O presidente George Walker Bush chamou de “especulação selvagem” as notícias de que os Estados Unidos estariam escolhendo alvos para bombardear o Irã na tentativa de neutralizar seu programa nuclear. Uma reportagem da revista The New Yorker afirma que os EUA poderiam usar até armas nucleares táticas para destruir instalações subterrâneas.
A questão ganha ainda mais urgência com o anúncio do governo fundamentalista iraniano de que enriqueceu urânio num teor suficiente para usá-lo como combustível para reatores nucleares de geração de energia. Isto significa que o Irã está a caminho de dominar o ciclo completo do urânio, o que lhe permitiria fazer bombas atômicas dentro de 10 anos.
Em artigo na revista Foreign Policy intitulado Engane-me Outra Vez, o especialista Joseph Cirincione observa que os argumentos e os passos dados pelo governo americano repetem o ritual da invasão do Iraque: “Até agora, tratava a hipótese de ação militar como coisa de blogueiros ou adeptos de teorias conspiratórias. Agora, minha hipótese de trabalho é que alguns membros do governo, entre os quais o vice-presidente Dick Cheney, acreditam que a opção preferencial é um bombardeio limitado, que desestabilizaria o regime”.
Na propaganda bushista, o Irã substitui o Iraque como grande ameaça à estabilidade do Oriente Médio, patrocinador do terrorismo internacional e interessado em desenvolver armas de destruição em massa.
Por enquanto, a Casa Branca prefere o que chama de “diplomacia coercitiva”. Isto indica que não haverá ataque a curto prazo mas os alvos estão sendo escolhido. Entre eles, está o centro de enriquecimento de urânio de Natanz. Segundo a reportagem de Seymour Hersh para a New Yorker, os preparativos já estão na fase operacional.
Hersh está convencido da decisão do governo Bush de atacar, citando por exemplo as comparações feitas por altos funcionários americanos do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e o ditador nazista Adolf Hitler. Apesar das diferenças de poder entre a Alemanha da segunda metade dos anos 30 e do Irã, a linha dura de Bush alega que Hitler poderia ter sido parado por um ataque preventivo.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas deu prazo até o final de abril para o Irã suspender o enriquecimento de urânio. Nesta quarta-feira, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed elBaradei, chega a Teerã para retomar negociações. Tentará convencer os iranianos da seriedade da situação.
Até agora, o governo iraniano denuncia a “guerra psicológica” americana como se fosse só isso. Mas o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington já traçou várias hipóteses para um bombardeio seletivo contra o programa nuclear do Irã.
A alternativa mais leve seria um ataque de advertência com alguns mísseis de cruzeiro contra um só alvo importante do programa nuclear iraniano. Outra hipótese seria um ataque com dezenas de mísseis contra diversas instalações nucleares do Irã. Um ataque maior incluiria 200 a 600 mísseis de cruzeiros e bombardeios de avião durante até 10 dias contra as principais instalações militares iranianas. A alternativa mais dura incluiria mil a 2,5 mil mísseis de cruzeiro e semanas de bombardeios aéreos.
Na New Yorker, Hersh afirma que está sendo considerada a hipótese de empregar armas nucleares táticas B61-11, projetadas para penetrar no solo e destruir fortalezas subterrâneas e instalações nucleares como a usina de Natanz.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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