O presidente Donald Trump vai retirar os Estados Unidos do acordo nuclear assinado em 2015 pelas grandes potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia) e a Alemanha para congelar o programa nuclear militar do Irã, evitando assim que a república islâmica fabrique armas atômicas, antecipou o jornal The New York Times, citando como fonte o presidente da França, Emmanuel Macron.
Trump confirmou a notícia hoje à tarde na Casa Branca. A França, a Alemanha e o Reino Unido fizeram uma série de apelos de última hora para convencer o presidente americano a manter o acordo, sem sucesso. O governo americano vai voltar a impor sanções contra o regime dos aiatolás.
"Hoje, anuncio que os EUA saem do acordo nuclerar com o Irã", declarou Trump na Casa Branca. "Nas próximas horas, vou assinar um decreto reestabelecendo duras sanções ao regime iraniano."
Além de aumentar a tensão e o risco de guerra no Oriente Médio, e o preço do petróleo, Trump se afasta dos aliados, isola ainda mais os EUA e dificulta as negociações com a Coreia do Norte. Se os EUA não cumprem um acordo assinado pelo presidente anterior, que garantia tem o ditador Kim Jong Un de que vão honrar o próximo?
O novo assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, o ultralinha-dura John Bolton, inimigo do acordo com o Irã, cita o acordo com a Líbia como modelo para a Coreia do Norte.
Diante da ameaça do terrorismo dos jihadistas, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA, o ditador Muamar Kadafi abriu mão de seus programas de armas de destruição em massa, em 2003, e passou a colaborar com as potências ocidentais na guerra contra o terror.
Oito anos anos depois, quando Kadafi ameaçava massacrar rebeldes em Bengázi durante uma revolta da chamada Primavera Árabe, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Líbia. A aliança militar liderada pelos EUA foi decisiva para a queda do ditador, em agosto de 2011, e sua morte, em em 20 de outubro do mesmo ano, meses antes da ascensão de Kim Jong Un.
O terceiro Kim a governar a Coreia do Norte, depois do pai e avô, teria acelerado seus programas nuclear e de mísseis como garantia máxima de sobrevivência do regime e de si mesmo. Se já era improvável que Kim entregue as armas, ao romper o acordo com o Irã, Trump torna os EUA num parceiro pouco confiável para negociar.
Para a linha dura que domina o governo Trump, o acordo de 2015 não impede o Irã de desenvolver tecnologia de mísseis nem uma política externa agressiva no Oriente Médio. Estas questões nunca estiveram na pauta das negociações sobre o acordo nuclear iraniano.
Numa tentativa de persuadir Trump, quando esteve em Washington, o presidente francês argumentou que o acordo deveria ser ampliado para incluir as outras questões que preocupam os EUA, mas não abandonado.
O presidente segue em sua obstinação de destruir a herança de seu antecessor, Barack Obama. Trump ignora os aliados europeus, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e seus próprios generais, que consideram o regime de inspeções a que o Irã estava submetido bastante rigoroso.
Quem bombardeou o acordo foi o primeiro-ministro linha-dura de Israel, Benjamin Netanyahu, sem apresentar provas de que o Irã violou o acordo. Os generais e os serviços secretos israelenses também consideravam o acordo importante.
A Arábia Saudita, grande rival do Irã na disputa pela liderança do mundo muçulmano, também elogiou a decisão de Trump.
Se o Irã retomar imediatamente o enriquecimento de urânio, como ameaçou, há o risco de uma corrida armamentista nuclear no Oriente Médio. A Arábia Saudita, o Egito e a Turquia também vão querer armas atômicas, fragilizando ainda mais o regime de não proliferação nuclear.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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