quarta-feira, 23 de maio de 2018

Giuseppe Conte é nomeado chefe do governo populista na Itália

Dois meses e meio depois das eleições, o presidente Sergio Mattarella nomeou oficialmente hoje o advogado e professor de direito Giuseppe Conte, de 54 anos, para chefiar o governo de coalizão entre o Movimento 5 Estrelas e a neofascista Liga, antiga Liga Norte, uma aliança populista que ameaça as relações com a União Europeia e a própria estabilidade do euro.

Praticamente desconhecido do grande público, Conte começou mal. Seu currículo, de 18 páginas, afirma que ele estudou em algumas das melhores universidades do mundo, Cambrige, na Inglaterra; Yale, nos Estados Unidos; e a Sorbonne, na França. Nenhuma confirmou o registro de qualquer diploma em seu nome.

No jornal italiano La Repubblica, um antigo professor o descreveu como "um menino prodígio, inteligente e sério, jamais exuberante". Para Luigi di Maio, líder do Movimento 5 Estrelas, fundado por um humorista, "a natureza tímida e prudente garante a confiança" no futuro primeiro-ministro da Itália.

"É um tecnocrata, não é um político", comentou o jornal liberal alemão Suddeutsche Zeitung, enquanto o inglês The Guardian o apresentou como o "cérebro" por trás da proposta do partido de revogar 400 leis consideradas "inúteis" acusadas por criar uma burocracia inchada.

Foi a solução encontrada para evitar uma disputa entre a Liga e o M5E capaz de minar a coalizão antes do início do governo. Será o 65º primeiro-ministro da Itália no pós-guerra, em 72 anos de governos democráticos. O risco é que seja mais um primeiro-ministro fraco, um líder de papel às ordens dos partidos, refém dos políticos que o sustentam.

Entre as propostas do programa comum de governo, estão expulsar todos os imigrantes ilegais, garantir uma renda mínima da cidadania, reverter a reforma da Previdência e renegociar a dívida pública, de 2,351 trilhões de euros, equivalente a 132% do produto interno bruto, de US$ 1,938 trilhão em 2017 pela estimativa do Fundo Monetário Internacional.

Essas ideias fazem tremer os aliados europeus e o Banco Central Europeu (BCE), preocupados para começar com o frágil sistema bancário italiano. Oitava maior economia do mundo, logo à frente do Brasil, a Itália está praticamente estagnada desde a introdução do euro, em 1999, que desnudou a indisciplina fiscal do Estado italiano.

O crescimento caiu de 3,7% em 2000 para -5,5% em 2009, no auge da Grande Recessão. Desde então, não passou de um pico de 1,7% em 2010.

É uma economia grande demais para quebrar. A Zona do Euro e o FMI não teriam dinheiro para financiar um programa de ajuste. Seria um golpe na união monetária europeia.

Nos últimos anos, com o colapso da Líbia a partir da revolução que derrubou o ditador Muamar Kadafi, em 2011, a Itália é o país que mais recebe os imigrantes e refugiados arriscam a vida no Mar Mediterrâneo para chegar à Europa.

A repulsa ao imigrante e à União Europeia, que não distribuiu os refugiados entre os países-membros, foi um dos temas centrais da campanha dos partidos vencedores, que relegaram o governante Partido Democrático, de centro-esquerda, a 23% do eleitorado.

O novo governo promete deportar 500 mil imigrantes ilegais em um mês.

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