mais uma fita com mensagem do líder máximo d'al Caeda, o terrorista saudita Ossama ben Laden.

Zarkawi já havia aparecido em fotos e suspeita-se que até mesmo em vídeo degolando um refém ocidental, mas com o rosto coberto. Gravou sua mensagem com um gorro preto na cabeça e um cinturão de terrorista suicida.

"Estamos aqui para defender sua honra", disse Zarkawi dirigindo-se aos iraquianos e aos muçulmanos de modo geral. Mas ele é contra as comunidades curda e xiita. Quer se mostrar como um líder mais aceitável pelos árabes sunitas que perderam o poder com a queda de Saddam Hussein em abril de 2003.

A Agência Central de Inteligência (CIA), o serviço de contra-espionagem dos Estados Unidos, considerou o vídeo autêntico.

"O inimigo está fracassando e está tentando atrair dois tipos de pessoas para este jogo do Parlamento", declarou o terrorista, "aqueles que pretendem ser parte dos mujahedins sem nunca ter sofrido com a vida dura dos mujahedins e os que nunca defenderam suas terras contra os cruzados", usando a mesma palavra empregada por Ben Laden para falar dos ocidentais, numa referência às Cruzadas, as guerras entre cristãos e muçulmanos durante a Idade Média. "A maioria das cadeiras ficou com os xiitas, os curdos e os sunitas liberais, então sabemos que o governo será sempre de tiranos e apóstatas".

Estava reagindo contra a nomeação, em 21 de abril, do xiita Jawad al-Maliki para novo primeiro-ministro do Iraque.

Zarkawi é hoje o homem mais procurado do país. Foi condenado à revelia na Jordânia por um atentado que matou 60 pessoas num hotel de Amã. Os EUA oferecem US$ 25 mlihões por sua captura. Sua mensagem está sendo considerada uma tentativa de unificar os grupos insurgentes que lutam contra a ocupação do Iraque. De qualquer maneira, serve para mobilizar voluntários para a guerra.

Nepal festeja vitória da democracia

Dezenas de milhares de mainfestantes voltaram hoje a sair às ruas de Katmandu, a capital do Nepal. Mas desta vez para festejar. Depois de três semanas de protestos, o rei Gianendra, do Nepal, cedeu ontem e mandou reempossar o Parlamento dissolvido em 2002. Desde fevereiro de 2005, o monarca assumiu poderes absolutos. A oposição quer que o ex-primeiro-ministro Girija Prasad Koirala forme o novo governo.

Com a volta da democracia, será possível negociar politicamente uma saída para a guerra civil nepalesa, que já matou mais de 13 mil pessoas desde 1996. Um grupo guerrilheiro de esquerda de inspiração maoísta luta para derrubar a monarquia. Esta vive uma crise sem precedentes desde desde junho de 2001, quando o príncipe herdeiro Dipendra, sob efeito de álcool e cocaína, matou o rei, a rainha e mais oito membros da família real porque seus pais não concordavam com a noiva que ele escolhera para se casar.

Com a crise da monarquia, a guerrilha maoísta intensificou os ataques, agravando ainda mais a situação política. De agosto de 2001 a agosto de 2002, o Nepal viveu sob estado de emergência.

Hoje a guerrilha acusou a aliança de sete partidos oposicionistas que liderava as manifestações de trair o povo ao aceitar a reabertura do Parlamento.

Único reino hinduísta do mundo, o Nepal é conhecido como o teto do mundo por ficar na Cordilheira do Himalaia e ter a montanha mais alta do mundo, o Everest (8.850 metros).

Agora a oposição pretende convocar uma assembléia constituinte para tornar o rei uma figura decorativa ou simplesmente acabar com a monarquia.

Irã promete compartilhar tecnologia nuclear

O líder espiritual do Irã, aiatolá Ali Khamenei, declarou que seu país está disposto a compartilhar tecnologia nuclear com outras nações como o Sudão, ameaçado de sanções e até de uma intervenção militar por causa do genocídio na província de Darfur, onde milícias ligadas ao regime fundamentalista sudanês mataram mais de 200 mil pessoas nos últimos quatro anos.

Se o Irã for submetido a sanções pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, a república islâmica pretende romper com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), reiterou hoje um negociador iraniano. O Conselho de Segurança exige que o país paralise seu programa nuclear, suspeito de desenvolver armas atômicas, até sexta-feira, 28 de abril. Mas a China e a Rússia, duas potências com poder de veto na ONU, se opõem a um boicote e mais ainda a uma ação militar.

"Estas declarações só aumentam o isolamento do Irã na comunidade internacional", comentou a secretária de Estado americana Condoleezza Rice. O aiatolá Khamenei falou no final de um encontro com o presidente sudanês, Omar Bachir. Numa fita divulgada domingo, o líder terrorista Ossama ben Laden pediu uma "guerra santa" contra uma possível intervenção internacional em Darfur.

García enfrenta Humala no segundo turno da eleição presidencial no Peru em 28 de maio

Depois de semanas de apuração, o ex-presidente Alan García conquistou o direito de disputar o segundo turno da eleição presidencial peruana contra o ex-oficial golpista Ollanta Humala, apoiado pelos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales. Ele superou a candidata direitista Lourdes Flores por menos de 100 mil votos na eleição de 9 de abril.

García recebeu de imediato o apoio do escritor Mario Vargas Llosa, um de seus maiores críticos no passado. Vargas Llosa, que perdeu a eleição de 1990 para Alberto Fujimori, propôs uma aliança entre García e Flores no segundo turno: "Para que o Peru não se afunde cada vez mais no autoritarismo militarista representado por Ollanta Humala, não há outro caminho a não ser uma aliança imediata". E acrescentou: "Digo isso sem a menor alegria, como sabem todos que conhecem minhas críticas ao desastroso governo de García entre 1985 e 1990".

O ex-presidente deixou uma hiperinflação e 80% da população ativa desempregada ou subempregada, além de uma guerra civil contra os grupos terroristas Sendero Luminoso e Movimento Revolucionário Tupac Amaru em que pelo menos 75 mil pessoas foram mortas.

Fujimori acabou tanto com a inflação quanto com a guerrilha mas deu um golpe de Estado, dissolvendo o Legislativo e intervindo no Judiciário. Acabou fugindo do país e se exilando no Japão. Tentou voltar e ser candidato este ano. Foi preso no Chile. Mas sua filha foi a deputada mais votada, num sinal de que o fujimorismo, outra forma de autoritarismo, está vivo no Peru.

No primeiro turno, Humala, líder da uma tentativa de golpe contra Fujimori, teve quase 31% dos votos. García ficou um pouco abaixo dos 25% e Flores não chegou a 24%. Mas acredita-se que uma aliança destes dois consiga bater o candidato ultranacionalista, que assusta o mercado com sua ameaça de nacionalizar os recursos naturais do país, seguindo o modelo chavista.

Apoio ao Partido Trabalhista britânico cai a nível mais baixo em dezenove anos

A popularidade do partido do primeiro-ministro Tony Blair está no nível mais baixo desde as eleições de 1987 na Grã-Bretanha, quando os trabalhistas sofreram sua terceira derrota para a então líder conservadora Margaret Thatcher, indica uma pesquisa divulgada hoje. O Partido Trabalhista deve sofrer severes perdas nas eleições municipais de 4 de maio, vistas como um julgamento da liderança de Blair.

Na sondagem do instituto ICM e do jornal esquerdista The Guardian sobre as eleições municipais, os trabalhistas têm 32% das preferências, dois abaixo da oposição conservadora e cinco pontos abaixo da pesquisa anterior, realizada em março. O Partido Liberal-Democrata tem 24% das intenções de voto. Estarão em jogo 4 mil cadeiras de vereador.

Além da rejeição da maioria do eleitorado à participação britânica na guerra do Iraque, Blair ainda sofre com os problemas do Sistema Nacional de Saúde e o escândalo provocado pela notícia de que o Partido Trabalhista pediu doações para ricos em troca de nomeações para a Câmara dos Lordes do Parlamento Britânico.

No mês passado, os trabalhistas admitiram ter arrecadado 14 milhões de libras, equivalentes a mais de R$ 50 milhões, de 12 ricos empresários, mas negou ter vendido títulos de lorde.

Antes das eleições do ano passado, quando os trabalhistas perderam mais de 100 deputados na Câmara dos Comuns, Blair anunciou que não tentaria um quarto mandato. Isto enfraqueceu sua liderança e deflagrou a luta pela sua sucessão. A esquerda do partido trabalha intensamente para que o ministro das Finanças, Gordon Brown, assuma a liderança mas Blair nega-se a marcar uma data para renunciar ao cargo.

Pelo sistema político britânico, o novo líder trabalhista assumiria automaticamente o cargo de primeiro-ministro, sem necessidade de novas eleições.

segunda-feira, 24 de abril de 2006

Primeiro genocídio do século 20 começou há 91 anos

Em 24 de abril de 1915, a prisão de 800 artistas e intelectuais dava início ao primeiro genocídio do século 20, cometido pelo Império Otomano (turco) contra os armênios. Daquela data até 1923, cerca de 1,5 milhão de armênios foram mortos, a maioria até 1916. Só a consolidação da Revolução Russa pôs fim ao martírio armênio.

O genocídio foi cometido principalmente durante a Primeira Guerra Mundial, quando os turcos foram aliados da Alemanha e do Império Austro-Húngaro, a aliança derrotada em 1918. A Turquia nega o genocídio armênio.

Só depois do Holocausto, o genocídio cometido pelos nazistas, que mataram 6 milhões de judeus, as Nações Unidas aprovaram em 1948 a Convenção contra o Genocídio. Isto não impediu a morte de milhões de cambojanos sob o regime do Khmer Rouge (1975-78) nem o genocídio dos tútsis durante a guerra civil em Ruanda, em 1994, quando entre 800 mil e 1 milhão de pessoas foram mortas.

No momento, há um genocídio em andamento na província de Darfur, no Oeste do Sudão. A ONU está por enviar uma força de paz de 10 mil homens para a região mas o líder terrorista Ossama ben Laden defende a ação do governo fundamentalista sudadês e das milícias muçulmanas responsáveis por mais de 200 mil mortes na região.

Argentina, Brasil e Chile fazem plano para estabilizar o Haiti

BUENOS AIRES - O novo presidente do Haiti, René Préval, pediu a ajuda do Brasil, da Argentina e do Chile para fazer um plano de estabilidade e desenvolvimento para seu país, o mais pobre da América, atormentando por uma crise social e econômica sem fim que gera uma instabilidade política permanente.

A proposta deve ser concluída até 14 de maio, data da posse de Préval. Ele pediu ao presidente argentino, Néstor Kirchner, um programa de políticas sociais de emergência como as aplicadas na Argentina depois do colapso da economia deste país, no final de 2001, com o fim da paridade dólar-peso. Está interessado especialmente nos programas Chefes e Chefas de Família e Remediar, pelo qual o governo Eduardo Duhalde (2002-3) transferiu renda às populaçoes mais necessitadas.

Governador de Entre Ríos pede fim do bloqueio da fronteira com Uruguai

BUENOS AIRES - O governador da província argentina de Entre Ríos, Jorge Busti, fez um apelo ontem para que manifestantes parem de bloquear as estradas para o Uruguai, um protesto contra a construção de duas fábricas de papel e celulose do lado uruguaio da fronteira. Na sua opinião, o conflito chamado de guerra das papeleiras deve ser negociado pelo governo da Argentina: "Manter o bloqueio prejudica os interesses do país".

A assembléia dos habitantes de Gualeguaychú, a cidade argentina mais próxima, decidiu ontem manter o bloqueio de duas pontes até 1 de maio. Para o próximo domingo, ecologistas dos dois países estão organizando uma manifestação em que pretendem reunir 40 mil pessoas.

domingo, 23 de abril de 2006

Ben Laden pede guerra santa em Darfur

O terrorista mais temido do mundo, o saudita Ossama ben Laden, pediu uma guerra santa na província de Darfur, no Sudão, e criticou duramente os países ocidentais por cortarem a ajuda aos palestinos depois da posse do governo liderado pelo Movimento de Reistência Islâmica (Hamas): "O boicote do governo eleito democraticamente mostra que há uma guerra de cruzados e sionistas [cristãos e judeus] contra o Islã".

Em mensagem divulgada pela TV árabe Al Jazira, Ben Laden defendeu o governo fundamentalista sudanês e as milícias muçulmanas responsáveis por mais de 200 mil mortes na regiao nos últios quatro anos, pregando uma guerra santa contra qualquer intervençao internacional em Darfur: "Convoco os mujahedins para uma longa guerra contra os cruzados ladrões no Oeste do Sudão".

Ben Laden, que viveu sob a proteção do governo islamita sudanês no início dos anos 90, antes de voltar ao Afeganistão, reafirmou que a luta contra os Estados Unidos e seus aliados continua: "Esta guerra é responsabilidade conjunta dos povos e governos. Enquanto a guerra continua, a população renova sua lealdade aos governantes e políticos, e continua enviando seus filhos a nossos países para que nos combatam". Ou seja, os povos ocidentais também são inimigos e assim podem ser alvo de ataques terroristas.

O Hamas tentou imediatamente se desvincular do terrorista: "A ideologia do Hamas é totalmente diferente da do xeque Ben Laden", declarou o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, ressalvando que as pressões internacionais contra os palestinos podem gerar tensões no mundo árabe e criar "a impressão de de que há uma aliança entre Israel e o Ocidente contra os palestinos".

Uruguai insiste em mediação do Mercosul no conflito com Argentina

BUENOS AIRES - O ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Reinaldo Gargano, afirmou que a resistência argentina em negociar a guerra das papeleiras no âmbito do Mercado Comum do Sul (Mercosul) está "lesionando a institucionalidade" do bloco econômico. Já a Argentina acusou o Uruguai de ameaçar o bloco por ter interesse em negociar um acordo com os Estados Unidos.

Em entrevista à rádio El Espectador, o chanceler uruguaio pediu à Argentina, que ocupa a presidência rotativa do bloco, que convoque o Conselho Consultivo do Mercosul. O Uruguai alega prejuízos econômicos porque duas estradas que o ligam à Argentina estao bloqueadas por manifestantes que protestam contra a construção de duas fábricas de papel e celulose em Fray Bentos, na margem oriental do Rio Uruguai.

No sábado, a assembléia dos habitantes de Gualeguaychú decidiu manter o bloqueio da fronteira até o próximo domingo, quando ecologistas dos dois países pretendem realizar uma grande manifestação de protesto. A partir de 1 de maio, a fronteira deve ser reaberta.

O chanceler disse que terça-feira termina o prazo para uma conciliação entre os dois países, tornando-se necessária a partir daí a intervenção do Mercosul.

Cada vez mais irritado com o Uruguai, o governo argentino, que exige a suspensão das obras por 90 dias para a realização de um estudo independente de impacto ambiental, criticou duramente "os países querem firmar acordos de livre comércio com os EUA", numa referência indireta ao Uruguai e ao Paraguai: "Somos nós, Brasil e Argentina, que temos maior responsabilidade para administrar os problemas da regiao. Nossa união, mesmo com inconveniencias e divergências, é forte e o será mais. Se os países cuja base econômica é a evasão de impostos querem firmar acordos com os EUA, que o façam e que se vão de uma vez", declarou um diplomata argentino ao jornal Página 12.

O Uruguai recorreu pedindo a reabertura da fronteira à Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas, que fará a primeira audiência sobre o caso em 5 de maio.

Também no começo de maio, o presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez, será recebido em Washington pelo presidente George W. Bush e deve manifestar interesse em negociar um acordo de livre comércio com os EUA, o que seria um duro golpe no Mercosul.

sábado, 22 de abril de 2006

Europa adverte que guerra das papeleiras prejudica investimentos

BUENOS AIRES - A guerra das papeleiras, o conflito entre Argentina e Uruguai em torno instalação de duas fábricas de papel e celulose na margem uruguaia do Rio Uruguai, ameaça os investimentos europeus na região, advertiu ontem o comissário de Comércio Exterior da União Européia, Peter Mandelson. Em entrevista ao jornal argentino Clarín, a ministra da Comércio Exterior da Finlândia, Paula Lehtomäki, que cancelou uma visita a Buenos Aires, afirmou que a crise é fruto de " um terrível mal entendido", já que segundo ela a empresa finlandesa Botnia usaria tecnologias modernas e não-poluentes.

Em Gualegaychú, a cidade argentina mais próxima de Fray Bentos, no Uruguai, onde estão sendo construídas as fábricas, uma assembléia de moradores decidiu manter até o próximo domingo o bloqueio da Ponte Internacional San Martín, que liga os dois países.

"Não creio que os interesses econômicos de ninguém ganhem com um contencioso que coloca em questão os futuros investimentos europeus nesta região da América do Sul", declarou Mandelson em Helsinque, capital da Finlandia, onde fica a sede da Botnia, uma empresas envolvidas; a outra é a espanhola Ence.

Já a ministra finlandesa, insistindo em que se trata de um empreendimento privado, manifestou esperança de um acordo entre Argentina, Uruguai e as empresas.

Por sua vez, o eurodeputado Emilio Menéndez del Valle, líder da uma comissao do Parlamento Europeu que esteve na Argentina nesta semana, declarou estar "preocupado com a situaçao do Mercosul". Na sua opiniao, a crise mostra que a baixa institucionalizaçao do bloco prejudica seu funcionamento.

Além do aspecto econômico, o Mercosul deveria resolver os conflitos entre seus países-membros. Depois da rejeição argentina de uma mediação brasileira, os presidentes Luiz Inacio Lula da Silva e Néstor Kirchner, da Argentina, devem discutir o problema em S. Paulo na próxima quarta-feira.

De 1995 a 2004, os investimentos europeus na Argentina somaram US$ 45,5 bilhões, 40% do total dos investimentos estrangeiros neste país.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

Petróleo bate novo recorde e Chávez diz que vai a US$ 100 se EUA atacarem Irã

O petróleo bateu novo recorde, fechando a US$ 75,17 por barril na Bolsa Mercantil de Nova Iorque, o maior valor nominal da História, embora a cotação de abril de 1980, corrigida pela desvalorização do dólar deste então, equivalha a US$ 97,55.

O maior problema está nas crises políticas em grandes produtores como Iraque, Irã, Venezuela, Nigéria e Chade.

Se os Estados Unidos atacarem o Irã numa tentativa de neutralizar o programa nuclear da república islâmica, suspeita de tentar fabricar bombas atômicas, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, prevê que a cotação chegue a US$ 100. Há pouco tempo, só se falava em US$ 75 caso houvesse um problema sério na Arábia Saudita, maior produtor mundial, onde dissidentes fundamentalistas desafiam a família real.

Chávez anunciou ontem que a Venezuela vai deixar a Comunidade Andina das Nações porque dois de seus membros, Peru e Colômbia, firmaram acordos de livre comércio com os EUA.

Argentina rejeita mediação brasileira na guerra das papeleiras

BUENOS AIRES - A Argentina rejeitou ontem a intermediação do Brasil na chamada guerra das papeleiras, o conflito com o Uruguai por causa da instalação de duas fábricas de papel e celulose na margem oriental do Rio Uruguai. O presidente Néstor Kirchner declarou que trata-se de um problema bilateral.

Ontem o jornal argentino Clarín noticiou que o presidente Luiz Inacio Lula da Silva teria feito um apelo à presidente da Finlândia, país de origem de uma das empresas envolvidas, a Botnia. Mas os argentinos rejeitaram esta gestão informal como indesejada e inadequada.

Durante um debate ontem na televisão argentina, o senador e ex-ministro Rodolfo Terragno e um ex-chanceler uruguaio alegaram que as questões relativas ao Mercosul não podem ser resolvidas caso a caso com base no poder de cada um de seus membros. Para o bloco regional ter algum papel na solução de crises como esta, precisaria criar regras comuns, por exemplo, para a instalação deste tipo de fábricas.

Assim, com uma regra comum que institucionalize as relaçoõs intrabloco, a integração regional avançaria mas nao na base de iniciativas individuais de seu membro mais poderoso.

Em crises internacionais, geralmente o país mais fraco apela para organizações regionais ou internacionais, na expectativa de neutralizar a superioridade do país mais forte. O Paquistão quer sempre internacionalizar a questão da Caxemira mas a Índia se nega.

Neste caso, é a Argentina que rejeita a internacionalização do conflito. Kirchner diz que nunca tocou no assunto com Lula, muito menos pediu mediação brasileira. Os dois presidentes e o venezuelano Hugo Chávez farão uma reunião de cúpula na próxima quarta-feira em Brasília. Antes disso, num jantar a dois em S. Paulo na quarta-feira, poderão discutir a guerra das papeleiras.

O Clarín desta sexta-feira afirma que o governo finlandês, embora diga que é uma questão empresarial privada, tem 39% das ações da Botnia. A construção da fábrica em Fray Bentos, no Uruguai, recomeçou na terça-feira, depois de ficar 10 dias parada.

Kirchner pediu uma suspensão das obras por 90 dias para a realização de um estudo independente de impacto ambiental.

Mais de 22 mil operários de 32 empresas trabalham na construção da fábrica, que deve entrar em funcionamento em setembro de 2007.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Bush recebe líder chinês na Casa Branca mas não há avanço nas questões bilaterais

Com pompa e circunstância, o presidente George W. Bush recebeu hoje seu colega chinês, Hu Jintao, na Casa Branca, dizendo que os Estados Unidos e a China são separados por um oceano mas unidos pela economia global.

Mas há muito mais desunião entre a única superpotência e a superpotência emergente. Nao houve avanço nos temas que afastam os dois países, como a alegação americana de que a China manipula sua moeda, o desejo dos EUA de aplicar sanções contra o Ira por causa de seu programa nuclear, a ameaça nuclear da Coréia do Norte e a situação de Taiwan, que a China considera uma província rebelde mas que conta com a promessa de proteção americana em caso de ataque chinês.

Para a China, a visita é uma reafirmação do seu status de potência mundial cada vez mais influente. Os economistas calculam que em 2045 a China deva superar os EUA, tornando-se a maior economia do mundo, embora até lá tudo possa acontecer.

Bolsa de Nova Iorque fecha no nível mais alto em seis anos

A Bolsa de Valores de Wall Street fechou hoje em 11.342,89 pontos, seu nível mais alto desde janeiro de 2000. Uma das razões foi o anúncio da General Motors de um prejuízo menor no primeiro trimestre deste ano, de US$ 323 milhões.

Nem o petróleo acima de US$ 70 por barril nem a inflação americana acima do esperado anunciada ontem, de 0,4% em março, desanimaram os investidores, embalados pela notícia de que o Federal Reserve Board (Fed), o banco central americano, de que o ciclo de alta de juros está perto do fim.

"Mercosul assim não serve", diz presidente do Uruguai

BUENOS AIRES - Num desabafo diante da incapacidade do bloco econômico de acabar com a chamada "guerra das papeleiras" entre seu país e a Argentina, o presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez, declarou ontem que "assim como está, o Mercosul não serve. O conflito foi gerado pela construção de duas fábricas de papel e celulose em Fray Bentos, no Uruguai, à margem esquerda do Rio Uruguai.

Pela primeira vez, ontem, o presidente argentino, Néstor Kirchner pediu às empresas que suspendam as obras por 90 dias para que sejam realizados estudos independentes de impacto ambiental e apelou ao governo da Finlândia para que intervenha, já que uma das empresas, a Botnia, é de lá. A presidente finlandesa, Tarja Halonen, respondeu que "é um empreendimento privado" mas que pediu à Botnia que dê as informaçoes necessárias. A Finlândia suspendeu a visita da ministra de Comércio Exterior, Cooperação e Desenvolvimento, Paula Lehtomaki,alegando que ela não seria bem recebida na Argentina.

Em sua edição de hoje, o jornal Clarín, o mais vendido na Argentina, ligado ao governo Kirchner, revelou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intercedeu discretamente em 6 de abril, apelando à presidente da Finlândia para que convença a Botnia a suspender as obras. Na semana passada, o ministro das Relaçoes Exteriores do Brasil, embaixador Celso Amorim, retomou os contatos com seu colega finlandês. Mas até agora a iniciativa negociadora de Lula nao deu resultado.

Durante uma reuniao de cúpula com os presidentes da Bolívia, Evo Morales, da Venezuela, Hugo Chávez, e do Paraguai, Nicanor Duarte, o chefe de Estado uruguaio foi bastante duro reclamando que não foi convocada a reunião do Conselho Consultivo do Mercosul pedida por ele:"Queremos um Mercosul que realmente favoreça nossos povos e, neste momento, estamos encontrando sérias dificuldades".

O presidente paraguaio também criticou o bloco: "O Mercosul deve se converter numa plataforma de desenvolvimento, integração e soluções, e deve considerar que seus sócios têm direitos iguais."

Não é a primeira vez que os pequenos países se queixam do Mercosul. Ambos podem negociar acordos bilaterais com os Estados Unidos, o que seria altamente prejudicial ao bloco.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

EUA recebem superpotência emergente

Desde o fim da União Soviética, os Estados Unidos tornaram-se a única superpotência. Mas agora o extraordinário crescimento econômico vai alçando a China a esta categoria. A China já é uma superpotência econômica, tem armas nucleares e expande rapidamente sua influência pelo mundo, competindo com os americanos no mercado de energia.

Para os chineses, a primeira visita do presidente Hu Jintao a Washington é uma visita de Estado, uma ocasião solene para consolidar sua nova liderança. Para os americanos, é sobretudo uma visita de Trabalho.

Os dois países têm problemas comerciais com o déficit de US$ 202 bilhões dos EUA no comércio bilateral. Este déficit caiu 23% em fevereiro mas ainda é elevado, de US$ 13,8 bilhões.

No mundo globalizado, China e EUA precisam um do outro, e não apenas para manter a economia mundial crescendo. Os EUA contam com o apoio da China para conter os programas nucleares da Coréia do Norte e do Irã. A China espera que os EUA moderem os impulsos pela independência da Taiwan, que o regime comunista chinês considera uma província rebelde.

Apesar de liderar o Partido Comunista, Hu começou sua visita encontrando-se com o homem mais rico do mundo, Bill Gates, dono da Microsoft, que como todo grande empresário está de olho no mercado chinês, de 1,3 bilhão de pessoas.

Mais detalhes, análises e informações ao longo da viagem. Na quinta, Hu encontra-se com o presidente George W. Bush.

Próximo governo brasileiro terá de retomar agenda comercial

Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o cargo, em janeiro de 2003, o Brasil estava envolvido em três grandes negociações de comércio, na Organização Mundial do Comércio (OMC), entre o Mercosul e a União Européia (UE), e com os Estados Unidos e os demais países do continente para criar a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). A Europa e os EUA são os maiores parceiros comerciais do Brasil mas as negociações se estagnaram. Na OMC, se a Rodada Doha for concluída este ano, como previsto, seu resultado será medíocre.

“A pressão para concluir logo esvazia a negociação”, opina Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos de Comércio e Negociações Internacionais (Ícone). “O fim da ALCA também é um grande problema. Hoje 70% do que a gente exporta vai para o continente”.

A negociação bloco a bloco com a UE permitiria dar um rumo ao Mercosul. Hoje o Mercosul está perdido entre o interesse argentino de aprofundar a integração e resolver seus problemas internos, a criação da Comunidade Sul-Americana de Nações defendida pelo governo Lula, a frustração dos pequenos sócios, Paraguai e Uruguai, que podem fazer acordos bilaterais com os EUA, e o complicador representado pela adesão da Venezuela do presidente Hugo Chávez.

Será importante também retomar a agenda com os EUA além da ALCA, em temas de grande potencial como bioenergia, que está bloqueada por preconceitos ideológicos. Mas o governo começa a perceber que a maior ameaça ao desenvolvimento industrial brasileiro vem da Índia.

A questão foi avaliada no seminário A Rodada Doha depois da Conferência Interministerial de Hong Kong: Perspectivas para 2006, realizado ontem pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro.

No momento, concordaram os painelistas, há uma falta de liderança no sistema multilateral de comércio. Os EUA, que sempre lideraram as rodadas do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, da sigla em inglês) estão menos interessados na liberalização comercial, especialmente depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. “Os EUA construíram o sistema e avançaram até a Rodada Uruguai”, disse Jank. Sobrou o núcleo duro do século 19: agricultura e têxteis”.

A Europa continua protecionista e todos temem o Efeito China.

“Há uma ressaca da liberalização dos anos 90”, comentou o economista Pedro Motta Veiga, consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNA), que falou do setor de serviços, onde as maiores pressões são pela abertura dos setores de telecomunicações, seguros e serviços financeiros. “Há ciclos de abertura alternados com momentos mais protecionistas. A Rodada Doha, lançada dois meses depois do 11 de setembro, foi o último suspiro do multilateralismo americano.”

Na Rodada Uruguai, havia uma coalizão liberalizante de países ricos reunindo EUA, Europa, Canadá e Japão. Isto mudou, nota Motta Veiga. “Em 1998, a negociação do Acordo Multilateral sobre Investimentos na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um clube de paises ricos, foi para o brejo. Dali para a frente, praticamente nada aconteceu. Só houve acordos assimétricos de paises ricos com paises fracos”.

Uma exceção foi o acordo EUA-Coréia do Sul, que foge da fórmula do Acordo de Livre Comercio da América do Norte (Nafta, da sigla em inglês). Mas há fortes implicações geopolíticas. Afinal, a Coréia fica estrategicamente entre a China e o Japão, as duas grandes potências do Leste da Ásia

A Rodada Doha, do Milênio ou do Desenvolvimento, apesar dos nomes pomposos, não está cumprindo a promessa de alavancar o desenvolvimento dos paises mais pobres. Os ricos estão claramente em posição defensiva.

Há um prazo importante que vence em 30 de abril. Seria necessário um acordo prévio para que seja possível concluir a rodada este ano, dentro do prazo da Autorização de Promoção do Comércio dada pelo Congresso dos EUA ao presidente George Walker Bush. Ela impede o Congresso de propor emendas que viabilizariam acordos de comercio internacional porque eles teriam de ser renegociados com outros países.

Ninguém acredita num pré-acordo até 30 de abril. Haverá um esforço para terminar a Rodada Doha este ano mas, ou ela será prorrogada por mais alguns anos como a Rodada Uruguai, ou terá resultados medíocres, frustrando as expectativas dos paises em desenvolvimento.

A própria idéia de uma nova rodada de liberalização comercial foi proposta pela Europa para justificar os cortes de subsídios, tarifas e outras barreiras protecionistas aprovados na Rodada Uruguai do GATT (1986-94), que criou a OMC, especialmente no setor agrícola. Os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, preferiam primeiro a aplicação do que foi aprovado no Tratado de Marraqueche mas isto era politicamente difícil para os europeus.

O Brasil tem hoje a agricultura mais competitiva do mundo. Aí está seu maior interesse. Por isso, não foi possível chegar a um acordo com os americanos e europeus, que tem lobbies agrícola muito poderosos.

Agricultura brasileira luta contra protecionismo dos ricos

O maior desafio do Brasil é lutar contra o protecionismo agrícola, sobretudo dos países ricos mas também dos em desenvolvimento, para onde o crescimento das exportações brasileiras é maior. Este protecionismo impediu acordos com os EUA na ALCA e Mercosul-União Européia. Por isto, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, apostou todas as suas fichas nas negociações da Organização Mundial do Comércio. A cartada agrícola é algo que os EUA e a UE usarão como instrumento de barganha numa negociação entre eles. Não fariam grandes concessões ao Brasil em acordos bilaterais.

“Quase todos os produtos brasileiros sofrem algum tipo de proteção como tarifas e cotas”, observou Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos de Comércio Internacional (Icone), ao participar da mesa redonda A Rodada Doha depois de Hong Kong, realizada ontem no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro. Como hoje a maior parte do aumento das exportações vai para paises em desenvolvimento, acrescentou que talvez seja mais importante negociar uma abertura de seus mercados: “China, Índia, Sudeste Asiático, Rússia e Europa Oriental crescem muito e têm problemas de recursos naturais.”

Ele identifica quatro tipos de barreiras:
1. Fito-sanitárias: um caso de vaca louca derrubou 80% das exportações americanas de carne. O Brasil tem o risco da aftosa. Trabalha para introduzir o conceito de regionalismo. Afinal, um surto no Paraguai tem impacto muito maior sobre a pecuária brasileira do que um no Amazonas.
2. Ecológicas: há pressões cada vez maiores pelo impacto ambiental da soja sobre a Floresta Amazônica.
3. Sociais: há pressões contra o uso de mão-de-obra infantil e condições de trabalho.
4. Técnicas: envolvem sobretudo os organismos geneticamente modificados, os transgênicos e sua identificação. A Europa quer introduzir o conceito de bem-estar animal

Em agricultura, os ricos estão claramente numa posição defensiva. Os EUA aprovaram sua Lei Agrícola em 2002 aumentando em 80% os subsídios agrícolas. Em uma década, darão US$ 82 bilhões a seus agricultores, sobretudo em medidas de apoio interno. Não é para a exportação mas reduz o espaço para importação no maior mercado do mundo. “A Europa reformou a política agrícola comum mas continua protecionista, com tarifas pontuais e elevadíssimas”, constata Jank.

“No centro da negociação, a UE tem de se mexer em acesso a mercados, os EUA tem de mexer no apoio interno e o Grupo dos 20 [liderado pelo Brasil] em produtos não agrícolas”, disse o presidente do Icone. O problema é que todas as partes têm de se mover em conjunto.

Jank prevê que a liberalização favoreceria mais as exportações brasileiras de carnes do que de grãos porque elas são mais protegidas. O Brasil exporta mais soja porque outros paises protegem suas indústrias processadoras e usam farelo e torta de soja para alimentar animais.

Outra constatação: quando os preços caem, aumentam os subsídios.

“Como a maioria das exportações agrícolas brasileiras cai na faixa tarifária mais alta, acima de 75%, as tarifas cairão mais”, destacou Jank. Mas ele aponta para cinco muros protecionistas:
1. Magnitude do corte.
2. Definição de produtos sensíveis
3. Cotas.
4. Salvaguardas.
5. Produtos especiais.

Os produtos brasileiros, como carnes, grãos e açúcar, são considerados sensíveis. Então é importante saber de quanto será a queda nas tarifas, que compensações o Brasil terá de oferecer. Até agora, a UE ofereceu uma expansão de cota equivalente a 1% do consumo; o G-20 quer 7%.

Ao mesmo tempo, para liderar o G-20, o Brasil vai dar aos países em desenvolvimento o que tirou da UE, salvaguardas especiais, pergunta o presidente do Icone. A Europa vai aceitar isso? “É impossível imaginar que Brasil, Índia, Argentina e China terá posições comuns em agricultura”.

As duas superpotências emergentes da Ásia têm centenas de milhões de agricultores pobres que precisam de apoio governamental, inclusive para evitar migrações em massa para as cidades.

Efeito China prejudica negociações na OMC

O impacto do desenvolvimento industrial da China emperra as negociações de liberalização comercial da Organização Mundial do Comércio, indicaram os participantes da mesa redonda A Rodada Doha depois de Hong Kong, realizada ontem no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro.

Na negociação de produtos industriais, há o princípio de que não pode haver total reciprocidade nas concessões para que os países mais pobres possam se desenvolver antes de enfrentar a total competição dos mais ricos. Mas o maior complicador talvez seja o Efeito China, o impacto causado pela entrada na OMC do país que mais cresce no mundo.

A tarifa consolidada do Brasil, o teto da aplicação da tarifa resultante da Rodada Uruguai é de 31% na média, com 35% de máximo. Mas a tarifa real aplicada está bem abaixo disso, na media de 10,77% da tarifa externa comum do Mercosul.

Assim, como explicou a economista Sandra Rios, assessora da CNI, “o Brasil tem espaço para negociar uma redução de tarifas, entre a tarifa consolidada e a realmente aplicada, sem necessidade de maior abertura”. Mas “o fenômeno decisivo na OMC hoje é a China, hoje o maior problema para a indústria brasileira”.

Uma questão importante é o tratamento das tarifas não-consolidadas. “A Índia tem 30% das linhas tarifárias não-consolidadas”, nota Sandra. “Para ter o apoio da Índia, o Brasil aceitou isso”.

Há ainda a questão das flexibilidades, mecanismos de escape para acomodar produtos sensíveis de países em desenvolvimento.

Para o corte de tarifas, será adotada a chamada “fórmula suíça”, pela qual os paises em desenvolvimento precisam fazer menos concessões. “O Brasil pode retirar a fórmula ABI (Argentina, Brasil e Índia)”, pondera a assessora da CNI. “A fórmula suíça depende do coeficiente. O Brasil quer 30%; a Argentina quer mais. A tarifa máxima brasileira ficaria em 16,5% e a média em 14,68%.”

Meses trás, foi divulgada uma proposta de abertura comercial do Ministério da Fazenda, que estaria convencido da necessidade de submeter a indústria nacional a um grau maior de competição internacional. “Seria uma tentativa de aproveitar a negociação para ampliar a abertura comercial. Com a mudança de ministro, a proposta será esquecida”, prevê Sandra Rios.

Há outros problemas como compensar as ex-colônias com acesso privilegiado ao mercado europeu. O Brasil deve apresentar uma proposta de redução menor de tarifas.

Existe ainda a questão dos produtos sensíveis. Quase metade terá corte de tarifas pequenos, de dois pontos percentuais.

O Brasil é contra a negociação de acordos setoriais por entender que os setores de interesse dos paises em desenvolvimento ficariam sempre no fim da fila. Obteve apoio da Argentina e da Índia.

REGRAS E ANTIDUMPING
Na negociação sobre as regras do comércio internacional, a prioridade da indústria brasileira é o dumping (exportação de produto abaixo do custo de produção), declarou Leane Cornet Naidin, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É preciso discutir critérios, o conceito de indústria doméstica e como os produtos podem ser objeto de investigação.

A Declaração de Hong Kong fala em transparência, previsibilidade e clareza. Para Leone, os problemas centrais são se o Brasil é um ator relevante, quais são as questões fundamentais e quais as concessões necessárias para atingir os objetivos nacionais.

Quanto às medidas antidumping, há convergência sobre transparência e procedimentos mas divergências quanto à aplicação de regras específicas.

O Brasil não quer abrir mão dos créditos a exportação, “não quer perder o que ganhou” no contencioso com o Canadá sobre as fábricas de aviões Embraer e Bombardier. Também discute os critérios de classificação industrial e o cálculo do valor real dos subsídios.

A pesca não estava na Rodada Uruguai. Pela primeira vez será submetida às regras do sistema multilateral de comércio. Há uma discussão de regras especiais para pesca costeira e alto-mar

No momento, não há setores industriais brasileiros interessados em maior abertura comercial. Temem a China. Mas a proposta de queda de tarifas do Ministério da Fazenda indica uma intenção de aumentar a exposição da indústria à concorrência internacional. O vazamento da proposta teve o duplo objetivo de minar a abertura e atingir o então ministro Antonio Palocci. “Quebraram o sigilo da Fazenda”, ironizou Motta Veiga.

Ao tirar o ex-senador Robert Portman do cargo de representante comercial dos EUA, uma espécie de ministro do comércio exterior, levando-o para o escritório de orçamento da Casa Branca, o presidente Bush sinalizou que sua prioridade este ano é a eleição para renovar o Congresso em novembro, a agenda interna e não a negociação de acordos comerciais que fatalmente provocam desemprego em alguns setores. Portman tem muito trânsito no Congresso.

Com a guerra contra o terror, os EUA estão muito menos interessados hoje em multilateralismo e liberalização comercial. Não querem, por exemplo, abertura no comércio marítimo, que tem implicações estratégicas. Afinal, o nacionalismo econômico é uma arma de guerra importante.

Noruega tenta romper isolamento do Hamas

A Noruega recebeu ontem representantes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), que controla o atual governo semi-autônomo palestino, tentando romper o isolamento do grupo. O governo norueguês promoveu as negociações secretas entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina, no início da década de 90, e agora quer salvar o que resta do processo de paz no Oriente Médio.

O Hamas é boicotado por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Européia por se negar a abandonar a luta armada e não reconhecer Israel. O movimento fundamentalista alega que é um direito natural na luta contra a ocupação israelense.

Depois do último atentado terrorista palestino, o primeiro em Israel desde que o Hamas assumiu o governo, o governo israelense acusa o Hamas, que fez uma trégua de um ano com os israelenses, de incentivar o terrorismo ao declarar que é um instrumento válido de luta. Em retaliação, o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, mandou cancelar os vistos de residência em Jerusalém de líderes do Hamas.

Um dirigente do Hamas já admitiu a inevitabilidade da solução de dois países, Israel e a Palestina, dividindo o território histórico da Palestina entregue ao Império Britânico por mandato da Liga das Nações, depois da Primeira Guerra Mundial. Mas esta negociação de fundo com Israel ainda está distante.

Israel não repassa mais os tributos arrecadados nos territórios palestinos. Os EUA e a UE cortaram a ajuda. Só ficou a ajuda humanitária da ONU. Isto deixou o governo palestino falido, sem dinheiro para pagar seus funcionários, o que provocou manifestações de protesto nesta semana.

O Irã prometeu US$ 50 milhões, a quantia que a Autoridade Nacional Palestina perde por mês sem o repasse de Israel, e um emirado árabe ficou de dar a mesma quantia. O Hamas conta com estas fontes alternativas à ajuda negada pelo Ocidente, que o considera um grupo terrorista.

China e Rússia rejeitam sanções contra o Irã

Fracassou a reunião das cinco grandes potências com direito de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas (Estados Unidos, China, Rússia, Grã-Bretanha e França) sobre a crise iraniana. Os EUA e seus aliados europeus querem aplicar sanções econômicas contra a república islâmica, que acusam de desenvolver armas nucleares.

Há cada vez menos dúvidas de que o regime fundamentalista de Teerã quer mesmo fabricar a bomba. Mas a Rússia e a China insistem na via diplomática.

Se for alvo de um embargo econômico, o Irã, quarto maior produtor mundial de petróleo, ameaça retaliar com um boicote da venda de petróleo capaz de abalar ainda um mercado extremamente tenso, com uma folga muito pequena entre a demanda e a oferta, onde o petróleo está acima de US$ 70 por barril.

Se for atacado por um bombardeio aéreo dos EUA ou de Israel, o contra-ataque deve vir também pelo terrorismo. Milhares de iranianos estão se alistando como voluntários do martírio contra alvos americanos, britânicos e israelenses.

O presidente radical iraniano Mahmoud Ahmadinejad prometeu ontem "cortar a mão dos agressores".

Neil Young pede impeachment de Bush

O veterano roqueiro canadense Neil Young, um dos ícones dos anos 60, quer a cabeça do presidente George W. Bush. Seu novo disco, Living With War ("Vivendo com a Guerra"), de 10 faixas, faz um protesto contra a Guerra do Iraque propondo "um juramento sagrado de não matar de novo" e tem uma música chamada Let's Impeach the President ("Vamos Impichar o Presidente", numa tradução livre).

É um disco dedicado à "atual situação dos Estados Unidos ou ao rumo que o país está tomando", declarou Elliot Roberts, produtor de Neil Young há vários anos.

Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, o cantor e compositor fez uma música em homenagem aos mortos do vôo 93 da United Airlines, que terminou quando os passageiros tentaram atacar os sequestradores, e apoiou a Lei Patriótica, que dá poderes especiais ao governo para combater o terrorismo. Isto provocou uma erosão dos direitos civis.

Agora, Neil Young completa o círculo a volta para a postura pacifista que o caracterizou desde o início de sua carreira musical, nos grupos Buffalo Springfiels e Crosby, Stills, Nash & Young. Destes quatro, ele foi o que teve maior sucesso depois em carreira solo, com álbuns como After the Gold Rush e Harvest.

terça-feira, 18 de abril de 2006

Petróleo bate novo recorde mas Bolsa de Nova Iorque sobe

O barril de petróleo terminou o dia cotado a US$ 71,13 na Bolsa Mercantil de Nova Iorque. Em Londres, o petróleo tipo Brent, do Mar do Norte, subiu US$ 1,05, fechando em US$ 72,51, por causa do aumento da tensão em torno do programa nuclear do Irã, suspeito de desenvolver armas nucleares.

Mesmo assim, a Bolsa de Valores de Nova Iorque fechou em alta diante da sinalização do Federal Reserve Board (Fed), o banco central americano, que o ciclo de aumento das taxas de juros ou "está perto do fim". Foram liberadas as minutas da primeira reunião presidida por Ben Bernanke.

O mercado americano festejou o melhor dia da Bolsa de Valores de Wall St. e da Nasdaq, das ações de alta tecnologia, com reflexos positivos no mundo inteiro, inclusive na Bolsa de S. Paulo.

Guerra das papeleiras ameaça Mercosul

Um conflito diplomático entre a Argentina e o Uruguai ameaça a unidade do Mercado Comum do Sul (Mercosul). No último fim de semana, o governo uruguaio rompeu as negociações em torna da chamada Guerra das Papeleiras, provocada pela instalação de duas fábricas de celulose junto ao Rio Uruguai, no lado uruguaio.

Os argentinos protestam contra a ameaça de poluição, exigem um estudo de impacto ambiental e bloqueiam pontes e estradas. Em resposta, o Uruguai recorreu à Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas, ao Mercosul e à Organização Mundial do Comércio em defesa do direito de ir e vir..

O ex-presidente argentino Raúl Alfonsín, um dos pais do Mercosul, adverte que a crise é uma ameaça para o bloco. Mas até o momento a diplomacia brasileira trata o assunto como uma questão bilateral. Já houve uma tentativa de resolver o problema com um encontro de cúpula dos presidentes Néstor Kirchner, da Argentina, e Tabaré Vasquez, do Uruguai, mas ele foi cancelado na última hora.

As empresas transnacionais espanhola Ence e finlandesa Botnia estão construindo fábricas de papel e celulose na cidade uruguaia de Fray Bentos. Com investimento previsto de US$ 1,7 bilhão, cerca de 10% do produto interno bruto do Uruguai, devem entrar em funcionamento em 2007.

O governo argentino exige a paralisação das obras até que seja feito um estudo de impacto ambiental independente. Alega que o Uruguai violou o Tratado do Rio Uruguai, que regulamenta o uso comum do rio pelos dois países, por não revelar mais detalhes sobre as fábricas. A empresa finlandesa nega-se a parar as obras,

No início, a questão parecia preocupar apenas os ecologistas. Eles mobilizaram a população de Gualeguaychú, que fica diante de Fray Bentos, na outra margem do Rio Uruguai. A primeira grande marcha de protesto foi realizada em 30 de abril do ano passado, atraindo a atenção para o problema nos dois países.

Durante 40 dias, os argentinos bloquearam o acesso ao Uruguai. Desde 5 de abril, depois que a Botnia negou-se a interromper sua obra, voltaram a interromper o tráfego. O mesmo fizeram os moradores de Colón, que fica diante de Paysandú, deixando apenas uma passagem aberta entre os dois países entre Concórdia e Salta.

O governo uruguaio afirma que o pais já perdeu US$ 400 mil com o bloqueio. As empresas de transporte do Uruguai ameaçam parar de transportar carga e passageiros para a Argentina se os piquetes não foram desmontados. Na Semana Santa, o movimento turístico entre os dois países caiu pela metade.

Numa concessão, as autoridades uruguaias anunciaram na quinta-feira que exigirão que as empresas se adaptem às exigências do Banco Mundial, que reteve empréstimos essenciais para a conclusão das obras. O banco não liberou o dinheiro mas declarou que não há risco de uma catástrofe ecológica, como advertem os ambientalistas da província argentina de Entre Rios.

Para Wyne Dwernychuk, especialista canadense que trabalhou para o Banco Mundial, “há uma preocupação excessiva na Argentina”. Mesmo o despejo dos dejetos industriais no rio causaria, na sua opinião, apenas “danos menores”.

A diretora nacional de Meio Ambiente do Uruguai, Alicia Torres, informou que a “comissão de acompanhamento” prevista na autorização dada por seu governo “deveria ter começado a trabalhar em fevereiro”. Só não o teria feito porque a Argentina não enviou representantes. “Se não o fizer nos próximos dias, a comissão começaram a trabalhar sem um técnico argentino.”

Uma nova tentativa de mediação está sendo feita pela Igreja Católica, a pedido do presidente Kirchner. Nesta segunda-feira, o presidente da Conferência Episcopal do Uruguai, Pablo Galimberti, pediu cautela para evitar frustrações em caso de fracasso. Afinal, se a Argentina pede a intervenção da Igreja, é sinal de que as gestões diplomáticas bilaterais não deram resultado.

A Guerra das Papeleiras acontece num momento difícil para o Mercosul por causa do distanciamento entre os presidentes Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva, das negociações de acesso da Venezuela de Hugo Chávez, da criação de um sistema de salvaguardas contra aumentos repentinos de importações e da possibilidade cada vez maior de que os sócios menores, Paraguai e Uruguai, firmem acordos bilaterais de comércio com os EUA.

Diante do fracasso das negociações para criar a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e da resistência dos governos do Brasil, da Argentina e da Venezuela, os EUA partiram para a negociação de acordos bilaterais com os paises interessados da América do Sul. Além do Chile, com quem já tinham acordo, fecharam com a Colômbia e o Peru. Isto atrapalha a estratégia brasileira de criar a Comunidade Sul-Americana das Nações unindo o Mercosul à Comunidade Andina de Nações (Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela).

O problema para o Brasil é que o presidente Kirchner, eleito depois da pior crise econômica da História da Argentina, está preocupado com questões imediatas que afligem o povo argentino como crescimento econômico e emprego. A Argentina prioriza o aprofundamento da integração, a solução dos problemas internos do bloco, à sua expansão.

Se o Mercosul tem problemas com poucos países, como se tornar mais eficiente com muitos? E o que o bloco tem a oferecer para levar estabilidade política aos conflagrados países andinos?

Para o Brasil, o Mercosul é um importante instrumento de geopolítica, de afirmação de uma política externa independente. Os argentinos parecem mais preocupados com os benefícios econômicos da integração.

Na primeira década do Mercosul, a Argentina teve saldo favorável no comércio com o Brasil. Depois do colapso da paridade dólar-peso, em 2001, a situação se inverteu. Por causa disso, houve um aumento de apelos protecionistas na Argentina contra a importação de calçados, têxteis e eletrodomésticos do Brasil. Isto levou à assinatura de um acordo que prevê salvaguardas contra aumentos de importação inesperados. O Brasil era contra por entender que as salvaguardas violam os princípios do Tratado de Assunção, que criou o Mercosul em 26 de março de 1991.

Bush muda representante comercial dos EUA

O presidente George Walker Bush nomeou o ex-senador Robert Portman para o Escritório de Gerenciamento e Orçamento, um cargo importante neste ano de eleições de meio de mandato nos Estados Unidos. Portman substitui Joshua Bolten, que foi para a chefia da Casa Civil da Casa Branca. Com sua popularidade em baixa, Bush precisa melhorar as relações com o Congresso.

Para o lugar de Portman, o presidente americano indicou a segunda pessoa na hierarquia do escritório do Representante Comercial dos EUA, Susan Schwab, que trabalhara no governo de seu pai. Seu desafio imediato será enfrentar as difíceis negociações da Rodada Doha de liberalização comercial da Organização Mundial do Comércio (OMC).

No próximo dia 30 de abril, vence um prazo importante para que a rodada seja concluída este ano, sem que o presidente dos EUA precise pedir nova autorização para negociar acordos internacionais ao Congresso. A autorização para promoção comercial permite que o Executivo negocie e o Legislativo possa apenas aprovar ou rejeitar cada acordo internacional como um todo, sem propor emendas que exigiriam renegociações com outros países.

Os observadores não estão otimistas quanto a um acordo prévio ainda este mês. Tudo indica que a Rodada Doha terá de ser prorrogada por mais alguns anos para evitar um fracasso total. Para o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, só uma reunião de cúpula permitiria um acordo até 30 de abril.

O Brasil insiste na liberalização da agricultura, apoiado por um bloco de países em desenvolvimento. Mas os países ricos resistem, sobretudo os EUA, os europeus e o Japão.

Petróleo abre em alta em Nova Iorque

O preço do petróleo abriu em alta hoje na Bolsa Mercantil de Nova Iorque, cotado a US$ 70,55 por barril, depois de atingir o recorde de US$ 70,88 durante a noite.

Com o temor de que a alta do petróleo desacelere a economia mundial, aumentou a cotação dos bônus governamentais europeus. A maioria das bolsas do continente europeu está em queda mas a Bolsa de Londres está em alta, puxada pelos preços das commodities (produtos primários), com petróleo, ouro e cobre em níveis recorde.

Na Ásia, o mercado fechou em alta.

Estudo suscita dúvidas sobre a pílula anticoncepcional

Uma ampla pesquisa realizada nos Estados Unidos revela um risco maior de coágulos, ataques cardíacos e acidentes vasculares-cerebrais em mulheres que tomam estrogênio e progesterona para tratar sintomas da menopausa levanta suspeitas sobre a pílula anticoncepcional, que contém os mesmos hormônios.

Ao comentar o estudo encomendado pela Iniciativa pela Saúde da Mulher, médicos ouvido pelo The Wall St. Journal observaram que o risco é menor na faixa dos 20, 30 anos, quando as mulheres costumam tomar a pílula. Os hormônios usados na pílula são mais fortes do que os da menopausa.

Quanto aos riscos de ataques ou coágulos, o risco é muito maior para mulheres fumantes e/ou hipertensas. Em 1998, pesquisadores da Universidade de Harvard, nos EUA, revisaram 400 estudos sobre riscos cardíacos associados à pílula anticoncepcional. Concluíram que só as fumantes tinham aumento de risco por causa da pílula.

Para mulheres de mais idade, o risco cresce bastante dez anos depois dos primeiros sintomas da menopausa.

A revista médica britânica The Lancet examinou 54 pesquisas feitas com 150 mil mulheres sobre a relação da pílula com o câncer de seio. Há um pequeno aumento de risco quando a mulher está tomando a pílula e até 10 anos depois, mais acentuado para quem começa a tomar a pílula antes dos 20 anos.

Na menopausa, depois de tomar estrogênio e progesterona por três anos, há maior risco de câncer de seio. Quem toma só estrogênio não tem maior risco e pode até ser protegida por este hormônio.

O uso da pílula reduz o risco dos cânceres de ovário, intestino grosso e útero. Os hormônios da menopausa parecem reduzir o risco de câncer do intestino grosso.

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Petróleo atinge cotação recorde

O preço do petróleo subiu US$ 1,08 hoje na Bolsa Mercantil de Nova Iorque, fechando na cotação recorde de US$ 70,40 por barril (159 litros). Em Londres, o petróleo do tipo Brent, do Mar do Norte, terminou o dia no recorde de US$ 71,46 por barril.

Entre as causas desta alta, estão a crise envolvendo o programa nuclear do Irã, a guerra no Iraque, a sabotagem de guerrilheiros numa região produtora da Nigéria e a queda dos estoques de gasolina nos Estados Unidos. Com estes problemas geopolíticos de difícil solução e o consumo aumentando por causa do crescimento da China e da Índia, é improvável uma queda de preços significativa.

As cotações do petróleo no mercado futuro chegaram a US$ 70,85 quando o furacão Katrina atingiu o Golfo do México, em 30 de agosto de 2005. Desde o início deste ano, subiram 15%.

Em termos reais, levando-se em conta a desvalorização do dólar, os preços do petróleo estiveram mais altos durante o segundo choque do petróleo, provocado pela revolução islâmica no Irã, em 1979. Em abril de 1980, o preço do petróleo atingiu o que seria equivalente a US$ 97,21 de hoje.

Agora, a suspeita de que o Irã esteja desenvolvendo armas nucleares e o risco de uma ação militar dos Estados Unidos ou de Israel voltam a provocar tensão no mercado. O Irã não é o Iraque, tem 70 milhões de habitantes, Forças Armadas muito mais desenvolvidas com ajuda americana durante o reinado do xá Reza Pahlevi (1953-79) e capacidade de retaliação com terroristas suicidas. No domingo, o jornal inglês The Sunday Times disse que há há 40 mil voluntários do martírio alistados para atacar alvos americanos e britânicos.

"Se a questão for resolvida pacificamente, é certo que a cotação cairá em alguns dólares", comentou Lee Fader, do banco ABN Amro.

Na Nigéria, o suprimento caiu em 500 mil barris por dia devido à sabotagem de grupos rebeldes. O Iraque não consegue formar um governo e sua produção hoje é inferior à do regime de Saddam Hussein.

Como a demanda global para este ano está estimada em 85 milhões de barris por dia e o excesso de capacidade é de apenas 1,9 milhão de barris/dia, qualquer ameaça de queda na oferta deixa o mercado nervoso.

Além dos riscos na oferta e do aumento da demanda, The Wall St. Journal observa que os fundos de investimento estão entrando em massa no mercado de trabalho. Isto ajuda a manter a cotação elevada.

Atentado suicida mata pelo menos nove em Telavive

No primeiro ataque suicida contra Israel desde a posse do governo palestino liderado pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) em 30 de março, pelo menos nove pessoas morreram e outras 60 ficaram feridas, 15 em estado grave, num atentado terrorista palestino numa área de comércio de Telavive. Dois grupos reivindicaram a autoria do atentado, as Brigadas do Mártires de Al-Acsa, ligadas ao partido Fatah, do presidente palestino, Mahmoud Abbas, e a Jihad Islâmica para a Libertação da Palestina.

Abbas condenou o atentado mas um porta-voz do Hamas defendeu o ataque invocando "o legítimo direito de defesa do povo palestino". Mesmo que não tenha sido responsável direto, o Hamas será responsabilizado pelo governo israelense, que prometeu retaliar.

O terrorista detonou a bomba quando um segurança do restaurante Rosa Ha-Ir pediu-o para abrir sua bolsa. Em vídeo divulgado por uma televisão árabe, ele é identificado como Sami Salim Mohammed Hammed, de 21 anos, militante da Jihad Islâmica da cidade de Jenin, na Cisjordânia, e se apresenta como "filho das Brigadas de Al-Quods".

Hoje os 120 deputados do novo parlamento de Israel, eleito em 28 de março, prestam juramento. Um dos principais objetivos da nova legislatura é fixar as fronteiras definitivas de Israel. Se não houver acordo com os palestinos, o primeiro-ministro Ehud Olmert pretende fazer isso unilateralmente, o que os árabes não aceitam.

domingo, 16 de abril de 2006

China cresce 10,2% mas quer esfriar economia

Na véspera de embarcar para os Estados Unidos, o presidente da China, Hu Jintao, anunciou neste domingo que o país cresceu 10,2% no primeiro trimestre de 2006 em relação ao mesmo período do ano passado. Mas manifestou preocupação com o superaquecimento da economia que mais cresceu nas últimas duas décadas.

"Não queremos crescimento acelerado", declarou Hu depois de se encontrar com um ex-líder da oposição em Taiwan. "Estamos preocupados com o ritmo do desenvolvimento e a qualidade e o efeito do nosso crescimento. Estamos preocupados em poupar nossos recursos, proteger o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida da população."

A China cresceu 9,9% em 2005. Seu produto interno bruto chegou a US$ 2,26 trilhões, o que a torna a quarta maior economia do mundo, depois dos Estados Unidos, do Japão e da Alemanha. Para este ano, os economistas previam algo entre 8,5% e 9%. A taxa de 10,2% indica um aquecimento acima do pretendido pelas autoridades chinesas. Em março, o governo divulgou um plano quinquenal prevendo crescimento de 7,5% ao ano até 2010.

O crescimento no primeiro trimestre foi atriuído ao aumento das exportações, da oferta de crédito no mercado interno e da entrada de capital estrangeiro.

Nos EUA, Hu irá enfrentar pressões pela valorização do iuã e ameaças do Congresso de adotar medidas protecionistas. Mas o déficit comercial entre os dois países caiu 23% em março. Ainda é elevado, de US$ 13,8 bilhões, mas é o menor desde março de 2005.