Em protesto contra a realização da manobras militares conjuntas dos Estados Unidos com a Coreia do Sul, a Coreia do Norte adiou hoje o próximo encontro do diálogo com o Sul, prevista para amanhã, e ameaçou suspender a reunião de cúpula com o presidente Donald Trump, marcada para 12 de junho em Cingapura.
Horas mais tarde, o vice-ministro do Exterior norte-coreano, Kim Kye Gwan, alertou que não há interesse num encontro de cúpula com os EUA apenas para aceitar um "acordo unilateral" de desarmamento. O secretário de Estado, Mike Pompeo, prometeu grandes obras de infraestrutura para impulsionar a decrépita econoia da Coreia do Norte. Não foi suficiente.
Depois de quatro meses e meio de degelo no último conflito da Guerra Fria, o regime comunista norte-coreano volta a dar sinais ambíguos, indicando que as negociações sobre a desnuclearização não serão fáceis como pressupõe o presidente americano.
Quando se encontrou com o presidente sul-coreano, Moon Jae In, em 27 de abril, o ditador norte-coreano, Kim Jong Un, disse não ver problemas nos exercícios militares conjuntos realizados regularmente entre os EUA e a Coreia do Sul.
Neste ano, as manobras foram adiadas por causa dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, na Coreia do Sul, em que a Coreia do Norte participou em delegação conjunta com o Sul, um dos gestos de reaproximação entre os dois países, que não chegaram a um acordo de paz na Guerra da Coreia (1950-53).
"As autoridades da Coreia do Sul e os EUA iniciaram uma treinamento conjunto de forças aéreas contra nossa república antes mesmo que a tinta da histórica declaração intercoreana secasse", afirmou a agência oficial de notícias da Coreia do Norte. "Nossa boa vontade tem limite."
Diante de uma "deliberada provocação militar", advertiu Pyongyang, "vamos vigiar de perto a atitude das autoridades dos EUA e da Coreia do Sul."
Hoje, depois dos elogios bajulatórios de Trump, a Casa Branca ficou em silêncio. O presidente foi muito criticado nos EUA por tratar Kim como estadista. Afinal, o ditador norte-coreano é acusado de mandar um tio e um meio-irmão. No ano passado, um americano torturado por tentar roubar um cartaz de propaganda do regime stalinista de Pyongyang morreu logo depois de voltar da Coreia do Norte.
Mais uma vez, a ditadura norte-coreana mostra-se enigmática, imprevisível e inconfiável. A rejeição do acordo nuclear com o Irã diminuiu a credibilidade dos EUA. Trump deixou claro que não respeita os acordos internacionais assinados por governos anteriores ao deixar os acordos do clima e com o Irã.
Nos últimos dias, Trump apresentou um certo triunfalismo e chegou a ser saudado em comício como candidato ao Prêmio Nobel da Paz pela desnuclearização da Coreia do Norte. Mas nada indica que o regime norte-coreano pretenda abrir mão das armas nucleares em que investiu tanto como sua última garantia de segurança.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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