sábado, 5 de maio de 2018

Câmara dos Lordes propõe Carta Magna para a era digital

Depois de seis meses de trabalho, a Comissão Especial para Inteligência Artificial da Câmara dos Lordes do Parlamento Britânico propôs a elaboração de uma Carta Magna para regulamentar internacionalmente as grandes empresas da Internet e a inteligência artificial, informou o jornal digital americano The Huffington Post.

"Em 1215, a Inglaterra adotou a Magna Carta para impedir os reis de abusarem de seus poderes. Hoje os novos reis são as grandes empresas de alta tecnologia e, como séculos atrás, precisamos de uma carta para governá-los", escreveu o sociólogo e lorde Anthony Giddens, ex-diretor da London School of Economics e membro do comitê que estudou o assunto.

A carta estabeleceria princípios para o desenvolvimento da inteligência artificial no mundo inteiro. Os pontos principais seriam:

• Deve ser desenvolvimento para o bem comum.
• Operar de acordo com os princípios de inteligibilidade e transparência: os usuários devem ser capazes de entender facilmente os termos nos quais seus dados pessoais serão usados.
• Respeitar o direito à privacidade.
• Ser baseada em mudanças profundas na educação. O ensino exige reformas para utilizar os recursos digitais, e os estudantes devem aprender não apenas as habilidades digitais, mas também como desenvolver uma perspectiva crítica on-line.
• Nunca ter o poder autônomo para ferir, destruir ou enganar seres humanos.

Giddens entende que "a revolução digital é a força mais dinâmica hoje no mundo. Afeta tudo, das intimidades da vida cotidiana aos conflitos geopolíticos e uniu o mundo como nunca antes. Mas, ao mesmo tempo, fratura e divide. A inteligência artificial e a Internet são as duas forças gêmeas que dirigem estas mudanças."

O sociólogo vê a inteligência artificial entrando numa terceira fase. Na primeira, dos esforços de Alan Turing para decifrar os códigos secretos da Alemanha na Segunda Guerra Mundial até o fim dos anos 1980s, o domínio foi dos governos e da academia.

Na segunda fase, o mercado toma conta do processo com a ascensão das empresas do Vale do Silício, na Califórnia, com a máxima de "mova-se rapidamente e quebre coisas". As novas empresas de Internet fazem novos bilionários.

Nesta terceira fase, o ex-diretor da LSE acredita ser fundamental maior participação do Estado e do público em geral: "Por um momento, os avanços positivos das tecnologias digitais - maior conexão entre amigos ou acadêmicos, a análise de uma massa de dados sobre o código genético, a conveniência de comprar on-line - tomaram o palco principal."

A ilusão de que não haveria problemas fez parte da euforia inicial com a revolução tecnológica: "Mas os aspectos negativos provaram ser profundos, mesmo que tomem tempo para aflorar", pondera Giddens. "Eles incluem ameaçam ao próprio tecido da nossa democracia - movimentos on-line que desafiam ou até mesmo substituem. Estão emergindo ao mesmo tempo em que há dramáticos avanços na inteligência das máquinas."

O desafio, acrescenta, é corrigir os erros preservando o dinamismo e a inovação.

A tarefa de negociar um acordo internacional para regulamentar o desenvolvimento da inteligência artificial em bases éticas é gigantesca. "As notícias falsas não são apenas um problema estrutura profundo da era digital; foram transformadas diretamente em armas pela Rússia e outros países", observa Giddens.

Como a China também tem um regime ditatorial que usa a Internet para vigiar e policiar seus cidadãos, tem a maior capacidade em supercomputadores do mundo e deve assumir a liderança tecnológica em inteligência artificial, um acordo global é ainda mais difícil.

A corrida tecnológica é a parte central do conflito geoestratégico e da luta pela liderança internacional entre os Estados Unidos e a China.

"As vantagens da revolução são enormes e remodelaram nossas vidas, em muitos aspectos para melhor. Como nas revoluções tecnológicas anteriores, as sociedades precisam encontrar uma maneira de colher os benefícios da inovação enquanto contêm seus problemas e riscos", concluiu Giddens. "Uma carta que proteja os direitos e liberdades dos cidadãos - uma Carta Magna para a era digital - é um bom começo."

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