Os gastos militares da Rússia diminuíram em 2017 pela primeira vez desde 1998, quando o país enfrentou um colapso econômico. No ano passado, a queda foi de 20% para US$ 63 bilhões, de acordo com o relatório do Instituto de Pesquisas da Paz Internacional de Estocolmo (SIPRI). É nove vezes menos do que os Estados Unidos, antes do aumento do orçamento pedido pelo presidente Donald Trump.
Em 2017, as despesas russas com defesa baixaram de 5,5% para 4,3% do produto interno bruto, estimado pelo Fundo Monetário Internacional em US$ 1,527 trilhão. Depois de anos de contração da economia, o Kremlin foi obrigado a fazer grandes cortes no orçamento de defesa que devem ter impacto sobre as compras e as operações.
Com a limitação orçamentária, apesar das bravatas do ditador Vladimir Putin sobre o míssel nuclear "invencível", o Kremlin tem de tomar decisões difíceis e escolher prioridades. Será necessário reduzir as ambições marítimas para reforçar o poderio terrestre, observa a empresa de consultoria e análise estratégica Stratfor.
A Rússia não vai abandonar os mares, mas sua defesa será baseada na dissuasão nuclear por terra, mar e ar. O sonho de Putin era um grande Programa de Armamentos do Estado (2018-25). Com os cortes orçamentários, não será possível modernizar 70% de suas Forças Armadas até 2020. O programa de armamentos deve receber a metade do dinheiro previsto.
O maior problema está na Marinha, que não passou por uma modernização significativa desde o fim da União Soviética, em 1991, observa a Stratfor. O único porta-aviões russo, o Almirante Kuznetsov, foi lançado ao mar em 1985. Sem muito dinheiro, o foco deve ser em sistemas de armas e não em investimentos pesados em grandes navios.
Em maio do ano passado, o vice-primeiro-ministro Dimitri Rodozin, encarregado da indústria bélica, admitiu que, "ao contrário dos Estados Unidos, a Rússia não é uma potência naval". É uma potência continental.
Durante a Guerra Fria, a importância dos submarinos nucleares era tanta que a Marinha de superfície era uma força auxiliar. A tendência é que isso continue. Os submarinos serão o setor da força naval a ser poupado dos cortes de gastos.
O mecanismo de dissuasão nuclear da Rússia se assenta num tripé: mísseis baseados em terra, aviões bombardeiros estratégicos e mísseis balísticos lançados de submarinos, acrescentam os analistas estratégicos.
Na Força Aérea, preveem, o Kremlin vai investir em grandes aviões de transporte e caças-bombardeiros, com foco no aperfeiçoamento da quarta geração de caças a jato, em vez de comprar novos modelos de última geração como o avião de combate invisível aos radares T-50.
Outras preocupações são tornar as Forças Armadas mais ágeis, flexíveis e letais, com munição precisa guiada, maior capacidade tecnológica, equipamentos de comando e controle de alta tecnologia, satélites espaciais e desenvolvimento de drones para missões de reconhecimento, vigilância e inteligência.
As regiões militares mais beneficiadas pelo programa de modernização das Forças Armadas da Rússia devem ser os comandos do Sul e do Oeste, com jurisdição sobre áreas consideradas essenciais para a segurança nacional do país como o Mar Báltico, a Ucrânia e o Cáucaso. O Comando Estratégico Conjunto do Ártico será promovido a região militar em 2020.
Na visão de Moscou, marcada pelo histórico medo do cerco da Rússia, o maior país do mundo, com 60 milhões de quilômetros de fronteiras marítimas ou terrestres sem fronteiras naturais na maioria da parte terrestre, o inimigo é a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar liderada pelos EUA, e sua expansão pós-Guerra Fria até a fronteira russa.
Putin quer manter as repúblicas da antiga União Soviética dentro da esfera da influência da Rússia, mas não tem o poder econômico necessário para dar peso à União Econômica da Eurásia. Também projeta seu poderio a regiões do Ártico à Síria, num caso clássico de sobre-extensão imperial, quando as ambições externas são maiores do que a matriz pode bancar.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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