López Obrador lidera as pesquisas há dois anos mas sua vitória não está garantida. Uma pesquisa recente deu a vitória ao jovem candidato Felipe Calderón, do Partido de Ação Nacional (PAN), do presidente Vicente Fox.
Numa boa notícia para a democracia, o Partido Revolucionário Institucional (PRI), que dominou totalmente a política mexicana durante 71 anos (1929-2000), controlando os três poderes, as empresas estatais e os sindicatos, deve ficar em terceiro lugar. É o fim de um monopólio de poder que tornou o México numa ditadura civil durante a maior parte do século 20, criando, nas palavras da embaixadora, “uma confusão entre partido e Estado”. E uma prova da maturidade da democracia mexicana
O PRI chegou a inspirar a ditadura militar brasileira, que sonhava com a mexicanização da política brasileira, transformando seu partido, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), num PRI.
Com um candidato como Roberto Madrazzo, “visto como representante do velho PRI autoritário” que atropelou a ala jovem e reformista do partido, “é provável que o PRI fique em último lugar entre os grandes partidos, completando a transição democrática”.
Numa pesquisa realizada no início do mês passado, López Obrador tinha 37,5% das preferências contra 30,6% de Calderón e 28,8% de Madrazo. Outra pesquisa, realizada entre 18 e 21 de março, deu 36% para Calderón, um empate técnico com López Obrador (34%), com Madrazo ficando com 28% das intenções de voto.
Como a eleição presidencial mexicana é realizada num turno único, ganha o mais votado.
CONFUSÃO PARTIDO-ESTADO
No antigo sistema político mexicano, com o monopólio do PRI, havia uma confusão entre partido e Estado, o controle total do Congresso e da maioria dos governos estaduais pelo partido oficial, e uma economia fechada que reforçada o autoritatismo. Como o governo tinha o monopólio da importação de papel para a imprensa, controlava os jornais e revistas.
A cada eleição presidencial havia uma crise gerada pelo manipulação da economia para favorecer o candidato do PRI. O presidente assumia declarando: “A revolução continua, a partir do palácio presidencial”, como se isto não fosse uma contradição total.
O candidato favorito, López Obrador,é do Partido da Revolução Democrática (PRD), formado por uma aliança entre dissidentes da ala esquerdista do PRI, liderados por Cuautémoc Cárdenas, filho do presidente Lázaro Cárdenas, fundador do PRI em 1929, e do antigo partido comunista.
López Obrador formou a Coalizão para o Bem de Todos com o Partido do Trabalho e a Convergência Democrática. Ele se beneficiou com a desilusão com as eleições de 2000 e o governo Fox. Sua campanha "baseia-se na frustração com a mudança, prometendo mais crescimento, emprego e segurança", comentou e embaixadora.
Numa manobra inteligente, quando era prefeito da capital, dava entrevistas coletivas todos os dias às 6h, ditando a agenda política do país.
Mas sua candidatura decolou porque "o governo tentou barrá-la seguindo a lei ao pé da letra, cassando seus direitos políticos", comentou Cecilia Soto. "Mas o povo mexicano sempre fica do lado das vítimas".
Sem maioria no Congresso, Fox não conseguiu aplicar seu programa. A contrapartida positiva é que pela primeira vez na História do México, o parlamento se afirmou como um poder independente. Mas a maioria do PRI não permitiu uma reforma profunda.
O governo Fox ainda foi prejudicado pela recessão nos EUA depois do estouro da bolha especulativa das ações de empresas de Internet, em maio de 2000. Com o Nafta, o comércio exterior mexicano cresceu muito, chegando a US$ 400 bilhões, mas 85% dos negócios são com os EUA. Esta dependência implica que crises americanas sempre atinjam o México.
“Parecia que o PRI voltaria ao poder”, comentou a embaixadora. “Nas eleições intermediárias, manteve a maioria no Congresso e elegeu 17 governadores” nos 31 estados mexicanos. Surgiu uma nova geração priísta. Mas sua derrota para Madrazo na escolha do candidato presidencial é um retrocesso para a modernização do partido. O candidato faz uma campanha para mudar sua imagem mas tem o mais alto índice de rejeição, 45%. "Madrazo é um desastre para o PRI", afirma Cecilia Soto.
Dentro do PAN, Fox apoiava outro candidato. Teve de engolir Calderón. Mas apesar da desiluão com seu governo, o presidente é muito popular. Tem hoje 63% de aprovação. "Ele perdeu os formadores de opinião mas é muito popular por causa de sua fala simples e de sua proximidade com o povo", nota Cecilia Soto. "Neste ano, estão amadurecendo programas econômicos. Serão construídas 800 mil casas populares. Os programas de saúde estão começando a apresentar resultados e o Quadro Negro Eletrônico, de informatização das escolas, é um sucesso".
O presidente beneficiou-se ainda das acusações do presidente de Cuba, Fidel Castro, e mais recentemente do venezuelano Hugo Chávez, que o acusou na conferência de Cúpula das Américas em Mar del Plata, na Argentina, no final do ano passado, de fazer o jogo dos EUA. López Obrador pegou carona na crítica de Chávez e perdeu pontos. Tinha 40% das preferências.
O ex-prefeito da Cidade do México também negou-se a participar de dois debates e perdeu prestígio com isso. Nega-se a ir a foros empresariais, alegando não querer chegar ao poder comprometido com empresários.
Tudo isto favorece o candidato do PAN.
Como ninguém acreditava na máquina do Estado, totalmente submetida ao PRI no século passado, para democratizar o México foi criado um Instituto Eleitoral independente. A tinta que marca os dedos para evitar que os eleitores votem duas vezes foi patenteada pela NASA (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos EUA).
O financiamento das campanhas é feito com dinheiro público. Só 10% vêem de empresas privadas. Nesta eleição, os partidos terão US$ 1,2 bilhão de fundos públicos. A embaixadora admite que houve uso de recursos de caixa dois (dinheiro sonegado do imposto de renda) em 2000 mas garante que a corrupção eleitoral está diminuindo.
Derrotar o PRI em 2000 não foi fácil para Fox. Em janeiro daquele ano, ele estava 20 pontos percentuais atrás do candidato oficial. Em maio, perdia por 12 pontos. A poucas semanas da votação, 19 pesquisas davam a vitória ao PRI e apenas cinco ao PAN.
Do ponto de vista econômico, López Obrador aposta num neokeynesianismo, ou seja, no uso do Estado e do investimento público como motor pelo menos auxiliar do desenvolvimento. Quer uma política fiscal que garanta a estabilidade macroeconômica sem frear o crescimento. Não pretende fazer novas reformas liberalizantes e muito menos mexer no regime da empresa estatal Petroleos de México (Pemex), responsável por um terço da arrecadação do governo.
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