Numa clara intervenção na política interna do Peru, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ameaçou retirar seu embaixador de Lima se o ex-presidente Alan García for eleito no segundo turno da eleição presidencial, em 28 de maio. O governo peruano protestou formalmente, denunciando a ingerência indevida em seus assuntos internos.
Chávez atacou García durante manifestação convocada para festejar ontem o Dia do Trabalho em Caracas, respondendo a acusações do candidato peruano de que o presidente venezuelano "é um sem vergonha por pedir que ninguém negocie para os EUA enquanto a Venezuela vende petróleo no valor de US$ 50 bilhões por ano" aos americanos.
A resposta chavista veio com a mesma dureza: "Se por obra do demônio García chegar a ser presidente do Peru, vou retirar meu embaixador porque não teremos relações com um presidente desta canalhice, um sem vergonha, um corrupto um ladrão". Disse que não poderia participar de reuniões de cúpula com García sem cuidar de sua carteira. E continuou: "Isto que ele disse faz parte da cartilha que lhe leram da Casa Branca. Antes, a candidata do Pentágono e de George W.Bush era Lourdes Flores mas agora García é o candidato escolhido por Bush para continuar escravizando os povos da América Latina".
Depois de dar vivas ao povo do Peru, aos trabalhadores e aos indígenas, o presidente venezuelano defendeu o candidato nacionalista Ollanta Humala, que como ele é um ex-oficial golpista: "Tens de ganhar, Ollanta, não por ti mas pelo Peru. Que Deus livre o Peru de um bandido e corrupto como este!"
O presidente venezuelano também atacou o atual presidente do Peru, Alejandro Toledo, acusando-o de deixar "um país arrasado pelo neoliberalismo, sobretudo por este último governo, que se ajoelhou diante do império e assinou um tratado de livre comércio com os EUA".
Há pouco mais de uma semana, Chávez anunciou que a Venezuela está se retirando da Comunidade Andina das Nações porque a Colômbia e o Peru assinaram acordos de livre comércio com os EUA. Mas negou que tenha pedido que não negociem com os americanos: "É mentira dizer que estamos pedindo ao Peru e à Colômbia que não comerciem com os EUA. São países soberanos e têm todo o direito de fazerem o que quiserem. Mas nós estamos saindo porque, com a assinatura dos acordos de livre comércio, a CAN acabou".
Na semana passada, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, pediu a mediação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para salvar a CAN. O governo Lula defende a criação da Comunidade Sul-Americana das Nações unindo o Mercosul à Comunidade Andina.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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