O presidente dos Estados Unidos, George Walker Bush, declarou publicamente seu "total apoio" e "a mais profunda estima" ao secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, acusado de incompetência e incapacidade para exercer o cargo por seis generais, três dos quais participaram da Guerra do Iraque.
"Conversei mais cedo com Don Rumsfeld sobre as operação em andamento na guerra global contra o terror", disse Bush em nota oficial distribuída pela Casa Branca. "Reitero meu forte apoio à sua liderança neste momento histórico de desafio que o país atravessa."
Em entrevista ao telejornal Today da TV NBC, o general John Baptiste, um dos que pediram a cabeça do chefe do Pentágono, negou que haja uma ação coordenada contra Rumsfeld mas apenas uma "coincidência acidental". Acrescentou que "muita gente está começando a fazer perguntas e isto é saudável numa democracia. Fomos à guerra com um plano furado que não levou em conta o duro trabalho necessário para construir a paz depois de derrubar o regime. Servimos sob um secretário da Defesa que não entende de liderança, é abusado, arrogante e não construiu uma equipe forte."
Na quinta-feira, o general da reserva Charles Swannack, que comandou a prestigiada 82ª Divisão Aerotransportada, uma tropa de elite de pára-quedistas, durante a invasão do Iraque disse à TV CNN: "Precisamos de um novo secretário da Defesa porque Rumsfeld está carregando um peso muito grande com ele".
O general também atribuiu a Rumsfeld responsabilidade pelo escândalo de tortura na prisão de Abu Ghraib, no Iraque. Na época, a influente revista britânica The Economist e o então candidato democrata à Presidência dos EUA, senador John Kerry, pediram a demissão do secretário da Defesa.
Agora, os generais Anthony Zinni, John Riggs, Paul Eaton e Gregory Newbold também pediram a queda de Rumsfeld, um dos expoentes da linha dura no governo Bush, e um dos principais responsáveis pela condução da guerra no Iraque. Riggs disse que ele é "incompetente tática, estratégica e operacionalmente".
Antes da guerra, os comandantes militares pediram 700 mil soldados para invadir o Iraque. Tiveram de se virar com a metade. Rumsfeld também defendia a doutrina de uma guerra rápida mas o avanço acelerado rumo a Bagdá deixou desguarnecida a retaguarda por onde chegava o suprimento das tropas na frente de combate.
A vitória rápida restaurou o prestígio das lideranças civis do Pentágono. Coube ao Departamento da Defesa e não ao Departamento de Estado, que tinha um plano muito mais detalhado, a administração do Iraque ocupado e o planejamento da reconstrução do país.
Talvez o erro mais grave tenha sido desmobilizar totalmente as forças de segurança do regime de Saddam Hussein, jogando na clandestinidade centenas de milhares de homens com treinamento militar que foram engrossar a resistência contra a invasão.
A sucessão de erros, a violência das operações de contra-insurgência, a tortura e a total insegurança mantém o Iraque no caos e na anarquia, ambiente no qual a reconstrução do país se arrasta sem que os iraquianos tenham sequer água e energia como sob Saddam.
Alguém deveria pagar por isso. Os generais pediram a cabeça de Rumsfeld. Para o presidente Bush, demiti-lo seria uma confissão do fracasso. E o governo Bush não é de admitir seus próprios erros.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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