Mais de 200 mil pessoas foram mortas e 2 milhões expulsas de suas casas nos últimos três anos na província de Darfur, no Leste do Sudão, o maior país da África. A situação se agravou com o rompimento entre o governo sudanês e o vizinho Chade, que fechou sua fronteira dificultando o acesso a campos onde vivem 400 mil refugiados. É mais um genocídio ignorado depois de tantas promessas da humanidade de que as tentativas de eliminar povos inteiros jamais se repetiriam, adverte o filósofo francês Bernard-Henry Lévy.
Em artigo no Wall St. Journal, Lévy afirma que a humanidade não ignora que aviões da Força Aérea do Sudão saem das bases de Porto Sudão e Obeid e bombardeiam vilas inteiras. Depois, os sobreviventes são atacados pela milícia conhecida como Janjaweed (homens armados a cavalo). Assim como na Bósnia, a violência sexual é usada cotidianamente como arma de guerra.
O regime de Cartum, responsável por este genocídio, já barrou a visita de um alto funcionário das Nações Unidas para ajuda humanitária; assedia organizações não-governamentais européias que tentam prestar alguma ajuda às vitimas de mais esta tragédia.
Desde 20 de fevereiro, as milícias aplicam a decisão do governo fundamentalista sudanês que proíbe “qualquer organização estrangeira” de “interferência” nos “assuntos internos” do Sudão. A expulsão das ONGs indica que chegou a hora final do plano, que não deve ser testemunhada por estrangeiros.
Enquanto a Liga Árabe rejeita qualquer intervenção como “neocolonial”, o Ocidente hesita em intervir, embora o então secretário de Estado americano no primeiro governo Bush, Colin Powell, tenha caracterizado a situação em Darfur como genocídio.
Lévy se pergunta onde estão os liberais e progressistas que vivem denunciando o conflito palestino-israelense que não vêem uma mortandade 500 vezes maior. Onde estão as organizações européias e americanas que lutam contra o racismo?
O filósofo francês conclui que seria muito mais simples enquadrar o regime sudanês e seu presidente Omar Bashir do que foi invadir o Iraque e derrubar Saddam Hussein. Lembra ainda que depois de cinco anos de adiamento, o Ocidente resolveu atacar em 1999 o então presidente da Sérvia, Slobodan Milosevic, responsável por guerras que mataram 250 mil pessoas, deslocaram outras 5 milhões e promoveram torturas e genocídio que a Europa não via desde 1945.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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