Enquanto late mas não morde no conflito comercial com a China, o presidente Donald Trump preferiu sair atacando aliados dos Estados Unidos. Seu governo passa a cobrar a partir de amanhã tarifas de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio importados da União Europeia, do Canadá e do México, que imediatamente anunciaram retaliações.
"Hoje é um dia muito ruim para o comércio internacional", reagiu o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, ao anunciar a resposta da UE: aumento das tarifas de produtos tipicamente americanos, como bourbon, motocicletas e manteiga de amendoim.
No Canadá, o primeiro-ministro Justin Trudeau prometeu sobretaxas no valor de US$ 12,8 bilhões sobre produtos americanos. O México promete retaliar na mesma pedida das perdas que lhe forem impostas.
O governo Trump passou as últimas semanas negociando reduções no déficit comercial dos EUA com seus maiores parceiros comerciais, o que também inclui a China. Washington queria impor cotas.
A proposta de Trump foi considerada inaceitável por violar as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), especialmente pelo México e o Canadá, sócios dos EUA no Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta).
Por enquanto, só Argentina e Coreia do Sul aceitaram as restrições de exportação exigidas pelos EUA. O Brasil e a Austrália ainda estão isentos das sobretaxas americanas. As empresas brasileiras estariam dispostas a aceitar as cotas.
Outros países, como Índia, Japão, Rússia e Turquia, nunca estiveram isentos das sobretaxas.
Era o que a Europa temia. A guerra comercial de Trump não começa com a China, a superpotência ascendente que ameaça a liderança mundial dos EUA, mas com os aliados. Com sua mentalidade negocista, Trump quer levar vantagem em tudo. Ataca primeiro os mais fracos, embora sejam aliados, a recuam diante da China.
Os EUA decidiram colocar em lista negra a companhia de equipamentos de telecomunicações chinesa ZTE, suspeita de colaborar com espionagem e de estar a serviço do aparato militar da China. Bastou um telefonema do ditador Xi Jinping para Trump mudar de ideia.
Há muita insatisfação dentro do próprio Partido Republicano. Os conservadores entendem que Trump está perdendo a guerra comercial com a China.
A longo prazo, uma guerra comercial tende a deixar o muito inteiro mais pobre, além do risco de deflagrar guerras de verdade.
A Grande Depressão (1929-39) começou com o colapso da Bolsa de Valores de Nova York, mas foi alimentada por uma guerra comercial. Em 1932, 25% dos americanos e 12,5% dos alemães estavam desempregados. Franklin Delano Roosevelt foi eleito presidente dos EUA. O Partido Nacional-Socialista Trabalhista Alemão (nazista) tornou-se o mais votado na Alemanha.
Trump não conhece história. Como observou Edward Luce, no Financial Times, quer retroceder a 1929.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário