quinta-feira, 20 de abril de 2006

"Mercosul assim não serve", diz presidente do Uruguai

BUENOS AIRES - Num desabafo diante da incapacidade do bloco econômico de acabar com a chamada "guerra das papeleiras" entre seu país e a Argentina, o presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez, declarou ontem que "assim como está, o Mercosul não serve. O conflito foi gerado pela construção de duas fábricas de papel e celulose em Fray Bentos, no Uruguai, à margem esquerda do Rio Uruguai.

Pela primeira vez, ontem, o presidente argentino, Néstor Kirchner pediu às empresas que suspendam as obras por 90 dias para que sejam realizados estudos independentes de impacto ambiental e apelou ao governo da Finlândia para que intervenha, já que uma das empresas, a Botnia, é de lá. A presidente finlandesa, Tarja Halonen, respondeu que "é um empreendimento privado" mas que pediu à Botnia que dê as informaçoes necessárias. A Finlândia suspendeu a visita da ministra de Comércio Exterior, Cooperação e Desenvolvimento, Paula Lehtomaki,alegando que ela não seria bem recebida na Argentina.

Em sua edição de hoje, o jornal Clarín, o mais vendido na Argentina, ligado ao governo Kirchner, revelou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intercedeu discretamente em 6 de abril, apelando à presidente da Finlândia para que convença a Botnia a suspender as obras. Na semana passada, o ministro das Relaçoes Exteriores do Brasil, embaixador Celso Amorim, retomou os contatos com seu colega finlandês. Mas até agora a iniciativa negociadora de Lula nao deu resultado.

Durante uma reuniao de cúpula com os presidentes da Bolívia, Evo Morales, da Venezuela, Hugo Chávez, e do Paraguai, Nicanor Duarte, o chefe de Estado uruguaio foi bastante duro reclamando que não foi convocada a reunião do Conselho Consultivo do Mercosul pedida por ele:"Queremos um Mercosul que realmente favoreça nossos povos e, neste momento, estamos encontrando sérias dificuldades".

O presidente paraguaio também criticou o bloco: "O Mercosul deve se converter numa plataforma de desenvolvimento, integração e soluções, e deve considerar que seus sócios têm direitos iguais."

Não é a primeira vez que os pequenos países se queixam do Mercosul. Ambos podem negociar acordos bilaterais com os Estados Unidos, o que seria altamente prejudicial ao bloco.

Nenhum comentário: