BUENOS AIRES - A Argentina rejeitou ontem a intermediação do Brasil na chamada guerra das papeleiras, o conflito com o Uruguai por causa da instalação de duas fábricas de papel e celulose na margem oriental do Rio Uruguai. O presidente Néstor Kirchner declarou que trata-se de um problema bilateral.
Ontem o jornal argentino Clarín noticiou que o presidente Luiz Inacio Lula da Silva teria feito um apelo à presidente da Finlândia, país de origem de uma das empresas envolvidas, a Botnia. Mas os argentinos rejeitaram esta gestão informal como indesejada e inadequada.
Durante um debate ontem na televisão argentina, o senador e ex-ministro Rodolfo Terragno e um ex-chanceler uruguaio alegaram que as questões relativas ao Mercosul não podem ser resolvidas caso a caso com base no poder de cada um de seus membros. Para o bloco regional ter algum papel na solução de crises como esta, precisaria criar regras comuns, por exemplo, para a instalação deste tipo de fábricas.
Assim, com uma regra comum que institucionalize as relaçoõs intrabloco, a integração regional avançaria mas nao na base de iniciativas individuais de seu membro mais poderoso.
Em crises internacionais, geralmente o país mais fraco apela para organizações regionais ou internacionais, na expectativa de neutralizar a superioridade do país mais forte. O Paquistão quer sempre internacionalizar a questão da Caxemira mas a Índia se nega.
Neste caso, é a Argentina que rejeita a internacionalização do conflito. Kirchner diz que nunca tocou no assunto com Lula, muito menos pediu mediação brasileira. Os dois presidentes e o venezuelano Hugo Chávez farão uma reunião de cúpula na próxima quarta-feira em Brasília. Antes disso, num jantar a dois em S. Paulo na quarta-feira, poderão discutir a guerra das papeleiras.
O Clarín desta sexta-feira afirma que o governo finlandês, embora diga que é uma questão empresarial privada, tem 39% das ações da Botnia. A construção da fábrica em Fray Bentos, no Uruguai, recomeçou na terça-feira, depois de ficar 10 dias parada.
Kirchner pediu uma suspensão das obras por 90 dias para a realização de um estudo independente de impacto ambiental.
Mais de 22 mil operários de 32 empresas trabalham na construção da fábrica, que deve entrar em funcionamento em setembro de 2007.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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