sexta-feira, 21 de abril de 2006

Argentina rejeita mediação brasileira na guerra das papeleiras

BUENOS AIRES - A Argentina rejeitou ontem a intermediação do Brasil na chamada guerra das papeleiras, o conflito com o Uruguai por causa da instalação de duas fábricas de papel e celulose na margem oriental do Rio Uruguai. O presidente Néstor Kirchner declarou que trata-se de um problema bilateral.

Ontem o jornal argentino Clarín noticiou que o presidente Luiz Inacio Lula da Silva teria feito um apelo à presidente da Finlândia, país de origem de uma das empresas envolvidas, a Botnia. Mas os argentinos rejeitaram esta gestão informal como indesejada e inadequada.

Durante um debate ontem na televisão argentina, o senador e ex-ministro Rodolfo Terragno e um ex-chanceler uruguaio alegaram que as questões relativas ao Mercosul não podem ser resolvidas caso a caso com base no poder de cada um de seus membros. Para o bloco regional ter algum papel na solução de crises como esta, precisaria criar regras comuns, por exemplo, para a instalação deste tipo de fábricas.

Assim, com uma regra comum que institucionalize as relaçoõs intrabloco, a integração regional avançaria mas nao na base de iniciativas individuais de seu membro mais poderoso.

Em crises internacionais, geralmente o país mais fraco apela para organizações regionais ou internacionais, na expectativa de neutralizar a superioridade do país mais forte. O Paquistão quer sempre internacionalizar a questão da Caxemira mas a Índia se nega.

Neste caso, é a Argentina que rejeita a internacionalização do conflito. Kirchner diz que nunca tocou no assunto com Lula, muito menos pediu mediação brasileira. Os dois presidentes e o venezuelano Hugo Chávez farão uma reunião de cúpula na próxima quarta-feira em Brasília. Antes disso, num jantar a dois em S. Paulo na quarta-feira, poderão discutir a guerra das papeleiras.

O Clarín desta sexta-feira afirma que o governo finlandês, embora diga que é uma questão empresarial privada, tem 39% das ações da Botnia. A construção da fábrica em Fray Bentos, no Uruguai, recomeçou na terça-feira, depois de ficar 10 dias parada.

Kirchner pediu uma suspensão das obras por 90 dias para a realização de um estudo independente de impacto ambiental.

Mais de 22 mil operários de 32 empresas trabalham na construção da fábrica, que deve entrar em funcionamento em setembro de 2007.

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